quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Guia Politicamente Incorreto do Sexo


PONDÉ, Luiz Felipe. Guia Politicamente Incorreto do Sexo. São Paulo: Leya, 2015. (Versão em PDF).

Link para o livro em PDF:


Como não é novidade, mais um livro da série “Politicamente Incorreta”, alvo de muitas críticas negativas.

Devo concordar!

Pondé (Ph.D em Filosofia pela USP) deixa muito a desejar em muitos de seus aforismos (textos curtos, pequenos, sucintos). Alguns são bem superficiais; fora da realidade, creio eu. Fala muitas tolices em vários deles.

O livro é contrabalançado pelas boas críticas desferidas contra o tosco feminismo moderno, que está imbuído de idéias contraproducentes e ilusórias. Os estardalhaços da esquerda, com sua estúpida ideologia de gênero (não rejeito toda a ideologia), não escapam das alfinetadas de Pondé.

Pondé escreve algumas coisinhas pornográficas, aqui e ali. Querendo chocar, no primeiro parágrafo, ele já começa nesse tom:

“De quatro, ela gemia. Por trás, ele a penetrava e doía. O amor anal é sempre selvagem e mais íntimo do que todos os outros. Gemia de dor, as lágrimas escorriam pelos lábios. Ele puxava seus cabelos loiros com força. Sentia-se uma cadela, momento supremo, pedia que a tratasse por cachorra. Um filósofo diria: eis a mulher.” P. 8.

E assim, ele inicia sua jornada no Guia Politicamente Incorreto do sexo.

“Pouco é necessário dizer sobre a origem e a natureza da praga do politicamente correto. Muitos autores, e eu mesmo, já escrevemos contra ela: trata-se de uma forma de censura do pensamento, dos gestos e da linguagem. [...] Acrescentaria apenas que o terreno da vida sexual é um dos campos em que ela, esta pauta do politicamente correto, faz maior estrago, tornando a vida sexual e afetiva um inferno maior do que já é, impondo-nos agendas políticas que são desejadas por uma minoria de pessoas mal-amadas de alguma forma”. P. 11.

As feministas que mais parecem homens se encaixariam perfeitamente nessa descrição. Mas lembrando que os setores das igrejas cristãs estão afundados no politicamente correto. Controlam se possível, até as posições que seus fieis podem ou não podem fazer dentro de seus quartos.

“O desejo pela mulher é, e sempre foi, um pilar da história humana. A fantasia de tê-la como objeto sexual move o mundo. Por isso, sempre digo que entre as pernas das mulheres se encontram segredos essenciais para a alma masculina e para o mundo como um todo. Infeliz aquele que nunca provou seu gosto.” P. 15.

O Pondé gosta do sexo oposto? Rsrs. Ou ele está tentando disfarçar? Páginas à frente, ele escreve:

“Sim, este livro é escrito por um homem que gosta de mulher. Não me venham cobrar outros pontos de vista”. P. 23.

Deixando de lado sua sexualidade, ele traduz o que TODO homem fantasia. Ele esclarece:

“[...] todo homem que gosta de mulher, gosta dela, antes de tudo, como objeto. Mas a estupidez é assumir que essa frase exclui a alma ou qualquer coisa além do corpo. Tudo nela pode ser objeto de desejo.” P. 23.

“Uma mulher que se sente feia é como um universo criado por um deus mau. Claro, os feinhos e as feinhas são contra a beleza porque não conseguem atingi-la e, sempre que se deseja muito algo e não se atinge, a alma deforma de inveja.” P. 16.

A crítica aí é dirigida as feministas e "feministos". Os "abiguinhos" que até a beleza querem relativizar, por não serem vistosos.

“Pessoas muito limpas não deveriam emitir opiniões sobre sexo. Uma cama muita limpa é um atestado de insanidade sexual. Uma mulher cheirosa demais dá medo. Gostar de cheiro de sexo é condição fundamental para falar de mulher. Uma mulher sem cheiro de fêmea é uma morta.” P. 17.

Eita, Pondé tá cheio das saliências. Todo saidinho. 

“Um dos maiores problemas dos debates politicamente corretos sobre sexo é o fato apontado pela autora americana Phyllis Schafler: esse debate é dominado por mulheres que não tiveram sorte no amor e, por isso, só conheceram homens ruins. Daí, elas tiram a conclusão de que todos os namorados e maridos das outras são trastes como os delas. No fundo, esse ódio é fruto, como sempre, não de um argumento racional, mas de uma paixão ferida.” P. 19.

Outro disparo contra as feministas. 

