quarta-feira, 6 de julho de 2016

Os Fatos Sobre Auto-Estima, Psicologia e o Movimento de Recuperação


ANKERBERG, John; WELDON, John. Os Fatos Sobre Auto-Estima, Psicologia e o Movimento de Recuperação. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1999.

John Ankerberg (Mestrado em Divindade e Mestrado em História e Filosofia do Pensamento Cristão, no Trinity Evangelical Divinity School, Bacharel em Artes na Universidade de Illinois, Chicago) e John Weldon (Ph.D em Religiões Comparadas, na Pacific College of Graduate Studies, Austrália; Bacharel em Sociologia na Universidade Estadual da Califórnia) dirigem nesse pequeno livro críticas contundentes as várias escolas da Psicologia.  Eles como cristãos conservadores e fundamentalistas são muito céticos quanto às reivindicações das abordagens psicoterápicas modernas. Mas não fundamentam essa incredulidade baseados apenas em suas crenças religiosas, visto que fazem uso de um amplo número de estudiosos para corroborar suas críticas.

O que fica bem estabelecido no livro, a meu ver, é que independente dos autores serem fundamentalistas ou não, eles alicerçaram bem o seu ceticismo. A abundância de especialistas citados deixa o livro bem persuasivo ao que se propõe.

“Este livro oferece uma argumentação diretamente contrária à psicologia moderna. E isto não se dá por sermos contra o aconselhamento em si; muitos em nossa sociedade contemporânea precisam de aconselhamento de alto nível. Nem somos contra a psicologia em si. O estudo da psique humana, ou da mente e personalidade é uma iniciativa de valor.” P. 8.

Mesmo afirmando que não são contra a Psicologia em si, para eles, grande parte das escolas de Psicologia modernas são puro embustes. O Psiquiatra Thomas Szasz(Professor Emérito de Psiquiatria da Universidade do Estado de Nova Iorque, membro da Associação Americana de Psiquiatria e da Associação Americana de Psicanálise) diz:

“[nem] todas as assim chamadas psicoterapias são coercivas, fraudulentas, ou de outra sorte más... [ainda assim] o que desejo salientar é que muitas, talvez até a maioria, das assim chamadas práticas psicoterápicas sejam daninhas para os chamados pacientes... e que todas essas intervenções e propostas deveriam, por isso ser tidas como maléficas até que se prove o contrário.” P. 11.

Para o estranhamento de muitos, a Psicologia parece não ser tão eficaz quanto se pensa, a despeito de tantas pessoas estarem fazendo terapias. William Kirk Kilpatrick (Ph.D em Psicologia na Universidade de Purdue, Mestrado em educação na Universidade de Harvard e Professor Associado de Psicologia Educacional da Faculdade de Boston) escreve:

“O fato de psicólogos estarem tentando ajudar as pessoas frequentemente nos inibe de perguntar se eles sabem fazê-lo... boa parcela de pesquisa sugere que a psicologia é ineficaz. E existe até evidência apontando para a conclusão de que a psicologia é, de fato, maléfica.” P. 11.

Dorothy Tennov (Ph.D em Psicologia na Universidade de Connecticut) diz sem pudor, que a psicoterapia é:

“[...] emocionalmente exaustiva, cara, demorada, potencialmente viciadora, e de alta periculosidade... a profissão não oferece ao consumidor qualquer segurança de proteção.” P. 12.

Martin L. Gross (Professor Associado Adjunto de Ciências Sociais da Universidade de Nova Iorque) dispara:

“[...] um argumento sério, e por vezes amargo, irrompe dentro da própria profissão. Especificamente, a questão é se a psicoterapia é uma ciência ou uma superstição enobrecida como disciplina.” P. 12.

A medida em que se vai lendo cada parágrafo, o ceticismo quanto a eficácia da Psicologia/Psicoterapia só aumentam. Para completar, nos é dito:

“Uma análise de aproximadamente 500 laudos psicoterápicos concluiu que ‘não estamos cientes de sequer uma demonstração convincente de que os benefícios da psicoterapia excedem aqueles de placebos para pacientes reais.” P. 12-13.

