PONDÉ, Luiz Felipe. Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. São Paulo: Leya, 2012. (Versão em PDF).
“Somos basicamente covardes porque a vida é basicamente infeliz.” P. 84.
Assim como acontece nos seus outros livros, Pondé (Ph.D em Filosofia na USP) resmunga, remunga e resmunga neste. Seus resmungos são muitas vezes certeiros. Ele não trata da história da Filosofia; não traz abstrações filosóficas nonsenses nas páginas de seu livro, nem Filósofos obscuros com ideias malucas. Sua raiva é disparada contra a “praga do politicamente correto”. Peste que infectou a sociedade, a mídia, as Universidades (principalmente os departamentos de Humanas), o inferno, o purgatório, a Teologia - com discursos de justiça social, de que o ser humano é bom, de que não existe natureza humana, ideologia de gênero, de desconstrução da família tradicional... Não obstante, o que seria o politicamente correto (PC)?
“O politicamente correto, assim, nesse momento, se caracterizará por ser um movimento que busca moldar comportamentos, hábitos, gestos e linguagem para gerar a inclusão social desses grupos e, por tabela, combater comportamentos, hábitos, gestos e linguagem que indiquem uma recusa dessa inclusão.” P. 13.
A democracia, segundo ele, é o menos problemático de todos os sistemas políticos, porém, o povo – ah, o povo... A maior parte da humanidade é medíocre e covarde, e o PC tem ajudado a legitimar isso, colocando uma capa de que somos naturalmente bons, igualmente inteligentes, virtuosos, mas que infelizmente, fomos corrompidos. Mas corrompidos por quem? Pelo capitalismo, é claro – é nele que incide a maior parte do ressentimento dos canalhas politicamente corretos, que gostam de passar a imagem de bons moços, que amam toda a humanidade, e querem a todo custo a “justiça social”. No entanto, para Pondé, a sociedade, seja ela qual for, é totalitária. Queremos apenas o nosso conforto. Inclusive a cambada PC.
“O povo é sempre opressor. Quando aparece politicamente, é para quebrar coisas. O povo adere fácil e descaradamente (como aderiu nos séculos 19 e 20) a toda forma de totalitarismo. Se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que você pedir. Confiar no povo como regulador da democracia é confiar nos bons modos de um leão à mesa. Só mentirosos e ignorantes têm orgasmos políticos com o ‘povo’.” P. 22.
Eis dos defeitos fundamentais da democracia:
“Outra característica problemática da democracia é sua vocação tagarela, como dizia o conde de Tocqueville. Nela, as pessoas são estimuladas a ter opinião sobre tudo, e a afirmação de que todos os homens são iguais (quando a igualdade deve ser apenas perante um tribunal) leva as pessoas mais idiotas a assumir que são capazes de opinar sobre tudo. E, como dizia nosso conde, Descartes (filósofo francês do século 17) nunca imaginou que alguém levasse tão a serio sua ideia de que o bom senso foi dado a todos os homens em ‘quantidades’ iguais – o que evidentemente é uma mentira empírica. [...] Uma coisa que nosso conde percebeu é que o homem da democracia, quando quer saber algo, pergunta para a pessoa do seu lado, e o que a maioria disser, ele assume como verdade. Daí que, no lugar do conhecimento, a democracia criou a opinião pública.” P. 23.
É pecado capital em alguns círculos expor as falhas morais da África, para os PCs parece que aquele continente é o paraíso de pessoas boas. Pondé reitera que ser gay, negro, mulher, ou seja, a minoria “defendida” pelos PCs, não garante bom caráter. Quanto à África:
“Vejamos o problema da África. Um antídoto excelente é ler V. S. Naipaul. A África que brota dos relatos de suas viagens é a infeliz condição neolítica do continente, mesmo antes da devastação realizada pela colonização europeia. Massacres, escravidão (os africanos já escravizavam seus “irmãos” antes dos brancos e mais tarde os venderam aos árabes, que os venderam aos brancos), queimar e mutilar pessoas vivas, bruxaria como “ferramenta oficial e de negócios” da vida (na Nigéria, segundo o que ele relata, um homem pode perder o patrimônio se for acusado de fazer um “trabalho” contra alguém que tenha poder suficiente para “provar” a queixa). Em Uganda, sacrifícios de crianças são quase tão comuns quanto a fome, sempre foi. No Gabão, vive-se no Neolítico. Enfim, todo mundo sabe disso, mas a mentira politicamente correta nega.” P. 28-29.
O PC adora olhar para as sociedades indígenas, como exemplos de amor e conexão com a natureza. Os índios são ovacionados por viverem em harmonia com o mundo natural, enquanto que o mundo regido pelo capitalismo é predatório, destruidor – está prestes a acabar com todos os recursos naturais. Pondé questiona quantos dos que reclamam de nosso mundinho consumista estariam dispostos a viverem em sociedades neolíticas. Nenhum! Ele ainda dispara:
“Daí que o justo medo da modernidade e do mundo do dinheiro pode fazer de você um retardado, como todo medo faz: corremos o risco de ficar em pânico e infantilizados. Mas o que caracteriza o retardamento mental abençoado pelo politicamente correto é crer que voltarmos ao Neolítico nos salvaria das contradições do desenvolvimento da técnica, fruto de nossos próprios esforços para superar nossos sofrimentos. Para a praga PC, dizer que índios são populações próximas ao Neolítico é um pecado capital, ainda que a maioria desses crentes apenas finja amor por eles.” P. 32.
