quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

CIÊNCIA OU RELIGIÃO: quem vai conduzir a história?


BRAKEMEIER, Gottfried. Ciência ou Religião: quem vai conduzir a história? São Leopoldo: Sinodal, 2006.

“Quem sabe pouco amiúde está convicto de que a ciência vai refutar a religião. Quem, porém, de fato sabe muito enxerga que a cada passo se aproxima de uma concepção correspondente à da religião.” P. 27. – Jean Guitton, Ph.D em Letras pela Escola Normal Superior de Paris, membro da Academia Francesa.

Existe um antagonismo intrínseco entre Religião e Ciência? Ambas precisam estar em pé de guerra eternamente? Uma exclui compulsoriamente a outra? Levar a sério as duas é entrar em contradição? A Religião sempre foi um entrave aos avanços dos conhecimentos sobre o mundo natural? A igreja sempre atrapalhou, e continua imperrando os caminhos da Ciência?

Fato é que muitos igrejas no passado tiveram e ainda têm um sentimento de desprezo doentio pela Ciência, quando está faz afirmações que vão contra os seus dogmas. A irracionalidade ainda é muito visível entre muitas pessoas ligadas a certas igrejas. Aqui no Brasil, principalmente nas igrejas de tradição pentecostal/neopentecostal. A igreja católica, apesar de ser moderada e promover o conhecimento científico, mediante a Academia do Vaticano e Universidades, ainda possui algumas crenças que precisam ser revogadas. Brakemeier (Ph.D em Teologia na Universidade de Gotinga, Alemanha) escreve:

“A história da relação entre religião e ciência tem sido marcada por rivalidade e acontecimentos traumatizantes. Produziu mártires, a exemplo de Giordano Bruno (1548-1600), condenado pela Inquisição da Igreja Católica, torturado e queimado vivo por sua resistência em retratar-se no que dizia respeito às suas convicções copernicanas. Não menos escandalosa é a perseguição de que se tornaram vítimas muitos cientistas por partes de grupos protestantes, na maioria fundamentalistas. Foram coagidos a renunciar a cargos e direitos, sofreram difamação, foram hostilizados”.  P. 10.     

Mas nem sempre foi e é assim!

“Ainda assim, a imagem de permanente guerra entre esses gigantes, que são a religião e a ciência, é falsa. Ela peca por uniteralidade e omissão de fatos. Há que se lembrar que as novas conquistas científicas sofreram contestação inicial não apenas por parte de teólogos e pessoas ‘crentes’. Eram controvertidas entre os próprios cientistas. É o que costuma acontecer quando do lançamento de novas teorias. São recebidas em compasso de espera e apreciação. Ademais, é notável que os pioneiros, em sua esmagadora maioria, eram cristãos convictos e consideravam a si mesmos filhos fiéis da igreja. Aplica-se a isso tanto a católicos como a protestantes”. P. 11-12.

“[...] ciência e fé não são inimigas ‘naturais’. Ainda hoje não faltam exemplos ilustres de cientistas declaradamente cristãos. Há que se ouvir com atenção o seu testemunho.” P. 12.  

O exemplo desses ilustres Cientistas estão presentes no livros “Verdadeiros Cientistas, Fé Verdadeira” e “O Teste da Fé”,  resumidos neste blog:



Aquilo que já foi contado às dezenas de vezes aqui: a Ciência moderna surge impulsionada pela visão judaico-cristã. Os Cientistas cristãos na certeza de que o mundo natural pode ser estudado e escrutinado, porque um Deus pessoal todo-poderoso o criou, foram os precursores do conhecimento científico na modernidade. O mundo não era um caos; não era o próprio Deus; era apenas a criação desse Deus e, descobrir os seus mecanismos era uma das formas de servir e adorar o Divino.

“[...] o desenvolvimento das ciências naturais teve o ambiente cultural cristão como premissa indispensável. Foi somente no mundo ocidental que elas conseguiram desabrochar”. P. 12.

