Paul Tornier, Médico pela Escola de Medicina da Universidade de Genebra, traz nessa obra a crise existencial que acomete o homem moderno. Seu diagnóstico geral é que homem moderno abandonou suas raízes espirituais, e tal abandono resultou numa sociedade doente, neurótica e desarmônica. Somos como um adolescente rebelde, que se revoltou contra os valores que nos foram passados, e, agora, encontramo-nos sem eira nem beira, apoiando-se um dogmatismo muitas vezes pior que o fanatismo que advém da religião.
Somos uma sociedade cética, desiludida, amargurada e cínica, segundo Tournier. Abandonamos nossa herança espiritual (cristã) para abraçarmos ideologias que prometeram resolver nossos problemas, mas que não passaram de promessas fajutas.
E qual seria a cura? Voltarmos as nossas raízes espirituais cristãs.
O assunto que esse livro trata mesmo que de forma bastante sucinta, é um dos temas mais espinhosos que os defensores da inerrância/infalibilidade das escrituras se depararam e se deparam diante das críticas dos judeus ortodoxos, dos Teólogos liberais e dos críticos em geral do Novo Testamento.
O Eduardo de Proença, autor do livro, já em suas primeiras páginas começa enfraquecendo o clichê disseminado nas várias tradições cristãs que enfatizam a torto e a direito e de peito estufado que a “Bíblia é a sua única regra de fé e prática”. De acordo com ele, não é bem assim, mas a interpretação de cada uma dessas instituições (e de cada um de nós) é que se constitui a sua regra de fé e prática.
Penso que há muita verdade nisso. Pois se assim não fosse, não existiriam tantas igrejas com interpretações tão díspares sobre o mesmo texto. E todas alegando um fiel comprometimento na exegese (interpretação) do mesmo. É uma igreja dizendo que a outra está errada e usando o mesmo livro para provar o pecado da outra. Chega a ser hilária essa situação.
No entanto, não advogo um relativismo interpretativo, dando o mesmo crédito a toda e qualquer interpretação. As ideias pós-modernas que pululam em certos setores da Academia são extremamente incoerentes e nocivas. Acredito que existem interpretações sóbrias e mais cuidadosas que chegam mais próximas da mensagem que o escritor sacro intentou comunicar. Ciente, é claro, de que não é nada fácil decifrar o seu real significado.
Voltando a problemática que já está no título do livro, para Proença, os autores do Novo Testamento tiveram uma liberdade hermenêutica para lidar com os textos do Antigo Testamento, que nós não temos. Bom, como faz alguns anos que li esse livro, pelo que me lembro é isso que ele quis dizer. Eu mesmo tenho muita dificuldade em aceitar a interpretação do Evangelho de Mateus concernentes as vários episódios da vida de Jesus, que ele vincula a certos trechos do Antigo Testamento. Acho ele bem arbitrário.
Essa tal “liberdade” hermenêutica de Mateus e outros escritores do Novo Testamento é vista por muitos, como citações e interpretações distorcidas que eles fizeram das escrituras hebraicas para tentar provar uma messianidade que nunca existiu no personagem histórico conhecido como Jesus de Nazaré.
De fato quando me deparo com certos textos nos evangelhos e suas supostas citações do Antigo Testamento, fica difícil ver alguma honestidade na pena dos evangelistas. Mas explicações têm sido propostas. Algumas interessantes, outras são evasivas desonestas, e por aí vai.
THEOlogando: Revista Teológica – Ano IV – número 4 - Fonte Editorial, 2010.
Apesar desse livro ter sido escrito por autores eminentemente cristãos, preocupados com o aspecto teológico da discussão desse tema tão espinhoso e doloroso, todos os onze textos escritos, se pautam pelo equilíbrio e sensatez. Os escritores fogem de ambos os extremos que existem sobre essa calorosa questão do aborto.
Nesses extremos, de um lado, vemos os fundamentalistas que querem suas convicções religiosas como leis sancionadas pelo Estado, proibindo toda e qualquer forma de aborto nos hospitais e clínicas médicas.
Na outra ponta da discussão, temos os que se auto intitulam do movimento “pró-escolha”, estes, algumas vezes, parecem sugerir a total liberdade para que a mulher faça a escolha de interromper a gravidez, pelos motivos mais banais. Como por exemplo, a mãe abortar o feto, porque descobriu que o sexo da criança não corresponde as suas expectativas.
Posiciono-me a favor de que em alguns casos, o aborto é uma opção viável, e não se caracteriza como assassinato, como querem os do movimento “pró-vida”. Não acredito que um amontoado de células, mesmo com toda a potencialidade de se tornar um ser humano completo, tenha os mesmos valores intrínsecos que um ser humano já nascido e que se relaciona com outras pessoas possui.
Há defeitos e furos filosóficos nessa forma de pensar? Talvez. Não duvido. E possivelmente eu não saberia responder satisfatoriamente as objeções que fossem lançadas contra essa visão. Porém, o mesmo é verdadeiro para a opção contrária que tantos os fundamentalistas defendem. É um assunto por demais enviesado, e que não se resolve na base do “eu estou certo, e sou do bem. E os outros estão errados, e são cúmplices dos assassinatos de bebês”.
