TUTU, Desmond. Deus não é cristão. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2012.
Finalmente terminei! Desmond Tutu é um líder da Igreja Anglicana, que lutou ferozmente contra o opressivo e cruel regime do apartheid na África do Sul. Esse livro é uma compilação de inúmeros sermões, cartas e escritos do bispo Tutu desde a década de 1970 até anos recentes.
Aí está uma autoridade religiosa digna de respeito e consideração. Foi Nobel da Paz em 1984, em reconhecimento pelas suas incansáveis contribuições em favor da paz e fim do sistema de segregação que até então era vigente em seu país.
Ele se pauta pelo equilíbrio, serenidade, humildade e muita paciência. Porque viver num sistema tão injusto quanto foi o apartheid, e ainda manter a calma e a constância que ele manteve é para poucos.
A minha vontade seria de pegar em armas e cravejar de balas aqueles brancos FDP. Irracional e pouco eficiente isso? É sim! As armas de Tutu, Gandhi, Luther King, Malcolm X (tardiamente) e do exemplo maior do Tutu – Jesus, o Cristo – foi não revidar o mal na mesma moeda.
“A religião, que deveria estimular a irmandade e a fraternidade; e encorajar a tolerância, o respeito, a compaixão, a paz, a reconciliação, o cuidado e a partilha, tem com muita freqüência (perversamente) praticado o oposto. A religião tem alimentado a alienação e o conflito e exacerbado a intolerância, a injustiça e a opressão. Algumas das atrocidades mais medonhas aconteceram e estão acontecendo em nome da religião.” P. 69.
Até parece que foi um ateu ou um antirreligioso que expressou essas palavras tão contundentes. Mas Tutu acerta em cheio em sua critica. A religião não raras vezes tem provocado exatamente isso. Em especial aqui no Brasil, certos seguimentos religiosos têm gerado um fanatismo e escravidão espiritual e psicológica assustadoras. As igrejas evangélicas são um triste exemplo. A pobreza de pensamento e senso crítico de seus membros os fazem vítimas fáceis de pastores inescrupulosos.
Tutu contundentemente revela a lastimável situação do continente africano, que ainda está envolto nas trevas da pobreza, injustiça, sofrimento e subdesenvolvimento.
“A África tem uma característica nada invejável de produzir a maior quantidade de refugiados do mundo. É claro, muitos refugiados se devem a desastres naturais. Mas, infelizmente, irmãos e irmãs, a maioria deles se deve à injustiça e à opressão presentes na própria terra natal. Precisamos confessar, com tristeza e humildade, que a África detém um dos piores recordes de violação dos direitos humanos. A África sofre com um dilúvio de ditaduras militares.” P.83.
“Em muitos lugares, tudo que mudou para o povo que sofre foi a cor da pele do opressor. No período colonial o opressor tinha uma cor de pele diferente. Hoje, infelizmente, a cor da pele do opressor é a mesma da do oprimido.” P. 83.
Tutu se mostra assustado e inconformado diante do apoio de Israel ao regime de segregação na África do Sul.
“[...] Não conseguimos compreender como os judeus [governo de Israel] conseguem cooperar com um governo [Partido Nacional sul-africano que mantinha a política do apartheid] cuja a maioria dos membros era simpática a Hitler e aos nazistas e que, durante muito tempo, se recusou a aceitar judeus em suas fileiras apenas por serem judeus.” P. 105.
Uma puta sacanagem do governo israelense. Esses FDP sofreram o que sofreram, para apoiar poucas décadas depois um governo cruel e preconceituoso como o governo da África do Sul, que segregava e tratava os negros como sub-humanos, e que não aceitava judeus em seu partido, quando Hitler estava no poder na Alemanha. Tutu falou isso na década de 1980 quando o regime do apartheid ainda vigorava na África do Sul.
Tutu interpela:
“[...] qual é o tratamento que você dispensa ao pobre, ao faminto? Que tratamento dispensa ao vulnerável, ao que não tem voz?” P. 125.
Esse tipo de pergunta é um murro na boca do estômago!