MATOS, Alderi Souza. A Caminhada Cristã na História. Viçosa,
MG: Ultimato, 2005.
Segunda vez que leio esse livro do Alderi Souza de Matos,
Ph.D em História da Igreja na Universidade de Boston, EUA. Livro muito bom. Leitura
super agradável e bastante informativa. Alderi tenta ser bem equilibrado em
suas abordagens, não poupando críticas a igreja, pelos seus erros passados. Ele
é o Historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, uma instituição
calvinista teologicamente conservadora. De tudo ele fala um pouco.
Reforma Protestante e sua abertura para a multiplicidade de
visões no cristianismo:
"A Reforma Protestante foi, entre outras coisas, o
questionamento da noção de que uma determinada tradição cristã tem o direito
exclusivo ao título de igreja. Antes, os reformadores afirmaram que, onde quer
que o povo de Deus se reúna para ouvir a pregação fiel das escrituras e receber
a ministração dos sacramentos bíblicos ai está presente a igreja. Com essa nova
mentalidade, o protestantismo abriu as portas para a diversidade dentro do
cristianismo". P. 21-22.
Foi a Reforma começar, para que as divergências se fizessem
presentes, entre os próprios reformadores. Cada um acusando o outro de herege.
Lutero discordava de Zwínglio quanto a eucaristia, onde até foi travado um
debate entre os dois, cada qual irredutível em suas posições.
O celibato surgido no século quatro:
“A mais antiga estipulação sobre o assunto, o cânone 33 do
concílio de Elvira, na Espanha (por volta do ano 305), declara o seguinte:
‘Decretamos que todos os bispos, sacerdotes e diáconos, e todos os clérigos
envolvidos com o ministério, sejam totalmente proibidos de viverem com esposas
e gerarem filhos. Quem assim o fizer será deposto da dignidade clerical.’” P. 52.
E assim, até hoje os sacerdotes católicos estão privados de
terem suas esposas e filhos. Numa decisão sem pé nem cabeça, fruto de um
repúdio injustificado do sexo. A partir do segundo século, o sexo já estava
sendo visto, como prática abominável pelos primeiros cristãos.
A confecção das cópias das escrituras:
"Durante mais de um milênio, as cópias parciais ou
integrais da Bíblia eram feitas à mão, trabalho esse realizado principalmente
por monges que pacientemente redigiam os manuscritos (hoje existem cerca de
2300 manuscritos bíblicos, produzidos entre os anos 300 e 1500). O fato de os
livros serem copiados à mão tornava-os extremamente caros para a maioria das
pessoas - copiar um livro como Isaías levava semanas ou meses. Por exemplo, no
século 14 o custo de uma Bíblia podia ser equivalente ao salário de um ano inteiro
de um sacerdote". P. 68-69.
Hoje o preço das Bíblias já não são tão caros assim. Os
preços variam bastante. Têm Bíblias de todos os tamanhos e gostos. As editoras
sob o pretexto de estarem divulgando o reino de deus, inventam todo tipo de
Bíblias. Chega a ser ridículo esse comércio. Mas os editores dizem com a cara
mais limpa do mundo: é para o reino de deus. O deus deles, é claro.
A religião cristã e sua incompatibilidade com o ensinamento espírita
da reencarnação:
"Mas, afinal, o que é a reencarnação? Trata-se da crença
de que a alma, ou o elemento psíquico do ser humano, passa para um outro corpo
após a morte, fato esse que pode repetir-se muitas vezes com o indivíduo." P. 98.
"O cristianismo majoritário nunca professou a tese da
reencarnação, pois ela não somente está ausente das escrituras, mas é
contraditada por textos bíblicos como Hb 9.27 e Lc 23.43. É somente através de
uma interpretação altamente figurada e tendenciosa de certas passagens que os
espíritas podem encontrar a reencarnação na Bíblia." P. 100.
Existe pelo menos um caso nas escrituras que corrobora a
realidade da comunicação dos mortos com os vivos. O pitoresco caso de Saul e
Samuel. A Bíblia é clara quando diz que Samuel já morto, foi ter uma
conversinha com Saul, mediante o intermédio de uma feiticeira. Os
fundamentalistas têm um pepino grande para descascar.