“Meio doce-azedo é o sabor da mulher. Cada vez mais exige-se coragem para prová-lo. Escondido, ali, entre as pernas, lugar de segredos. [...] Quando você cresce, você quer chupar o seio porque mulher é coisa gostosa e geme quando se sente assim. Quando uma mulher geme não é apenas porque ela goza de prazer, é porque ela goza ao se sentir gostosa. Nenhum homem tem inveja do seio nem do útero. Homem tem pavor da dor de parto e se sensibiliza com ela. Tampouco tem medo da vagina. Homem quer penetrar na vagina ou chupá-la.” P. 22.

Se mostrando "saliente", "imoral" e "cabido". 

"[...] Foucault (século 20) foi quem deu o tapa final para muita gente pensar que sexo é política: para ele, o mundo é apenas um conflito entre formas de dominação (as formas de 'homogeneidade' da qual ele fala). Tudo é construção social discursiva. O que é isso? Suspeito que muitos foucaultianos repetem essa ideia sem saber direito o que é, mas, na prática, em termos de sexo, isso deságua na ideia de que um discurso social constrói as identidades sexuais a partir de formas de dominação, estabelecendo, por exemplo, que mulheres gostam de ser penetradas e possuídas e que homens têm que gostar de fazer isso com as mulheres (coisa que ele, Foucault, não apreciava muito)." P. 26.

Em tudo que é pensamento lixo, Foucault está envolvido. Pondé continua:

"Na ponta final dessas políticas do sexo (ou teorias de gênero) está a ideia de que a humanidade não está dividida na díade macho-fêmea, mas sim que essa díade é uma construção do discurso patriarcal opressor. Sei que isso dá sono para qualquer um que já viu uma mulher gemendo de tesão, mas vamos adiante nessa coisa. O resultado é que chegamos assim à ideia de que sexo politicamente correto é sexo que desfaz qualquer forma de 'opressão' política do corpo (da mulher, quase sempre). A semelhança com a idéia de culpa cristã via a crença de que temos uma 'vontade pecadora' (no caso das políticas do sexo, a 'vontade pecadora' seria a 'vontade patriarcal opressora') é enorme, daí a semelhança com o puritanismo. A diferença é que o pecado dá tesão, enquanto o papo político dá sono." P. 26.

"[...] Nelson Rodrigues dizia que a prostituição não é a profissão mais antiga da mulher, mas sua vocação mais antiga. Sua ideia não é maldizer as mulheres (só o imbecis pensam assim), sua ideia é enaltecer ocaráter erótico e pecaminoso do desejo que se tem pelas mulheres. Ideias como essa do Nelson são como verdadeiros 'marcadores' contra o sexo correto. Quando ouvida, quem se revolta contra ela é um analfabeto em sexo. E, infelizmente, o lugar onde se encontram mais analfabetos no Eros é onde se acumulam inteligentinhos: o mundo da cultura e do pensamento. As universidades contemporâneas são lugares sem nenhum Eros e com muita política." P. 29.

Sobre nós, homens, gostarmos de apreciar duas mulheres se pegando:

"Um dos maiores mistérios para as mulheres é entender a razão de os homens adorarem ver duas gatas em ação. O fato de cenas assim estarem no mercado (e o mercado é sempre um sábio da natureza humana e, por isso mesmo, é detestável para quem teme esta mesma natureza) de filmes pornô hétero é indicação de que homens gostam disso. A beleza aqui é dobrada. Muitas mulheres, contaminadas pela praga do politicamente correto que vê machismo até no Papai Noel, acham que isso é puro machismo". P. 40.

Ele continua:

"Outras imaginam que seja desejo de dominação, como se Foucault (que inventou esse negócio de “dominação” porque gostava de rapazes fortes com roupas de couro) entendesse alguma coisa quando se referiu ao desejo masculino por uma mulher. Não. Pouco importa a razão de os homens sonharem em ver duas gatas em ação. Ninguém sabe a razão desse desejo. E, como tudo que é mais forte ou importante em nós, pouco se sabe a causa, e quase sempre pouco importa saber." P. 40.

A “vitória” de Eva sobre Deus:

"Mesmo diante de Deus, o homem escolheu a mulher. Fosse Eva uma feia, a Criação estaria no seu lugar até hoje. [...] Como alguém pode dizer que a Bíblia é machista quando Eva venceu Deus no prólogo do drama cósmico?" P. 48.

Caramba, nunca tinha pensando dessa forma!

"Todo mundo um pouco mais velho se lembra do coração disparado no momento de chamar uma menina para dançar. O poder dela de destruir sua noite diante de todos era avassalador e, ao mesmo tempo, encantador. Um 'não' encerrava uma carreira por alguns dias. Um 'sim' colocava o vencedor da noite nos céus. Se ela fosse linda, a vitória era esmagadora." P. 54.

