quinta-feira, 22 de abril de 2021

Viver Em Paz Para Morrer Em Paz


CORTELLA, Mario Sergio. Viver Em Paz Para Morrer Em Paz. 1. ed. – São Paulo: Planeta, 2017. (PDF).

“Afinal, viver em paz não é viver sem problema, sem encrenca, sem dificuldade. Viver em paz é viver com a certeza de que não está vivendo de forma morna!” P. 08.

Mario Sérgio Cortella, Doutor em Educação na PUC-SP, é um carinha que ainda gosto. É um daqueles intelectuais midiáticos, que muitas vezes fala o óbvio, e o populacho, no qual estou incluído, acha o máximo. Ele tem o seu valor, enquanto intelectual público. Se as pessoas estão comprando os seus livros e, o mais importante, lendo-os, já é um começo, para um país tão avesso a leitura e ao estudo que nem o nosso Brasil. 

Cortella traz boas diretrizes neste livro. Vamos recortar algumas delas.

Sobre a dicotomia Ter vs Ser.

“Existe uma obsessão consumista, uma ideia de que eu sou aquilo que eu tenho, e não é verdade. Eu sou aquilo que eu faço, relaciono, convivo com outros. Afinal de contas, o que vale na vida é ser importante. Não necessariamente ser famoso. [...] Millôr Fernandes, estupendo carioca nascido no Méier, dizia que ‘o importante é ter sem que o ter te tenha’. Isto é, não seja possuído por aquilo que você possui. Ou, não seja propriedade” P. 08-09.

O maior prazer do ser humano.

“O maior prazer do ser humano, não importa a idade, é falar de si mesmo. Outro grande prazer é ensinar, pois é uma afirmação de valor, do seu próprio valor.” P. 15.

A dúvida é a força motriz da inovação.

“Convicção absoluta é loucura plena. Quem não tem dúvida faz sempre do mesmo modo. Quem tem dúvida se inova, se reinventa.” P. 16.

Não aprendemos com os erros.

“Percalços são inevitáveis. Toda vida é composta por erros e acertos, por dores e delícias. A maioria das pessoas acredita piamente que aprende com os erros. Cautela com isso. Na minha opinião, aprendemos é com a correção dos erros; se aprendêssemos com os erros, o melhor método pedagógico seria errar bastante.” P. 18.

Chame as pessoas pelo que elas gostam.

“Se você chama alguém do jeito que ela gosta, está criando uma ponte. Se a chama como acha que deve chamar, pode estar criando uma barreira.” P. 19.

Aí está um tema que gera muita polêmica, diante dos transgêneros. A pessoa nasce biologicamente homem, mas diz que pensa como uma mulher, e, assim quer ser tratada como do sexo feminino. Hoje fala-se muito em mulheres trans. Independente de qualquer coisa, continuam sendo homens. "Ah, mas assim, você não está criando pontes com essas pessoas, está criando barreiras", dizem. No entanto, eu não quero criar ponte alguma com elas. A não ser que essa ponte seja conveniente pra mim. Tipo, algo que envolva emprego, por exemplo. Muitos pensam do mesmo jeito que eu, porém, dissimulam para evitar dores de cabeça desnecessárias, perdas de emprego, de promoções e etc. Dissimulamos quando é preciso.     

Mais pensamentos do barbudo.

“Aqui é preciso lembrar que um adversário fraco te enfraquece, um concorrente burro te emburrece. E um adversário forte, fortalece.” P. 22-23.

Basicamente todas áreas do conhecimento quer responder apenas uma pergunta.

“De maneira geral, a ciência, a arte, a filosofia e a religião são quatro caminhos que têm por trás uma mesma questão: ‘Por que algo – nós, o mundo, o universo – existe?’. Ou: ‘Por que existimos em vez de não existirmos?’. Reconheça que é um tema que desperta paixões, assim como o futebol e a política…” P. 24.

A razão é fugaz.

“Compreender é ser capaz de entender as razões, mesmo sabendo que razões são sempre provisórias. Quando você tem consciência da fugacidade das razões, mata qualquer indício de fanatismo e se torna uma pessoa mais acolhedora, apta a receber o outro como a um igual.” P. 26.

Não se é feliz a todo tempo.