Para quem pensa em ver ainda a psicologia/psicoterapia como uma ciência coerente, o livro traz essa importante conclusão de um amplo estudo:

“Será que a psicologia e a psicoterapia são ciências coerentes? Para responder a essa importante questão, a Associação Psicológica Americana designou Sigmund Koch para dirigir um estudo a ser patrocinado pela Fundação Nacional da Ciência.

Aquele estudo foi efetuado por oitenta peritos eminentes que avaliaram os fatos, as teorias e os métodos de psicologia. Os resultados dessa extensa iniciativa foram publicados numa série de sete volumes intitulada [...] Psicologia: Um Estudo de uma Ciência. Após examinar os resultados, Koch conclui: ‘Eu penso que a esta altura está total e finalmente claro que a psicologia não pode ser uma ciência coerente’.” P. 19.

Ele continua:

“[...] a psicologia dificilmente lida com verdades ou fatos estabelecidos, mas com opiniões e interpretações subjetivas de observações não controladas. [...] Através da história da psicologia como ‘ciência’, o conhecimento propriamente dito que ela tem trazido tem sido uniformemente negativo.” P. 19.

O que dizer diante da conclusão desse exaustivo estudo publicado pela própria Associação Psicológica Americana? Fica difícil argumentar numa via contrária.

E parece que existe uma paranoia entre muitos Psicólogos em dizer que todo mundo precisa de terapia. Não importa o quanto à pessoa esteja saudável, sempre irão dizer que ela precisa de algumas sessões. Inventam crises existenciais, onde não tem. Quanto a isso, mais uma vez Szasz com a palavra:

“Em mais de 20 anos como psiquiatra, jamais conheci psicólogo clínico contar, com base em testes de projeção, que o paciente era ‘uma pessoa normal, mentalmente sadia’... Não há comportamento ou pessoa que um psiquiatra moderno [ele não quis dizer psicólogo?] não possa plausivelmente diagnosticar como anormal ou doentio.” P. 27.

Bernie Zilbergeld, (Ph.D em Psicologia na Universidade da Califórnia) revela:

“De 500 pessoas que compareceram para uma avaliação numa grande clínica nova-iorquina, recomendou-se que todas, exceto quatro, fossem submetidas a terapia. Imagine só a algazarra se fosse recomendada uma cirurgia para 99% dos pacientes que procurassem uma clínica médica.” P. 27.

Os autores complementam:

“Aliás, uma série de testes têm sido feita com indivíduos que estão absolutamente contentes com a vida que levam e que têm poucos problemas – se é que os têm. Quando tais pessoas foram enviadas aos diversos terapeutas e clínicas, a avaliação psicológica invariavelmente concluiu que elas precisavam de terapia” P. 27-28.

Os Psicólogos mais entusiastas talvez digam que eles possuem as ferramentas metodológicas e conceituais corretas para detectar a suposta mazela psicológica das pessoas. Todas precisam de terapia, apenas ainda não perceberam do quanto precisam da ajuda deles.

Donald Klein (Professor Pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Nova Iorque) admite sua descrença quanto a eficácia da terapia:

“Eu creio que, no momento, a evidência científica quanto à eficácia da psicoterapia não pode justificar o uso de verbas públicas.” P. 31.

Jay Constatine (Chefe do Departamento de Profissionais da saúde) é mais um estudioso do tema citado, que diz:

“Não há, virtualmente, nenhum caso de estudos clínicos controlados, levados a efeito e avaliados de acordo com os princípios científicos normalmente aceitos, que confirme a eficácia, a segurança e a utilidade da psicoterapia, como vem sendo feita hoje em dia.” P. 31.

E não para por aí, Orval Hobart (Ex-Presidente da Associação Americana de Psicologia) é mais um incrédulo, que escreve:

“Mas, com o passar dos anos, eu venho me desencantando progressivamente com os resultados da psicoterapia e de sua teoria subjacente. [...] Estou convicto de que, no geral, a psicoterapia não faz maior bem a seus pacientes.” P. 32.

