segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Brasil de Todos os Santos


VAINFAS, Ronaldo; SOUZA, Juliana Beatriz de. Brasil de todos os santos. 2 ed. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. 

Li esse pequeno livro quando estava na graduação, agora tive o prazer de lê-lo novamente. Sempre é bom ler algumas literaturas mais de uma vez. Assim relembramos muitas coisas e detalhes interessantes. Essa obra em questão, escrita pelos Historiadores Ronaldo Vainfas (Ph.D em História na USP) e Juliana Beatriz (Ph.D em História na Universidade Federal Fluminense), aborda a onipresente religiosidade dos nossos antepassados no Brasil Colonial. 

Histórias curiosas são contadas, deixando esse livro com uma leitura instigante e bem agradável. Os autores em algumas páginas nos contam histórias, em que a prática religiosa e o “profano” se imbricam de tal maneira, que podemos falar então, de uma “sensualização do religioso”, como dizem os autores. Um exemplo seria o desejo de certas mulheres querendo casar, e assim, rezavam ao seu santo de uma maneira nada comum. 

“Mulheres se ESFREGANDO nas imagens de São Gonçalo do Amarante pedindo a ele sua intermediação para conseguir um casamento [...] fazem-nos pensar que esta afetividade chegava mesmo, às vezes, a uma sensualização do religioso. [...] Tudo ou quase tudo na Colônia era acompanhado pelos santos, santas e pelo próprio Cristo, inclusive as intimidades amorosas”. P. 36, 39. (Ênfase acrescentada).

Um outro trecho curioso, diz: 

“Os colonos recorriam aos feiticeiros não só para obtenção de favores especiais, mas também, não raro, para contornar a ineficiência dos remédios de botica [convencionais]. As rezadeiras, benzedeiras e adivinhos se espalhavam pelas vilas e povoados coloniais. [...] Ligadas à resolução de dificuldades e à busca de uma melhora nas condições de vida, as feiticeiras ganharam força não só pela certa conivência do baixo clero [padres], mas, sobretudo, pela falta de nitidez, para os colonos, entre os limites do permitido e do condenado pela hierarquia católica nas práticas piedosas”. P. 23. 

Se no Brasil Colônia era assim, hoje não mudou muito não. Uma GRANDE parcela dos católicos consultam os feiticeiros atuais (médiuns, astrólogos, pais de santo) para que estes possam ajudá-los em suas pendências. A diferença é que hoje, não apenas o baixo clero (padres) sabe disso, mas o alto clero (bispos, cardeais, CNBB) tem conhecimento dessa miscelânea em que vivem os seus fiéis. Fazem vista grossa, porque se forem levar a sério o que o catecismo diz, a igreja vai à falência, com a excomunhão de tantos católicos. 

O livro nos traz uma breve explicação sobre um dos motivos da sobrevivência dos cultos afros no Brasil apesar da escravidão.

“Diante das religiosidades negras [...] o Santo Ofício foi, de toda maneira, pouco rigoroso, considerando o pequeno número de processos que moveu contra os denunciados. [...] No caso dos escravos, sua atuação foi muito limitada pelos interesses da escravidão. [...] Paradoxalmente a escravidão foi capaz de ‘proteger’ os africanos do Santo Ofício, para que continuassem escravos e, com isso, favoreceu a sobrevivência dos cultos negros urdidos na diáspora dos africanos no Brasil”. P. 24.

Como a igreja fazia parte e até incentivava o sistema escravagista, era-lhe muito conveniente, fazer vistas grossas as feitiçarias e macumbas praticadas pelos africanos e seus descendentes, mesmo que essa religiosidade fosse diametralmente oposta à fé da igreja. Não compensava ($$$) para ela condenar na inquisição esses pobres coitados. Menos mal. 

Existiam no Brasil colonial, as falsas beatas, um exemplo, era uma maluca que dizia que Jesus todo dia lhe dava um belo trato em seus pelos pubianos. 

“Entre essas mulheres estava a africana Rosa Egipcíaca, prostituta, [...] ganhou fama como mística. Dizia ter sido escolhida por Deus como esposa da Santíssima Trindade e que o Menino Jesus vinha diariamente pentear-lhe a carapinha [sim, é isso mesmo que você está pensando] e, em agradecimento, dava-lhe de mamar em seu peito”. P. 43.