Hoje numa festa ou micareta, caso você leve um fora, é só partir para a outra garota ao lado. 

“Aulas sobre sexualidade em escolas deveriam ser objeto de muito cuidado por parte dos pais. [...] Por quê? Porque quem disse que podemos confiar cegamente em quem decidiu dar aula de sexualidade para as crianças? E não me refiro à suspeita de taras sexuais por parte desses professores. Acho que suas principais taras são ideológicas. Querem fazer a cabeça das crianças com suas bobagens.” P. 65.

Continuando:

“[...] a principal razão, suspeito, é simplesmente a motivação ideológica de falar para as crianças o que eles, professores, acham que seja certo em matéria de sexo. Nelson Rodrigues já suspeitava das aulas de educação sexual, e isso porque ele não chegou a ver gente que pretende dizer aos alunos que meninos que agem como meninos são machistas e meninas que gostam de meninos são oprimidas.” P. 65.

Continuando:

“Ensinar às crianças que não devemos fazer bullying com colegas em sala de aula é uma coisa boa. Ensinar aos meninos que eles são opressores das meninas é, talvez, uma das piores formas de bullying que já existiram na face da Terra. E não vejo nenhuma educadora dizer que esses professores estão fazendo bullying com seus alunos quando os fazem se sentirem culpados porque são meninos.” P. 65.

Fantástico!

“Que a pedagogia é um dos ramos do saber em que menos devemos confiar nos últimos anos é sabido por qualquer um. Vejam: uma das últimas novidades das escolas que torturam meninos (e meninas também, porque reprimir meninos é reprimir meninas, apesar de que hoje em dia queiram dizer que homens e mulheres não são seres interdependentes) é o dia em que meninos devem ir vestidos de meninas e meninas vestidas de meninos”. P. 67.


[...]


"A pergunta é: para quê? E por quê? Para nada, apenas para satisfazer as bobagens teóricas que animam grande parte da pedagogia nos últimos tempos.” P. 67.


[...]


“Devem pensar que assim acabarão com os preconceitos. Não, vão piorá-los. E também a violência vai piorar porque todas as práticas politicamente corretas são exatamente o que elas pretendem combater: violência simbólica”. P. 67.

A ideologia doentia sobre gênero nos centros do "saber":

"Os departamentos universitários que estudam sexualidade (ou gênero) têm novas exigências de pureza para seus pesquisadores. Além do fato de que, para esses estudos de gênero, homens e mulheres não existem em si, mas são criações de uma sociedade patriarcal opressora (frases como essa dão sono para quem passou da idade infantil), a universidade, transformada plenamente em instância totalitária, agora exige cada vez mais pureza de gênero para seus pesquisadores.

Sabe-se há muito tempo que os estudos de sexualidade nas universidades eram privilégio de mulheres (normalmente sem muito sucesso afetivo estável) e gays. Agora isso não basta. Se você quiser provar sua lealdade ao partido de gênero você deve ser no mínimo um transexual, melhor se for transgênero.

Se você for gay, deve fazer algum tipo de intervenção que transforme você num transexual feminino para garantir que não é um gay reacionário. Se for mulher, já não basta essa condição porque você pode ser heterossexual, e, portanto, uma colaboracionista que deseja o opressor. Melhor se for lésbica. O caráter perverso e totalitário é evidente, mas, antes de tudo, o ridículo salta aos olhos de qualquer pessoa razoável". P. 73.

O mito da "cultura do estupro":

"Estupro é uma praga ancestral e tem a ver com uma mistura de força física maior do homem e sua eterna e miserável insegurança diante de sua fêmea. É uma praga e deve ser combatida sem pena nem dó. Mas outra coisa é a afirmação de algumas chatinhas de que todo homem é estuprador". P. 76.

[...]

"Mulheres que fazem essa afirmação são semelhantes a homens que afirmam que toda mulher é vagabunda e não merece confiança. O fato de que a mulher gosta do homem que a submete ao seu desejo (ao desejo dela por ele, antes de tudo) e a faz desejar ser penetrada e possuída é absolutamente desconhecido por essas puritanas modernas, que arrastam seu rastro de solidão, ódio e histeria pelo mundo afora." P. 76.

Programa Roda Viva: Luiz Felipe Pondé


Excelente programa com o Filósofo, Luiz Felipe Pondé (Doutor em Filosofia pela USP e pela Universidade de Paris - VIII. Pós-Doutorado pela Universidade de Tel Aviv, Israel). Com uma sagacidade e inteligência ímpar, Pondé articula com maestria suas ideias sobre Deus, ateísmo, sentido da vida, religião, feminismo, políticas públicas, marxismo, esquerda, direita, psiquismo humano, aborto, catolicismo, casamento gay, verdade, dentre outros temas.

