DOCKERY, David; GEORGE, Timothy. A Grande Tradição Intelectual Cristã. São Paulo:
Cultura Cristã, 2015.
Dando continuidade a leitura de
livros sobre a história da Igreja, acabei lendo esse, escrito pelos Teólogos Timothy
George (Ph.D e Mestre em Teologia na Universidade de Harvard, EUA) e David S.
Dockery (Ph.D em Humanidades na Universidade do Texas, EUA), que fala-nos sobre
as grandes mentes teológicas e filosóficas que contribuíram para a grande tradição intelectual cristã,
desde Justino Mártir, no século II, aos dias atuais, com o Teólogo Thomas Oden.
Logo de início é admitido que o
cristianismo já não tem a relevância que antes gozava nas Universidades e outras
instituições de ensino. A fé cristã foi relegada ao âmbito privado.
“[...] a maioria das universidades da Europa e
da América do Norte, atualmente, entende que a tarefa de descobrir e de
transmitir conhecimento é algo totalmente distante de qualquer conexão com a fé
cristã, apesar de muitas dessas instituições acadêmicas atribuírem suas origens
a uma herança cristã.” P. 17.
Páginas à frente, eles retomam
esse tema:
“[...] Comumente, todos sabem que o pensamento
cristão não é mais considerado um tema relevante na universidade moderna. Talvez
seja admitido no departamento de História ou de Religião, onde há possibilidade
de se fazer um trabalho sobre o que uma vez criam os cristãos.” P. 77.
No Brasil, Universidades como a
Mackenzie (Igreja Presbiteriana do Brasil) e UNASP (Igreja Adventista do Sétimo
Dia) tentam superar essa situação, dando ênfase a temas que julgam importantes
para um cristianismo pulsante e atuante na sociedade. Por exemplo, ambas
julgando a Teoria da Evolução uma inimiga mortal da grande tradição intelectual cristã, promovem eventos, cursos e
disciplinas que questionam o darwinismo como a melhor teoria sobre a origem dos
seres vivos.
Mas quem foram os homens que
moldaram a grande tradição intelectual
cristã, a despeito da sua atual crise nas grandes Universidades? Num imenso
time que esculpiu o pensamento cristão, o livro traz em sua lista, nomes
conhecidos e carimbados da Teologia Cristã, tais como:
JUSTINO MÁRTIR (século II) – “De forma brilhante,
Justino vinculou o Antigo ao Novo Testamento.” P. 22.
ORÍGENES (séculos II-III) - “O trabalho de Orígenes foi grandemente influenciado pelo
pensamento neoplatonista.” P. 24.
JOÃO CRISÓSTOMO (séculos III-IV) –
“Deu primordial atenção à intepretação literal,
gramatical e histórica das Escrituras.” P. 28.
JERÔNIMO (séculos III-IV) – “Sem dúvida,
Jeronimo classifica-se como intérprete bíblico de primeira ordem, uma reputação
que permanece até hoje.” P. 31.
AGOSTINHO (séculos IV-V) – “O trabalho de Agostinho formou o que há de melhor na
tradição intelectual cristã, como poucos outros nos dois mil anos de história
da igreja.” P. 31.
Muitos outros são mencionados: Anselmo,
Aquino, Lutero, Calvino...
No tocante aos “hereges” que
surgiram para atrapalhar o andamento da coisa, temos o trio do beiçudo – Marcião,
Ário e Pelágio. Pense em três figuras que deram uma enorme dor de cabeça as lideranças
da igreja. Concílios precisaram ser feitos para liquidar ou atenuar a
influência “maléfica” que esses três causaram. E pior: ainda hoje, o
protestantismo e catolicismo tem que lidar com os atuais arianos (testemunhas
de Jeová) e com os pelagianos em suas próprias fileiras. As carcaças de Ário e
Pelágio agradecem.
Um enunciado que chamou bastante
atenção foi este:
“[...] sola gratia é herança comum do
protestantismo histórico e do catolicismo fiel, assim como o é a confissão
compartilhada pelo calvinismo tradicional e pelo arminianismo de João Wesley.” P. 51.
Os autores são dois Teólogos de
tradição calvinista. Dessa forma, o reconhecimento deles de que João Wesley foi
um cristão em consonância com a sola
gratia (reconhecem a ortodoxia de sua teologia), se reveste de primordial
importância para o longo debate entre arminianos e calvinistas. Os calvos do
Facebook, por exemplo, com certeza em sua grande maioria, fariam chacota desse
tipo de afirmação, caso viesse de autores arminianos. No entanto, devem se
resignar. E note bem: Dockery e George usam a expressão "arminianismo de João
Wesley", o que implica em dizer que os ensinos de Jacó Armínio estão fundamentados
no SOLA GRATIA. Todavia, não é isso
que os calvos de internet dizem. Sempre estão prontos a dizer de peito aberto
que Armínio distorceu essa doutrina.
Felizmente nos últimos anos, as
obras de autores arminianos têm preenchido o vácuo da Teologia protestante no
tocante a essa questão, em terras brasileiras. Para quem se interessa por
História da Igreja e Teologia Histórica, as prateleiras já dispõem de ótimas
obras arminianas, que desmentem os espantalhos criados em torno de Armínio e dos
arminianos.
Trazendo um dado triste e cruel
do imperador Nero, o livro diz:
“[...]
Os que visitam Roma podem ver o Coliseu. Esse lugar foi a princípio uma área de
lazer do grande palácio de Nero, no alto da colina. Em um de seus banquetes,
Nero mandou amarrar cristãos de Roma em postes e ordenou que ateassem fogo
neles, de forma que quando os convivas chegassem, a caminho do banquete,
passassem por onde os cristãos estavam sendo queimados, como postes de luz
vivos.” P. 57.
Séculos depois, foram os ditos
cristãos que fizeram coisas semelhantes. Bastou o poder mudar de lado. Humanos
fazendo humanices.
E agora trazendo um trecho de uma
carta do famoso Cientista Albert Einstein:
“[...] Somente a igreja se opôs à luta que
Hitler empreendia contra a liberdade. Até então, eu não tinha nenhum interesse
pela igreja, mas agora sinto grande admiração e estou bastante atraído por ela,
que teve coragem persistente de lutar em favor da verdade espiritual e da
liberdade moral. Sinto-me obrigado a confessar que agora admiro aquilo que
costumava considerar de pouco valor.” P.
65.
Imagino os ateus mais
empedernidos e cheios de ódio contra a religião, dizendo que essa carta não
existe ou que os autores tiraram o texto do seu contexto, e assim, distorceram
o que o Físico quis dizer. Haja paciência com esses também. Mesmo que o Einstein
não tenha sido um religioso no sentido tradicional, esse tipo de reconhecimento
de sua parte, da utilidade benéfica da religião num momento tão crucial da
história humana, é algo que os ateus raivosos não curtem.
E terminando, nas páginas finais,
os autores conclamam toda a comunidade cristã a lutarem e batalharem para que a grande tradição intelectual cristã
tenha seu espaço nas Universidades e nas pesquisas de ponta do saber. Excelência,
seriedade e pesquisa, nas mais diversas áreas devem ser feitas com entusiasmo
pelos cristãos. Afinal, toda verdade é uma verdade de Deus. As ciências da
natureza, humanidades, artes e todo tipo de conhecimento, deve ser buscado com
diligência, para que Deus seja glorificado.