FISCHER, Joachim H. Reforma: Renovação da
Igreja pelo Evangelho. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2006.
“A origem
da Reforma protestante foi a redescoberta da justificação pela graça de Deus
mediante a fé.” P. 27.
500 anos da Reforma Protestante! Passaram-se cinco décadas desde 1517,
quando Lutero desafiou a autoridade católica, levando consigo, milhões de
pessoas a adotarem um novo estilo de culto ao deus judaico-cristão. A reforma
desencadeou um movimento que mudou os rumos do mundo. Fez parte de um movimento
maior, o Renascimento, iniciado no fim do século XIV, que começou a trazer
gradativamente uma nova visão há muitos europeus, que se deram conta de que o
antigo sistema de crenças, já não explicava a realidade adequadamente. O caminho estava sendo construído para que
rupturas no catolicismo acontecessem.
Vejamos um pouco do que Fischer (Ph.D em História da Igreja na
Universidade de Göttingen, na Alemanha) tem a nos dizer.
“Seu
objetivo [da Renascença] era superar a Idade Média e seu pensamento filosófico e teológico, a Escolástica.
Queria voltar às origens, às ‘fontes’; que a antiguidade renascesse e se
tornasse modelo de concepção de vida. Voltou sua atenção ao ser humano, à
natureza, às ciências naturais, ás pesquisas históricas. [...] Ao tentar
superar a Idade Média, a Renascença ajudou a preparar o chão para o surgimento
da Reforma protestante”. P. 14.15.
Qual era o objetivo dos reformadores?
“Queriam
renovar a igreja de seu tempo a partir do Evangelho e pelo Evangelho,
testemunhado pela Sagrada Escritura. Pretendiam libertar a Igreja das tradições
e leis humanas que ofuscaram a luz da palavra de Deus. Desejavam que toda a
Igreja voltasse às suas origens, ao cristianismo dos tempos dos apóstolos. Foi,
em termos gerais, o objetivo de todas as correntes da Reforma protestante,
embora depois tenham trilhado caminhos diferentes entre si para alcançar aquele
objetivo.” P. 16.
Várias linhas de pensamento reformistas passaram a fazer o seu trabalho
de proselitismo na Europa, alegando serem fieis ao espírito da Bíblia Sagrada,
repudiando a igreja católica e muitas de suas doutrinas. O papa agora era visto
como um (o) anticristo, a besta do derradeiro livro do Apocalipse. Quem quisesse ser
salvo, que se desligasse do catolicismo e se juntasse as igrejas protestantes.
Mas não qualquer uma. Não demorou muito para que os reformados começassem a
brigar por picuinhas e crenças divergentes. Algo que vemos ainda nos dias
atuais.
“Após a
Reforma, os próprios protestantes trataram a Bíblia muitas vezes de modo
legalista, contrariando o princípio de liberdade de suas próprias origens”.
P. 20.
Mesmo assim:
“Muitas
pessoas sentiram-se aprisionadas pelas estruturas eclesiásticas e sociais de
seu tempo. Falava-se do cativeiro babilônico da Igreja: a instituição Igreja
era mais importante do que as pessoas. A Reforma arrombou a prisão; colocou os
prisioneiros em liberdade. Em relação à Igreja da época, a Reforma era um
movimento libertador”. P. 26.
Até hoje, no catolicismo as pessoas têm menos importância que a
instituição. Os casos de pedofilia que grassam aos montes entre os seus
sacerdotes, é um exemplo escrachado do quanto às crianças molestadas nada
valem, se isso colocar em risco a credibilidade e mexer nos cofres da igreja em
indenizações.
Lutero, o iniciador da Reforma questionou:
A autoridade do papa;
Afirmou que os concílios da igreja não eram infalíveis (exemplo: concílio
de Constança);
Condenou as indulgências;
Reconheceu dois sacramentos, em detrimento dos sete ensinados pelo
catolicismo;
A eucaristia era com o pão e o vinho para os fieis;
O batismo tornava todos (leigos e padres) sacerdotes;
Etc.