Michael Sheperd (Ph.D em Psiquiatria pela Universidade de Oxford e Pesquisador do Instituto de Psiquiatria de Londres) assinala:

“Uma imensa gama de estudos já concluídos que, em meio à sua imperfeição, deixaram claro que (1) qualquer vantagem resultante da psicoterapia é pequena, na melhor das hipóteses; (2) a diferença entre efeitos dos diferentes tipos de terapias é desprezível; e (3) intervenção psicoterápica tem possibilidade de causar danos.” P. 32.

O Psiquiatria Garth Wood (Universidade de Cambridge) é outro crítico que diz:

“[...] [foi] conclusivamente demonstrado, para a satisfação de todos – exceto dos extremistas da psicologia – que, em termos de resultados (mas de dinheiro), todas as formas de psicoterapia se equivalem. Cada psicoterapia funciona tão precariamente quanto as demais.” P. 32.

Diante de tudo que já foi dito, é muito mais sensato termos amigos verdadeiros que possam nos ouvir, e se possível nos ajudar. Nos poupará dinheiro e provavelmente terá um melhor efeito sobre nossa mente. É exatamente isso, que 42 estudos divulgados pela Universidade do Sul de Illinois conclui:

“Paraprofissionais atingiram resultados clínicos iguais ou significativamente melhores que aqueles obtidos por profissionais... Além do mais, instrução profissional formal, treinamento e experiência no campo da saúde mental não parecem ser pré-requisitos necessários para uma pessoa ser eficaz na ajuda aos outros.” P. 33.

Em confirmação, Gary Collins (Ph.D em Psicologia na Universidade de Purdue, EUA) aponta que:

“Há pouca evidência de que profissionais ‘obtém melhores resultados – com qualquer tipo de cliente ou problema – que aqueles com pouco ou nenhum estudo formal. Em outras palavras, a maioria das pessoas provavelmente poderá obter o mesmo tanto de ajuda de amigos, parentes, e outros’, inclusive de pastores.” P. 33-34.

Ou seja, melhor conversamos com amigos, familiares, padres e pastores confiáveis.

Agora vamos aos pontos fracos dos autores. Eles como Teólogos evangélicos fundamentalistas acabam cometendo algumas incoerências. Eles dizem:

“Se a psicologia fosse uma ciência verdadeiramente coerente, seria de se esperar que haveríamos de encontrar nela um montante considerável de concordância entre suas ramificações, como acontece na biologia ou na química. Em lugar disso, encontramos centenas de psicoterapias e milhares de técnicas terapêuticas, todas diferentes ou conflitantes, e ainda assim todas reivindicando realizarem a mesma façanha: curar as pessoas de seus problemas.” P. 18.

Estranho que isso venha de dois Teólogos, visto que a discordância na área deles, é talvez mais vasta que na área da Psicologia! Quantas interpretações sobre a Bíblia, sobre Deus, sobre Jesus, existem no meio protestante? Milhares! Ankerbeg e Weldon já escreveram vários livros contestando as posições doutrinárias de vários de seus pares. Eles irão rejeitar/abandonar a Teologia por causa da algazarra existente na área de estudo deles? Nunquinha! Modificando um pouco o que eles disseram, o enunciado ficaria assim:

“Se a Teologia Evangélica e a Bíblia fossem uma ciência (área de conhecimento) verdadeiramente coerente, seria de se esperar que haveríamos de encontrar nela um montante considerável de concordância entre suas ramificações, como acontece na biologia ou na química. Em lugar disso, encontramos centenas de teologias/igrejas/seitas/doutrinas e milhares de técnicas espirituais, todas diferentes ou conflitantes, e ainda assim todas reivindicando realizarem a mesma façanha: curar as pessoas de seus problemas e levá-las para mais perto de deus e para o paraíso.” 

Nas páginas finais, eles deixam claro que a anorexia e o alcoolismo não são doenças, mas sim, erros morais. Por que fazem isso? Como eles podem ignorar as pesquisas científicas que mostram que algumas pessoas já nascem propensas a ter essas doenças? Não será pelo motivo de serem evangélicos ultra-conservadores, que os impedem de ver aspectos da realidade que contradizem sua visão religiosa tão estrita? O que uma menina com anorexia iria sentir lendo que ela está na situação que está, porque está em "pecado"?