Culto aos orixás, voduns, inquices... A contemporaneidade não
conseguiu extinguir esse modo de religião tão pitoresco. Na verdade, apesar de
haver em algum grau uma descaracterização da religiosidade afro, em alguns
lugares, noutros, como na cidade de Cachoeira, Bahia, o Candomblé consegue
manter suas raízes. Pelo menos é o que dizem os seus adeptos.
A mãe de santo Gayaku Luiza é a protagonista desse documentário. Possuindo a avançada idade de
95 anos, ela ainda traz nesses longos anos de vida,
uma lucidez incomum, e uma memória de dá inveja aos mais jovens. Uma verdadeira
enciclopédia e fonte de conhecimento sobre os antigos mistérios do mundo da
magia, trazidos pelos seus antepassados. E o mais curioso é que Luiza serviu de
inspiração na década de 1930, quando tinha 28 anos de vida, para a canção
"O que é que a baiana tem", de Dorival Caymmi.
Como já tinha falado no documentário sobre o Candomblé em Maragogipe,
essa religião traz um senso fortíssimo de identidade, ancestralidade, de se
pertencer a um grupo, de se sentir gente, de ser acolhido, de saber que seus predecessores
tem um abrangente legado cultural, religioso e espiritual. Quem vai negar-lhes
isto?
Assim como noutras cidades e regiões da Bahia, Cachoeira é um
centro irradiador da cultura religiosa afro-brasileira. Pelas imagens nota-se,
como alguns entrevistados dizem, que existe um ambiente propício e receptivo a
dar continuidade aos cultos africanos que ali se estabeleceram, e que estão
sendo tão bem preservados pela mãe Luiza. O tombamento torna-se urgente.
Podemos não acreditar na veracidade metafísica da
espiritualidade afro, mas devemos acreditar
que é de inestimável importância cultural preservar
os seus lugares de culto.
A história de ser do nosso país está calcada na herança sócio-cultural-religiosa
dos povos negros.
Isso não quer dizer que o Candomblé e similares não podem ser
criticados e contestados, porém, sua importância histórica é palpável.
O documentário foi gravado em 2004, e a mãe Luiza faleceu em
2006.
E já que é costume eu sempre alfinetar as religiões de matriz
africana, lá vai: os filhos de santo, ogãs, pais e mães de santo, babalaôs e
muitos simpatizantes, alegam em uníssono, que o panteão das divindades vindas da
África são poderosos, fazem isso, e fazem aquilo. Mas caramba, as regiões que
ainda prestam cultos a esses orixás e voduns, como por exemplo, a Nigéria,
estão imersas na pobreza e miséria. É razoável pensar que todo esse panteão de
deuses poderosos, pudessem fazer algo a mais pelos seus discípulos nesse mundo
tão cruel. No entanto, o que vemos é que os povos que os cultuam estão há
séculos na merda.
Cadê Xangô, Oxossi, Ogum, esses orixás só servem para incorporar
e fazer os seus "cavalos" fazerem caretas, dá cambalhotas e mugangas?
Essas forças da natureza não poderiam mexer os pauzinhos e reverter o quadro
político desses países e, assim, construírem um país mais humano e justo para
os seus dedicados “cavalos”?
Apesar do sarcasmo, essa é uma pergunta séria! A vantagem que
esse panteão grego atualizado fornece aos seus fiéis seguidores é apenas
terapêutica, deixando-os na miséria? A política e sujeira das autoridades são
mais fortes que o poder dos orixás, criadores dos elementos naturais?