quinta-feira, 12 de julho de 2018

Uma Prova do Céu


ALEXANDER, Eben. Uma Prova do Céu. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. (PDF).

Eben Alexander III foi Professor de Medicina na Universidade de Harvard, precisamente um Neurocirurgião, que depois de tantos anos de práticas médicas na área do cérebro, foi acometido por uma meningite bacteriana que o deixou em coma por sete longos dias, deixando todos aflitos e esperando pela derradeira notícia de sua morte. Mas ele sobreviveu, e o que experienciou nessa semana enquanto estava apagado, é surpreendente.

“Em 10 de novembro de 2008, entretanto, aos 54 anos, a sorte pareceu me abandonar. Fui surpreendido por uma doença rara e fiquei em coma durante sete dias. Nesse período, todo o meu neocórtex – a superfície externa do cérebro, a parte que nos torna humanos – ficou paralisado. Inoperante. Completamente ausente.

[...]

Como neurocirurgião, ouvi muitos relatos de pessoas que tiveram experiências estranhas, geralmente depois de sofrerem ataques cardíacos: histórias de viagem para lugares misteriosos e maravilhosos, de conversas com parentes mortos – e até de encontros com Deus.

Fascinante, sem dúvida. Mas tudo isso, em minha opinião, era pura fantasia. Afinal, o que provocava as experiências sobrenaturais que as pessoas relatavam com tanta frequência? Na verdade, a resposta não me interessava, mas eu acreditava que essas experiências tinham uma base cerebral. Toda consciência tem. Se não houver atividade cerebral, não há consciência.” P. 21.

Não obstante:

“Durante o coma, não é que meu cérebro trabalhasse de forma inadequada – ele simplesmente não trabalhava.” P. 22.

Ele conta que:

“[...] meu caso o neocórtex estava fora de área. Eu estava conhecendo uma dimensão da consciência que existia completamente à parte das limitações de meu cérebro físico.

De certa forma, vivi uma avalanche de experiências de quase morte. Como neurocirurgião com décadas de pesquisa e prática, eu estava em melhor posição para avaliar não apenas a realidade, mas as implicações do que acontecera.

E essas implicações são extraordinárias. Minha experiência me mostrou que a morte do corpo e do cérebro não é o fim da consciência, e que a existência humana continua no além túmulo. E, mais importante ainda, ela se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se importa com cada um de nós, com o destino do Universo e de todos os seres contidos nele.

O lugar onde estive era real. Tão real a ponto de fazer a vida no aqui e agora parecer uma ilusão. Isso não significa, entretanto, que eu não valorize a vida que levo agora. Pelo contrário, prezo-a até mais do que antes. E o faço porque consigo enxergá-la em seu verdadeiro contexto.” P. 22-23.

A doença que o pegou era tão rara que “menos de um em cada 10 milhões de adultos é afetado pela doença por ano.” P.39.

“Os médicos simplesmente não sabiam como eu poderia ter contraído a doença, ou quando eu voltaria do coma. Eles só tinham certeza de uma coisa: não conheciam ninguém que tivesse se recuperado completamente de uma meningite bacteriana após ter passado alguns dias em coma.” P. 127.

“[...] o meu caso era o primeiro desse tipo na história médica.” P. 131.

Ainda sobre o seu estado clínico:

“As estruturas mais primitivas do meu cérebro continuaram a funcionar o tempo todo durante o coma. Mas a região do meu cérebro que os neurologistas dizem ser responsável pela minha parte humana havia sumido. Eu podia ver isso nas imagens, nos números do laboratório, nos exames neurológicos – em todos os dados recolhidos aquela semana no hospital. Então eu logo comecei a perceber que a minha experiência de quase morte era tecnicamente quase impecável, e talvez um dos casos mais convincentes na história moderna do fenômeno.” P. 184-185.

Eben milagrosamente voltou, e além de sua recuperação, diz ter passado por momentos totalmente conscientes num outro mundo. Eben escreve que em seu estado de coma de repente ele se encontrou noutra dimensão.

“Eu não era humano naquele lugar. Eu não era sequer animal. Eu era alguma coisa anterior, e inferior, a tudo isso. Era apenas um ponto solitário de consciência em um mar vermelho-escuro.” P. 52.

Nos primeiros momentos de sua viagem a esse mundo, ele esteve numa espécie de inferno.

“Caras grotescas de animais borbulhavam na lama, grunhiam, guinchavam e desapareciam de novo. Escutei urros medonhos. Algumas vezes, esses urros e grunhidos davam lugar a cânticos rítmicos e obscuros que eram, ao mesmo tempo, assustadores e curiosamente conhecidos – como se em algum momento eu mesmo os tivesse cantado.” P. 53.

