“Os
bordéis estavam cheios de crianças, elas estavam em toda parte.” – Zana Briski.
Existe algo de bom na Índia? Deve ter, mas o lado negativo e opressor
excedem e muito o que há de louvável nesse país. Nascidos em Bordéis é a
história de crianças que vivem em meio a podridão dos prostíbulos indianos.
Elas nasceram e vivem o seu dia a dia na sórdida realidade (prostituição) em
que suas mães estão imersas, do qual também são vítimas. O pior é que o caminho
mais provável dessas crianças, no caso, as meninas, é entrarem muito cedo, na
mais tenra idade, no mundo dos programas sexuais. Não há muita esperança social
para que elas consigam transcender as circunstâncias que as coagem
violentamente para saciar a vontade louca de homens inescrupulosos. Koch, uma
dessas meninas diz logo no início do documentário:
“Os homens
que entram em nosso prédio não são tão bons. São bêbados. Eles entram e gritam
e xingam. As mulheres me perguntam, ‘Quando você vai entrar na linha?’ Elas
dizem que não vai demorar.”
A expressão “entrar na linha” é pura e simplesmente entrar para a
prostituição.
Esse documentário foi lançado em 2004, as meninas que aparecem no vídeo
já estão adultas. Como será que estão? Entraram efetivamente para o mundo
sexual de suas mães? É triste especular que muito provavelmente entraram nesse
atoleiro.
Zana Briski é uma fotógrafa que se embrenhou no bairro da luz vermelha
de Calcutá, para poder ver de perto como é a vida dessas crianças que ali
nasceram e ali também vivem. Ela iniciou um projeto com essas crianças,
ensinando-as a fotografarem. Pronto: a diversão dos pimpolhos estava feita.
Fotos e mais fotos de todos os jeitos. Todas elas ganharam a sua própria
câmera. A medida em que elas vão fotografando, suas vidas vão sendo contadas.
Uma linda menina, de nome Kochi, revela:
“Para a
Geeta Masis no andar de cima, eu lavo a louça, levo chá, resolvo umas coisas.
Ela nos dá dinheiro. Eu esfrego o chão duas vezes por dia. Na varanda também.
De noite, se eles quiserem, eu faço compras. Até às 11 da noite, se eles
quiserem curry ou arroz... eu tenho que ir buscar.”
O que ela diz a seguir é de cortar o coração:
“Fico
pensando se eu pudesse viver em outro lugar e ter uma educação. Me pergunto o
que eu poderia ser.”
Outra garotinha chamada Tapasi, já sabe que a sua existência e das
pessoas que a rodeiam não é nenhum parque de diversões. Pelo contrário, é
sofrimento mesmo. Ela já possui um senso de realidade extremamente precoce, mas
o que ela vê e vive em seu bairro, trabalhando duro, na labuta, enquanto
deveria estar estudando e brincando, não deixa ela ter outra conclusão além
dessa:
“Na
verdade nunca penso em ficar rica. Mesmo se eu fosse pobre, eu teria uma vida
feliz. As pessoas têm que aceitar que a vida é triste e dolorosa. Só isso.”
Enquanto ela trabalha, a sua patroa lhe dá esse “belo” tratamento:
“Sua
vadia egoísta da porra. Não consegue nem buscar água direito. Sua vadiazinha
imprestável. Vá mandar sua mãe se foder.”
Zana Briski é uma incansável batalhadora pelo futuro dessas crianças,
indo busrca recursos lá fora, para que elas possam entrar na escola e terem uma
vida melhor. Ela consegue que suas fotos sejam expostas em galerias de arte nos
EUA e na Europa. Sem nada em troca, ela se preocupa imensamente com essas
crianças. Faz o papel de mãe e pai delas, algo que seus pais verdadeiros, pelas
circunstâncias da vida, não podem fazer. Ou por maldade mesmo de alguns deles,
não querem fazer.
As crianças falam de suas frustrações, medos, esperanças... Quem poderá
ajudá-las? Zana Briski com muito empenho e amor, consegue escola interna para
todo o time de crianças que ela adotou em seu projeto de fotografias. Infelizmente,
algumas dessas crianças não puderam continuar na escola. Seja porque os pais as
tiraram; ou por vontade própria, pelo menos uma delas, quis sair. O futuro delas, só Deus sabe. Sem
muita esperança, espero que hoje, em 2017, elas estejam bem.