quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Derrida em 90 Minutos


STRATHERN, Paul. Derrida em 90 Minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. (Versão em PDF).

“[...] a ‘filosofia’ de Derrida não é uma filosofia propriamente dita, mas antes um questionamento da filosofia: uma ‘interrogação de sua real possibilidade’. Ele questiona toda a base da filosofia e sua capacidade de operar em seus próprios termos”. P. 8.

Jacques Derrida (Professor de Humanidades na Universidade da Califórnia, EUA), um dos intelectuais mais nonsenses do final do século XX. O final da “filosofia” dele e a de Foucault descambam na mesma fossa. Mas Derrida parece descer um degrau a mais nas tolices que escreveu.  Ele foi um dos Filósofos mais discutidos, aclamados e refutados dos últimos anos. Com uma roupagem tão bonita, erudita e rebuscada, a sua filosofia atraiu muitos alunos nos centros universitários. Mas sua construção teórica não passa de areia e cal; não tem nada de consistente. Apenas enganação.

Derrida pretendeu fazer um terrorismo escritural, hermenêutico e filosófico, jogando para o alto todas as concepções de conhecimento conseguidas até então. Tudo é texto; tudo é interpretação. Cabe a cada um desconstruir (e reconstruir) a sua maneira o que leem, visto que as palavras não são possíveis de transmitir o pensamento de quem as escreveu. Há lacunas; há buracos; há frestas; há lapsos; há espaços; há precariedades de sentido nas palavras escritas. “A própria linguagem que [o escritor] utiliza, inevitavelmente, distorce o que ele pensa e escreve”. P. 11. Todo texto carrega em sua internalidade os elementos da desconstrução. Viva ao relativismo interpretativo. Nada de impor a violência hermenêutica de que a verdade foi descoberta aqui ou ali, pois tal conduta se revela como uma postura autoritária e tirânica, que esgota outras maneiras legítimas de ver o mundo.

Diante disso, a pergunta a se fazer é: como interpretar as palavras de Derrida? Como devemos ler os seus livros e artigos? Poderemos ser acusados de “distorcer” os seus escritos? Devemos levar a sério o que ele diz? Ele se sentiria confortável se disséssemos que ele defende a existência da Verdade Absoluta? Podemos desconstruir o seu texto a maneira que quisermos?

Pós-modernista que era, ele não aceitava a idéia de que a verdade é descoberta e não inventada. Não só a base da Filosofia, mas a do conhecimento científico também foram questionadas e abandonadas por ele.

Para Euclides (300 a.c) e Hursserl (1859-1938), por exemplo, “a própria geometria, de alguma forma, ‘já estava lá’, esperando para ser descoberta, esperando o seu momento histórico”. P. 8. Já para o Filósofo francês, não existe essa conversinha de verdades atemporais a serem encontradas em algum âmbito do conhecimento. Não, não, a Verdade Absoluta (ou apenas a verdade) não existe!

À parte da minha crítica inicial, Derrida (juntamente com outros pós-modernistas) se deu conta de que eliminando Deus (sim, isso mesmo), não tem como pressupormos a verdade de coisa alguma. Os pressupostos iluministas levados até as suas últimas consequências parecem implicar em uma anarquia epistemológica total. Visto que o fundamento do conhecimento foi tirado, ou “está morto”, como diria Nietzsche.

“Não é difícil detectar a presença espectral do divino por trás da alegação dessa “presença” [da verdade absoluta]. Por muitos séculos, Deus havia sido a verdade, garantindo essa verdade absoluta. Porém, sem tal presença — chame-a de divina ou absoluta — não existe verdade e ficamos patinando em um atoleiro de relativismo. Isso se aplica à geometria tanto quanto à filosofia. Na verdade, Derrida afirmaria que essa condição impossibilita até a possibilidade de existência da filosofia. Agora fica claro por que ele não se vê como um filósofo!” P. 9.

