quinta-feira, 1 de junho de 2017

Os Cientistas e os Seis Dias de Gênesis

Do Iluminismo do século XVIII para cá, cada vez mais estudiosos e pessoas comuns têm se revelado ateias, irreligiosas, agnósticas e anti-religião. Os tempos mudaram. Não vivemos mais em uma sociedade homogênea, onde todos diziam-se crentes em Deus, em Jesus, na Bíblia e na igreja. Esses fundamentos há muito tempo vêm sendo ridicularizados, questionados e abandonados. Nas universidades e Centros de Pesquisas são aonde mais se vê a indiferença pelo transcendente. Em alguns setores e departamentos universitários é generalizado o ceticismo e desdém pela crença em Deus. O passado com suas crendices ficou para trás. A Ciência possibilitou o conhecimento não completo e exaustivo, mas suficiente, para descartar qualquer metafísica sobrenatural em nosso mundo. Assim pensam, acredito eu, a maioria dos Cientistas e boa parte dos acadêmicos de outras áreas.

Considere o que diz Richard Dawkins (Ph.D em Zoologia na Universidade de Oxford), onde para ele, os cristãos estão desalentados e ansiosos para encontrarem Cientistas do primeiro escalão que creem em Deus.

“Fica cada vez mais difícil encontrar grande cientistas que professem sua religião ao longo do século XX. [...] O empenho dos apologistas para encontrar cientistas modernos destacados que sejam religiosos tem um certo ar de desespero, produzindo o som inconfundível de se raspar o fundo da panela. [...] Um estudo na importante revista Nature, de Larson e Witham, em 1998, mostrou que dentre os cientistas americanos considerados eminentes o bastante para serem eleitos para a Academia Nacional de Ciências (o equivalente a pertencer a Royal Society na Grã-Bretanha) apenas cerca de 7% acreditam num Deus pessoal. [...] O que é notável é a completa oposição entre a religiosidade do povo americano em geral e o ateísmo da elite intelectual". P. 140, 141, 142. (Deus, Um Delírio. São Paulo: Companhia das Letras, 2007).

Não acho que ele esteja de todo errado. Cientistas cristãos, encontraremos muitíssimos, tanto aqui, no Brasil, como nos EUA, talvez, na Austrália, e alguns na Europa. Mas digamos, a nata dos Cientistas, não são cristãos e muito menos teístas.

De qualquer maneira, a reação de um grupo pitoresco de Cientistas da Criação veio nos anos 2000, quando de saco cheio de ouvirem de prestigiados Cientistas, como Stephen Jay Gold (Ph.D em Paleontologia pela Universidade de Columbia), Ernst Mayr (Professor Emérito da Universidade de Greifswald), dentre vários outros renomados estudiosos do mundo natural, onde eles disseram que virtualmente nenhum verdadeiro Cientista, atualmente acredita na criação literal do mundo em seis dias, conforme relata o primeiro livro da Bíblia hebraica, o Gênesis. Os Cientistas criacionistas resolveram escrever um livro, onde pudessem reunir um bom número de cristãos fundamentalistas e treinados em Ciência nas mais diversas áreas, para refutar essa generalização.

John Ashton (Membro do Royal Instituto de Química da Austrália e do Instituto de Alimentos, Ciência e Tecnologia da Austrália) reuniu 50 Cientistas para desmentir as declarações feitas contra a fé nos seis dias da criação. Todos eles são crentes na existência de Deus. O Criador é o fundamento da prática científica, dizem eles. Não adianta os Cientistas ateus negarem esse alicerce, sobretudo, quando Deus é quem deu ao ser humano a capacidade de aprender sobre a natureza e seus maravilhosos mistérios.

Aqui vão as dezenas de declarações desses Cientistas incomuns, reunidas no livro Em Seis Dias, publicado no Brasil, pela Sociedade Criacionista Brasileira, entidade da Igreja Adventista do Sétimo.

Ariel A. Roth, Ph.D em Biologia pela Universidade de Michigan, membro da Sociedade Americana de Geologia e membro da Sociedade de Geologia Sedimentar.

“Eu acredito que a ciência não estaria enfrentando algumas das questões insuperáveis sobre a origem da vida [...] se não tomar uma abordagem tão estreita. Faria bem a ciência se ela voltasse a ter uma atitude mais aberta e ampla que tinha vários séculos atrás, quando os fundamentos da ciência moderna foram estabelecidos. Basta observar que cientistas como Kepler, Boyle, Newton, Pascal e Linn acreditavam em Deus como o Criador, que estabeleceu as leis da ciência.” P. 96.

