Em um navio
negreiro ilegal, negros de Serra Leoa, conseguem escapar dos grilhões e matar
os tripulantes. Dois destes são mantidos vivos, para que possam ajuda-los a
voltarem para a África. No entanto, os planos são frustrados, e eles acabam
sendo presos nos EUA.
Começa-se uma
batalha no tribunal para saber com quem ficarão essas pobres almas condenadas à
servidão. Pessoas vêm de todos os lados reivindicando o direito à posse desses
cativos. A rainha da Espanha, Isabella II, uma pirralha de 12 anos de idade,
manda o seu recado do outro lado do oceano, para ferrar com os negros, mas
ninguém leva muito em conta o que ela diz. A bichinha ainda nem tirou a cantiga
do mijo.
Felizmente, um
abolicionista, juntamente com o seu amigo e empregado negro (Morgan Freeman) e
um advogado, frustram pelo menos a nível estadual, a pretensão de certos escravistas
de possuírem esses africanos. E olha que o poder executivo interferiu de modo
desonesto no poder judiciário, mudando o juiz, quando os abolicionistas estavam
se saindo melhor nos argumentos. Fizeram isso por temerem uma guerra civil. O seu
fantasma já rondava o novo mundo no final da década 1830.
Devido a
conchavos políticos, o caso vai parar na suprema corte, e o ex-Presidente dos
EUA e Advogado, John Adams Quincy, convence o tribunal, de que os negros do
navio espanhol Amistad, não são escravos, portanto, não são bens e propriedades
de ninguém, e assim, devem ser soltos.
Amistad é um
filme longo, e até cansativo em alguns momentos. Mas vale muito a pena gastar às
duas horas e meia, assistindo-o. É mais uma obra do cinema que volta ao
passado, para nos lembrar do quanto à escravidão é algo imoral. São assustadoras
algumas cenas do filme, quando, por exemplo, mulheres e homens são acorrentados
uns aos outros e jogados em alto mar, sem chance alguma de sobrevivência. Isso às
vezes era feito, para que o navio não fosse acusado de estar traficando
ilegalmente, visto que os navios britânicos estavam sempre patrulhando os
mares, para conter o tráfico de escravos.
“É nosso destino
como abolicionistas e cristãos, salvar esta gente. Eles são gente, não gado” (Sr.
Tappan, abolicionista)
Pena que os cristãos da época não
pensavam assim. Legitimavam de todas as formas, inclusive usando a Bíblia para
provar que os “de cor” deviam ser escravizados. Ah o amor cristão... Católicos
e protestantes juntos no comércio e tortura de pessoas.
Em sua brilhante fala perante a
suprema corte, John Quincy Adams (Anthony Hopkins) menciona a Declaração de Independência dos
EUA, que diz que “todos os homens são iguais” e que todos têm “direitos
inalienáveis”. Eis aí, a hipocrisia, safadeza e incoerência da política e
sociedade norte-americana durante o nefasto período da escravidão e segregação.
"Considerando estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade." P. 9.
Jogaram a Declaração no lixo. E ainda tinham a cara de pau de mantê-la exposta em seus tribunais, repartições públicas... Vai ver que eles tinham uma definição bem peculiar do que seria “homem”. Nesse caso, o negro não preenchia os requisitos necessários para ser considerado um ser humano, com plenos “direitos inalienáveis”.
"Considerando estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade." P. 9.
Jogaram a Declaração no lixo. E ainda tinham a cara de pau de mantê-la exposta em seus tribunais, repartições públicas... Vai ver que eles tinham uma definição bem peculiar do que seria “homem”. Nesse caso, o negro não preenchia os requisitos necessários para ser considerado um ser humano, com plenos “direitos inalienáveis”.
Hoje, aqui mesmo no Brasil,
existem vários tipos de escravidão, opressão e injustiças. E assim como a
sociedade branca de tempos passados, fingimos que as coisas naturalmente devem
ser assim, porque sempre foram. Uns sofrem bastante, para que outros sejam
felizes. Pensando dessa forma, convenientemente nos inocentamos e nos isentamos de nossas
responsabilidades como seres humanos. Nada ou quase nada de empatia e misericórdia
para com os que sofrem.
REFERÊNCIAS
JEFFERSON, Thomas. Declaração de Independência. In: CONSTITUIÇÃO dos Estados Unidos da América e Declaração de Independência. São Paulo: Jalovi, 1987.
REFERÊNCIAS
JEFFERSON, Thomas. Declaração de Independência. In: CONSTITUIÇÃO dos Estados Unidos da América e Declaração de Independência. São Paulo: Jalovi, 1987.