quinta-feira, 15 de junho de 2017

A Caminhada Cristã na História


MATOS, Alderi Souza. A Caminhada Cristã na História. Viçosa, MG: Ultimato, 2005.

Segunda vez que leio esse livro do Alderi Souza de Matos, Ph.D em História da Igreja na Universidade de Boston, EUA. Livro muito bom. Leitura super agradável e bastante informativa. Alderi tenta ser bem equilibrado em suas abordagens, não poupando críticas a igreja, pelos seus erros passados. Ele é o Historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, uma instituição calvinista teologicamente conservadora. De tudo ele fala um pouco.

Reforma Protestante e sua abertura para a multiplicidade de visões no cristianismo:

"A Reforma Protestante foi, entre outras coisas, o questionamento da noção de que uma determinada tradição cristã tem o direito exclusivo ao título de igreja. Antes, os reformadores afirmaram que, onde quer que o povo de Deus se reúna para ouvir a pregação fiel das escrituras e receber a ministração dos sacramentos bíblicos ai está presente a igreja. Com essa nova mentalidade, o protestantismo abriu as portas para a diversidade dentro do cristianismo". P. 21-22.

Foi a Reforma começar, para que as divergências se fizessem presentes, entre os próprios reformadores. Cada um acusando o outro de herege. Lutero discordava de Zwínglio quanto a eucaristia, onde até foi travado um debate entre os dois, cada qual irredutível em suas posições.

O celibato surgido no século quatro:

“A mais antiga estipulação sobre o assunto, o cânone 33 do concílio de Elvira, na Espanha (por volta do ano 305), declara o seguinte: ‘Decretamos que todos os bispos, sacerdotes e diáconos, e todos os clérigos envolvidos com o ministério, sejam totalmente proibidos de viverem com esposas e gerarem filhos. Quem assim o fizer será deposto da dignidade clerical.’” P. 52.

E assim, até hoje os sacerdotes católicos estão privados de terem suas esposas e filhos. Numa decisão sem pé nem cabeça, fruto de um repúdio injustificado do sexo. A partir do segundo século, o sexo já estava sendo visto, como prática abominável pelos primeiros cristãos.  

A confecção das cópias das escrituras:

"Durante mais de um milênio, as cópias parciais ou integrais da Bíblia eram feitas à mão, trabalho esse realizado principalmente por monges que pacientemente redigiam os manuscritos (hoje existem cerca de 2300 manuscritos bíblicos, produzidos entre os anos 300 e 1500). O fato de os livros serem copiados à mão tornava-os extremamente caros para a maioria das pessoas - copiar um livro como Isaías levava semanas ou meses. Por exemplo, no século 14 o custo de uma Bíblia podia ser equivalente ao salário de um ano inteiro de um sacerdote". P. 68-69.

Hoje o preço das Bíblias já não são tão caros assim. Os preços variam bastante. Têm Bíblias de todos os tamanhos e gostos. As editoras sob o pretexto de estarem divulgando o reino de deus, inventam todo tipo de Bíblias. Chega a ser ridículo esse comércio. Mas os editores dizem com a cara mais limpa do mundo: é para o reino de deus. O deus deles, é claro.

A religião cristã e sua incompatibilidade com o ensinamento espírita da reencarnação:

"Mas, afinal, o que é a reencarnação? Trata-se da crença de que a alma, ou o elemento psíquico do ser humano, passa para um outro corpo após a morte, fato esse que pode repetir-se muitas vezes com o indivíduo." P. 98.

"O cristianismo majoritário nunca professou a tese da reencarnação, pois ela não somente está ausente das escrituras, mas é contraditada por textos bíblicos como Hb 9.27 e Lc 23.43. É somente através de uma interpretação altamente figurada e tendenciosa de certas passagens que os espíritas podem encontrar a reencarnação na Bíblia." P. 100.

Existe pelo menos um caso nas escrituras que corrobora a realidade da comunicação dos mortos com os vivos. O pitoresco caso de Saul e Samuel. A Bíblia é clara quando diz que Samuel já morto, foi ter uma conversinha com Saul, mediante o intermédio de uma feiticeira. Os fundamentalistas têm um pepino grande para descascar.

