HITCHENS, Christopher. Deus não é grande. São Paulo: Ediouro,
2007. (Versão em PDF).
E
então, "Deus não é grande"? Tentei ao máximo ser empático com o
Hitchens! Para ele, "Deus não é grande", até porque Deus não existe;
é apenas criação nossa, reles mamíferos, com uma massa cinzenta mais aprimorada
que os outros primatas, na escala evolutiva.
Minha
empatia e concordância com ele, foi além daquilo que esperava. Não pensei que
estaria tão sintonizado com muitas das ideias e argumentações expostas por ele,
sobretudo, quando lembro que ele é tão esnobado e
subestimado por muitos crentes. Não obstante, há nas páginas dessa obra,
falácias, espantalhos, tendenciosidade exagerada em muitos temas tratados...
Para
mim, Deus é grande! Como já disse noutras ocasiões, não consigo me desvencilhar
da ideia e sentimento de Deus. Talvez uma fraqueza de meu ser - não duvido que
o seja, visto que sou medroso pra cacete. Sinto um temor de um universo
solitário, impiedoso e amoral. Pois é exatamente dessa maneira que o vejo
repetidas vezes.
Em
conversas com grandes amigos, que se interessam por tal assunto, já confessei
em mais de uma ocasião, que flerto com o deísmo. Consciente de que este, pode
estar a um passo da descrença. Então pensando por esse lado, minha resposta
poderia estar em maior concordância com o Jornalista britânico. Mas por ora,
ainda acredito que Deus se preocupa conosco, a despeito de não ver muita
evidência disso num mundo tão caótico quanto esse em que estamos condenados a
viver.
As
postagens do livro que fiz, foram para mostrar um pouco do que o autor pensa.
Não quer dizer que endossei todo o conteúdo delas, apesar de ter passado essa
impressão. Subscrevo-as até certo ponto.
Deus
é grande sim!
Hitchens
é um ateu, que acredita que a religião nada tem a ver com a ética. Na verdade,
ela a roubou. Podemos e devemos ser éticos sem os credos fantasiosos e
nonsenses das religiões.
"Acreditamos
com grande dose de certeza que é possível levar uma vida ética sem
religião". P. 14.
Não poupa palavras contra a religião e seu modo de operar. Elas
atrasaram e atrasam o desenvolvimento humano.
“Deus não criou o homem à sua imagem.
Evidentemente foi o contrário, e essa é a explicação para a profusão de deuses
e religiões e o fratricídio entre religiões e no interior delas que vemos ao
nosso redor e que tanto têm adiado o desenvolvimento da civilização”. P. 16.
"Violenta,
irracional, intolerante, aliada do racismo, do tribalismo e do fanatismo,
baseada na ignorância e hostil à livre reflexão, depreciativa das mulheres e
coerciva para com as crianças: a religião organizada tem muito em sua
consciência". P. 50.
A
fé é resultado natural de nossos maiores temores.
“[A fé religiosa] nunca morrerá, ou
pelo menos não enquanto não superarmos nosso medo da morte, do escuro, do
desconhecido e dos outros”.
P. 19.
A religião,
apesar de enfatizar sempre o mundo além da vida terrena, hipocritamente quer as
benesses deste.
“O nível de intensidade varia de
acordo com o tempo e o lugar, mas é possível afirmar como sendo verdade que a
religião não se satisfaz, a longo prazo não pode se satisfazer, com suas
próprias alegações maravilhosas e garantias sublimes. Ela precisa tentar
intervir na vida dos não-crentes, dos hereges ou dos que professam outras crenças.
Ela pode falar sobre o próximo mundo, mas quer o poder neste. E isso é de se
esperar. Afinal, ela foi inteiramente feita pelo homem”. P. 23.
A Medicina
e a Ciência sempre minando mais e mais o monopólio da superstição.
"A postura da
religião em relação à medicina, assim como em relação à ciência, sempre é
necessariamente problemática, e com muita frequência necessariamente hostil. Um
crente moderno pode dizer, e até mesmo acreditar, que sua fé é totalmente
compatível com a ciência e a medicina, mas o fato incômodo continuará a ser que
as duas coisas tendem a quebrar o monopólio da religião, e frequentemente
enfrentaram forte resistência por essa razão". P. 44.
Não
existe harmonia entre conhecimento científico do mundo e proposições
metafísicas vindas da religião.
"Todas as
tentativas de conciliar a fé com a ciência e a razão estão condenadas ao fracasso e ao
ridículo". P. 54.
O conhecimento adquirido através do labor e trabalho duro é
suficiente para entendermos o mundo.
“[...] as ciências da crítica literária, da
arqueologia, da física e da biologia molecular mostraram que mitos religiosos
eram falsos e criações humanas, e também conseguiram produzir explicações
melhores e mais iluminadas”. P. 123.
Hitchens não deixa passar os estupros praticados por vários
padres, que foram criminosa e sistematicamente protegidos pela igreja.
"Apenas na
década passada o Vaticano e sua vasta rede de dioceses foram obrigados a
admitir cumplicidade em um enorme número de casos de estupro e tortura de
crianças". P. 47.
