segunda-feira, 5 de junho de 2017

Sonhos Imperiais


“O gueto é a prisão mais cruel. É um castigo peculiar. Nós nascemos nele. Igual aos coitados da Coreia do Norte, que cumprem pena por algo que o avô fez. Não precisa de muros para manter as pessoas dentro. E, quando nascemos, não sabemos o que fazer com a liberdade. Por mais bonita que pareça.”  

A criminalidade não tem fim nos guetos afros. Negros matando negros. Consumo e tráfico de drogas, que geram mais mortes e inimigos. Irmãos de cor vendo-se como adversários mortais. As gerações vão se sucedendo, e a história vai se repetindo. Há muitas décadas, a comunidade negra continua no fundo do poço, devido a vários fatores, como a pobreza, desemprego, falta de oportunidade, descaso do governo, racismo dos brancos (sim, isso mesmo)... Junte-se a tudo isso, a índole ruim de muitos pretos, e está formada uma sociedade doente e sem esperanças. Filmes e mais filmes vêm retratando essa realidade dura e cruel que acomete milhões de afro-americanos. Muitos têm caráter e bom coração, mas infelizmente, as circunstâncias os forçam a fazer besteiras.  

Sonhos Imperiais traz a história de um típico jovem negro de um bairro tomado pela criminalidade, recém saído da prisão por assalto a mão armada. Sua mulher está presa, sua mãe é uma alcoólatra e drogada, que vive a maior parte do tempo chapada, seu tio é um traficante, e de quebra, ele ainda tem um filho pequeno para criar.

Como reconstruir sua vida na honestidade, se não há nenhuma oportunidade em vista? Como não voltar para a vida do crime? Tentando viver de modo íntegro e ser exemplo para a sua pequena cria, ele recusa a oferta de seu tio Shrimp de deixar uma carga de drogas na cidade de Portland. Inconformado com a negativa de seu sobrinho, o seu tio o expulsa de casa, junto com o seu filho. Bambi e Dayton, sem terem para onde ir, vão morar dentro de seu carro velho e sem gasolina, sem nenhuma estrutura mínima de conforto.  

Shrimp: - Quando quer ir a Portland? Preciso de alguém de confiança.

Bambi: - Eu não posso.

Shrimp: - Eu entendo esse lance de escrever. Você se sente mais civilizado. Mas de que adianta se você não ajuda a sua família? Entendeu?

Bambi: - Eu posso limpar a casa. Estou procurando um emprego para alugar um canto.

Shrimp: - Não é isso. Eu preciso de ajuda de verdade. Não negão. Volte aqui. Você é grandinho. Quer morar aqui? Siga a porra das regras.

Bambi: - É arriscado demais.

Shrimp: - Eu estou cagando para isso, sobrinho. Ou você vai a Portland, ou dá o fora. Minha casa não é um orfanato.

Bambi: - Qual é? Nós não temos lugar para ir. 

Shrimp: - Estou avisando, quando eu acordar se você não colaborar, não quero ver você, nem aquela porra de moleque e nem aquela merda de carro que você estacionou na minha casa. Você tem que merecer morar aqui. Escreva isso.  

Bambi tem um sonho: ser escritor. Antes mesmo de ser expulso da casa de seu tio, ainda quando estava na prisão, começou a escrever sobre a sua história para não enlouquecer naquele lugar desumano. No carro, continua escrevendo num caderno e lendo em voz alta, alguns trechos, para que seu filho escute.

Dias depois, perde a guarda do filho, que fica sob a custódia do Estado, mas um raio de esperança desponta no horizonte, quando surge interesse de uma editora em publicar os seus escritos e memórias.

Filme muito bom.