terça-feira, 21 de agosto de 2018

O Diabo e Padre Amorth



"O diabo não existe."

"A crença em demônios ficou no passado." 

"Possessões demoníacas não são nada mais que distúrbios psiquiátricos, ou estados alterados da consciência, isso, quando não passam de mentiras descaradas." 

Estas são basicamente as respostas dadas pelos céticos quando se deparam com essa questão. Outros, ainda munidos de certa incredulidade, não descartam por completo que algo muito estranho esteja em curso, mas ainda são relutantes em afirmar ou acreditar que exista uma força pessoal e maligna externa que esteja infernizando a vida da pessoa “possessa”. Até muitos daqueles que deveriam estar na linha de frente na “defesa” do demônio, os padres, não mais creem na sua existência, e reinterpretam as passagens evangélicas em que Jesus enfrenta os mensageiros de Lúcifer possuindo as pessoas, dizendo que aquelas pessoas possuídas, na verdade, estavam doentes. O condicionamento cultural limitado da época fazia os judeus verem o sobrenatural onde ele não estava.

O padre Gabriel Amorth está na contramão de todas essas visões contemporâneas. Morto desde 2016, aos 91 anos, foi considerado o maior exorcista da igreja católica das últimas décadas, cujo trabalho incansável de tratar as pessoas com o capeta no corpo se estendeu até os seus últimos dias. 

Este documentário tem um tom especial. Ele foi produzido por nada mais nada menos que o Cineasta William Friedkin, Diretor do clássico O Exorcista, de 1973. Sendo que agora, não é um exorcismo ficcional que ele filmará, mas um exorcismo feito pelo padre Amorth em uma mulher bastante oprimida por uma legião de demônios. Friedkin nos diz que nunca até então tinha visto um exorcismo de verdade, e, que agora, depois de 45 anos, finalmente viu uma mulher supostamente possessa sendo exorcizada pelo padre Amorth.

O exorcismo é mostrado. Padre Amorth, ajudantes, padres, familiares e amigos da possessa começam o ritual de expulsão do maligno dela.  A mulher não demora muito para manifestar gritos, sofrimento, falar com uma voz gutural e estranha, ficar agitada, dizer que é satanás... Devo admitir, que é um pouco perturbador ver o seu sofrimento. Ela está possuída por uma força espiritual maligna ou manifestando algum distúrbio tratável pela Medicina? E mesmo se a medicina não tiver no momento os dispositivos e meios eficazes para tratá-la, num futuro próximo a Ciência não elucidará em termos puramente cerebrais tal distúrbio?

Uma das cenas mais interessantes é quando Friedkin mostra o vídeo que gravou, a vários Médicos, para que eles deem o seu parecer científico sobre o exorcismo em questão. Suas respostas são um pouco vagas.

Noutras ocasiões, já dei meu parecer, e aqui o repito. Pode ser verdade que algumas pessoas estejam possuídas por forças espirituais de outras dimensões da realidade. E alguns homens da Ciência não descartam essa possibilidade.

No caso dessa mulher, a resposta mais razoável é que ela sofre de problemas psicológicos e psiquiátricos, acrescente-se a isso, o meio religioso e social em que foi criada, aí, para ela e seus parentes (católicos) acreditarem que está sendo usada pelo diabo é um pulo.  

O documentário sofreu várias críticas de falta de credibilidade. Para começar, a voz que a mulher emite em seu exorcismo. Fica claro que o som dela foi modificado pelo editor, dando-lhe um ar de malignidade. Outra coisa: Friedkin diz que vai atrás dela meses depois, e ela não quer vê-lo, ele vai atrás dela na igreja, e diz que a mesma começa a manifestar-se como um animal no chão, enchendo-o de medo e pavor. Pois bem, se ela não queria mais ser filmada, não queria mais participar do documentário, como ele que ele pode expor a vida dela, dessa maneira? Duvido muito que ela tenha permitido que a sua história fosse ao ar.

Fica a pergunta, tudo não passa de charlatanismo do Friedkin ou dos dois? Ou a insensibilidade de Friedkin foi tão grande, que ele pouca se importa de mostrar ao mundo inteiro a dor dessa mulher?

E o padre Amorth foi um fanático católico, que dizia que o demônio tinha medo dele (neste documentário é o oposto, o tinhoso não medo algum), e que a igreja católica era a única verdadeira, declaração que os espíritos do mal confirmavam. Basta ler o seu livro  Memórias de um Exorcista.