E pra fechar, os Historiadores Ronaldo Vainfas e Juliana Beatriz, nos contam a história de uma tal Ana Jorge, que além de profanar objetos sagrados, ainda era violenta com os seus parceiros sexuais. Ela é quem gostava de bater. Gostava de um sexo selvagem. 

“Já sobre a mulata Ana Jorge pesava a fama de desrespeitar as imagens dos santos, também metendo-as debaixo do colchão antes de fornicar com seus amantes e de açoitá-los e jogá-los contra a parede, quando não lhe atendiam seus pedidos”. P. 34.

O que será que essa danadinha queria fazer na cama, hein?! 

sábado, 28 de novembro de 2015

As Perguntas Certas



JOHNSON, Phillip E. As Perguntas Certas. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

Mais um livro concluído pela segunda vez. Já não lembrava mais das ideias defendidas pelo Phillip E. Johnson (Professor de Direito da Universidade de Berkeley, EUA) nesta obra, em que ele posiciona boa parte do seu arsenal argumentativo contra o naturalismo metafísico tão presente nas Universidades. Ele também fala de política, religião e temas correlatos.

Compartilho do pensamento do autor quando ele dispara a sua metralhadora contra o materialismo como realidade última. Entretanto, tenho dúvidas, se ele fez em algumas ocasiões “as perguntas CERTAS” e, consequentemente, se nos forneceu “as respostas CORRETAS”. 

O que fica claro em muitas páginas, é que ele quer apenas trocar o dogmatismo secularista-ateu dos ambientes acadêmicos, e colocar em seu lugar o dogmatismo judaico-cristão evangélico de direita, por mais que ele possa negar isto. 

Me junto aos Cientistas materialistas quando eles afirmam que o Projeto do Design Inteligente é o Criacionismo velho de guerra com uma nova roupagem. Apenas disfarçado. Os Cientistas desse movimento, sendo uma boa parte de cristãos, não usam a Bíblia em suas argumentações contra a Teoria da Evolução, e nem a usam a favor da visão de um Projeto deliberado na criação do Universo e dos seres vivos. Mas essa parece ser uma sutil estratégia para incutir nas escolas e universidades, a visão cristã defendida por eles. Se querem moldar a sociedade conforme sua visão de mundo, que o façam com honestidade e sem subterfúgios; que seja às claras!

No livro, Johnson admite a verdade, de que a maioria dos Biólogos acham a intervenção divina na criação desnecessária na explicação da criação e manutenção dos seres vivos. 

“[...] a vasta maioria dos biólogos, especialmente aqueles de maior prestígio, nega enfaticamente que Deus tenha qualquer relação com a evolução e [...] descartam o que eles denominam ‘criacionismo do projeto inteligente’, como algo inerentemente inaceitável para a ciência”. P. 33. 

Isso me lembra uma entrevista que li com o Astrônomo Rogério Mourão que dizia que a descrença na comunidade científica é maior entre os Biólogos e menor entre os Astrônomos. Estes lidam com uma realidade mais etérea, e aqueles, lidam diretamente com a inexorável realidade nua e crua da vida e obrigatoriamente da morte, especula o Mourão. 

“Há biologistas que acreditam... A explicação talvez é que eles, por terem mais contato com a vida e com a morte, acabem sofrendo mais da descrença. Os astrônomos, por sua vez, vivem numa esfera mais etérea.” [1]

Reforçando a sua tese de que os sistemas biológicos trazem em seu interior evidências/provas de que foram projetados, Johnson cita Gene Myers, premiado Cientista do Projeto Genoma, que diz:

“O que me deixa maravilhado é a arquitetura da vida. O sistema é extremamente complexo. É como se ele tivesse sido projetado... Há nele uma inteligência imensa. Eu não encaro isso como sendo não-científico. Outros podem pensar assim, mas não eu”. P. 35. 

O livro traz uma piada escrita pelo conhecido Richard Lewontin, Ph.D em Zoologia na Universidade de Columbia, EUA, que disse:

“O problema primordial [para a educação científica] não está em proporcionar ao público o conhecimento sobre a distância que existe até a estrela mais próxima ou sobre aquilo de que são feitos os genes... Antes está em levar as pessoas a rejeitar as explicações irracionais e sobrenaturais sobre o mundo [...] e a aceitar um aparato social e intelectual, a ciência, como o único gerador de verdade”. P. 59.  