Fanatismo religioso:
"Em todas as religiões existe o fenômeno do fervor
espiritual intenso, por vezes extremado, que caracteriza certos indivíduos,
grupos e movimentos. O cristianismo não é exceção. [...] Infelizmente, a
história demonstra que muitas vezes o entusiasmo religioso ultrapassa os
limites do bom senso e manifesta extravagâncias comportamentais e teológicas.
Em alguns casos extremos chega ao fanatismo, com as consequências negativas, até
destrutivas, daí advindas." P.
123-124.
Precisa de algum exemplo?
Destruição de culturas pelos cristãos:
"Um caso particularmente inquietante foi o da América
Latina, em que o processo de conquista e colonização, abençoado pela igreja,
deixou um rastro de destruição entre as populações nativas. Somente se
levantaram umas poucas vozes de protesto". P. 145.
Se pudessem, os fanáticos evangélicos destruiriam até hoje
monumentos em homenagem aos ídolos pagãos. Deduzo que a maioria evangélica de
salvador, na Bahia, se tivessem autorização, colocariam abaixo o Dique do
Tororó, que possui várias estátuas dos orixás – seres mitológicos cheios de mugangas,
adorados no Candomblé.
Os primeiros calvinistas no Brasil e o seu total fracasso:
"Curiosamente, foi no Brasil que ocorreu a primeira
tentativa da história do protestantismo mundial no sentido de evangelizar um
povo não-cristão. Isso se deu em conexão com uma colônia francesa criada na
Baía da Guanabara em 1555, a França Antártica. A pedido do líder do
empreendimento, Nicholas Durand de Villegainon, o reformador João Calvino e a
Igreja Reformada de Genebra enviaram catorze colonos, entre eles dois pastores.
Esses imigrantes-missionários tinham dois objetivos: implantar uma igreja
reformada entre os franceses e evangelizar os silvícolas. Nenhum desses
objetivos pôde ser alcançado e quatro dos pioneiros acabaram sendo
martirizados, mas esse evento se tornou um marco de grande importância na
história das missões, nem sempre caracterizadas pelo sucesso." P. 154.
Isso ficou conhecido como a tragédia da Guanabara. Acho que
Jean de Léry, calvinista que presenciou esses acontecimentos, escreveu um livro
contando a aventura dos primeiros calvinistas no Brasil. E a primeira confissão
de fé calvinista, foi feita aqui, em solo brasileiro.
Mais uma vez o celibato e abstinência sexual no casamento:
"Durante a Idade Média, e mesmo antes, a vida
celibatária teria sido considerada a condição ideal para o cristão, o estado
espiritual mais elevado. O grande erudito Jerônimo, que morreu no ano 420, foi
particularmente enfático nesse sentido. A comparar a virgindade, a viuvez e o
casamento, ele deu à primeira o valor numérico de 100, à segunda 60 e ao
casamento 30. Mais de um milênio depois, em seus Exercícios Espirituais (1548),
Inácio de Loyola exortou os seus seguidores a exaltarem o matrimônio, mas
exaltarem ainda mais a castidade. De fato, ao se observar a longa lista de
santos católicos, verifica-se que somente alguns poucos dentre eles foram
casados.
[...]
Na concepção tradicional, o sexo, embora permitido dentro do
casamento, não devia ser desfrutado. De acordo com um catecismo do final do
século XV, os leigos pecavam sexualmente no casamento, quando, entre outras
coisas, praticavam o sexo por prazer e não pelas razões que Deus ordenou, a saber,
evitar o pecado da concupiscência e povoar a terra". P. 193, 194.
O sexo sempre sendo visto como um tabu entre boa parte dos
cristãos mais fervorosos. Tudo começa em Maria, mãe de Jesus – que a igreja
católica insiste em dizer que ela nunca foi furada por José, depois de Jesus
ter nascido. Pergunto: José ficou sua vida inteira com uma mulher, sem dá
nenhuma sapecada nela? Uma punhetinha de vez em quando? Certo, certo, gosto de descer o nível as vezes. Ou Deus o agraciou com a
frigidez?