ANKERBERG, John; WELDON, John. Os Fatos Sobre
Auto-Estima, Psicologia e o Movimento de Recuperação. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1999.
John Ankerberg (Mestrado em Divindade e Mestrado em
História e Filosofia do Pensamento Cristão, no Trinity Evangelical Divinity
School, Bacharel em Artes na Universidade de Illinois, Chicago) e John Weldon
(Ph.D em Religiões Comparadas, na Pacific College of Graduate Studies,
Austrália; Bacharel em Sociologia na Universidade Estadual da Califórnia)
dirigem nesse pequeno livro críticas contundentes as várias escolas da
Psicologia. Eles como cristãos conservadores e fundamentalistas são muito
céticos quanto às reivindicações das abordagens psicoterápicas modernas. Mas
não fundamentam essa incredulidade baseados apenas em suas crenças religiosas,
visto que fazem uso de um amplo número de estudiosos para corroborar suas
críticas.
O que fica bem estabelecido no livro, a
meu ver, é que independente dos autores serem fundamentalistas ou não, eles
alicerçaram bem o seu ceticismo. A abundância de especialistas citados deixa o
livro bem persuasivo ao que se propõe.
“Este livro oferece uma argumentação
diretamente contrária à psicologia moderna. E isto não se dá por sermos contra
o aconselhamento em si; muitos em nossa sociedade contemporânea precisam de
aconselhamento de alto nível. Nem somos contra a psicologia em si. O estudo da
psique humana, ou da mente e personalidade é uma iniciativa de valor.” P. 8.
Mesmo afirmando que não são contra a Psicologia em si, para eles,
grande parte das escolas de Psicologia modernas são puro embustes. O Psiquiatra
Thomas Szasz(Professor Emérito de Psiquiatria da Universidade do Estado de Nova Iorque, membro da Associação
Americana de Psiquiatria e da Associação Americana de Psicanálise) diz:
“[nem] todas as assim chamadas
psicoterapias são coercivas, fraudulentas, ou de outra sorte más... [ainda
assim] o que desejo salientar é que muitas, talvez até a maioria, das assim
chamadas práticas psicoterápicas sejam daninhas para os chamados pacientes... e
que todas essas intervenções e propostas deveriam, por isso ser tidas como
maléficas até que se prove o contrário.” P. 11.
Para o estranhamento de muitos, a
Psicologia parece não ser tão eficaz quanto se pensa, a despeito de tantas
pessoas estarem fazendo terapias. William Kirk Kilpatrick (Ph.D em Psicologia
na Universidade de Purdue, Mestrado em educação na Universidade de Harvard e
Professor Associado de Psicologia Educacional da Faculdade de Boston) escreve:
“O fato de psicólogos estarem tentando
ajudar as pessoas frequentemente nos inibe de perguntar se eles sabem
fazê-lo... boa parcela de pesquisa sugere que a psicologia é ineficaz. E existe
até evidência apontando para a conclusão de que a psicologia é, de fato,
maléfica.” P. 11.
Dorothy Tennov (Ph.D em Psicologia na
Universidade de Connecticut) diz sem pudor, que a psicoterapia é:
“[...] emocionalmente exaustiva, cara, demorada, potencialmente
viciadora, e de alta periculosidade... a profissão não oferece ao consumidor
qualquer segurança de proteção.” P. 12.
Martin L. Gross (Professor Associado
Adjunto de Ciências Sociais da Universidade de Nova Iorque) dispara:
“[...] um argumento sério, e por vezes amargo, irrompe dentro da
própria profissão. Especificamente, a questão é se a psicoterapia é uma ciência
ou uma superstição enobrecida como disciplina.” P. 12.
A medida em que se vai lendo cada
parágrafo, o ceticismo quanto a eficácia da Psicologia/Psicoterapia só
aumentam. Para completar, nos é dito:
“Uma análise de aproximadamente 500
laudos psicoterápicos concluiu que ‘não estamos cientes de sequer uma
demonstração convincente de que os benefícios da psicoterapia excedem aqueles
de placebos para pacientes reais.” P. 12-13.
