CORTELLA, Mario Sergio. Viver Em Paz Para Morrer Em Paz. 1. ed. – São
Paulo: Planeta, 2017. (PDF).
“Afinal, viver em paz não é
viver sem problema, sem encrenca, sem dificuldade. Viver em paz é viver com a
certeza de que não está vivendo de forma morna!” P.
08.
Mario
Sérgio Cortella, Doutor em
Educação na PUC-SP, é um carinha que ainda gosto. É um daqueles intelectuais
midiáticos, que muitas vezes fala o óbvio, e o populacho, no qual estou
incluído, acha o máximo. Ele tem o seu valor, enquanto intelectual público. Se as
pessoas estão comprando os seus livros e, o mais importante, lendo-os, já é um
começo, para um país tão avesso a leitura e ao estudo que nem o nosso Brasil.
Cortella traz boas
diretrizes neste livro. Vamos recortar algumas delas.
Sobre a dicotomia Ter vs Ser.
“Existe uma obsessão consumista, uma ideia de que eu sou aquilo que
eu tenho, e não é verdade. Eu sou aquilo que eu faço, relaciono, convivo com
outros. Afinal de contas, o que vale na vida é ser importante. Não
necessariamente ser famoso. [...] Millôr Fernandes, estupendo carioca nascido no Méier, dizia que ‘o
importante é ter sem que o ter te tenha’. Isto é, não seja possuído por aquilo
que você possui. Ou, não seja propriedade” P.
08-09.
O
maior prazer do ser humano.
“O maior prazer do ser humano, não importa a idade, é falar de si
mesmo. Outro grande prazer é ensinar, pois é uma afirmação de valor, do seu próprio
valor.” P. 15.
A
dúvida é a força motriz da inovação.
“Convicção absoluta é loucura plena. Quem não tem dúvida faz sempre
do mesmo modo. Quem tem dúvida se inova, se reinventa.” P. 16.
Não
aprendemos com os erros.
“Percalços são inevitáveis. Toda vida é composta por erros e
acertos, por dores e delícias. A maioria das pessoas acredita piamente que
aprende com os erros. Cautela com isso. Na minha opinião, aprendemos é com a correção
dos erros; se aprendêssemos com os erros, o melhor método pedagógico seria
errar bastante.” P. 18.
Chame
as pessoas pelo que elas gostam.
“Se você chama alguém do jeito que ela gosta, está criando uma
ponte. Se a chama como acha que deve chamar, pode estar criando uma barreira.” P. 19.
Aí
está um tema que gera muita polêmica, diante dos transgêneros. A pessoa nasce
biologicamente homem, mas diz que pensa como uma mulher, e, assim quer ser
tratada como do sexo feminino. Hoje fala-se muito em mulheres trans. Independente de qualquer coisa, continuam sendo homens. "Ah, mas assim, você não está criando pontes com
essas pessoas, está criando barreiras", dizem. No entanto, eu não quero criar ponte
alguma com elas. A não ser que essa ponte seja conveniente pra mim. Tipo, algo
que envolva emprego, por exemplo. Muitos pensam do mesmo jeito que eu, porém,
dissimulam para evitar dores de cabeça desnecessárias, perdas de emprego, de
promoções e etc. Dissimulamos quando é preciso.
Mais
pensamentos do barbudo.
“Aqui é preciso lembrar que um adversário fraco te enfraquece, um
concorrente burro te emburrece. E um adversário forte, fortalece.” P. 22-23.
Basicamente
todas áreas do conhecimento quer responder apenas uma pergunta.
“De maneira geral, a ciência, a arte, a filosofia e a religião são
quatro caminhos que têm por trás uma mesma questão: ‘Por que algo – nós, o
mundo, o universo – existe?’. Ou: ‘Por que existimos em vez de não existirmos?’.
Reconheça que é um tema que desperta paixões, assim como o futebol e a
política…” P. 24.
A
razão é fugaz.
“Compreender é ser capaz de entender as razões, mesmo sabendo que
razões são sempre provisórias. Quando você tem consciência da fugacidade das
razões, mata qualquer indício de fanatismo e se torna uma pessoa mais
acolhedora, apta a receber o outro como a um igual.” P. 26.
Não
se é feliz a todo tempo.