Andrew Macintosh, Ph.D em Teoria da Combustão pelo Instituto de Tecnologia de Cranfield, na Inglaterra e Ph.D em Matemática pela Universidade do País de Gales.

“Eu acredito que é porque os seres humanos não querem prestar contas a um Deus Criador que eles persistirem com uma teoria [a da evolução] que tem pouca evidência para apoiar isso.” P. 162.

John K. G. Kramer, Ph.D em Bioquimíca pela Universidade de Minnesota, EUA. Bacharel e Mestrado em Bioquímica pela Universidade de Manitoba. Possui Pós-Doutorado pelo Instituto Hormel e pela Universidade de Ottawa.

“Eu acredito em um Criador, porque eu vejo os seus projetos na natureza em todos os lugares e as provas de inteligência no DNA de cada célula.” P. 49.

Bob Hosken, Graduado em Bioquímica pela Universidade de Western Australia, um Mestrado em Bioquímica pela Universidade de Monash, Ph.D em Bioquímica pela Universidade de Newcastle.

“Cada animal é, de certa forma, projetado especialmente para se ajustar ao ambiente específico em que vive. Não posso deixar de atribuir a complexidade de tal projeto a um Criador, em vez de a forças evolucionárias movidas ao acaso.” P. 121.

George T. Javor, (Ph.D pela Columbia University) leciona Bioquímica na Loma Linda University, Loma Linda, Califórnia, EUA.

“Quando afirmamos que o nosso mundo foi criado por um Criador, que implica a existência de uma mente que não só inventou a natureza, mas trouxe tudo à existência. A grandeza de um Deus tal não pode ser exagerada. [...] A diferença entre um crente do século 20 no final do Deus Criador e aquele que vive em 1500 aC, no tempo de Moisés, resume-se ao fato de que agora temos uma melhor perspectiva sobre a grandeza do Senhor.” P. 133.

Timothy Standish, Ph.D em Biologia pela Universidade da Virgínia, Charlottesville, Virgínia. Bacharel em Zoologia na Universidade Andrews. Professor de Genética na Universidade Andrews.

“Eu acredito que Deus fornece evidências de Seu poder criador para que todos possam experimentar pessoalmente em nossas vidas. Para conhecer o Criador não requer um grau avançado na ciência ou teologia. Cada um de nós tem a oportunidade de experimentar o Seu poder criativo em recriar o Seu caráter em nós, passo a passo, dia a dia.” P. 113.

Jonathan Sarfati, Ph.D em Físico-Química pela Universidade Victoria, em Wellington, Nova Zelândia. Possui Bacharelado em Química por esta mesma Universidade.

“Ao ver as obras maravilhosas de projeto no mundo, a pessoa intelectualmente honesta deve concluir que elas foram feitas por um grande Designer.” P. 75.

Henry Zuill, Ph.D e Mestre em Biologia pela Universidade Loma Linda, Califórnia. Possui Bacharelado em Biologia no Atlantic Union College.

“A biodiversidade é um poderoso testemunho sobre o Criador, que confirma Romanos 1:20: "A partir da criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder como a sua divindade foram claramente observados no que ele fez.’” P. 67.

Jeremy L. Walter, Ph.D, Mestrado e Bacharel em Engenharia Mecânica na Universidade Estadual da Pensilvânia.

“[...] se um Deus Criador Todo-Poderoso existe, sua criação tem valor e finalidade puramente baseado em seu próprio conselho e vontade, e as suas criaturas seriam de especial valor e interesse para Ele. Sua onisciência garante projeto e conhecimento perfeito, e Ele poderia fornecer um padrão para tudo o que é verdadeiro. Como um ser amoroso e pessoal, é razoável que Ele deseja nossa comunhão e escolheu nos revelar os seus propósitos. A Bíblia afirma ser a Sua revelação especial, e ensina exatamente as verdades sobre Deus.” P. 18.

Jerry R. Bergman, Ph.D em Biologia Humana na Universidade de Columbia Pacific. Mestre e Bacharel em Psicologia na Universidade Estadual de Wayne. Mestrado em Sociologia na Universidade Estadual Bowling Green.

“Os cientistas, uma vez argumentaram que a vida era relativamente simples, que ela podia ser gerada espontaneamente [...]. Eles agora percebem que a célula humana é a máquina mais complexa conhecida no universo, muito mais complexa do que o computador mais caro. Essa percepção tem forçado muitas pessoas a concluir que a vida não poderia ter evoluído, mas deve ter sido criada instantaneamente como uma unidade em pleno funcionamento.” P. 37.