Mas todos sabemos que os gregos pagãos, muito antes do Cristianismo e da idade moderna, foram exímios Filófosos naturais, que deram grandes contribuições para conhecimento da natureza. Egípcios, babilônios, chineses e indianos, de muitos séculos atrás, por exemplo, fizeram descobertas extraordinárias, inclusive na Biologia, Medicina, Matemática... Por que parece que o crédito só vai para o ocidente cristão, ou a maior fatia do bolo vai para a Europa cristã? Eis a resposta:

“Evidentemente, pesquisa científica não é nenhuma invenção cristã. Ela tem notáveis precursoras na antiguidade, na Babilônia, no Egito, na China e, principalmente, na Grécia. [...] Todavia, as ciências antigas, muito antes do advento da igreja cristã, como que atolaram. Ficaram trancadas. A concepção heliocêntrica, por exemplo, pareceu por demais complicada aos gregos para ser verídica. Prevaleceu a geocêntrica, defendida por Hiparco ( 190-126 a. c.) e Ptolomeu (por volta de 140 d. c.). As causas, porém, são mais profundas. Residem essencialmente no pensamento ontológico grego, atemporal, estático. Buscava a harmonia do cosmo, mas não tinha olhos para a dinâmica das transformações na natureza. Enquanto isso, o pensamento judaico-cristão, que enxerga a história mover-se em direção a um fim último, ‘escatológico, possibilitou um novo olhar, favorável a análise científica da natureza.

[...] Essa tradição judaico-cristã ‘desencantou’ a natureza. Procedeu a um ‘desendeusamento’, respectivamente a uma ‘demonização’ radical das forças naturais. Essas já não mais seriam nem divinas tampouco demoníacas. São destituídas de atributos mágicos, mitológicos e religiosos. Sol, lua, estrelas, oceanos, terra, tudo passa a ser ‘mundo’, criação, e por isso, objeto de estudo. Consiste nisso um dos grandes propósitos da história da criação no livro de Gênesis, a saber: a ‘demitologização’ da natureza. Proclama o universo como obra de Deus, distinguindo entre criador e criação. A natureza não merece adoração, muito embora deva ser respeitada como dom divino. É claro que não há clima propício as ciências naturais enquanto se atribui qualidade divina a seu objeto de pesquisa.” P. 12, 13.  

Em relação aos países muçulmanos, algo semelhante aconteceu.

“Também a cultura islâmica conheceu uma era árdua das ciências, da qual o mundo ocidental é devedor. Situa-se entre os séculos IX e XII da nossa era. São de origem árabe, por exemplo, os algarismos mundialmente usados hoje. Sem eles, somente à base dos antigos algarismos romanos, são inimagináveis o desenvolvimento da matemática e a explosão da ciência na modernidade. Todavia, também a ciência muçulmana estagnou. Não teve continuidade. Atualmente, a relação entre ciência e religião islâmica parece carecer de nova definição. Há quem diga que ‘o islã e a ciência continuam a ser zonas de discursos separados e não sobrepostos para a maioria dos muçulmanos, mesmo para os cientistas muçulmanos”. P. 14.

O livro logo nas primeiras páginas já nos traz todo esse arsenal de informações.

Outros trechos interessantes:

“Ora, a ciência não conseguiu aniquilar a religião. O vaticínio de integral secularidade da sociedade moderna não se cumpriu. Pelo contrário, fervor religioso renasce com vigor em meio ao mundo tecnicizado”. P. 18.

“Aliás, vale sublinhar que nem toda religião é fundamentalista. O fenômeno religioso como tal, pois, não merece a imagem negativa que amiúde dele se constrói. Religião não é violenta por natureza nem aliena seus adeptos. [...] Importa julgar as religiões por seu discurso fundante, não pelos desvios comportamentais. Em suas formas autênticas, religião costuma desempenhar função altamente salutar, sim, terapêutica, para as pessoas. Toda cultura repousa em bases religiosas.” P. 18.

“A ciência não conseguiu cumprir suas promessas seculares. O otimismo histórico de outrora evaporou. O lançamento da bomba atômica revelou em definitivo que as conquistas científicas podem ser usadas também em desfavor da humanidade e ameaçar sua sobrevida. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro”. P. 20.

[...]

“Seria estúpido responsabilizar ‘a ciência’ por esse desenvolvimento. As ciências não são nada demoníaca. O sujeito responsável sempre permanece sendo o ser humano”. P. 20.

“[A] ciência deve ser responsabilizada. O mesmo vale, aliás, para a religião. Também ela não está isenta da prestação de contas frente à sociedade. Religião pode degenerar e adquirir uma natureza até mesmo diabólica. Não dispensa o exame crítico”. P. 24.