Um Professor de Harvard dizer que a Ciência é a única geradora da Verdade é um analfabeto na área mais básica da Filosofia. Ele pode ensinar na melhor Universidade, ganhar os maiores prêmios do mundo científico, porém, falou asneira. Mais uma vez basta invocar as suposições nada científicas nas quais a ciência está ANCORADA e ACORRENTADA, para escrachar à falácia e a ingenuidade desse enunciado besta. 

Repetindo os pressupostos: Mundo Externo; Outras Mentes; a Matemática; Leis da Lógica; e para o horror dele, o próprio método científico que não pode ser provado por ele mesmo. Diante disso, como a Ciência pode ser o “único gerador de verdade”?! Nunquinha!  

“Se a ciência for nossa única fonte de conhecimento e se ela nos proporcionar o conhecimento apenas dos fatos e não dos valores, então distinguir entre o bem e o mal pode ser apenas uma questão de preferência pessoal”. P. 100. 

Se a corrente filosófico-ideológica do cientificismo (Só a ciência é capaz de gerar conhecimento verdadeiro) estiver “correta”, então se segue um total estado de anarquia. Não há distinção entre o que é algo certo e digno de valor, e algo errado e repulsivo. 

Os Cientistas do alto escalão, adeptos do cientificismo, por uma questão de coerência e integridade intelectual (no mundo que eles pregam, isso nem existe) não podem nem afirmar que os fundamentalistas religiosos que porventura queiram lhes destruir, estão intrinsecamente errados. Afinal de contas, não há certo e errado, não é mesmo?! A arbitrariedade é soberana! 

[1] - http://www.filosofiadasorigens.org.br/fo/index.php/aconteceu-na-midia-menu-artigos/107-alem-do-ceu-azul-dr-ronaldo-rogerio-de-freitas-mourao

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O livro que fez o seu mundo


MANGALWADI, Vishal. O livro que fez o seu mundo. São Paulo: Vida, 2012.

Enfim, cheguei à última página desse livro. Demorei, mas cada página foi escrutinada! Um autor indiano que não tem nenhum pudor, vergonha ou medo de elogiar o Ocidente e criticar as injustiças que reinam em seu país, a Índia. Muitos advogados do multiculturalismo o crucificariam pela abordagem que ele faz nessa obra. Mas se podemos elogiar a nossa cultura, também podemos criticá-la e reconhecer as virtudes das outras. 

Para o Mangalwadi, quando as pessoas e civilizações colocaram em prática, ou levaram em conta os ensinos (seria melhor dizer, alguns ensinos) contidos na Bíblia, as coisas prosperaram; seja na educação, ciência, direitos humanos, liberdade, economia e etc. Ele é muito bom em sua defesa, mostrando e reestruturando a história de uma forma diferente da qual estamos acostumados a ver. Concordo com ele em muitíssimos pontos. 

Um desses pontos, é quando ele dispara algumas críticas contra o relativismo pós-moderno. Ele cita o J. Stanley Mattson, Ph.D em História Intelectual Americana na Universidade da Carolina do Norte, EUA, que escreve:

“[...] se não há verdade a ser descoberta – se toda verdade é apenas uma função de construtos sociais -, então a própria razão não tem autoridade genuína, e em seu lugar a moda e o marketing acadêmicos determinam em que uma cultura irá crer. [...] Ao abandonar a Verdade, abandonamos a única maneira viável de capacitar a comunidade real – isto é, mediante busca humilde e, sim, ‘ultrapassada’ do Bom, do Verdadeiro e do Belo”. P. 12.

Em adição ao que já foi dito pelo Mattson, penso que a propaganda de que a VERDADE não existe, é a maior MENTIRA já anunciada. Se a VERDADE inexiste, então a declaração que a nega, constitui-se numa grande FALSIDADE. Por que deveríamos acreditar nela? Acreditar em algo, já é pressupor que o objeto da crença é OBJETIVAMENTE VERDADEIRO.

Passeando mais algumas páginas me deparei com essa curiosa informação:

“À medida que a notícia do suicídio de Cobain [vocalista do Nirvana] se espalhou, muitos dos seus fãs o imitaram. A revista Rolling Stone noticiou que sua morte foi imitada por pelo menos 68 pessoas”. P. 22.