Todos estes são crentes convictos (pelo menos é a ideia que passam) na criação do mundo em seis dias literais de 24 horas há apenas alguns milhares de anos. Evidências eles têm? Bom, dizem que têm. Até apresentam algumas supostas provas para algo tão estranho a Ciência adotada pela comunidade científica majoritária. Mas seu principal motivo para tal, não é a Ciência. Ela é secundária, terciária, nesse caso. A Bíblia é a principal fonte para se afirmar que a natureza foi feita em seis dias. O raciocínio é simples: se a Bíblia é a palavra infalível de Deus, então o mundo da natureza não veio a ser o que é, por processos desordenados, e por meio da evolução. O Gênesis, segundo eles, é claro: Deus criou Adão e Eva e os animais em 144 horas. Portanto, está aí, a verdade sobre a origem dos seres vivos. Como eu já escrevi noutras postagens nesse blog, a Ciência é uma subserviente dessa pressuposição, quando eles vão estudar as plantas, as rochas, os animais e etc.  Todas as evidências, que, porventura venham encontrar, são automaticamente reinterpretadas para se adequar a sua visão FIXA.

Eduard Broudeaux, Ph.D em Química pela Universidade de Tulane e Professor Emérito da Universidade de New Orleans, resume bem, o pensamento dos cinquenta cientistas que escreveram Em Seis Dias:

“Finalmente, sou forçado a concluir, como manda a razão, que se a Bíblia é verdadeiramente a Palavra de Deus (como eu estou convencido de que é), então ela deve ser precisa em cada detalhe, incluindo o relato da criação em seis dias literais. A ciência me diz que a evolução não é, certamente, científica, enquanto a criação não está em desacordo com o que é verdadeiramente científico. Por isso, a criação é a visão mais aceitável das origens. A criação exige um ser sobrenatural, criador onipotente; e que a Bíblia é a única fonte convincente de que este Deus é o criador. Na verdade, é, então, o relato bíblico da criação deve ser preciso em cada detalhe, incluindo os seis dias de 24 horas para a conclusão do começo ao fim.” P. 197.

Junta-se a ele, Theo Agard, Médico e Ph.D em Física na Universidade de Toronto, Bacharel e Mestre em Medicina pela Universidade de Londres, que diz:

“Minha crença na criação sobrenatural deste mundo em seis dias se resume em grande parte, nos seguintes pontos: a teoria da evolução não é tão científica como muitas pessoas acreditam.” P. 197.

Fechando as citações, Andrew Snelling, Ph.D em Geologia na Universidade de Sidney, revela:

“Então, por que eu acredito no relato bíblico da criação por Deus ao longo de seis dias literais? [...] A razão é que a Bíblia ensina claramente a criação literal de seis dias e um dilúvio global, não só nos capítulos de abertura do Livro do Gênesis, mas também em todo o Antigo e Novo Testamento, inclusive sendo confirmada pelo próprio Jesus Cristo.” P. 265.

Se o livro quer passar a ideia de que existe uma controvérsia no meio acadêmico, quanto aos seis dias, ou quanto a evolução, só enganarão os desinformados. Fora esse grupo de 50 Cientistas, não existem mais do que duas ou três centenas deles mundo a fora. E a maioria nem são da área da Biologia, disciplina que realmente lida com os seres vivos, e que de fato importa para refutar a evolução das espécies.

Reiterando mais uma vez: Não sou evolucionista. E muito menos treinado em Ciência. Mas lúcido o suficiente pelas leituras fundamentalistas que já fiz até aqui, para rir dessa crença dos seis dias literais. A Bíblia pode perfeitamente ser interpretada de outra forma, mediante boa exegese dos textos sagrados. E se ela ensinar como dizem esses Cientistas os seis dias literais? Caso essa tenha sido a intenção do autor/autores de Gênesis, a resposta é simples: Numa visão científica, o primeiro livro das escrituras está errado e defasado, refletindo as crendices mitológicas do seu momento histórico.

Há elementos mitológicos no texto que não dá para serem descartados, impondo sobre ele nossa visão técnica e científica contemporânea.

As citações do Em Seis Dias foram um pouco adaptadas, por causa da péssima tradução feita. Parece que foi feita pelo Google Tradutor. Não falo da tradução da Sociedade Criacionista Brasileira, mas da versão que baixei no site MinhaTeca, da qual fiz uso.   

ASHTON, John F. Em Seis Dias: Por Que 50 Cientistas Decidiram Aceitar a Criação. Master Books, 2001. (Versão em PDF).