Os Cientistas, Filósofos e outros acadêmicos anti-relativistas ateus, teimosamente insistem na existência da verdade, mas qual o fundamento disso? Tem que haver um Pressuposto do qual todos os outros derivam! No caso em questão: Deus! 

Paul Strathern (Professor de Filosofia e Matemática na Universidade de Kingston, Londres) não se furta em mostrar as incongruências do autor biografado. A citação é longa, mas vale a pena ser lida.

“A negação de Derrida da verdade geométrica, até da possibilidade da filosofia, está, em sua própria forma abstrata, sujeita às mesmas críticas. Ao solapar a verdade, ele também logra solapar a verdade daquilo que está dizendo. Como veremos, Derrida admitiria isso de pronto — e consideraria suas implicações, persistentemente, até chegar a conclusões ousadas e radicais. Mas o fato é que essa teoria (seja ou não sabotada por suas próprias contradições) desafia abertamente a prática humana.

Nós exercemos a economia e a meteorologia porque o conhecimento infundado que produzem nos ajuda. Podemos aceitar que não existe algo como a verdade absoluta, uma garantia final para nosso conhecimento; não obstante, apesar de tudo isso, não há dúvida de que os três ângulos internos de um triângulo de superfície plana somam 180 graus. O tamanho de um elétron dentro de um átomo é comparado ao de uma agulha em um estádio de futebol e, ainda assim, descobrimos cálculos precisos para predizer com exatidão seu comportamento. Toda a indústria de computadores baseia-se em tais predições. E aceitamos outras “verdades” científicas menos matemáticas, como a teoria da evolução de Darwin, a estrutura do DNA e assim por diante.

Na verdade, ainda que aceitemos que não existe verdade absoluta, paradoxal e impetuosamente opomo-nos a qualquer tentativa de minar essas verdades “não-absolutas” por outro modo que não a refutação científica (isto é, experimentação, experiência). A verdade pode ser relativa em termos de status absoluto, mas tratá-la como relativa é outra questão. Por um lado, Derrida presumivelmente não negaria a “verdade” de que milhões de judeus morreram no Holocausto.

A civilização ocidental pode ter-se desenvolvido usando uma noção autocontraditória de verdade absoluta, mas sem essa noção autocontraditória ela desaba. A forma com que Derrida lida com isso e com a “impossibilidade” da filosofia é vital para qualquer consolidação de sua estatura como pensador.” P. 10.

O autor de 90 Minutos, percebendo mais uma vez a contradição inerente ao sistema do escritor francês, escreve:

“De acordo com Derrida, nosso conhecimento do mundo, baseado em identidade, lógica e verdade, origina-se de uma aporia. É o resultado de uma contradição interna. Mais uma vez, torna-se bastante fácil assinalar a autocontradição de Derrida neste ponto. Se a presença de uma contradição invalida nosso conhecimento lógico, então, certamente, o uso da lógica no argumento de Derrida é igualmente danoso.” P. 13.

O que é excêntrico e vindo com um traje intelectual (aparentemente) sofisticado, sempre terá os seus fãs, seguidores e entusiastas.

“[As Universidades] Johns Hopkins e Yale abraçaram o desconstrucionismo com algum entusiasmo, enquanto outras instituições o rejeitaram com o mesmo sentimento passional. Esse racha na academia norte-americana logo ecoou ao redor do mundo [...] Derrida encontrou seguidores na filosofia e na crítica literária”. P. 16.

Sabiamente e sobriamente muitos rejeitaram:

“Não é de surpreender que os filósofos norte-americanos não tenham ficado muito impressionados com esse pensamento de Derrida. [...] Os cientistas, simplesmente, tinham-no como um contra-senso sem importância”. P. 16.

Mesmo tendo parcos conhecimentos na área filosófica, fico com o bom senso, e, portanto, fico com os últimos. Já o Filósofo Rafael Haddock Lobo (Professor de Filosofia da UFRJ) discorda: “Derrida certamente é um dos autores mais brilhantes da História da Filosofia”. [1]