"A inocência sexual, que pode
ser encantadora nos jovens se não for desnecessariamente prolongada, é
decisivamente corrosiva e repulsiva no adulto maduro. Mais uma vez, como
podemos contabilizar o mal produzido por velhos sujos [padres] e solteironas
histéricas [freiras], nomeados como guardiões clericais para supervisionar os
inocentes em orfanatos e escolas?
A Igreja Católica Romana em especial está tendo a resposta a essa pergunta da forma mais
dolorosa, calculando o valormonetário do abuso infantil em termos de indenização.
Bilhões de dólares já foram gastos, mas não há preço pelas gerações de meninos
e meninas que foram apresentados ao sexo das formas mais preocupantes e
desagradáveis por aqueles em que eles e seus pais confiavam.
'Abuso infantil' na verdade é um
eufemismo tolo para o que tem acontecido: estamos falando do estupro
sistemático e da tortura de crianças, definitivamente ajudados e instigados por
uma hierarquia que sabidamente transferiu os maiores criminosos para paróquias
onde eles estivessem mais seguros.
Dado o que foi revelado nas cidades
modernas recentemente, causa arrepios pensar no que acontecia durante os
séculos em que a Igreja estava acima de críticas. Mas o que as pessoas esperam
que aconteça quando os vulneráveis são controlados por aqueles que, eles mesmos
desajustados e pervertidos, são obrigados a afirmar um celibato
hipócrita?"
P. 181.
O
livro sagrado dos judeus e cristãos está cheio de crimes legitimados e
ordenados pelo próprio Deus.
"A Bíblia pode
ter, e de fato tem, um mandato para tráfico de humanos, limpeza étnica,
escravidão, preço das noivas e massacre indiscriminado, mas não somos obrigados
a nada disso, porque foi produzido por mamíferos humanos incultos." P. 86.
Tragédias acontecem, porque sim, oras. Hitchens explica que
elas não é um alerta divino, castigo de Deus, ou coisa parecida. Crentes sempre
se perturbam quando são acometidos por furacões, terremotos, maremotos... Perguntam
o porquê de Deus fazer ou permitir tais coisas. Mas essa é uma pergunta
descabida e fora da realidade.
“A colossal explosão vulcânica do
Krakatoa no final do século XIX provocou uma enorme conversão ao islamismo
entre a população aterrorizada da Indonésia. Todos os livros sagrados falam com
excitação de inundações, furacões, raios e outros fenômenos. Após o terrível
tsunami da Ásia em 2005, e depois da inundação de Nova Orleans em 2006, homens
bastante sérios e instruídos como o arcebispo de Canterbury foram reduzidos ao nível de camponeses
bestificados ao agonizarem publicamente sobre como interpretar a vontade de
Deus na questão.
Mas se a pessoa faz a suposição
simples, baseada em um conhecimento absolutamente certo, de que vivemos em um
planeta que ainda está resfriando, tem um núcleo fundido, falhas e rachaduras
em sua crosta e um sistema climático turbulento, então simplesmente não há a
necessidade de tal ansiedade. Tudo já está explicado. Eu não consigo entender
por que os religiosos relutam tanto em admitir: isso os livraria das perguntas
fúteis sobre por que Deus permite tanto sofrimento. Mas aparentemente esse
incômodo é um pequeno preço a pagar para manter vivo o mito da intervenção divina.” P. 121-122.
Sobre
o racismo e escravidão moderna praticada por cristãos:
"Pregadores
cristãos de todos os tipos justificaram a escravidão até a Guerra Civil
Americana, e até mesmo depois, com base na suposta determinação bíblica de que,
dos três filhos de Noé (Sem, Cam e Jafé), Cam tinha sido amaldiçoado e
condenado à servidão.". P. 134.
"[...] o melhor
que pode ser dito da Igreja na grave questão da abolição é que após muitas
centenas de anos, e tendo igualmente imposto e adiado a questão até que o
interesse pessoal levasse a uma guerra horrível, ela finalmente conseguiu
desfazer uma pequena parte do dano e da infelicidade que tinha infligido." P. 145.
“A possibilidade de
que a crença religiosa de alguém levasse a assumir uma posição contra a
escravidão e o racismo era estatisticamente bastante pequena. Mas a
possibilidade de que a crença religiosa de alguém o levasse a defender a
escravidão e o racismo era estatisticamente bastante alta, e esse último fato
nos ajuda a compreender por que a vitória da justiça simples demorou tanto
tempo.” P. 146.
Hitchens acredita que as
crianças são as maiores vítimas das doutrinação religiosa. Elas não têm o
direito de escolher. Simplesmente são enfiadas goela abaixo as ideias
destrutivas de seus pais e familiares.
"Como poderemos
saber quantas crianças tiveram suas vidas psicológicas e físicas
irreparavelmente mutiladas pela inculcação compulsória da fé?" P. 173.
E sobre o inferno? Hitchens
escreve:
"Nada confirma
o caráter humano da religião de forma tão óbvia quanto a mente doentia que
projetou o inferno". P. 174.