Para quem pensa em ver ainda a
psicologia/psicoterapia como uma ciência coerente, o livro traz essa importante
conclusão de um amplo estudo:
“Será que a psicologia e a psicoterapia
são ciências coerentes? Para responder a essa importante questão, a Associação
Psicológica Americana designou Sigmund Koch para dirigir um estudo a ser
patrocinado pela Fundação Nacional da Ciência.
Aquele estudo foi efetuado por oitenta peritos eminentes que avaliaram os fatos, as teorias e os métodos de psicologia. Os
resultados dessa extensa iniciativa foram publicados numa série de sete volumes
intitulada [...] Psicologia: Um Estudo de uma Ciência. Após examinar os
resultados, Koch conclui: ‘Eu penso que a esta altura está total e finalmente
claro que a psicologia não pode ser uma ciência coerente’.” P. 19.
Ele continua:
“[...] a psicologia dificilmente lida com
verdades ou fatos estabelecidos, mas com opiniões e interpretações subjetivas
de observações não controladas. [...] Através da história da psicologia como
‘ciência’, o conhecimento propriamente dito que ela tem trazido tem sido
uniformemente negativo.” P. 19.
O que dizer diante da conclusão desse
exaustivo estudo publicado pela própria Associação Psicológica Americana? Fica
difícil argumentar numa via contrária.
E parece que existe uma paranoia entre
muitos Psicólogos em dizer que todo mundo precisa de terapia. Não importa o
quanto à pessoa esteja saudável, sempre irão dizer que ela precisa de algumas
sessões. Inventam crises existenciais, onde não tem. Quanto a isso, mais uma
vez Szasz com a palavra:
“Em mais de 20 anos como psiquiatra,
jamais conheci psicólogo clínico contar, com base em testes de projeção, que o
paciente era ‘uma pessoa normal, mentalmente sadia’... Não há comportamento ou
pessoa que um psiquiatra moderno [ele não quis dizer psicólogo?] não possa
plausivelmente diagnosticar como anormal ou doentio.” P. 27.
Bernie Zilbergeld, (Ph.D em Psicologia na Universidade da
Califórnia) revela:
“De 500 pessoas que
compareceram para uma avaliação numa grande clínica nova-iorquina,
recomendou-se que todas, exceto quatro, fossem submetidas a terapia. Imagine só
a algazarra se fosse recomendada uma cirurgia para 99% dos pacientes que
procurassem uma clínica médica.” P. 27.
Os autores complementam:
“Aliás, uma série de testes têm sido
feita com indivíduos que estão absolutamente contentes com a vida que levam e
que têm poucos problemas – se é que os têm. Quando tais pessoas foram enviadas
aos diversos terapeutas e clínicas, a avaliação psicológica invariavelmente
concluiu que elas precisavam de terapia” P. 27-28.
Os Psicólogos mais entusiastas talvez
digam que eles possuem as ferramentas metodológicas e conceituais corretas para
detectar a suposta mazela psicológica das pessoas. Todas precisam de terapia,
apenas ainda não perceberam do quanto precisam da ajuda deles.
Donald Klein (Professor Pesquisador do
Departamento de Psiquiatria da Universidade de Nova Iorque) admite sua
descrença quanto a eficácia da terapia:
“Eu creio que, no momento, a evidência
científica quanto à eficácia da psicoterapia não pode justificar o uso de
verbas públicas.” P. 31.
Jay Constatine (Chefe do Departamento
de Profissionais da saúde) é mais um estudioso do tema citado, que diz:
“Não há, virtualmente, nenhum caso de
estudos clínicos controlados, levados a efeito e avaliados de acordo com os
princípios científicos normalmente aceitos, que confirme a eficácia, a
segurança e a utilidade da psicoterapia, como vem sendo feita hoje em dia.” P. 31.
E não para por aí, Orval Hobart
(Ex-Presidente da Associação Americana de Psicologia) é mais um incrédulo, que
escreve:
“Mas, com o passar dos anos, eu venho me
desencantando progressivamente com os resultados da psicoterapia e de sua
teoria subjacente. [...] Estou convicto de que, no geral, a psicoterapia não
faz maior bem a seus pacientes.” P. 32.
