Mais um debate sobre esse tema tão discutido e gerador de emoções,
paixões, raivas e ressentimentos de ambos os lados. Telespectadores teístas,
ávidos por “provarem” a existência do seu deus; telespectadores
naturalistas/ateístas impacientes, querendo o óbito e sepultamento de deus,
ocasionados pela ciência.
Conhecido por participar de vários debates nas últimas décadas, defendendo
o teísmo, temos Willian Lane Craig (Ph.D em Filosofia pela Universidade de
Birminghan, na Inglaterra, membro de nove Sociedades Acadêmicas, dentre as
quais estão a Associação Filosófica Americana, Sociedade Americana de Religião
e o Instituto de Filosofia da Universidade de Louvain, na Bélgica). Na contramão,
fazendo apologia ao naturalismo como realidade última, temos o Sean Carrol
(Ph.D em Astronomia na Universidade de Harvard, Pós-Doutor em Física no Instituto
de Tecnologia de Massachusetts, Professor do Departamento de Física do
Instituto de Tecnologia da Califórnia (MIT) e membro da Sociedade Americana de
Física).
A tônica da fala de Craig é um pouco diferente dos seus debates
anteriores (pelo menos os que temos legendados em português), visto que o seu
oponente, ao contrário da maioria dos Físicos, defende um Universo eterno.
Dessa forma, Craig tenta mostrar em sua fala inicial as evidências de que o
Universo passou a existir (teve um começo) há 13,65 bilhões de anos. A 2º Lei
da Termodinâmica é umas de suas evidências apresentadas.
Carrol de modo eloquente rejeita todas as proposições do Craig, numa
saraivada de argumentos e conhecimentos cosmológicos, ele parece refutar quase
todos os pontos frisados pelo seu adversário. E várias vezes enfatiza que o
Craig, está equivocado, errado, faz citações de Físicos fora do contexto e etc.
A evidência do ajuste fino como sendo um indício de um suposto deus que criou
os cosmos, é rejeitada por ele. Carrol
permanece irredutível.
Para mim, e para maioria dos que assistiram a esse debate, ficou uma pontada
de frustração. Pelo simples fato de não termos conhecimentos na área de
Astronomia, como os dois debatedores têm. Muitos termos e conceitos cosmológicos
são usados e frisados, e mesmo que ambos os debatedores os apresentem de modo
simplificado, ainda fiquei sem entender uma boa parte do que quiseram dizer. O ideal
seria fazer algumas pesquisas adicionais e assistir o debate uma segunda vez,
para se ter uma visão mais abalizada e mais “justa” do embate. Mas não farei
isso. Rsrsrs. Assim como o teísmo de um, e o naturalismo do outro, ficaram inabaláveis,
o meu teísmo/deísmo (oscilo entre um e outro) também está.
Na parte final do debate, o moderador abriu perguntas para a plateia. Uma
considerável parte do debate ficou restrita a isso. Foi um momento interessante.
E como estava propenso a estar do lado do Craig no debate (continuo estando),
faço aqui o recorte de uma pergunta direcionada ao Carrol sobre o problema do
livre-arbítrio.
Pergunta:
“Dr.
Carrol, você disse em conversas anteriores que dentro das leis da física que
observamos hoje não lugar para o livre arbítrio. Eu considero você um pensador
crítico e racional. Como você reconcilia o pensamento crítico se ao mesmo
tempo, você não tem o livre-arbítrio de escolher entre premissas verdadeiras e
falsas, e lógicas, válidas e inválidas, se estas escolhas são feitas [por]
você, como que qualquer coisa que qualquer um diga não é inerentemente
irracional?”
Resposta do Carrol:
“Eu sei
que estou com problemas quando alguém diz ‘eu te considero um pensador racional’,
antes de fazer a pergunta. Eu acho que você não tem certeza sobre exatamente o
que você leu. Se você ler com cuidado, verá que sou a favor do livre-arbítrio. Eu
sou pró-livre-arbítrio. E acho que o livre-arbítrio é um conceito emergente em um
universo em que, em um nível fundamental, é completamente mecanístico. Eu acho
que existem leis físicas que não envolvem o que chamamos de uma abordagem
libertária do livre-arbítrio.
Eu não acho que os seres humanos super cedam as leis da física. Eu acho que os seres humanos são uma coleção de partículas elementares se interagindo de acordo com as leis da física. E se eu fosse descrever cada partícula do meu corpo e se tivesse uma capacidade computacional do nível do demônio de L’aplace eu seria capa de prever o que faria.
Mas eu não tenho nada disso! Eu não tenho as informações, o microestado das minhas funções de onda da mecânica quântica. E logo o vocabulário que uso para me descrever é ‘um ser humano fazendo escolhas de acordo com princípios racionais’. E eu acho que é absolutamente legítimo neste padrão dizer: ‘O livre-arbítrio é real’.
