SPINDEL,
Arnaldo. O que é Comunismo. 18 Ed. São Paulo: Brasiliense. (PDF).
Uns
amam, outros odeiam. Uns ainda acreditam que ele irá se concretizar, apesar de
todos os esforços fracassados do século XX. Outros acreditam que o marxismo
está mais forte do que nunca, agora, nas Universidades, como “marxismo cultural”,
contaminando a todos os alunos, mediante o doutrinamento de Professores que
foram alienados quando eram simples discentes nos cursos de humanas. De
vítimas, estes docentes passaram a serem vilões. É uma cadeia contínua.
Temos
também as tentativas teimosas que se arrastam há décadas, de Cuba e Coreia do
Norte, que insistentemente mantém os seus habitantes debaixo de um socialismo
derrotado e tirânico. Mas isto é a maneira como vejo, que é claro, penso ser a
mais correta diante dos fatos históricos e empíricos que presenciamos. Spindel
não entrará nesses julgamentos valorativos, dizendo se o comunismo é bom ou
ruim. Este pequeno livro é um pouco antigo, foi escrito quando a URSS existia.
As
ideias de Marx e Engels surgem no século XIX, dentre várias outras teorias
socialistas. Quando as ideias marxistas passam a ser abraçadas pela maioria dos
operários, Marx então resolve usar sinonimamente os termos Socialismo e
Comunismo. Discípulo de Marx, Lenin, líder da Revolução Russa de 1917, para
diferenciar a sua visão das demais alas socialistas, passa a chamar a sua visão
de comunista apenas.
Spindel
trata principalmente em seu pequeno livro do Marxismo-Leninismo e do comunismo
brasileiro, em seus desdobramentos históricos. Ele fala pouco sobre as
concepções teóricas de Marx e Engels.
Para Marx o comunismo era o estágio final da história humana, onde não haveria
exploradores e nem explorados. Uma espécie de escatologia materialista, uma volta
ao éden bíblico, mas sem a tentação da serpente e sem nenhum deus para
interferir. Apenas seres humanos de boa vontade e altruístas vivendo numa
sinfonia e harmonia perfeitas.
“Comunismo, para ele
[marx], era o estágio da sociedade humana onde não mais existiriam exploradores
e explorados, onde a exploração do homem pelo homem tivesse chegado a seu fim.
O homem, a sociedade e a natureza formariam um todo harmônico; o sonho do Homem
Integral estaria realizado.” P. 07.
Difícil
não ver na visão de Marx um paralelo com a tradição cristã, que olha para o
final da história, como algo grandioso, onde os justos herdarão a terra, e os
ímpios rebeldes serão despojados de quaisquer privilégios, sendo condenados.
Troque os justos da história bíblica, pela classe operária, trabalhadora e
oprimida, e os ímpios pela classe dominante, a burguesia, que você estará
diante de um “cristianismo” comunista/socialista – o reino milenial, o novos
céus e nova terra preconizados pelos camaradas.
O
barbudin da era vitoriana via que o desenrolar da história estava assentado
única e exclusivamente em bases materiais, uma luta de classes constante, dominadores/dominados-opressores/oprimidos,
que dão um rumo dialético (divergência de princípios – tese e antítese) ao processo
histórico, fosse aonde fosse, independente de país, cultura, lugar, região. O
marxismo é uma metanarrativa, ou seja, é um discurso com pretensões universais
válido para todas as épocas e lugares.
Umas
das grandes ironias do nosso tempo é que os que mais simpatizam com as ideias
de Marx, são aqueles que mais querem um estado forte em todas as instâncias da
sociedade. Sendo que para ele: “O Estado, na concepção marxista, não passa de um instrumento
de dominação de uma classe social sobre outra. O Estado nasce devido à
existência de antagonismos inconciliáveis entre as classes sociais; ele
responde à necessidade da classe mais forte de dominar a mais fraca.” P. 13.
Para
Marx:
“A classe
economicamente mais poderosa utiliza o Estado para impor uma ‘ordem’ social,
preservar uma situação que lhe é favorável e, principalmente, para
transformar-se na classe politicamente dominante, obtendo assim novos meios de
oprimir e explorar a classe mais fraca.” P. 14.
