BANCEWICZ. Ruth. O Teste da Fé. Viçosa, MG: Ultimato,
2013.
“Algumas das questões levantadas pela ciência são as
mesmas encaradas por qualquer pessoa. O que é esse universo, afinal? Se
pararmos para pensar mais profundamente sobre isso, a própria presença do cosmo
se mostra um quebra-cabeça. A maior das questões é: ‘Por que existe algo em vez
do nada?’. Ela nos leva a toda sorte de buracos negros filosóficos, mas tem de
ser encarada. De onde o universo veio? Há um Deus por trás dele? Essas são
questões que todos – e não apenas os cientistas – precisam considerar.” P. 69.
(John Briant).
O Teste da Fé (livro e DVD) traz o depoimento de duas
dúzias de Cientistas cristãos sobre a relação entre Fé, Razão e Ciência. Todos
eles têm uma fé cristã pungente e não se envergonham de acreditar na Bíblia e
em Jesus Cristo. Só há um porém, aí: ao contrário do que muitos crentes
conservadores e fundamentalistas poderiam pensar a priori, eles não são
criacionistas, isto é, não defendem, não creem, não militam a favor do ensino,
divulgação e pesquisas que tenham como ponto de partida o livro de Gênesis, contrapondo-o
a Teoria da Evolução. Todos eles são evolucionistas e não olham para os textos
bíblicos da mesma maneira que os Cientistas da Criação os interpretam. Com
certeza o Adauto Lourenço (Físico criacionista) não curtiu isso.
Para muitíssimos Cientistas e estudantes de graduação
nas Universidades, é impossível fazer Ciência e manter a fé religiosa de um
modo coerente e satisfatório. Até sabem e cultivam amizades com pessoas
religiosas que levam a sua crença em Deus a sério, mas veem esse tipo de
conduta com muita desconfiança. Alasdair Coles (Professor Sênior de
Neuroimunologia Clínica na Universidade de Cambridge) relata a sua experiência
quanto a isso:
“Neurologistas acadêmicos representam um grupo de
pessoas pouco espirituais. É incomum, para um neurologista, ser ministro
religioso oficial, pois conversas sobre religião e espiritualidade não são bem
vistas. Não que eu tenha encontrado alguma hostilidade; certamente encontrei
curiosidade, mas raramente um suporte positivo. A reação mais comum é o
desinteresse ou o sentimento de que tudo isso seria levemente excêntrico.” P.
43.
Não obstante, para Coles, reduzir tudo a explicações
naturalistas é limitar o conhecimento e a nossa percepção da realidade.
“Alguém pode explicar uma pintura com base nos produtos
químicos que compõem as tintas a óleo. Essa seria uma explicação perfeitamente
verdadeira, mas a maioria das pessoas consideraria profundamente insatisfatória
como explicação de uma pintura. Elas diriam que ‘há mais nela do que isso;
alguém a fez, ela tem um significado que depende dos óleos, mas, em última
instância, não tem nada a ver com eles’. Os pensamentos e o comportamento
humanos são dependentes, mas, de algum modo, estão separados do material do
cérebro.” P. 42.
Como manter a fé num ambiente onde um de seus
pressupostos é o naturalismo? Como acreditar piamente na Ciência e ainda crer
que um ser obscuro, estranho e inacessível possa interferir na ordem das
coisas, mediante orações e preces? Para Jennifer Wiseman (Ph.D em Astronomia na
Universidade de Harvard e Chefe do Laboratório de Astrofísica Estelar na Divisão de
Astrofísica Ciência na NASA), isso
nunca foi um problema:
"Nunca temi que a minha fé fosse ameaçada por
frequentar uma universidade secular. [...] Não penso que o mundo físico, das
forças materiais, seja tudo o que existe. Acredito que há um Deus Todo-Poderoso
que é responsável pelo universo e que há um mundo espiritual que não pode ser
medido com nossas ferramentas científicas. É nesse mundo espiritual que Deus
também está ativo". P. 49, 53-54.
A Ciência seria uma forma de exaltar o poder e
soberania divina.
“Eu penso que a exploração científica é uma forma de
glorificar a Deus, pois explora o que ele criou.” P. 58.
Enquanto muitos estudantes cristãos acabam se deparando
com muitas questões e descobertas científicas que podem abalar a sua fé, para
John Briant (Ph.D em Bioquímica na Universidade de Cambridge, com Pós-Doutorado
na Universidade de East Anglia), a sua vida acadêmica sempre
foi tranquila quanto a isso:
"A relação entre ciência e fé nunca me assustou.
Nunca me pareceu que realmente houvesse um choque entre elas. Tive de pensar a
respeito de algumas coisas e elaborá-las, e, embora haja aquelas para as quais
nunca teremos uma resposta, isso nunca me assustou". P. 63-64.