“A felicidade contínua é uma impossibilidade, uma vez que as pessoas vivem em meio a outras pessoas e a atribulações. Mas, se a felicidade pudesse ser um estado contínuo, nós não a perceberíamos, assim como não percebemos nossa respiração, exceto na carência, quando o ar nos falta.” P. 28.

O desespero de querer ser visto, notado, aplaudido.

“No século XVII, Blaise Pascal disse, ao olhar para o céu, uma frase que gosto demais: ‘O silêncio desses espaços infinitos me apavora’. Talvez o maior pavor moderno hoje seja o silêncio – não apenas o silêncio como a ausência de ruído, mas o silenciar sobre mim. Por isso, a obsessão por comunicação, uma comunicação regida pela celeridade, pela celebridade, uma comunicação do ‘cá estou’, do ‘fale comigo’ seja como e onde for, pelo celular, por SMS, no Facebook, no Twitter.

Se não retornam, eu entro em depressão. Tendo em vista o tamanho da rede de comunicação na internet, criar um blog muitas vezes equivale a jogar uma garrafa no oceano, com a esperança do náufrago de que, algum dia, alguém encontre a garrafa.

É o grito dos desesperados.” P. 37.

As crianças, adolescentes e jovens, são os que mais sofrem com isso. Cresceram na era da internet para todos, onde parte gigante das interações sociais acontecem na tela dos celulares e computadores. Se elas não têm os likes e elogios esperados, se frustram. Suas mentes ainda estão em formação a caminho da maturidade. O pior que isto não está restrito a essas faixas etárias. Muitos adultos formados, pais de famílias, com empregos estabelecidos, também entraram na onda e estão se frustrando. Linhas a frente, Cortella sintetiza bem.

“O homem moderno se desespera em ser quase, em quase ser – quase conhecido, quase famoso, quase feliz. O “quase” leva ao desespero. O homem quer escapar da penumbra da caverna e chegar ao sol, à exposição da luz.” P. 37.

Ainda nesse tema, Cortella tira um retrato fiel da atual sociedade:

“Na sociedade da exposição e do espetáculo, ver e ser visto é fundamental. O velho ditado “diz-me com quem andas e te direi quem és” ressurge com força. Estar em boa companhia qualifica o acompanhante – até por isso, as pessoas gostam de ir a bares e outros lugares da moda, onde vão artistas e celebridades. Estar cercado de estrelas, de pessoas que brilham, tira o anônimo das sombras, diminui seu pavor da penumbra.” P. 38.

Nesta era de muita carência, queremos nos sentir importantes a todo custo.

“Por isso, tantas garotas pagam agências e fotógrafos para fazer um book. Se uma mãe já não tem idade para desfilar nas passarelas, tenta a todo custo que sua filha tenha a exposição que ela não teve. Se alguém foi viajar, faz questão de postar as fotos que tira num blog ou numa comunidade virtual.” P. 46.

Mas nossa excessiva exposição pode (e tem) um efeito contrário daquilo que queríamos.

“Numa época em que todo mundo tem as mesmas condições e a mesma facilidade de se expor, seja no Facebook, no Twitter, o excesso de exposição devolve as pessoas ao anonimato.” P. 47.

Tempos estranhos, bizarros...

“Hoje, a diferenciação está ligada à exposição hiperbólica, ao exagero pleno, ao grotesco. Nos nossos tempos, o grotesco se tornou altamente sedutor. São as mulheres com bundas do tamanho de melancias, seios explodindo de silicone, lábios inflados como uma boia de sinalização. São os homens com músculos estourando, com cabelos hiperproduzidos, com a vaidade desvairada de uma diva ou com uma violência desmedida a troco de nada.” P. 47.

Sabe aquele clichê que “a felicidade está nas pequenas coisas da vida”? É isso mesmo.  

“[...] muita gente não compreende que felicidade não é um estado ou uma condição de permanência, algo que só poderia ser obtido no nirvana ou qualquer outro lugar onde a paixão inexista. A felicidade é uma ocorrência eventual, um instante, um episódio, e é exatamente pelo seu caráter passageiro que ela deve ser valorizada. Assim, a felicidade pode existir por causa de um desejo por algo ou alguém, mas também pela ausência de algo ou alguém. Desse modo, a felicidade pode estar em episódios breves, como um gole numa taça de vinho, ou em um gole na cerveja ou em um suco.” P. 57.

Ficamos por aqui.

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