ADICHIE,
Chimamanda Ngozi. Sejamos Todos Feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
(PDF).
“[...] a palavra ‘feminista’ tem um peso negativo: a
feminista odeia os homens, odeia sutiã, odeia a cultura africana, acha que as
mulheres devem mandar nos homens; ela não se pinta, não se depila, está sempre
zangada, não tem senso de humor, não usa desodorante.” P. 15.
“Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social,
política e econômica entre os sexos”. P. 66.
Deixando de lado
as inconsistências e atos grotescos perpetrados por certos grupos feministas
nos últimos tempos, creio ser inquestionável, que ainda há um grande abismo na
relação de gêneros, que coloca num patamar muito acima, o sexo masculino,
fazendo com que as mulheres ainda tenham que ser humilhadas, submissas e
relegadas a uma sub raça humana. Claro que o grau de desigualdade varia de
maneiras intensas de país para país. Na Nigéria, país da autora deste livro, o
machismo que coloca as mulheres em situações humilhantes, é bem mais intenso do
que noutros países, por exemplo. Mas aqui mesmo no Brasil, dependendo da
região, o machismo que encara a mulher com desconfiança extrema, pode ser muito
forte também. Adichie incentiva homens e
mulheres, a olhar para todos com igualdade social, política e econômica, sem
distinção de gênero.
Por que é
importante discutir a disparidade de gêneros?
Alguns motivos:
Os autos postos executivos
em sua maioria são protagonizados por homens:
“Existem mais mulheres do que homens
no mundo — 52% da população mundial é feminina, mas os cargos de poder e
prestígio são ocupados pelos homens. A já falecida nigeriana Wangari Maathai,
ganhadora do prêmio Nobel da paz, se expressou muito bem e em poucas palavras,
quando disse que quanto mais perto do topo chegamos, menos mulheres
encontramos.” P. 22-23.
Discriminação
de mulheres até mesmo em restaurantes:
“Sempre que vou acompanhada a um
restaurante nigeriano, o garçom cumprimenta o homem e me ignora. Os garçons são
produto de uma sociedade onde se aprende que os homens são mais importantes do
que as mulheres, e sei que eles não fazem por mal — mas há um abismo entre
entender uma coisa racionalmente e entender a mesma coisa emocionalmente. Toda
vez que eles me ignoram, eu me sinto invisível. Fico chateada. Quero dizer a
eles que sou tão humana quanto um homem, e digna de ser cumprimentada. Sei que
são detalhes, mas às vezes são os detalhes que mais incomodam.” P. 27-28.
Discriminação
na literatura:
“Em todos os lugares do mundo,
existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer,
como devem ou não devem ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como
os homens devem agradar as mulheres são poucos.” P. 33-34.
A
deficiência na criação de meninas e meninos:
“A questão de gênero é importante
em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um
mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e
mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar:
precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos
criar nossos filhos de uma maneira diferente.
O modo como criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de
masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos,
enclausurando-os numa jaula pequena e resistente. Ensinamos que eles não podem ter
medo, não podem ser fracos ou se mostrar vulneráveis, precisam esconder quem
realmente são — porque eles têm que ser, como se diz na Nigéria, homens duros.”
P
36-38.
O erro de
associar masculinidade a dinheiro:
“No ensino médio, quando um garoto e uma garota saem juntos, o único
dinheiro de que dispõem é uma pequena mesada. Mesmo assim, espera-se que ele
pague a conta, sempre, para provar sua masculinidade. (E depois nos perguntamos
por que alguns roubam dinheiro dos pais...) E se tanto os meninos quanto as meninas
fossem criados de modo a não mais vincular a masculinidade ao dinheiro? E se, em
vez de “o menino tem que pagar,” a postura fosse “quem tem mais paga”? É claro
que, por uma questão histórica, em geral é o homem quem tem mais dinheiro. No
entanto, se começarmos a criar nossos filhos de outra maneira, daqui a
cinquenta, cem anos eles não serão pressionados a provar sua masculinidade por meio
de bens materiais.” P. 37-38.
Linguagens
sutis no casamento, que evidenciam a “inferioridade” da mulher:
“Até mesmo a linguagem que
empregamos dentro do casamento é reveladora: frequentemente é uma linguagem de
posse, não de parceria. Pensamos na palavra ‘respeito como um sentimento que a
mulher deve ao homem, mas raramente o inverso. Tanto o homem quanto a mulher
dizem: ‘Eu fiz isso porque queria paz no meu casamento’. Mas quando os homens
dizem isso, em geral se referem a algo que eles não deveriam mesmo fazer. É
como eles se justificam para os amigos, e no fim das contas isso serve para
comprovar a sua masculinidade — ‘Minha mulher disse que não posso sair todas as
noites, então daqui pra frente, pra ter paz no meu casamento, só vou sair nos
fins de semana’. Quando as mulheres dizem que tomaram determinada atitude para
‘ter paz no casamento’, é porque em geral desistiram de um emprego, de um passo
na carreira, de um sonho.” P. 43-44.
E finalmente,
a necessidade de se usar a palavra feminismo:
“Algumas pessoas me perguntam: ‘Por
que usar a palavra ‘feminista’? Por que não dizer que você acredita nos direitos
humanos, ou algo parecido?’ Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente,
parte dos direitos humanos de uma forma geral — mas escolher uma expressão vaga
como ‘direitos humanos’ é negar a especificidade e particularidade do problema
de gênero. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo
dos séculos. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres. Que
o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo
feminino. Por séculos, os seres humanos eram divididos em dois grupos, um dos
quais excluía e oprimia o outro. É no mínimo justo que a solução para esse problema
esteja no reconhecimento desse fato.” P. 57-58.