Um lugar assustador.

“Quanto mais me sentia como um eu – como alguma coisa separada do ambiente frio, úmido e escuro à minha volta –, mais os rostos que borbulhavam na massa pegajosa se tornavam feios e ameaçadores. As batidas ritmadas do ferreiro também ficaram mais intensas: pareciam britadeiras de trabalhadores subterrâneos, tipo ogros, executando uma tarefa interminável e massacrantemente monótona. O movimento à minha volta se tornou menos visual e mais palpável, como se criaturas parecidas com vermes e répteis estivessem passando em bandos e de vez em quando esfregassem suas peles macias ou espinhosas em mim.

Foi então que tomei consciência de um odor: era uma mistura de cheiro de fezes, sangue e vômito. Em outras palavras, um cheiro biológico, porém de morte, não de vida. À medida que minha consciência se aguçava, eu me aproximava mais do pânico. Eu não pertencia àquele lugar. Precisava escapar. Mas para onde?” P. 53-54.

Aí, as coisas começaram a mudar.

“Quando me fiz essa pergunta, algo novo emergiu da escuridão: alguma coisa que não era fria, nem morta, tampouco sombria, mas o exato oposto disso tudo. Mesmo que eu passasse o resto da vida tentando, não conseguiria fazer justiça à entidade que se aproximava de mim. Nem sequer chegaria perto de descrever como era bela.” P. 53-54.

Um paraíso se abria diante de seus olhos.

“Eu estava voando. Passei por árvores e campos, rios e cachoeiras, e avistei pessoas aqui e ali. Também havia crianças rindo e brincando. Todos cantavam e dançavam em círculos, e vi até cachorros correndo e saltando entre elas, igualmente tomados de alegria. As pessoas vestiam roupas simples, mas bonitas, e tive a impressão de que as cores dessas vestimentas tinham o mesmo tom vívido das árvores e das flores que desabrochavam e encantavam todo o campo ao redor.

Um mundo de sonhos belo e incrível...

Só que não era um sonho. Embora não soubesse onde me encontrava e nem mesmo o que era aquilo tudo, eu estava convicto de uma coisa: esse lugar em que de repente me vi era completamente real.” P. 62-63.

Uma menina desse mundo espiritual lhe falou:

“Você é amado e valorizado imensamente, para sempre.”

“Não há nada a temer.”

“Não há nada que você possa fazer de errado.”

[...]

‘Nós lhe mostraremos muitas coisas aqui’, a menina me disse, de novo sem usar palavras, apenas projetando a essência do significado delas em mim. ‘Mas, no fim, você irá voltar.’” P. 65.

Mais sobre o “Céu”:

“[...] seres deslumbrantes se deslocavam em arco por todo o céu, deixando grandes rastros atrás de si.

Pássaros? Anjos? Estas palavras me ocorreram quando eu escrevia minhas recordações, mas nenhuma delas faz jus àqueles seres, que eram muito diferentes de qualquer coisa que eu tivesse conhecido neste planeta. Eles eram mais evoluídos. Superiores.

Um som forte e majestoso, como uma música sacra, veio de cima, e me perguntei se aqueles seres superiores estariam produzindo esse uníssono. Novamente, refletindo sobre isso mais tarde, me ocorreu que a alegria dessas criaturas era tão imensa que elas tinham que manifestar esse som – como se fosse uma emoção impossível de conter. Era algo palpável e quase material, assim como uma chuva que se sente na pele, mas que não nos deixa molhados.

Ver e ouvir não eram coisas separadas naquele lugar. Eu podia ouvir a beleza dos corpos daqueles seres cintilantes e, ao mesmo tempo, ver a perfeição do que eles cantavam. Parecia que não era possível ver ou escutar qualquer coisa ali sem se tornar parte dela – sem se fundir com aquilo de alguma forma misteriosa. Lá tudo era diferente e, no entanto, fazia parte de algo maior, como os belos desenhos entrelaçados nos tapetes persas... ou como nas asas de borboleta.” P. 71-72.

A Eben é revelado que existem outros universos além do nosso, e que o mal também existe neles.

“O mal também estava presente em todos os outros universos, porém em quantidades muito pequenas. O mal era necessário porque sem ele o livre-arbítrio era impossível, e sem livre-arbítrio não poderia haver crescimento – nenhum avanço, nenhuma chance de nos tornarmos o que Deus desejou que fôssemos. Por mais horrível e poderoso que o mal pareça, o amor é avassaladoramente maior, e triunfará no final.