“A felicidade contínua é uma impossibilidade, uma vez que as pessoas
vivem em meio a outras pessoas e a atribulações. Mas, se a felicidade pudesse
ser um estado contínuo, nós não a perceberíamos, assim como não percebemos
nossa respiração, exceto na carência, quando o ar nos falta.” P. 28.
O
desespero de querer ser visto, notado, aplaudido.
“No século XVII, Blaise Pascal disse, ao olhar para o céu, uma frase
que gosto demais: ‘O silêncio desses espaços infinitos me apavora’. Talvez o
maior pavor moderno hoje seja o silêncio – não apenas o silêncio como a
ausência de ruído, mas o silenciar sobre mim. Por isso, a obsessão por
comunicação, uma comunicação regida pela celeridade, pela celebridade, uma
comunicação do ‘cá estou’, do ‘fale comigo’ seja como e onde for, pelo celular,
por SMS, no Facebook, no Twitter.
Se não retornam, eu entro em depressão. Tendo em vista o tamanho da
rede de comunicação na internet, criar um blog muitas vezes equivale a jogar
uma garrafa no oceano, com a esperança do náufrago de que, algum dia, alguém encontre
a garrafa.
É o grito dos desesperados.” P.
37.
As
crianças, adolescentes e jovens, são os que mais sofrem com isso. Cresceram na
era da internet para todos, onde parte gigante das interações sociais acontecem
na tela dos celulares e computadores. Se elas não têm os likes e elogios esperados,
se frustram. Suas mentes ainda estão em formação a caminho da maturidade. O
pior que isto não está restrito a essas faixas etárias. Muitos adultos
formados, pais de famílias, com empregos estabelecidos, também entraram na onda
e estão se frustrando. Linhas a frente, Cortella sintetiza bem.
“O homem moderno se desespera em ser quase, em quase ser – quase
conhecido, quase famoso, quase feliz. O “quase” leva ao desespero. O homem quer
escapar da penumbra da caverna e chegar ao sol, à exposição da luz.” P. 37.
Ainda
nesse tema, Cortella tira um retrato fiel da atual sociedade:
“Na sociedade da exposição e do espetáculo, ver e ser visto é
fundamental. O velho ditado “diz-me com quem andas e te direi quem és” ressurge
com força. Estar em boa companhia qualifica o acompanhante – até por isso, as
pessoas gostam de ir a bares e outros lugares da moda, onde vão artistas e
celebridades. Estar cercado de estrelas, de pessoas que brilham, tira o anônimo
das sombras, diminui seu pavor da penumbra.” P.
38.
Nesta
era de muita carência, queremos nos sentir importantes a todo custo.
“Por isso, tantas garotas pagam agências e fotógrafos para fazer um
book. Se uma mãe já não tem idade para desfilar nas passarelas, tenta a todo
custo que sua filha tenha a exposição que ela não teve. Se alguém foi viajar,
faz questão de postar as fotos que tira num blog ou numa comunidade virtual.” P. 46.
Mas
nossa excessiva exposição pode (e tem) um efeito contrário daquilo que
queríamos.
“Numa época em que todo mundo tem as mesmas condições e a mesma
facilidade de se expor, seja no Facebook, no Twitter, o excesso de exposição
devolve as pessoas ao anonimato.” P.
47.
Tempos
estranhos, bizarros...
“Hoje, a diferenciação está ligada à exposição hiperbólica, ao
exagero pleno, ao grotesco. Nos nossos tempos, o grotesco se tornou altamente
sedutor. São as mulheres com bundas do tamanho de melancias, seios explodindo
de silicone, lábios inflados como uma boia de sinalização. São os homens com
músculos estourando, com cabelos hiperproduzidos, com a vaidade desvairada de
uma diva ou com uma violência desmedida a troco de nada.” P. 47.
Sabe
aquele clichê que “a felicidade está nas pequenas coisas da vida”? É isso
mesmo.
“[...] muita gente não compreende que felicidade não é um estado ou
uma condição de permanência, algo que só poderia ser obtido no nirvana ou
qualquer outro lugar onde a paixão inexista. A felicidade é uma ocorrência
eventual, um instante, um episódio, e é exatamente pelo seu caráter passageiro
que ela deve ser valorizada. Assim, a felicidade pode existir por causa de um
desejo por algo ou alguém, mas também pela ausência de algo ou alguém. Desse
modo, a felicidade pode estar em episódios breves, como um gole numa taça de
vinho, ou em um gole na cerveja ou em um suco.” P.
57.
Ficamos
por aqui.