O máximo que já escrevi sobre o livre-arbítrio foi um pequeno post em um blog em que eu dizia: ‘O livre-arbítrio é tão real quando o basebol’. O basebol não possui nenhum lugar para ser encontrado nas leis fundamentais da física, ele é uma descrição de coisas em um nível coletivo que acontecem em um nível microscópico. Isso não significa que o basebol não exista, isso só significa que ele não está presente nas leis fundamentais. Eu diria que o livre-arbítrio é assim também. Então eu acho que não há nada de errado usarem a linguagem de ‘pessoas fazendo escolhas’ ou ‘as pessoas estão corretas ou incorretas’.”
Eu não acho que os seres humanos super cedam as leis da física. Eu acho que os seres humanos são uma coleção de partículas elementares se interagindo de acordo com as leis da física. E se eu fosse descrever cada partícula do meu corpo e se tivesse uma capacidade computacional do nível do demônio de L’aplace eu seria capa de prever o que faria.
Mas eu não tenho nada disso! Eu não tenho as informações, o microestado das minhas funções de onda da mecânica quântica. E logo o vocabulário que uso para me descrever é ‘um ser humano fazendo escolhas de acordo com princípios racionais’. E eu acho que é absolutamente legítimo neste padrão dizer: ‘O livre-arbítrio é real’.
O máximo que já escrevi sobre o livre-arbítrio foi um pequeno post em um blog em que eu dizia: ‘O livre-arbítrio é tão real quando o basebol’. O basebol não possui nenhum lugar para ser encontrado nas leis fundamentais da física, ele é uma descrição de coisas em um nível coletivo que acontecem em um nível microscópico. Isso não significa que o basebol não exista, isso só significa que ele não está presente nas leis fundamentais. Eu diria que o livre-arbítrio é assim também. Então eu acho que não há nada de errado usarem a linguagem de ‘pessoas fazendo escolhas’ ou ‘as pessoas estão corretas ou incorretas’.”
Considerações do Craig:
“O que me
parece é que na sua visão o livre-arbítrio é no final das contas uma ilusão,
por que tudo que fazemos é determinado por tudo que acontece em um nível
fundamental. Logo mesmo que eu tenha a ilusão do livre-arbítrio, se eu fosse
realmente capaz de entedê-lo eu veria que eu estou determinado a fazer o que eu
faço. Incluindo acreditar no determinismo, o que faz a minha escolha de crer no
determinismo, me parece, ser irracional, ou não racional deveria dizer. Eu estou
simplesmente determinado a crer no determinismo.
Então eu não acho que seja útil falar do livre-arbítrio como uma realidade emergente, quando em um nível fundamental, você esteja afirmando o determinismo. Então seria apenas no nome e não na realidade. Então neste caso, o cara que fez a pergunta está correto. É muito difícil ver como que qualquer coisa que eu faça seja racional, é como crescer um galho em uma árvore. Tudo já está determinado pelas minhas forças não mentais.”
Então eu não acho que seja útil falar do livre-arbítrio como uma realidade emergente, quando em um nível fundamental, você esteja afirmando o determinismo. Então seria apenas no nome e não na realidade. Então neste caso, o cara que fez a pergunta está correto. É muito difícil ver como que qualquer coisa que eu faça seja racional, é como crescer um galho em uma árvore. Tudo já está determinado pelas minhas forças não mentais.”
O rapaz da plateia, como diz o Craig, está correto. Sua pergunta acaba
destruindo todo ou quase toda a argumentação que o Carrol tão eloquentemente e
inteligentemente expôs durante o debate. Ele tenta ludibriar os incautos. Mas no
fundo, ele não crer que o livre-arbítrio de fato exista. Apenas as nossas
partículas criaram esse conceito, ou seja, é uma ideia determinada por elas. Dessa
maneira, o Carrol crer no crer, porque foi determinado para tal. Ele não teve,
não tem, e nunca terá a escolha de agir ao contrário do que suas partículas
irracionais determinam. No final, todas as crenças, incluindo o Teísmo e o
Naturalismo são a mesma bosta/merda/cocô/esterco/estrume e o escambal.
Me passando um pensamento “maléfico” e “demoníaco” agora, se alguém
desse um tiro no Carrol e o deixasse tetraplégico, o atirador (eu? Não, deus me
livre) poderia lhe dizer: “Eu fiz o que fiz, porque sou ‘uma coleção de partículas elementares se interagindo de
acordo com as leis da física’. Não poderia
agir de outra forma. Pena que eu não te matei.”
Depois esses Cientistas ateus ficam indignados com os religiosos que
tentam fazer uma ponte entre Ciência e Teologia. Os religiosos só fazem isso,
porque são “uma
coleção de partículas elementares se interagindo de acordo com as leis da
física”.
Esse questionamento estava fora do escopo do debate, mas serviu para
escancarar o contra-senso do ateísmo defendido pelo Carrol.
OBS: A legenda foi às pressas. Durante o debate, pequenas falhas são
bem perceptíveis. Mas nada que atrapalhe o andar da carruagem.