Um dos assuntos que mais me chamou a atenção foi sobre sua visão sobre a natureza humana. Para ele:

"O ser humano é fraco, medroso, precário, mentiroso sobre suas próprias angústias. Inclusive por razões sociais – não dá pra você sair por aí falando de tudo que você tem medo. [...] A hipocrisia é parte da base da moral pública”. 

Todos nos encaixamos nesses adjetivos. Ninguém escapa, segundo Pondé. Parece que para ele, não há verdadeira abnegação, desprendimento e altruísmo, todos esses atos vêm acompanhados de um certo interesse que nos traga alguma vantagem, e venha suprir a nossa miséria. Creio que ele está correto em suas ponderações. Até o mais devoto religioso, é “abnegado”, “amoroso” e “dedicado”, porque espera a recompensa lá na frente. 

Como me deu uma certa preguiça de transcrever certas falas dele nesse programa, copiei e colei um trecho do que ele disse a revista “Veja” no mesmo ano em que essa entrevista foi exibida (2011), visto que representa muito bem o que foi dito nela:

“Opero no debate público assumindo os riscos do niilismo, e sou muitas vezes acusado de niilista. [...] Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.”

Filosofia para Corajosos


PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para Corajosos. São Paulo: Planeta, 2016. (Versão em PDF).

Link do livro para baixar:

http://lelivros.top/book/baixar-livro-filosofia-para-corajosos-luiz-felipe-ponde-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

Apesar do sensacionalismo do título dessa obra, Pondé é um cara que gosto de ouvir! Sempre gostei de suas palestras e entrevistas! E agora, acabo de terminar um segundo livro de sua autoria.

Com Ph.D em Filosofia na USP, e Pós-Doutorado na Universidade de Tel Aviv, nesse seu recente livro, ele dispara todo o seu veneno contra a sociedade contemporânea, que segundo ele, é a sociedade mais hipócrita, doente e retardada da história.

É um Pondé abusado, chato, marrento, birrento, pessimista e, digo até, contraditório e marqueteiro, ou sendo mais compreensível com ele (como se ele se importasse com isso): paradoxal.

Livro bom! Livro recomendado!

Alguns trechos que julguei interessantes:

"Pensar para onde vamos depois da morte ou como nos sentimos quando sabemos que vamos morrer levanta, de cara, uma questão, entre tantas outras: por que o susto em saber que vamos morrer quando sabemos o tempo todo que vamos morrer um dia?" P. 15.

Quem é que não se caga de medo, por esse iminente dia?! Eu me cago todinho.

"E se não existir vida após a morte, tudo é permitido? E senão existir Deus, tudo é permitido? [...] Essa pergunta é muito importante porque implica o seguinte: se morro e viro pó e ninguém descobre os absurdos que fiz na vida, e não existe alguém ou algo que me faça pagar pelo que fiz nesta vida 'no outro mundo', isso significa que tudo bem matar. Será que a vergonha de fazer algo errado basta para limitar meu comportamento? Acho que não. E você? Mas o fato de, talvez, precisarmos de um 'Deus' para garantir a moral e o bem não implica a sua existência, certo? O mais legal da filosofia é você aprender a pensar sem medo das respostas.Talvez Deus não exista e ainda assim continuemos a precisar que Ele exista. Enfim, questões sem fim." P. 16.

Questão espinhosa. Muitos dos religiosos mais moralistas da história fizeram coisas horríveis em nome de Deus. Para eles, como Deus tem existência concreta, então tudo é permitido fazer, para defender a reputação dele, frente aos hereges.

“Quem nunca leu nada não tem opinião sólida sobre nada, apenas achismo, uma opinião vazia, como dizia Platão, quando fazia a diferença entre ter opinião (doxa) e conhecer algo (episteme). Conhecer demanda trabalho, conversar com outras pessoas e ler alguns livros. Na maioria dos casos, conversar com mortos. Uma opinião vazia, qualquer bêbado tem.” P. 22.

A maioria dos brasileiros. A preguiça para pensar, ler e estudar, é generalizada.

“Para dizer que existe evolução moral na humanidade seria necessário termos um critério absoluto, universal e seguro do que é certo e do que é errado. E isso não existe.” P. 36.

