STRATHERN, Paul. Derrida em 90 Minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. (Versão em PDF).
“[...] a ‘filosofia’ de Derrida não é uma filosofia propriamente
dita, mas antes um questionamento da filosofia: uma ‘interrogação de sua real
possibilidade’. Ele questiona toda a base da filosofia e sua capacidade de
operar em seus próprios termos”. P. 8.
Jacques Derrida
(Professor
de Humanidades na Universidade da Califórnia, EUA), um dos intelectuais mais nonsenses do final do século XX. O
final da “filosofia” dele e a de Foucault descambam na mesma fossa. Mas Derrida
parece descer um degrau a mais nas tolices que escreveu. Ele foi um dos Filósofos mais discutidos,
aclamados e refutados dos últimos anos. Com uma roupagem tão bonita, erudita e
rebuscada, a sua filosofia atraiu muitos alunos nos centros universitários. Mas
sua construção teórica não passa de areia e cal; não tem nada de consistente.
Apenas enganação.
Derrida pretendeu fazer um terrorismo
escritural, hermenêutico e filosófico, jogando para o alto todas as concepções
de conhecimento conseguidas até então. Tudo é texto; tudo é interpretação. Cabe
a cada um desconstruir (e reconstruir) a sua maneira o que leem, visto que as
palavras não são possíveis de transmitir o pensamento de quem as escreveu. Há lacunas;
há buracos; há frestas; há lapsos; há espaços; há precariedades de sentido nas
palavras escritas. “A própria linguagem que [o escritor] utiliza,
inevitavelmente, distorce o que ele pensa e escreve”. P. 11. Todo
texto carrega em sua internalidade os elementos da desconstrução. Viva ao
relativismo interpretativo. Nada de impor a violência hermenêutica de que a
verdade foi descoberta aqui ou ali, pois tal conduta se revela como uma postura
autoritária e tirânica, que esgota outras maneiras legítimas de ver o mundo.
Diante disso, a pergunta a se fazer é:
como interpretar as palavras de Derrida? Como devemos ler os seus livros e
artigos? Poderemos ser acusados de “distorcer” os seus escritos? Devemos levar
a sério o que ele diz? Ele se sentiria confortável se disséssemos que ele
defende a existência da Verdade Absoluta? Podemos desconstruir o seu texto a
maneira que quisermos?
Pós-modernista
que era, ele não aceitava a idéia de que a verdade é descoberta e não
inventada. Não só a base da Filosofia, mas a do conhecimento científico
também foram questionadas e abandonadas por ele.
Para Euclides (300 a.c) e Hursserl (1859-1938), por exemplo,
“a própria
geometria, de alguma forma, ‘já estava lá’, esperando para ser descoberta,
esperando o seu momento histórico”. P. 8. Já para o Filósofo
francês, não existe essa conversinha de verdades atemporais a serem encontradas
em algum âmbito do conhecimento. Não, não, a Verdade Absoluta (ou apenas a
verdade) não existe!
À parte da minha crítica inicial, Derrida (juntamente com
outros pós-modernistas) se deu conta de que eliminando Deus (sim, isso mesmo),
não tem como pressupormos a verdade de coisa alguma. Os pressupostos
iluministas levados até as suas últimas consequências parecem implicar em uma
anarquia epistemológica total. Visto que o fundamento do conhecimento foi
tirado, ou “está morto”, como diria Nietzsche.
“Não é difícil detectar a presença espectral do divino por trás da
alegação dessa “presença” [da verdade absoluta]. Por muitos séculos, Deus havia
sido a verdade, garantindo essa verdade absoluta. Porém, sem tal presença —
chame-a de divina ou absoluta — não existe verdade e ficamos patinando em um
atoleiro de relativismo. Isso se aplica à geometria tanto quanto à filosofia. Na
verdade, Derrida afirmaria que essa condição impossibilita até a possibilidade
de existência da filosofia. Agora fica claro por que ele não se vê como um
filósofo!” P. 9.