Michael Sheperd (Ph.D em Psiquiatria
pela Universidade de Oxford e Pesquisador do Instituto de Psiquiatria de
Londres) assinala:
“Uma imensa gama de estudos já concluídos
que, em meio à sua imperfeição, deixaram claro que (1) qualquer vantagem
resultante da psicoterapia é pequena, na melhor das hipóteses; (2) a diferença
entre efeitos dos diferentes tipos de terapias é desprezível; e (3) intervenção
psicoterápica tem possibilidade de causar danos.” P. 32.
O Psiquiatria Garth Wood (Universidade
de Cambridge) é outro crítico que diz:
“[...] [foi] conclusivamente demonstrado,
para a satisfação de todos – exceto dos extremistas da psicologia – que, em
termos de resultados (mas de dinheiro), todas as formas de psicoterapia se
equivalem. Cada psicoterapia funciona tão precariamente quanto as demais.” P. 32.
Diante de tudo que já foi dito, é muito
mais sensato termos amigos verdadeiros que possam nos ouvir, e se possível nos
ajudar. Nos poupará dinheiro e provavelmente terá um melhor efeito sobre nossa mente. É exatamente
isso, que 42 estudos divulgados pela Universidade do Sul de Illinois conclui:
“Paraprofissionais atingiram resultados
clínicos iguais ou significativamente melhores que aqueles obtidos por
profissionais... Além do mais, instrução profissional formal, treinamento e
experiência no campo da saúde mental não parecem ser pré-requisitos necessários
para uma pessoa ser eficaz na ajuda aos outros.” P. 33.
Em confirmação, Gary Collins (Ph.D em
Psicologia na Universidade de Purdue, EUA) aponta que:
“Há pouca evidência de que profissionais
‘obtém melhores resultados – com qualquer tipo de cliente ou problema – que
aqueles com pouco ou nenhum estudo formal. Em outras palavras, a maioria das
pessoas provavelmente poderá obter o mesmo tanto de ajuda de amigos, parentes,
e outros’, inclusive de pastores.” P. 33-34.
Ou seja, melhor conversamos com amigos,
familiares, padres e pastores confiáveis.
Agora vamos aos pontos fracos dos
autores. Eles como Teólogos evangélicos fundamentalistas acabam cometendo
algumas incoerências. Eles dizem:
“Se a psicologia fosse uma ciência
verdadeiramente coerente, seria de se esperar que haveríamos de encontrar nela
um montante considerável de concordância entre suas ramificações, como acontece
na biologia ou na química. Em lugar disso, encontramos centenas de
psicoterapias e milhares de técnicas terapêuticas, todas diferentes ou
conflitantes, e ainda assim todas reivindicando realizarem a mesma façanha:
curar as pessoas de seus problemas.” P. 18.
Estranho que isso venha de dois
Teólogos, visto que a discordância na área deles, é talvez mais vasta que na
área da Psicologia! Quantas interpretações sobre a Bíblia, sobre Deus, sobre
Jesus, existem no meio protestante? Milhares! Ankerbeg e Weldon já escreveram
vários livros contestando as posições doutrinárias de vários de seus pares.
Eles irão rejeitar/abandonar a Teologia por causa da algazarra existente na
área de estudo deles? Nunquinha! Modificando um pouco o que eles disseram, o
enunciado ficaria assim:
“Se a Teologia Evangélica e a Bíblia fossem uma ciência (área de
conhecimento) verdadeiramente coerente, seria de se esperar que haveríamos de
encontrar nela um montante considerável de concordância entre suas
ramificações, como acontece na biologia ou na química. Em lugar disso,
encontramos centenas de teologias/igrejas/seitas/doutrinas e milhares de
técnicas espirituais, todas diferentes ou conflitantes, e ainda assim todas
reivindicando realizarem a mesma façanha: curar as pessoas de seus problemas e
levá-las para mais perto de deus e para o paraíso.”
Nas páginas finais, eles deixam claro
que a anorexia e o alcoolismo não são doenças, mas sim, erros morais. Por que
fazem isso? Como eles podem ignorar as pesquisas científicas que mostram que
algumas pessoas já nascem propensas a ter essas doenças? Não será pelo motivo
de serem evangélicos ultra-conservadores, que os impedem de ver aspectos da
realidade que contradizem sua visão religiosa tão estrita? O que uma menina com
anorexia iria sentir lendo que ela está na situação que está, porque está em
"pecado"?