Fanatismo religioso:

"Em todas as religiões existe o fenômeno do fervor espiritual intenso, por vezes extremado, que caracteriza certos indivíduos, grupos e movimentos. O cristianismo não é exceção. [...] Infelizmente, a história demonstra que muitas vezes o entusiasmo religioso ultrapassa os limites do bom senso e manifesta extravagâncias comportamentais e teológicas. Em alguns casos extremos chega ao fanatismo, com as consequências negativas, até destrutivas, daí advindas." P. 123-124.

Precisa de algum exemplo?

Destruição de culturas pelos cristãos:

"Um caso particularmente inquietante foi o da América Latina, em que o processo de conquista e colonização, abençoado pela igreja, deixou um rastro de destruição entre as populações nativas. Somente se levantaram umas poucas vozes de protesto". P. 145.

Se pudessem, os fanáticos evangélicos destruiriam até hoje monumentos em homenagem aos ídolos pagãos. Deduzo que a maioria evangélica de salvador, na Bahia, se tivessem autorização, colocariam abaixo o Dique do Tororó, que possui várias estátuas dos orixás – seres mitológicos cheios de mugangas, adorados no Candomblé.

Os primeiros calvinistas no Brasil e o seu total fracasso:

"Curiosamente, foi no Brasil que ocorreu a primeira tentativa da história do protestantismo mundial no sentido de evangelizar um povo não-cristão. Isso se deu em conexão com uma colônia francesa criada na Baía da Guanabara em 1555, a França Antártica. A pedido do líder do empreendimento, Nicholas Durand de Villegainon, o reformador João Calvino e a Igreja Reformada de Genebra enviaram catorze colonos, entre eles dois pastores. Esses imigrantes-missionários tinham dois objetivos: implantar uma igreja reformada entre os franceses e evangelizar os silvícolas. Nenhum desses objetivos pôde ser alcançado e quatro dos pioneiros acabaram sendo martirizados, mas esse evento se tornou um marco de grande importância na história das missões, nem sempre caracterizadas pelo sucesso." P. 154.

Isso ficou conhecido como a tragédia da Guanabara. Acho que Jean de Léry, calvinista que presenciou esses acontecimentos, escreveu um livro contando a aventura dos primeiros calvinistas no Brasil. E a primeira confissão de fé calvinista, foi feita aqui, em solo brasileiro.

Mais uma vez o celibato e abstinência sexual no casamento:

"Durante a Idade Média, e mesmo antes, a vida celibatária teria sido considerada a condição ideal para o cristão, o estado espiritual mais elevado. O grande erudito Jerônimo, que morreu no ano 420, foi particularmente enfático nesse sentido. A comparar a virgindade, a viuvez e o casamento, ele deu à primeira o valor numérico de 100, à segunda 60 e ao casamento 30. Mais de um milênio depois, em seus Exercícios Espirituais (1548), Inácio de Loyola exortou os seus seguidores a exaltarem o matrimônio, mas exaltarem ainda mais a castidade. De fato, ao se observar a longa lista de santos católicos, verifica-se que somente alguns poucos dentre eles foram casados.

[...]

Na concepção tradicional, o sexo, embora permitido dentro do casamento, não devia ser desfrutado. De acordo com um catecismo do final do século XV, os leigos pecavam sexualmente no casamento, quando, entre outras coisas, praticavam o sexo por prazer e não pelas razões que Deus ordenou, a saber, evitar o pecado da concupiscência e povoar a terra". P. 193, 194.

O sexo sempre sendo visto como um tabu entre boa parte dos cristãos mais fervorosos. Tudo começa em Maria, mãe de Jesus – que a igreja católica insiste em dizer que ela nunca foi furada por José, depois de Jesus ter nascido. Pergunto: José ficou sua vida inteira com uma mulher, sem dá nenhuma sapecada nela? Uma punhetinha de vez em quando? Certo, certo, gosto de descer o nível as vezes. Ou Deus o agraciou com a frigidez?