Vi a abundância da vida nos incontáveis universos, incluindo alguns cuja inteligência estava muito além da nossa. Vi que existem incontáveis dimensões superiores, mas que a única maneira de conhecê-las é experimentando-as diretamente. Elas não podem ser conhecidas ou entendidas de um espaço dimensional inferior.

Causa e efeito existem nesses reinos mais elevados, mas de maneira diferente da nossa concepção terrena. O nosso tempo e espaço estão unidos, de maneira íntima e complexa, com esses universos mais avançados. Em outras palavras, esses mundos não estão totalmente separados do nosso, porque todos os mundos fazem parte da mesma e abrangente Realidade divina. Daqueles universos mais avançados se pode acessar qualquer tempo ou lugar do nosso mundo.” P. 75-76.

Eben tem certeza de que sua experiência foi verdadeira.

“[...] sei a diferença entre a fantasia e a realidade, e posso assegurar que a experiência que estou tentando transmitir aqui, ainda que de forma vaga e insatisfatória, foi de longe a experiência mais real da minha vida.” P. 66.

“Um pouco longe do padrão científico? Não acho. Voltei daquele lugar, e nada poderá me convencer de que esta não é somente a verdade emocional mais importante no Universo, como também a verdade científica mais fundamental de todas.” P. 105.

Como a maioria dos Neurocientistas, ele tinha muito ceticismo em relação ao sobrenatural.

“Nunca escondi minhas dúvidas sobre a vida espiritual. Por mais que eu quisesse acreditar em Deus, no céu e na vida após a morte, meus anos no rigoroso mundo científico me faziam questionar como tais coisas poderiam existir. A neurociência moderna postula que o cérebro comanda a consciência – ou a mente, a alma, o espírito, ou como quer que se chame essa parte invisível e intangível de nosso ser que nos faz ser quem somos – e eu não tinha dúvida de que a neurociência estava certa.

Assim como a maioria dos profissionais de saúde que lida diretamente com pacientes moribundos e seus familiares, eu tinha ouvido relatos – e até visto acontecimentos – inexplicáveis. Eu classificava essas ocorrências como ‘desconhecidas’ e as deixava para lá. Não que eu me opusesse a crenças no sobrenatural. Como um médico que via grandes sofrimentos físicos e emocionais todos os dias, a última coisa que eu queria era negar a alguém o consolo e a esperança que a fé proporcionava. Para falar a verdade, eu mesmo queria ter desfrutado de algum tipo de fé.

Mas quanto mais velho eu ficava, menos provável isso se tornava. Como o mar avançando pouco a pouco sobre a praia, ao longo do tempo minha visão científica do mundo minava lentamente minha capacidade de crer em algo maior. A ciência parecia fornecer uma imensa quantidade de evidências que tornavam quase nula a importância do ser humano no Universo. A crença pode ser uma coisa boa, mas a ciência não está preocupada com o que poderia ser bom. Ela está preocupada com o que é.” P. 57-58.

Para Eben, antes de sua experiência extracorpórea, a consciência não era nada além de uma mera extensão de cérebro. 

“E eu sabia muito bem que o cérebro é apenas isto: uma máquina que produz o fenômeno da consciência. É claro que os cientistas não haviam descoberto exatamente como os neurônios do cérebro conseguem fazer isso, mas era apenas uma questão de tempo. Afinal, isso era provado todos os dias na sala de cirurgia. Um paciente chega com uma tremenda dor de cabeça e com a consciência reduzida. O médico faz uma ressonância magnética no cérebro e descobre um tumor. O paciente toma anestesia geral, o tumor é extirpado, e algumas horas depois ele está pronto para encarar o mundo de novo. Nada de dor de cabeça. Nada de consciência turva. Tudo muito simples.

Eu adorava essa objetividade – a absoluta honestidade e isenção da ciência. Não havia espaço para fantasias nem para negligência. Se um fato pudesse ser visto como concreto e confiável, ele era aceito. Do contrário, era rejeitado.

Essa abordagem deixava muito pouco espaço para a alma e o espírito, para a continuação da existência depois que o cérebro para de funcionar. E deixava menos espaço ainda para aquelas palavras que eu sempre ouvia na igreja: vida eterna.” P. 59.

Depois do que passou, ele crê que a Ciência e o sobrenatural são compatíveis.

“A ciência, a que me dediquei durante tanto tempo, não contradiz o que aprendi lá em cima. Mas muita gente acredita que sim, pois alguns membros da comunidade científica, presos à visão materialista do mundo, têm insistido cada vez mais que ciência e espiritualidade não podem coexistir. Eles estão equivocados. Para tornar esse conhecimento acessível ao grande público é que escrevi este livro.” P. 107.