Existe esse critério? Os apologistas evangélicos dizem que sim. Seria o próprio Deus. Mas é difícil extrair do livro que eles dizem seguir a risca, absolutos morais.  São os que mais esbravejam contra a relativização dos valores, mas relativizam, suavizam, minimizam, atenuam, as passagens de matanças de crianças e velhos no Antigo Testamento.  

"Vale a pena ser honesto? Será? Minha tendência é achar que não. [...] Para começo de conversa, podemos suspeitar que a honestidade seja falsa ou fruto de falta de oportunidade de agirmos de outra forma. Para piorar, a verdadeira virtude é silenciosa e não faz marketing de si mesma, o que em nosso mundo dominado pelo marketing, fica difícil de ser sustentado. O mundo contemporâneo é tagarela por natureza." P. 41, 42.

Até vale. Mas até quando raramente fazemos algum ato de “caridade”, gostamos que os outros notem a nossa “bondade”. Eu sou assim. Quem sabe, não posso adquirir alguma vantagem disso no futuro, não é mesmo?!

"Essa ideia de que ser religioso implica alguma forma de carência cognitiva é comum entre pessoas que se julgam mais cultas. Tenho dúvidas de que isso seja uma verdade evidente. [...] O século XX foi mortífero não em nome de Deus, mas em nome da política. Esse é um fato que, muitas vezes, escapa aos nossos péssimos professores de história que ensinam bobagens para nossos alunos". P. 44.

Esse mito de que gente religiosa é (sempre) mais fraca intelectual e emocionalmente, ainda perdura em alguns círculos.

Pondé continua:

"Na minha experiência pessoal, acadêmica ou  na mídia, não me parece que pessoas não religiosas sejam mais sábias do que pessoas religiosas. Muita gente para de crer em Deus ou deuses e passa a crer em si mesma [...], o que acho uma bobagem ainda maior se levarmos em conta a fragilidade de nossos pequenos 'eus'." P. 44.

Independente de termos crenças religiosas ou não, somos frágeis, carentes, dependentes, egoístas, angustiados, perdidos, aflitos... Diante disso, como ter fé em nós mesmos?


“A ideia mais comum de sobrenatural é que ele seja o mundo dos mortos que se relacionam com os vivos. [...] A questão essencial aqui é: por que esses mortos 'precisam de nós, meros vivos?'. Porque não existem e são criações humanas. Esses espíritos nunca sabem além do que sabemos: precisamos amar uns aos outros, fazer menos guerra, ter menos poluição e combater o apego material. Quem precisa de espíritos do além para saber que estamos num atoleiro moral neste mundo dos vivos?" P. 57-58.

[...]

"Resta nos perguntarmos a razão de, depois de tanto conhecimento científico acumulado, tanta gente ainda se sentir atormentada e atraída por esse tipo de coisa. A primeira conclusão é que permanecemos, em alguma medida, na pré-história, amedrontados pela escuridão do mundo e de nós mesmos." P. 58.

As ladainhas do espiritismo, ainda enganam muitas pessoas. 

“Uma das perguntas que julgo mais inúteis em filosofia é se Deus existe. [...] crer em Deus é mais fruto de causas extrarracionais como educação, traumas infantis, ambiente cultural familiar, ter um 'cérebro de crente' do que pensar que crer em Deus é fruto de uma cadeia lógica de provas a seu favor. A mesma coisa vale para a descrença. Dito de outra forma, não acredito que crer em Deus seja uma coisa que você escolhe, assim como você escolhe uma marca de sabonete ou uma marca de carro com base na lógica custo-benefício". P. 58, 60.

[...]

"Acho que argumentos que tentam provar a existência de Deus são inúteis. Muita gente tenta provar a existência de Deus dizendo que o universo 'necessita' de um princípio ordenador de tudo, o que eu julgo infantil como argumento. Tudo isto aqui pode ser fruto de um grande acaso num espaço de tempo inimaginável no qual os elementos se arrumam e desarrumam, e no meio deles nós surgimos e desaparecemos. Deus existe? Eu nunca fui crente. Mas isso não me impede de julgar Deus uma hipótese elegante para a existência das coisas, uma vez que um ser como Ele me parece misterioso e interessante de conhecermos, ainda mais se for uma 'pessoa'". P. 61.

Discordo dele. A questão da existência de Deus é um ponto crucial na Filosofia.  E também não acho que os argumentos pró e contra sejam (sempre) inúteis.

E terminando as citações:

“Os alunos chegam à universidade sabendo nada, lendo nada, tendo uma opinião sobre tudo. Todos vão mudar o mundo para melhor, e os outros não querem saber de muita coisa. Claro, existem as exceções". P. 92.

Hahaha. E num é não?! Mas nem os Professores muitas vezes não sabem nem o que estão ensinando.