Bill Newsome (Ph.D em Neurobiologia no Instituto de
Tecnologia da Califórnia e Professor de Neurobiologia na Escola de Medicina
da Universidade de Stanford, EUA) admite sem nenhum pudor a precedência da sua
fé cristã sobre a ciência:
“Eu amo a minha atividade científica e tenho sido muito
gratificado por seu sucesso, mas, se alguém pusesse uma arma na minha cabeça e
dissesse: ‘Bill, escolha entre a sua ciência e a sua fé’, não tenho dúvida de
que eu escolheria a minha fé antes da minha ciência, pois ela é a parte mais
fundamental e mais profunda de quem eu sou como ser humano.” P. 76.
Talvez muitos ateus e pessoas não muito afeitas a
religião, que se julguem ultrarracionais, fiquem horrorizadas com tal declaração.
Um pecado imperdoável vindo de um Cientista. Em contrapartida, quantos desses "livres pensadores" seriam racionais e imparciais diante das evidências? Quantos aceitariam as
descobertas científicas ou evidências filosóficas, que porventura viessem a
abalar suas certezas materialistas mais caras? Desconfio da racionalidade e
comprometimento desapaixonado na busca da verdade, da maioria dos que
esbravejam furiosamente contra a fé, Deus e a religião. Será que muitos deles
também não se encaixam no que o Newsome diz logo abaixo?
“Quando vamos a fundo, descobrimos tipicamente que as
pessoas que respondem com todo esse calor emocional [contra a fé], normalmente,
tiveram em seu passado alguma experiência muito desagradável, a qual é a causa
da sua raiva.” P. 85.
Em complemento, cito as palavras de John Polkighorne
(ex-Professor de Física na Universidade de Cambridge, Pós-Doutor em Física no
Instituto de Tecnologia da Califórnia):
“Lembro-me de um amigo bioquímico, ótima pessoa, que me
disse anos atrás: ‘Eu simplesmente não quero que exista um Deus’.” P. 126.
Creio que eles acentuam bem a questão. Salientando também que
muitos crentes têm aversão a Ciência com um enorme temor de que esta possa
contradizer as suas crenças bíblicas. E na verdade, ela até contradiz mesmo.
Ainda nas palavras do Polkighorne, ele confirma o que
eu já tinha lido de outra fonte, de que entre os Cientistas, os Físicos estão
entre os que mais estão propensos a crer:
“É provavelmente verdade que os físicos são muito mais
abertos a questões de fé do que outros cientistas. Penso que há várias razões
para isso. Uma é que os físicos olham a realidade a partir de certa
perspectiva, na qual o mundo é belissimamente ordenado e há um tipo de
religiosidade cósmica natural que emerge dessa experiência. Não é irracional
perguntar se há uma ‘mente’ por trás de tudo isso.” P. 126.
Quanto ao mito popular, que até muitos universitários
confusos e apressados pensam, de que a Ciência está baseada estrita e
absolutamente em fatos, Polkighorne os contradiz:
“As pessoas dizem que a ciência lida com fatos,
certezas e coisas do gênero, mas é claro que isso não é verdade. A atividade
científica é a relação entre a teoria e a experimentação, de modo que
precisamos da teoria para interpretar o experimento. O experimento confirmará
ou refutará a teoria. Isso é algo muito mais sutil.” P. 126-127.
Simon Conway Morris (Professor de Paleobiologia
Evolucionária da Universidade de Cambridge, Inglaterra), no DVD afirma que a Teoria da Evolução e ateísmo não caminham necessariamente
de mãos dadas.
“Você pode dizer: ‘sou biólogo evolucionista, sou
ateu’. Essa é uma posição válida. Eu não a adoto. Mas não podemos afirmar:
‘Evolucionismo e ateísmo caminham juntos’. Isso não tem fundamento.
Evolucionismo é uma teoria, tem de estar inserido em um sistema metafísico, e
temos de decidir quais sistemas metafísicos é o mais empolgante, qual deles tem
mais potencial, qual deles lhes dá coceira nas mãos. Niilismo? Bem, não
obrigado.”
Quanto a isso, eu creio que a Teoria da Evolução nos termos em que é
formulada, leva forçosamente ao ateísmo. No entanto, alguns Filósofos e
Cientistas têm invertido essa relação. Por exemplo, Alvin Plantinga (Ph.D em
Filosofia pela Universidade de Yale) tem argumentado que a evolução
corretamente interpretada é uma evidência poderosa a favor do teísmo. Seguindo Plantinga, também está William Lane Craig (Ph.D em Filosofia na Universidade de Birmingham, Inglaterra).
Muitos outros Cientistas participaram da composição do
livro e documentário, trazendo suas histórias, sua relação com a Ciência, vida
acadêmica, Deus, Religião, Jesus, e, como tudo isso afeta as suas vidas. Apenas
dei umas pequenas pinceladas dispersas sobre o que dizem alguns deles.
Livro e DVD muito agradáveis de ler e assistir. Mais uma
obra em português que vem mostrar a relação entre Ciência e Religião, revelando
que ambas podem andar juntas, sem necessariamente se digladiarem.
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