E
não foi exatamente isso que aconteceu e acontece nos regimes socialistas? Na
URSS, Cuba, Coreia do Norte, China... Não adianta, os comunistas atuais, culparem
os países capitalistas e fazerem igual ou pior. Essa “ordem social” não foi
imposta debaixo de cacete, em todos esses lugares? Não foi o Comintern responsável
por tantas mortes políticas e de civis?
Os
comunas do presente dizem que são a favor de um Estado Proletário (a classe
trabalhadora e honesta na condução do poder), na passagem para o real
socialismo, no qual não haverá mais a necessidade de um Estado controlador. É espantoso
saber que AINDA muitas pessoas depositam sua fé nesse discurso, sobretudo tendo ciência dos exemplos citados. A história já não mostrou exaustivamente que esse papo não
cola mais? O comunismo teve durante décadas a chance de concretizar o seu sonho
socialista. Mas o que vimos foi uma classe dominante explorando e matando
cruelmente as classes mais pobres. Massacraram os seus cidadãos em campos de
escravidão, fuzilamento, fomes...
Spindel
falará que com a eclosão da revolução e sua consolidação na Rússia, os
comunistas esperavam que outros países também aderissem ao comunismo, a maior
esperança naquele momento era que a Alemanha fosse a primeira, visto que ela e
a Europa de um modo geral estavam bastante fragilizadas e enfraquecidas em suas
economias, por causa da Primeira Guerra Mundial. Existia um desânimo e
descontentamento generalizado.
Os
comunas russos queriam que o comunismo fosse pensado nos outros países a partir
de sua própria visão, não levando em conta as idiossincrasias de cada nação,
inclusive no Brasil. “[...] a maior
parte dos dirigentes soviéticos insistia em pensar nas revoluções dos demais
países apenas em função da sobrevivência de seu regime.” P. 19-20.
Conforme Stálin vai ganhando mais e mais poder, e consolidando a sua tiraria
implacável, mais intolerante e avessa as discordâncias e opiniões, a Internacional
Comunista passa a reger com mãos de ferro os diversos partidos comunistas dos
outros países. “[...]
o Comintern passa a aplicar uma política ultra-sectária.” P. 23.
Quanto ao desejo
de uma revolução na França, os ventos de uma possível guerra com a Alemanha
nazista, quase duas décadas após a revolução russa, mudariam o olhar stalinista
sobre aquela nação. Naquela conjuntura sócio-política delicada, não era viável
uma França revolucionária, segundo a ótica comunista. Uma França enfraquecida
com uma guerra civil, não teria forças para combater as forças de Hitler. Era
mais vantajoso para os interesses russos, que naquele momento, 1936, a França
continuasse um país burguês forte, apto a enfrentar a Alemanha.
Em
relação a China, quando esta adere ao comunismo, Mao Tsé Tung e Stálin, possuem
uma boa relação política, mas os ventos amistosos começam a mudar entre as duas
potências, quando da morte de Stálin e a subida de Kruschev ao poder, na década de
1950. Visões ideológicas díspares surgem, fazendo com que a China levasse o seu
comunismo adiante sem levar em conta as diretrizes soviéticas, sobretudo porque
está tinha uma visão de boa vizinhança com o bloco capitalista, algo que a
China contestava.
O
comunismo teve os seus flertes em terra brasílicas, quando anarquistas
começaram a ver que os ideais comunistas de um estado forte tinham mais chances
de colocar abaixo a sociedade burguesa brasileira. “Com isto abriu-se a brecha por onde iria
penetrar, no movimento operário de nosso país, a doutrina comunista na forma
concebida por Marx e Lenin, e que levaria ao aparecimento do Partido Comunista
no Brasil.” P. 31. Na década de 1920 os comunistas começam de fato
as suas aventuras pelo nosso país.
Como
já me estendi demais, paro por aqui, apenas ressaltando que boa parte do
pequeno livro do Spindel é dedicado a falar de como os comunistas trabalharam
em prol da revolução socialista tupiniquim, sem contudo (e graças a Deus por
isso), terem êxito.