“Dizer que ainda existe um abismo entre a visão científica do Universo e a realidade que vivi não é correto. Eu ainda gosto da física e da cosmologia, ainda adoro estudar o nosso Universo imenso e maravilhoso. Apenas tenho agora uma concepção bem mais ampliada do que ‘imenso’ e ‘maravilhoso’ de fato significam. A parte física do Universo é um grão de areia comparada à parte espiritual e invisível. Antigamente, eu jamais usaria a palavra espiritual no meio de uma conversa científica. Hoje acho que não podemos deixá-la de fora.” P. 118-119.

A crença em Deus e no seu amor agora é parte essencial de sua vida.

“Compreendi que sou parte do Divino e que nada, absolutamente nada, pode tirar isso de mim. A suspeita (falsa) de que estamos separados de Deus é a raiz de todas as formas de ansiedade no Universo; e a cura para isso – que eu comecei a receber no Portal e depois no Núcleo – é a certeza de que nada é capaz de nos separar do amor de Deus.” P. 111-112.

“Cada um de nós é profundamente conhecido e cuidado por um Criador que nos trata com um carinho muito além da nossa capacidade de compreensão. Esse conhecimento não pode mais ser mantido em segredo.” P. 136.

“[...] nosso ser espiritual eterno é mais verdadeiro do que qualquer coisa que possamos perceber no domínio físico e tem uma conexão direta com o infinito amor do Criador.” P. 199.

Mesmo com as suas credencias de Neurocirurgião impecáveis, poucas pessoas estavam solicitas em dar crédito a sua história.

“Afinal de contas, o que vivi alterou minhas crenças a respeito do cérebro, da consciência e do sentido da vida. Quem não estaria interessado em ouvir sobre essas descobertas? Muito pouca gente, como logo percebi. Sobretudo pessoas com credenciais médicas.” P. 171.

Eben reconhece que muito do que acreditava como Médico, desmoronou.

“Quanto mais meu raciocínio lógico retornava, mais eu via com clareza que o que aprendi durante décadas de estudo e prática médica conflitava radicalmente com o que vivi naqueles sete dias, e mais eu tinha certeza de que a mente e a personalidade (ou alma, espírito, como queira chamar) continuam a existir depois da morte do corpo. Eu precisava contar essa história para o mundo.” P. 175.

Admite que sua incredulidade era ancorada em puro preconceito.

“Eu era um exemplo típico do médico bom caráter, porém cético e incrédulo. E, como tal, posso garantir que mesmo os mais céticos não são céticos de verdade. Para ser realmente cético é preciso examinar o assunto e levá-lo a sério. E eu, como muitos cientistas, nunca gastei meu tempo com as EQMs [Experiência de Quase-Morte]. Eu simplesmente ‘sabia’ que elas eram impossíveis.” P. 181.

“Enquanto lia as explicações ‘científicas’ a respeito da EQM, eu ficava chocado com a superficialidade das análises. Descobri também, com tristeza, que elas eram exatamente as mesmas explicações que meu antigo eu daria se alguém perguntasse o que eu achava dessa experiência fora do corpo.” P. 196.

O autor de Uma Prova do Céu insiste em dizer que sua experiência de quase-morte tem valor científico.

“[...] eu sabia que estava contando uma coisa que tinha valor científico genuíno, algo que abria as portas da percepção para um novo mundo de compreensão científica. Uma reflexão que elevava a consciência à condição de maior entidade de toda a existência.” P. 216-217.

Mas até onde sei, ele não provou a existência do céu ou de uma dimensão espiritual. Claro que o seu depoimento tem um certo peso, por ele ser quem ele é - um homem educado na mais prestigiada Universidade do mundo, uma mente científica e rigorosa. Ao contrário de outras histórias extraordinárias publicadas, que contam experiências semelhantes, não duvido de que a sua história seja totalmente verdadeira.

Muitos cristãos (principalmente evangélicos) torcerão o nariz para o seu livro, visto que em nenhum momento a sua experiência legitima o cristianismo, apesar de alguns paralelos. Ele até diz que falou com pessoas que já morreram, o que contraria a crença de muitos cristãos. Isso basta para que eles rechacem o que ele diz ter vivenciado. Até arrisco em dizer: dirão que o diabo o enganou.

De todo modo, ele é enfático:

“[...] o que experimentei fora do corpo é verdadeiro, real e transformador. Não apenas para mim, mas para todos nós.” P. 226-227.