Por aí se nota, que o fanatismo e maluquice não é uma prerrogativa das religiões. Mas supostos jovens modernos e descolados em “solidariedade” ou muita frustração diante da morte de seu ídolo, tiraram a própria vida.

Como é de costume nesses livros, sempre há uma confrontação com o materialismo ateu, trazendo à tona as incoerências deste. Mangalwadi pergunta:

“Como pode [...] a mente humana – conhecer as leis invisíveis que regem o Universo e capturar essas leis em palavras, palavras que podem ser testadas e determinadas para que se saiba se são verdadeiras ou falsas? [...] por que a linguagem funciona? Se o homem não passa de um animal como os cães [segundo os ex-professores universitários do autor], como podem as leis ou verdades que regem este Universo ser postas em palavras?” P. 74.

“Se o homem não passa de um animal como os cães”, elas simplesmente não podem! Mas o avanço da ciência e estudos filosóficos têm nos mostrado que podem! O reducionismo materialista não pode dizer o porquê! Apenas se resignar ou espernear que nem uma criança teimosa diante desse fato! 

Como não tem como concordar com tudo que o autor diz, rejeito essa afirmação dele:

“Durante o século XX, a cultura americana ainda era moldada pela Bíblia. Por isso, ela conseguiu se livrar das consequências do mito secular desumanizador”. P. 99.

Foi isso mesmo que eu li?! Ele está dizendo que uma cultura imersa na discriminação e no racismo se livrou das consequências nefastas “do mito secular desumanizador”?! Putz... Num país em que foi preciso uma guerra civil para que os escravos tivessem a sua “liberdade”, ele vem falar que essa sociedade estava livre das práticas desumanizadoras?  Fora o incômodo fato de que os sulistas, aonde se concentrava o maior número de religiosos evangélicos “apegados” e “fiéis” a Bíblia, foi o lado que se posicionou contra a libertação dos negros. Esse Maganwaldi é cego ou o quê?!

Mas agora concordando com ele:

“Na Índia, a falta de água corrente produziu uma prática vexatória que envergonhou Mahatma Gandhi (mas que até hoje é praticada): obrigar intocáveis a carregar os excrementos de outras pessoas em caixas sobre a cabeça”. P. 124. 

Para o autor, as coisas ainda são assim, porque na Índia impera uma visão de mundo que não dignifica o ser humano. Dependendo da casta em que você nascer, você não será mais que uma pessoa inferior e desprovida dos direitos mais básicos. E ainda tem neguinho que reclama do Ocidente.

E ainda concordando:

“[...] O desejo de ler a Bíblia se tornou o combustível que colocou em movimento o motor da alfabetização da Europa”. P. 252.

Tem muito neguinho que teria náuseas ao ler isso. Mas basta saber o que os luteranos, calvinistas, puritanos e outros ramos do protestantismo fizeram em seus países com a política de que todos deveriam ler e estudar a Bíblia. E o único caminho para tal, era alfabetizar a massa populacional.

Nessa mesma trilha, até mesmo a ciência moderna se desenvolveu. Peter Harrison (Ph.D em História da Religião pela Universidade de Queensland e Mestrado nas Universidades de Yale e Oxford. É Professor de Ciência e Religião na Universidade de Oxford. Membro da Academia Australiana de Ciências Humanas. Foi Professor visitante das Universidades de Yale, Princeton. Também lecionou História e Filosofia na Universidade de Bond na Austrália) escreve:

“A Bíblia – seu conteúdo, as controvérsias que gerou, questões variantes como autoridade e, o mais importante, a nova maneira com que foi lida pelos protestantes – desempenhou um papel central no surgimento das ciências naturais no século XVII”. P. 275.

A revolução ocasionada por Lutero, Calvino e aderentes da Reforma Protestante e cientistas católicos deram origem à ciência moderna. Cadê as Universidades que não mencionam esse fato tão bem atestado pela história? Pura discriminação? Creio que sim. É possível.

“A ciência não foi fundada sobre a pressuposição de um materialismo sem Deus”. P. 283.

Não, não foi. Na verdade, a história mostra exatamente que foi a crença num Deus pessoal que criou um universo ordenado e, que assim, esse universo podia ser estudado e meticulosamente escrutinado pela mente humana, visto que o mundo era racional, e não fruto de um processo cego e sem finalidade alguma. Os ateus que engulam essa.