MCGRATH, Alister. Surpreendido pelo Sentido. São Paulo: Hagnos, 2015.
"Será que a natureza está cravejada
e estampada com indícios dos seus sentidos, e a mente humana foi modelada de
tal modo que eles possam ser identificados e sua relevância possa ser
apreendida?" P.
23.
"Ser humano é ansiar por sentido e por respostas para os enigmas da existência." P. 66.
Mais um livro do Teólogo e Biofísico
Molecular Alister McGrath, folheado de capa a capa. O McGrath trabalha nesta fascinante
obra, a busca e o anseio intrínseco por SENTIDO que todos nós temos. Desde os
Cientistas ao homem comum e rude, a peregrinação por algo que explique os fios
soltos e (supostamente) desconexos da realidade, se faz presente.
Que estrutura de pensamento e visão de
mundo, explica melhor a realidade? Através de que lentes podemos melhor
analisar o mundo que nos cerca e construir “um mapa mental da realidade que nos
permita nos posicionar, ajudando-nos a encontrar nosso caminho ao longo da
estrada da vida?” P.
25.
McGrath admite que não podemos provar
que visão de mundo amarra melhor os fatos da realidade.
"[...] coisas em que realmente vale
a pena acreditar estão além de qualquer prova. Nossas crenças mais importantes
são as que simplesmente não podem ser provadas." P. 34.
“Defender que algo é verdade e confiável
pode ser justificado sem necessariamente ser provado. Pode haver bons motivos
para eu acreditar que algo seja verdade e, ainda assim, perceber que não posso
provar isso.” P.
177.
Um ateu cientificista apressado pensaria que tal declaração só poderia vim de um religioso bitolado e que em relação a Ciência esse enunciado não se aplica. Acontece que também a Ciência está incluída aí. Ela é justificável e seria um contrassenso não confiarmos nela, mas, por exemplo, a indução, método do qual a Ciência depende, não pode ser provada em hipótese alguma. O maior defensor da Teoria da Evolução darwiniana do século XIX, o Filosofo e Biólogo Thomas Huxley tem algo a dizer:
"O único ato de fé no convertido para a ciência é a confissão da universalidade da ordem e da absoluta validade, em todos os tempos e sob todas as circunstâncias, da lei de causação. Essa confissão é um ato de fé, porque a verdade dessas proposições, pela natureza da questão, não é passível de prova." P. 64.
E refutando a ideia tão desgastada de que a Ciência e a Religião são inimigas mortais, ele dispara:
“Hoje, os historiadores da ciência consideram essa ideia [conflito entre ciência e religião] quase inaceitável, principalmente porque é muito difícil reconciliá-la com os fatos da história. [...] A ideia de que a ciência e a religião vivem em permanente estado de conflito se tornou muito popular no final do século 19, em grande parte por motivos sociológicos. Apesar de essa ideia persistir na mídia popular, perdeu apoio acadêmico como resultado do aumento do nosso conhecimento sobre as interações históricas entre ciência e religião.” P. 54-55.
Para o autor, a Religião Cristã é
imprescindível na busca por Sentido. Somente a Ciência é impotente e incapaz de
nos provê-lo.
“[As] questões mais profundas e mais envolventes a respeito da natureza do universo têm origem fundamentalmente em uma busca religiosa por sentido. O conceito de um universo regido por uma lei, com uma ordem que pode ser entendida e é confiável, surgiu em grande parte das crenças fundamentais sobre a natureza de Deus, expressas na noção das ‘leis da natureza’." P. 68.
McGrath argumenta acertadamente que o método científico é neutro.
"[...] o método científico, quando
aplicado de forma apropriada e legítima, é neutro do ponto de vista religioso -
nem uniformemente aprobatório nem uniformemente crítico das crenças religiosas.
Uma vez que o método científico claramente não traz em seu bojo o ateísmo,
aqueles que querem explorar as ciências como uma arma contra a religião têm de
complementar sua defesa de maneiras que aumentem sua plausibilidade. Uma dessas
maneiras fundamenta-se no uso da retórica agressiva, ridicularizando os
que desafiam suas óbvias incorreções." P. 57.
"A ciência, em sua melhor atuação e a mais autêntica não tem credo, nem religioso nem antirreligioso." P. 64.
A sintonia fina do universo é um dos ramos bastante usado na Teologia Natural, para mostrar a ressonância do universo com a existência de um Criador. No entanto, em resposta, muitos contestam que por mais que a vida seja improvável, só podemos pensar sobre isso, exatamente por estarmos aqui. McGrath responde a isso:
“[...] alguns argumentam que a aparente sintonia fina cósmica não é nada mais que uma casualidade interessante, um feliz acaso. As constantes fundamentais em questão precisavam ter algum valor – então por que não esses valores? Não há uma relevância e um significado ainda maiores. Para dar um exemplo: a população dos Estados Unidos da América é de pouco mais de 300 milhões de pessoas. Há apenas um presidente. A probabilidade de qualquer norte-americano se tornar presidente, por conseguinte, é de aproximadamente 1 em 300 milhões. Mas e daí? Alguém precisa ser presidente. Talvez seja muitíssimo improvável que determinado indivíduo seja o presidente, mas é uma certeza que alguém o será.
Não obstante, essa analogia presidencial é claramente inválida. As regras do jogo são que alguém precisa ser o presidente dos Estados Unidos. Mas o universo não precisou vir à existência. É tanto o fato de o universo estar aqui quanto o fato de ele ser muitíssimo improvável que exigem explicação.” P. 112-113.
Para se livrarem das implicações favoráveis ao teísmo, que a fina sintonia do universo traz, cientistas ateus têm proposto a teoria de incontáveis universos, onde forçosamente, em algum desses universos, a vida surgiria. McGrath argumenta que não.
“Hoje a hipótese do multiverso continua pouco mais que um exercício matemático fascinante, mas altamente especulativo. Essa hipótese, talvez de forma não sensata, foi adotada por ateístas ansiosos por solapar a potencial relevância teológica da sintonia fina do universo. Assim, parte da atração da hipótese do multiverso para os físicos ateístas, [...] está no fato de que ela parece evitar qualquer inferência de projeto ou divindade. No entanto, é possível usar em grande medida os mesmos argumentos para sustentar a existência de Deus no caso de um multiverso quanto no caso de um universo, com a hipótese do multiverso sendo consistente com o entendimento de Deus, e não o elemento intelectual destruidor desse entendimento.” P. 113-114.
Minha única crítica ao livro se deve ao fato de o McGrath ainda gastar muitas linhas refutando as alegações ingênuas e sem sentido do Dawkins. Pelas minhas contas, desde 2003, ele faz isso. Acho que o McGrath pode dialogar com outros autores em suas obras sobre Ciência, Fé e Razão.