quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O livro que fez o seu mundo


MANGALWADI, Vishal. O livro que fez o seu mundo. São Paulo: Vida, 2012.

Enfim, cheguei à última página desse livro. Demorei, mas cada página foi escrutinada! Um autor indiano que não tem nenhum pudor, vergonha ou medo de elogiar o Ocidente e criticar as injustiças que reinam em seu país, a Índia. Muitos advogados do multiculturalismo o crucificariam pela abordagem que ele faz nessa obra. Mas se podemos elogiar a nossa cultura, também podemos criticá-la e reconhecer as virtudes das outras. 

Para o Mangalwadi, quando as pessoas e civilizações colocaram em prática, ou levaram em conta os ensinos (seria melhor dizer, alguns ensinos) contidos na Bíblia, as coisas prosperaram; seja na educação, ciência, direitos humanos, liberdade, economia e etc. Ele é muito bom em sua defesa, mostrando e reestruturando a história de uma forma diferente da qual estamos acostumados a ver. Concordo com ele em muitíssimos pontos. 

Um desses pontos, é quando ele dispara algumas críticas contra o relativismo pós-moderno. Ele cita o J. Stanley Mattson, Ph.D em História Intelectual Americana na Universidade da Carolina do Norte, EUA, que escreve:

“[...] se não há verdade a ser descoberta – se toda verdade é apenas uma função de construtos sociais -, então a própria razão não tem autoridade genuína, e em seu lugar a moda e o marketing acadêmicos determinam em que uma cultura irá crer. [...] Ao abandonar a Verdade, abandonamos a única maneira viável de capacitar a comunidade real – isto é, mediante busca humilde e, sim, ‘ultrapassada’ do Bom, do Verdadeiro e do Belo”. P. 12.

Em adição ao que já foi dito pelo Mattson, penso que a propaganda de que a VERDADE não existe, é a maior MENTIRA já anunciada. Se a VERDADE inexiste, então a declaração que a nega, constitui-se numa grande FALSIDADE. Por que deveríamos acreditar nela? Acreditar em algo, já é pressupor que o objeto da crença é OBJETIVAMENTE VERDADEIRO.

Passeando mais algumas páginas me deparei com essa curiosa informação:

“À medida que a notícia do suicídio de Cobain [vocalista do Nirvana] se espalhou, muitos dos seus fãs o imitaram. A revista Rolling Stone noticiou que sua morte foi imitada por pelo menos 68 pessoas”. P. 22.

Por aí se nota, que o fanatismo e maluquice não é uma prerrogativa das religiões. Mas supostos jovens modernos e descolados em “solidariedade” ou muita frustração diante da morte de seu ídolo, tiraram a própria vida.

Como é de costume nesses livros, sempre há uma confrontação com o materialismo ateu, trazendo à tona as incoerências deste. Mangalwadi pergunta:

“Como pode [...] a mente humana – conhecer as leis invisíveis que regem o Universo e capturar essas leis em palavras, palavras que podem ser testadas e determinadas para que se saiba se são verdadeiras ou falsas? [...] por que a linguagem funciona? Se o homem não passa de um animal como os cães [segundo os ex-professores universitários do autor], como podem as leis ou verdades que regem este Universo ser postas em palavras?” P. 74.

“Se o homem não passa de um animal como os cães”, elas simplesmente não podem! Mas o avanço da ciência e estudos filosóficos têm nos mostrado que podem! O reducionismo materialista não pode dizer o porquê! Apenas se resignar ou espernear que nem uma criança teimosa diante desse fato! 

Como não tem como concordar com tudo que o autor diz, rejeito essa afirmação dele:

“Durante o século XX, a cultura americana ainda era moldada pela Bíblia. Por isso, ela conseguiu se livrar das consequências do mito secular desumanizador”. P. 99.

Foi isso mesmo que eu li?! Ele está dizendo que uma cultura imersa na discriminação e no racismo se livrou das consequências nefastas “do mito secular desumanizador”?! Putz... Num país em que foi preciso uma guerra civil para que os escravos tivessem a sua “liberdade”, ele vem falar que essa sociedade estava livre das práticas desumanizadoras?  Fora o incômodo fato de que os sulistas, aonde se concentrava o maior número de religiosos evangélicos “apegados” e “fiéis” a Bíblia, foi o lado que se posicionou contra a libertação dos negros. Esse Maganwaldi é cego ou o quê?!

Mas agora concordando com ele:

“Na Índia, a falta de água corrente produziu uma prática vexatória que envergonhou Mahatma Gandhi (mas que até hoje é praticada): obrigar intocáveis a carregar os excrementos de outras pessoas em caixas sobre a cabeça”. P. 124. 

Para o autor, as coisas ainda são assim, porque na Índia impera uma visão de mundo que não dignifica o ser humano. Dependendo da casta em que você nascer, você não será mais que uma pessoa inferior e desprovida dos direitos mais básicos. E ainda tem neguinho que reclama do Ocidente.

E ainda concordando:

“[...] O desejo de ler a Bíblia se tornou o combustível que colocou em movimento o motor da alfabetização da Europa”. P. 252.

Tem muito neguinho que teria náuseas ao ler isso. Mas basta saber o que os luteranos, calvinistas, puritanos e outros ramos do protestantismo fizeram em seus países com a política de que todos deveriam ler e estudar a Bíblia. E o único caminho para tal, era alfabetizar a massa populacional.

Nessa mesma trilha, até mesmo a ciência moderna se desenvolveu. Peter Harrison (Ph.D em História da Religião pela Universidade de Queensland e Mestrado nas Universidades de Yale e Oxford. É Professor de Ciência e Religião na Universidade de Oxford. Membro da Academia Australiana de Ciências Humanas. Foi Professor visitante das Universidades de Yale, Princeton. Também lecionou História e Filosofia na Universidade de Bond na Austrália) escreve:

“A Bíblia – seu conteúdo, as controvérsias que gerou, questões variantes como autoridade e, o mais importante, a nova maneira com que foi lida pelos protestantes – desempenhou um papel central no surgimento das ciências naturais no século XVII”. P. 275.

A revolução ocasionada por Lutero, Calvino e aderentes da Reforma Protestante e cientistas católicos deram origem à ciência moderna. Cadê as Universidades que não mencionam esse fato tão bem atestado pela história? Pura discriminação? Creio que sim. É possível.

“A ciência não foi fundada sobre a pressuposição de um materialismo sem Deus”. P. 283.

Não, não foi. Na verdade, a história mostra exatamente que foi a crença num Deus pessoal que criou um universo ordenado e, que assim, esse universo podia ser estudado e meticulosamente escrutinado pela mente humana, visto que o mundo era racional, e não fruto de um processo cego e sem finalidade alguma. Os ateus que engulam essa.