quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Livro Ilustrado dos Maus Argumentos



Almossawi, Ali. O Livro Ilustrado dos Maus Argumentos. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. (PDF).

"Este livro trata fundamentalmente do que não se deve fazer em uma argumentação. [...] Logo ficou evidente para mim que formalizar o raciocínio traz benefícios como clareza de pensamento e expressão, aumento de objetividade e autoconfiança. A capacidade de analisar os argumentos dos outros também ajuda a perceber o momento certo de se retirar de discussões infrutíferas. A lógica não gera novas verdades, mas permite que se verifiquem a consistência e a coerência das cadeias de pensamento existentes. Exatamente por isso é uma ferramenta eficaz para a análise e a comunicação de ideias e argumentos." P. 08-09.

“Hoje, com as redes sociais, há cada vez maior participação no debate público sobre fatos do dia, política, liberdades civis. Mas há uma notável falta de raciocínio lógico e fundamentação em boa parte desse discurso”. P. 08.

Livro de importância salutar para identificar as falácias (erros de raciocínio) que brotam por todos os lados. Como parte de nossas vidas está no mundo virtual, o que mais vemos, são pessoas opinando sobre os mais diversos assuntos, com argumentos paupérrimos, sem fundamentação alguma. Falta-lhes raciocínio lógico; falta-lhes validez, solidez e consistência, no que dizem. As conclusões muitas vezes podem até ser verdadeiras, mas falham na construção das premissas para prová-las, ou mostrar a sua razoabilidade. E não quero me eximir: também cometo tais erros.

O mais assustador é que as pessoas que a princípio não deveriam incorrer corriqueiramente em falácias tão simples, são tão suscetíveis quanto os adolescentes imaturos de 15, 16 anos, a caírem nos laços dos erros de raciocínio. Professores, bacharéis, acadêmicos, autodidatas... Quantas vezes já não me deparei com Professores universitários lançando mão de argumentos infantis, para defenderei suas ideologias. Hoje em dia com a polarização ideológica tão acentuada, parece que os mais “estudados” são os mais falaciosos em seus discursos. Os alunos destes, estão seguindo em suas trilhas do erro.

É mais que imprescindível que estejamos treinados em identificar os erros de lógica nos discursos e apologias alheias, e não esquecendo de detectar e admitir os nossos.

Não é fácil olharmos para nossas ideias e visões, e dizer: estou/estava errado. Nosso ego é um inimigo com quem devemos lutar diariamente, colocando-o debaixo de nossos pés. Podemos estar errados em nossas convicções mais caras.

Vamos a algumas falácias que o livro apresenta.

Falácia a Partir das Consequências:

O argumento a partir das consequências consiste em defender ou refutar a veracidade de uma declaração apelando às consequências que ela teria se fosse verdadeira (ou falsa). Mas o fato de uma proposição levar a um resultado desfavorável não significa que ela seja falsa. Da mesma forma, o simples fato de ter consequências positivas não torna a afirmação automaticamente verídica. [...] Vamos analisar a citação de Dostoievski: ‘Se Deus não existe, então tudo é permitido.’ Deixando de lado as discussões morais, o apelo às consequências sombrias de um mundo puramente materialista não prova nada sobre a existência ou não de Deus. [...] A falácia do argumento a partir das consequências pode ser reconhecida como uma pista falsa ou manobra de distração, porque sutilmente desvia a discussão da proposição original – neste caso, em direção ao resultado e não ao mérito da proposta em si”. P. 12.


Falácia do Espantalho:


“A falácia do espantalho consiste em apresentar de forma caricata o argumento da outra pessoa, com o objetivo de atacar essa falsa ideia em vez do argumento em si. Deturpar, citar de maneira incorreta, desconstruir e simplificar demais o ponto de vista do adversário são formas de cometer essa falácia. [...] Além disso, acaba levando o oponente a perder tempo defendendo-se da interpretação ridícula de seu argumento, em vez de sustentar sua posição original.


Por exemplo, um cético em relação à teoria de Darwin poderia dizer: ‘Meu oponente está tentando convencer você de que nós evoluímos dos macacos que se balançavam em árvores; uma afirmação realmente grotesca.’ Essa é uma deturpação do que a biologia evolutiva afirma de fato, que é a ideia de que humanos e chimpanzés compartilharam um ancestral comum há milhões de anos. Deturpar a ideia é muito mais fácil do que refutar suas evidências.” P. 14.


Falácia de Apelo a Autoridades Irrelevantes:


"Um tipo comum de apelo a autoridades irrelevantes é o apelo à sabedoria antiga, onde uma ideia é presumida como verdadeira somente porque foi originada num passado distante." P. 15.


Falácia do Falso Dilema:


“O falso dilema é um argumento que apresenta apenas duas categorias possíveis e parte do princípio de que tudo no âmbito da discussão deva pertencer somente a uma ou a outra destas possibilidades opostas. Assim, ao rejeitar uma das opções, a pessoa não teria alternativa a não ser aceitar a outra. Por exemplo: ‘Na guerra ao fanatismo, não há neutralidade: ou você está do nosso lado, ou está com os extremistas.’ Na realidade, há uma terceira opção, a de estar neutro; e uma quarta, de ser contra os dois lados; e ainda uma quinta opção, de concordar com razões de ambos”. P. 18.


Falácia da Causa Questionável:


“Também conhecida como causa falsa, esta falácia define como causa de um evento, sem provas, uma ocorrência anterior ou simultânea àquele evento. A correlação entre os dois eventos pode ser pura coincidência ou resultado de algum outro fator. Mas sem evidências não é possível concluir que um evento causou o outro. [...] Em várias disciplinas, especialmente pesquisas científicas, esse erro é conhecido como confundir correlação com causalidade.” P. 20.


Falácia de Apelo à Ignorância


“Este tipo de argumento tenta convencer que algo é verdadeiro simplesmente porque não foi comprovado como falso. Assim, a ausência de prova é transformada em prova por ausência. Uma forma específica de apelo à ignorância é o argumento da incredulidade pessoal, onde a incapacidade de entender ou imaginar algo leva a pessoa a acreditar que aquilo é falso. Por exemplo: ‘É impossível imaginar que o homem realmente pisou na Lua, portanto, isso nunca aconteceu.’” P. 26.


Livro muitíssimo bom, e de fácil leitura para todos.