Sobre a tão em voga teoria de gênero, uma das principais bandeiras do PC, Pondé tem a nos dizer:
“A teoria de gênero afirma que nossa sexualidade é socialmente construída. Nada há nela de biológica. Assim sendo, as sociedades constroem os gêneros (leia-se, os sexos) na dependência do poder das classes sociais ou dos grupos malvados da vez. Claro, ao final, quem paga o pato é sempre o homem heterossexual. [...] Para esses fanáticos, homens e mulheres não existem da mesma forma que cães e gatos, mas são projetos ideológicos. Todas as diferenças de temperamento, comportamento, expectativas e mesmo biológicas são fruto do patriarcalismo. [...] Claro que a sociedade impacta a sexualidade e seus modos de ação, mas dizer que não há nada no homem e na mulher (ou na maioria esmagadora deles) que tenha a ver com sua herança biológica é como negar a lei da gravidade dizendo que os corpos caem apenas porque a ideologia opressora persegue os corpos de menor massa.” P. 36, 39.
Segundo o Filósofo da USP, a maioria das feministas são feias. Daí o seu ressentimento e ódio das bonitas.
“[...] com o tempo passei a suspeitar de que, sim, há uma pitada de mau-caratismo no feminismo e provavelmente porque suas líderes são, em grande maioria, feias e mal-amadas e por isso querem um mundo feio e infeliz para se sentir mais em casa.” P. 42.
O fato é que a maioria das feministas são feias de doer. E sim, muitas se doem por não terem a beleza das patricinhas, filhinhas de papai e de mamãe. Essa incapacidade natural torna-se em inveja, sob o manto de ideias delirantes.
Os Professores (de Humanas) também não escapam das críticas desferidas. A maioria é um bando de vagabundos, que não gostam da labuta intelectual que a sua profissão exige.
“Na maioria dos casos, professores de universidade (ou não) são pessoas que, além de não gostar dos alunos, têm uma inteligência mediana e foram, quando jovens, alunos medíocres, que fizeram ciências humanas porque sempre foi fácil entrar na faculdade em cursos de ciências humanas. [...] Professores normalmente não gostam de ler ou de estudar, mas dizem que esse pecado é apenas dos alunos. Há um enorme sofrimento na maioria dos professores porque têm de fingir o tempo todo que acreditam na importância do que fazem.” P. 46.
O PC nunca desfere criticas contra a religião islâmica, segundo Pondé, isso revela o mau-caratismo de seus aderentes.
“Mas o ponto aqui é que aqueles mesmos que criticam a proibição do aborto no Brasil, por exemplo, por ser coisa de “católico”, não criticariam abertamente a Tunísia ou o Egito por assumirem o Corão como limite de toda lei e de ter um partido islâmico no poder. E por quê? Porque é politicamente incorreto criticar o islamismo. Por isso digo que ser politicamente correto fere a inteligência ou revela mau caráter. Não conheço ninguém que adote o politicamente correto e não seja mau-caráter, fora aqueles que têm idade mental de 10 anos.” P. 59.
O mal humorado Pondé tem mais a dizer.
O mal humorado Pondé tem mais a dizer.
Sobre a nossa vida sexual:
“Sade hoje defenderia a falta de saúde, a alimentação não balanceada, a poluição e o sexo “envergonhado”, porque sexo livre virou uma das bandeiras da hipocrisia social: todo mundo se diz resolvido sexualmente e acha que todo mundo legal transa até os 100 anos de idade quando na verdade quase todo mundo é infeliz sexualmente, como sempre foi a humanidade.” P. 69.
Nossa real condição:
“Sim, quando você, caro leitor, se vê diante do espelho, vê facilmente o rosto da inveja, do orgulho e da mentira com seu nome próprio.” P. 69.
A Teologia da Libertação:
“Diferentemente dos profetas hebreus antigos, que nunca disseram que o povo era santo, esses teólogos da libertação resvalaram para um discurso no qual se vê claramente a herança de Rousseau, segundo a qual todo problema é político e, portanto, opressão dos ricos sobre os pobres. [...] Ninguém precisa de Nietzsche para matar Deus, basta chamar um teólogo da libertação.” P. 73, 74.
O “medicamento” para a “injustiça social”:
“[...] o melhor remédio para “injustiça social” é riqueza e abundância, e não pregadores fanáticos pela justiça social. E, para termos riqueza e abundância, precisamos deixar as pessoas produzirem o que elas têm de melhor, a saber, a realização de seus dons sem o peso de uma abstrata e irreal “igualdade” entre as capacidades humanas.” P. 80.
Não amamos tanto assim:
“Nada mais chato do que o medo de não agradar. Não querer agradar é uma das maiores formas de libertação num mundo em que somos obrigados a amar tudo a nossa volta. Ninguém é capaz de tanto amor; amamos, quando muito, nossos familiares (e olhe lá) e umas duas ou três pessoas a mais.” P. 96.
O livro é bom. Texto pequenos, fáceis de ler. Acho que em alguns aspectos eu sou politicamente correto. Quem não é?