As palavras e os escritos de Lutero abalaram as estruturas da Europa;
logo muitas pessoas e regiões deram-lhe apoio, visto que não mais suportavam a
mesmice e morbidez da igreja católica. O gordinho de Wittenberg era subversivo,
rebelde, insurreto, insubmisso. Não demorou, para que os sacerdotes católicos
exigissem uma retratação de Lutero. Como ela não veio, houve um repúdio
recíproco entre a igreja e o reformador.
“Quando o
núncio apostólico Jerônimo Aleander (1480-1542) queimou os escritos de Lutero
na Bélgica, Lutero, por sua vez, queimou solenemente aquela bula papal e os
decretos jurídicos dos papas em 10 de dezembro de 1520 na presença de
professores e estudantes da universidade de Witteberg. Lutero já não esperava
mais a renovação da Igreja papal. De sua parte, rompeu definitivamente com essa
igreja”. P. 30.
Lutero foi chamado a prestar depoimento a Dieta de Worms, pelo
imperador Carlos V, em 1521. Não se retratou, contrariando o desejo do
imperador. Foi considerado um herege por este, e acabou se escondendo com a
ajuda de Frederico, o Sábio, em Wartburg. Num período de 10 meses ficou isolado
de todos. Aproveitou para traduzir o Novo Testamento para a língua nativa. Assim
como Erasmo de Roterdã, Lutero também era um humanista e, portanto, voltou às
fontes das línguas originais gregas. Mais tarde com a colaboração de outros
traduziu o Antigo Testamento para o alemão.
Lutero e Erasmo acabaram indo por caminhos distintos em suas perspectivas
teológicas. Enquanto Lutero negava o livre arbítrio humano, Erasmo o afirmava.
Sem acordo, Lutero rompe relações com ele.
“Em
1524/25, Lutero rompeu publicamente com Erasmo e os humanistas erasmianos. Isso
aconteceu durante um debate literário de altíssimo nível intelectual sobre a
questão ‘se a vontade [humana] efetua alguma coisa ou nada naquilo que concerne
à salvação’ ou ‘do que o livre-arbítrio é capaz’. Erasmo respondeu que o
livre-arbítrio ‘efetua alguma coisa’ quanto à salvação. Lutero, no entanto,
afirmou categoricamente, no escrito ‘Da vontade cativa’ (1525): ‘Não pode haver
livre-arbítrio nem no homem, nem num anjo, nem em qualquer outra criatura’.”
P. 43.
Lutero brigou e discordou de muitos protestantes que iam surgindo. Vários
temas referentes ao que a Bíblia ensina, era motivo de interpretações
diferentes entre os reformadores. Lutero teve discórdias teológicas com Karltadt,
Zwínglio, Tomás Muntzer e anabatistas. Muitos dos últimos foram massacrados por
católicos e protestantes, por não aceitarem o batismo de crianças. Um
anabatista radical, Tomás Muntzer, foi morto por pregar idéias revolucionárias
no campo social e se juntar aos camponeses que exigiam mudanças, contra os
senhores, que os exploravam. Rejeitado pelos luteranos e zwinglianos, Muntzer
passou a ser visto positivamente séculos depois.
“Sua
imagem só começou a mudar no contexto da Revolução francesa, no final do século
XVIII (1789), e da historiografia marxista, que viu nele o paladino da
libertação do povo de domínio e opressão feudal.” P. 47.
Sobre os judeus, Lutero não se colocou acima de sua época, reproduziu os
mesmos pensamentos e atitudes de anti-semitismo contra eles. Num primeiro
momento o reformador tinha esperanças de que os judeus aceitassem o
cristianismo (protestante), como eles não aceitaram, mais tarde, seu ódio se
fez presente em seus escritos. Fischer nos conta:
“[Lutero]
rejeitou atos de vingança contra os judeus e não conclamou ‘as autoridades à
matança de judeus’. Mas sugeriu uma série de medidas: queimar as sinagogas e
escolas dos judeus, destruir suas casas, confiscar livros religiosos, proibir o
ensino dos rabinos, proibir-lhes cobrar juros, confiscar seu dinheiro e jóias,
exigir dos jovens e das jovens que trabalhassem e, finalmente, seguir o exemplo
das autoridades da França, Espanha e Boêmia e[m] expulsar os judeus”.
P. 52.
Ah o amor cristão...