Os Cientistas, Filósofos e outros acadêmicos
anti-relativistas ateus, teimosamente insistem na existência da verdade, mas
qual o fundamento disso? Tem que haver um Pressuposto do qual todos os outros
derivam! No caso em questão: Deus!
Paul Strathern (Professor de Filosofia e Matemática na Universidade de Kingston, Londres) não se furta em mostrar as incongruências do autor
biografado. A citação é longa, mas vale a pena ser lida.
“A negação de Derrida da verdade geométrica, até da possibilidade da
filosofia, está, em sua própria forma abstrata, sujeita às mesmas críticas. Ao
solapar a verdade, ele também logra solapar a verdade daquilo que está dizendo.
Como veremos, Derrida admitiria isso de pronto — e consideraria suas
implicações, persistentemente, até chegar a conclusões ousadas e radicais. Mas
o fato é que essa teoria (seja ou não sabotada por suas próprias contradições)
desafia abertamente a prática humana.
Nós exercemos a economia e a meteorologia porque o conhecimento
infundado que produzem nos ajuda. Podemos aceitar que não existe algo como a
verdade absoluta, uma garantia final para nosso conhecimento; não obstante,
apesar de tudo isso, não há dúvida de que os três ângulos internos de um
triângulo de superfície plana somam 180 graus. O tamanho de um elétron dentro
de um átomo é comparado ao de uma agulha em um estádio de futebol e, ainda
assim, descobrimos cálculos precisos para predizer com exatidão seu
comportamento. Toda a indústria de computadores baseia-se em tais predições. E
aceitamos outras “verdades” científicas menos matemáticas, como a teoria da
evolução de Darwin, a estrutura do DNA e assim por diante.
Na verdade, ainda que aceitemos que não existe verdade absoluta,
paradoxal e impetuosamente opomo-nos a qualquer tentativa de minar essas
verdades “não-absolutas” por outro modo que não a refutação científica (isto é,
experimentação, experiência). A verdade pode ser relativa em termos de status
absoluto, mas tratá-la como relativa é outra questão. Por um lado, Derrida
presumivelmente não negaria a “verdade” de que milhões de judeus morreram no
Holocausto.
A civilização ocidental pode ter-se desenvolvido usando uma noção
autocontraditória de verdade absoluta, mas sem essa noção autocontraditória ela
desaba. A forma com que Derrida lida com isso e com a “impossibilidade” da
filosofia é vital para qualquer consolidação de sua estatura como pensador.” P. 10.
O autor de 90 Minutos, percebendo mais
uma vez a contradição inerente ao sistema do escritor francês, escreve:
“De acordo com Derrida, nosso conhecimento do mundo, baseado em
identidade, lógica e verdade, origina-se de uma aporia. É o resultado
de uma contradição interna. Mais uma vez, torna-se bastante fácil assinalar a
autocontradição de Derrida neste ponto. Se a presença de uma contradição
invalida nosso conhecimento lógico, então, certamente, o uso da lógica no
argumento de Derrida é igualmente danoso.” P. 13.
O que é excêntrico e vindo com um traje
intelectual (aparentemente) sofisticado, sempre terá os seus fãs, seguidores e
entusiastas.
“[As Universidades] Johns Hopkins e Yale abraçaram o
desconstrucionismo com algum entusiasmo, enquanto outras instituições o
rejeitaram com o mesmo sentimento passional. Esse racha na academia
norte-americana logo ecoou ao redor do mundo [...] Derrida encontrou seguidores
na filosofia e na crítica literária”.
P. 16.
Sabiamente e sobriamente muitos
rejeitaram:
“Não é de surpreender que os filósofos norte-americanos não tenham
ficado muito impressionados com esse pensamento de Derrida. [...] Os
cientistas, simplesmente, tinham-no como um contra-senso sem importância”. P. 16.
Mesmo tendo parcos conhecimentos na
área filosófica, fico com o bom senso, e, portanto, fico com os últimos. Já o
Filósofo Rafael Haddock
Lobo (Professor de Filosofia da UFRJ) discorda: “Derrida certamente é um dos autores mais
brilhantes da História da Filosofia”. [1]