Um trecho curioso que selecionei, escrito por Madonna Kolbenschlag (Universidade de Notre Dame, EUA):
“A postura da igreja [católica] sobre o aborto é um ‘ensinamento moral’; não se trata de uma doutrina de fé. A igreja ocasionalmente mudou seus ensinamentos morais, como, por exemplo, ao condenar a escravidão após tê-la aceito por séculos. Seu ensinamento acerca do aborto e controle de natalidade não é, em hipótese alguma, célebre por sua coerência”. P. 11-12.
Não me admira nada, se dentro de poucos anos essa instituição não reprovar mais o aborto nas primeiras semanas de gestação. Não espero coerência do catolicismo. Se bem que será um avanço, ela mudar o seu posicionamento sobre esse tema. Até mesmo as incoerentes igrejas evangélicas têm uma visão mais aberta e menos severa sobre o aborto.
Quando trabalhava em um colégio perto do Shopping Midway (Natal-RN), em 2006, costumava ir a livraria Siciliano e ficar lendo os livros de lá, sentado nas poltronas numa boa, até voltar ao trabalho. Era um capítulo por dia. Assim, eu não precisava pagar os livros para ler.
Essa obra contando a trajetória do seriado Chaves no Brasil foi o primeiro livro. Foi escrito em 2004, por três jornalistas em comemoração aos 20 anos ininterruptos do programa no Brasil. O seriado começou a ser passado em 1984, e nesse ano de 2016, já faz 30 anos que essa série é veiculada em nosso país.
Uma história curiosa que os escritores contam é que na época em que a Ana Maria Braga estava para sair da Record para ir trabalhar na Globo, os diretores do SBT ficaram muito preocupados com a audiência que ela teria na nova emissora, visto que se na Record, ela já estava com um considerável ibope, imagine na rede Globo.
Em reunião com o Silvio Santos, este lhes disse que colocassem o Chaves pra passar na hora do programa dela na Globo. Eles ficaram bastante incrédulos com essa ordem do Silvio. Porém, o resultado foram vários e vários dias, com o Chaves dando de lavada na audiência e lascando o recém programa da Ana Maria. A Globo teve que passar o “Mais Você” para o horário da manhã.
FERREIRA, Dario Fortes; LAUAND, Jean; SILVA, Marcio Fernandes. Opus Dei: Os Bastidores. Campinas, SP: Verus, 2005.
Livro terminado sobre o “Opus Dei", perigosa seita católica, porém, insignificante quanto ao número de adeptos no Brasil e no resto do mundo. Mesmo assim, já fez e faz uma verdadeira lavagem cerebral sobre as pessoas que dela fazem parte. Não há amor, solidariedade, compaixão. A não ser, é claro, que isso objetive o crescimento da instituição.
Nas primeiras páginas, já ficamos ficamos de ficar de cabelo em pé, com as práticas de “piedade” impostas por essa organização católica aos seus membros:
“[...] O diretor falou-me sobre o cilício, um cordão com pontas de ferro usado por debaixo da roupa, sobre uma das coxas, durante algumas horas por dia, como mortificação corporal obrigatória para os numerários. Falou-me sobre as disciplinas, uma espécie de chicote de cordas com que os numerários praticam mortificação corporal, em geral uma vez por semana. Ganhei o meu kit de autoflagelação”. P. 24.
A capacidade de persuasão e coerção psicológica dessas seitas é de invejar qualquer partido político. O interessante é que inúmeras pessoas de nível superior caem nas malhas dessa instituição destruidora. E o que igreja católica faz para conter os abusos do Opus Dei? Nada!
Os autores do livro tentam isentá-la. O que vejo como algo contraproducente. Se livraram das amarras dessa subcultura católica, mas teimam em inocentar o catolicismo. Vai entender uma coisa dessas.
O problema do Opus Dei e da igreja Católica que o apóia, é colocar a instituição acima das pessoas. Estas são peças descartáveis diante da entidade. As pessoas são meios para se chegar a um fim, e não o contrário. Não são tratadas como um fim em si mesmas.
“Um rapaz paraplégico, ou que tenha alguma outra limitação física séria, não poderá ingressar na Obra como numerário [membro], jamais será objeto prioritário da Obra e menos ainda freqüentará por muito tempo um centro de numerários. A prelazia [líderes] não ‘perde tempo’ com ele. Se porventura a Obra admitir que um paraplégico freqüente um centro com regularidade, será para‘plantar’ uma exceção (quem disse que há discriminação na prelazia?), ou porque ele é útil de algum modo; caso seus pais sejam ricos...”. P. 140.
Para se atingir um fim, qualquer meio é necessário! Até usar pessoas com problemas físicos para sensibilizar os de fora, e assim, ganhar novos adeptos. As armas do Opus Dei é pressão psicológica, ideológica e espiritual. Lá dentro você não pensa; os líderes pensam por você.
Com muito pesar e tristeza, essas são as palavras fortes e sem rodeios dos autores do livro, que já foram um dia membros do Opus Dei:
“Não podemos fingir. A Obra produz o mal. A Obra produz danos psíquicos em seus membros, promove o fanatismo, separa os filhos de suas famílias, desrespeita a intimidade das pessoas, escraviza as consciências, induz à intolerância, infantiliza seus membros, instrumentaliza-os para obter dinheiro [...], engana a mente”. P. 134.
“Sejamos claros: a Obra estupra. Estupra a intimidade das pessoas, estupra a confiança que muitos de nós depositamos nela um dia e que muitos depositam nela hoje. Ela parece inofensiva, mas não é”. P. 135.