Almossawi,
Ali. O Livro Ilustrado dos Maus Argumentos. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
(PDF).
"Este livro trata
fundamentalmente do que não se deve fazer em uma argumentação. [...] Logo ficou
evidente para mim que formalizar o raciocínio traz benefícios como clareza de
pensamento e expressão, aumento de objetividade e autoconfiança. A capacidade
de analisar os argumentos dos outros também ajuda a perceber o momento certo de
se retirar de discussões infrutíferas. A lógica não gera novas verdades, mas
permite que se verifiquem a consistência e a coerência das cadeias de
pensamento existentes. Exatamente por isso é uma ferramenta eficaz para a
análise e a comunicação de ideias e argumentos." P. 08-09.
“Hoje, com as redes sociais, há
cada vez maior participação no debate público sobre fatos do dia, política,
liberdades civis. Mas há uma notável falta de raciocínio lógico e fundamentação
em boa parte desse discurso”. P. 08.
Livro de
importância salutar para identificar as falácias (erros de raciocínio) que
brotam por todos os lados. Como parte de nossas vidas está no mundo virtual, o
que mais vemos, são pessoas opinando sobre os mais diversos assuntos, com
argumentos paupérrimos, sem fundamentação alguma. Falta-lhes raciocínio lógico;
falta-lhes validez, solidez e consistência, no que dizem. As conclusões muitas
vezes podem até ser verdadeiras, mas falham na construção das premissas para
prová-las, ou mostrar a sua razoabilidade. E não quero me eximir: também cometo
tais erros.
O mais
assustador é que as pessoas que a princípio não deveriam incorrer corriqueiramente
em falácias tão simples, são tão suscetíveis quanto os adolescentes imaturos de
15, 16 anos, a caírem nos laços dos erros de raciocínio. Professores,
bacharéis, acadêmicos, autodidatas... Quantas vezes já não me deparei com
Professores universitários lançando mão de argumentos infantis, para defenderei
suas ideologias. Hoje em dia com a polarização ideológica tão acentuada, parece
que os mais “estudados” são os mais falaciosos em seus discursos. Os alunos
destes, estão seguindo em suas trilhas do erro.
É mais
que imprescindível que estejamos treinados em identificar os erros de lógica
nos discursos e apologias alheias, e não esquecendo de detectar e admitir os
nossos.
Não é
fácil olharmos para nossas ideias e visões, e dizer: estou/estava errado. Nosso
ego é um inimigo com quem devemos lutar diariamente, colocando-o debaixo de
nossos pés. Podemos estar errados em nossas convicções mais caras.
Vamos a
algumas falácias que o livro apresenta.
Falácia a
Partir das Consequências:
“O argumento a partir das
consequências consiste em defender ou refutar a veracidade de uma declaração
apelando às consequências que ela teria se fosse verdadeira (ou falsa).
Mas o fato de uma proposição levar a um resultado desfavorável não significa
que ela seja falsa. Da mesma forma, o simples fato de ter consequências
positivas não torna a afirmação automaticamente verídica. [...] Vamos analisar a citação de
Dostoievski: ‘Se Deus não existe, então tudo é permitido.’ Deixando de lado as
discussões morais, o apelo às consequências sombrias de um mundo puramente
materialista não prova nada sobre a existência ou não de Deus. [...] A falácia
do argumento a partir das consequências pode ser reconhecida como uma pista
falsa ou manobra de distração, porque sutilmente desvia a discussão da
proposição original – neste caso, em direção ao resultado e não ao mérito da
proposta em si”. P. 12.
Falácia
do Espantalho:
“A falácia do espantalho consiste
em apresentar de forma caricata o argumento da outra pessoa, com o objetivo de
atacar essa falsa ideia em vez do argumento em si. Deturpar, citar de maneira
incorreta, desconstruir e simplificar demais o ponto de vista do adversário são
formas de cometer essa falácia. [...] Além disso, acaba levando o oponente a
perder tempo defendendo-se da interpretação ridícula de seu argumento, em vez
de sustentar sua posição original.
Por exemplo, um cético em relação à
teoria de Darwin poderia dizer: ‘Meu oponente está tentando convencer você de
que nós evoluímos dos macacos que se balançavam em árvores; uma afirmação
realmente grotesca.’ Essa é uma deturpação do que a biologia evolutiva afirma
de fato, que é a ideia de que humanos e chimpanzés compartilharam um ancestral
comum há milhões de anos. Deturpar a ideia é muito mais fácil do que refutar
suas evidências.” P. 14.
Falácia
de Apelo a Autoridades Irrelevantes:
"Um tipo comum de apelo a
autoridades irrelevantes é o apelo à sabedoria antiga, onde uma ideia é
presumida como verdadeira somente porque foi originada num passado
distante." P. 15.
Falácia
do Falso Dilema:
“O falso dilema é um argumento que
apresenta apenas duas categorias possíveis e parte do princípio de que tudo no
âmbito da discussão deva pertencer somente a uma ou a outra destas
possibilidades opostas. Assim, ao rejeitar uma das opções, a pessoa não teria alternativa
a não ser aceitar a outra. Por exemplo: ‘Na guerra ao fanatismo, não há
neutralidade: ou você está do nosso lado, ou está com os extremistas.’ Na
realidade, há uma terceira opção, a de estar neutro; e uma quarta, de ser
contra os dois lados; e ainda uma quinta opção, de concordar com razões de
ambos”. P. 18.
Falácia
da Causa Questionável:
“Também conhecida como causa falsa,
esta falácia define como causa de um evento, sem provas, uma ocorrência
anterior ou simultânea àquele evento. A correlação entre os dois eventos pode
ser pura coincidência ou resultado de algum outro fator. Mas sem evidências não
é possível concluir que um evento causou o outro. [...] Em várias disciplinas,
especialmente pesquisas científicas, esse erro é conhecido como confundir
correlação com causalidade.” P. 20.
Falácia
de Apelo à Ignorância
“Este tipo de argumento tenta
convencer que algo é verdadeiro simplesmente porque não foi comprovado como
falso. Assim, a ausência de prova é transformada em prova por ausência. Uma forma
específica de apelo à ignorância é o argumento da incredulidade pessoal, onde a
incapacidade de entender ou imaginar algo leva a pessoa a acreditar que aquilo
é falso. Por exemplo: ‘É impossível imaginar que o homem realmente pisou na
Lua, portanto, isso nunca aconteceu.’” P. 26.
Livro
muitíssimo bom, e de fácil leitura para todos.