SALEEB,
Abdul; SPROUL, R. C. O Outro Lado do Islã. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
O
Islã é uma religião em expansão, surgida em Meca, na atual Arábia Saudita, fundada
por Maomé (570-632), que prega um monoteísmo bem antagônico ao Judaísmo e
Cristianismo, que em poucas décadas poderá alcançar o número de cristãos em
todo o mundo. De acordo com os dados mais recentes, já são mais de 1,6 bilhão
de muçulmanos espalhados pelo planeta, contra 2,3 bilhões de cristãos. Eles se
dividem em várias vertentes, sendo as principais, o sunismo e xiismo, que desde
tempos remotos, não se dão bem, guerreando entre si, e, claro, tendo alguns momentos
de paz e trégua.
A
religião de Maomé é um desafio ao Ocidente, por carregar em seu cerne, elementos
ainda presentes do século VII, que são incompatíveis com as práticas liberais,
racionalistas, iluministas e secularistas, com as quais estamos habituados há
muitas e muitas décadas. Ela se retrai diante dos avanços morais, científicos,
políticos e sociais, que tanto prezamos, fazendo com que muitos analistas se
preocupem com o seu alargamento nos países que tanto estimam uma sociedade
laica, com liberdades individuais, que foram conquistadas à custa de tantos sacrifícios.
Como
toda religião, o Islã tem os seus apóstatas, os seus renegadores da fé em Alá,
que se voltaram para o Cristianismo, pregando e divulgando a sua nova religião
aos seguidores de Maomé. Abdul Saleeb é um proeminente ex muçulmano que neste
livro em forma de diálogo com o também proeminente Teólogo Robert Sproul,
explora as diferenças entre a teologia islâmica e a teologia cristã. Os autores
irão contrastar os pontos principais de cada religião, fechando o livro com “o
lado sombrio do islamismo”. E é neste último ponto do livro, que quero focar.
O
Islamismo é violento em seus ensinos? Os terroristas têm uma base teológica
vinda do próprio Alcorão e da Sunna (tradição), que legitima os seus atos
assassinos? Maomé foi uma pessoa pacífica? Todas essas perguntas nos vêm à
mente, quando vemos as várias notícias que foram veiculadas nos últimos anos,
sobre os vários atentados terroristas perpetrados por aqueles que dizem serem
muçulmanos e gritam Allahu Akbar (Deus é grande) em suas atitudes de guerra
contra os “infiéis”.
Este
livro foi escrito em 2004, três anos após a tragédia que acometeu a cidade de
Nova Iorque, matando quase 3 mil pessoas. Portanto, ele não falará do atual
Estado Islâmico (ISIS) e seu califado surgido em 2014, na Síria e Iraque, que
tanto nos assustou com seus vídeos de decapitações. E muito menos falará do Boko
Haram, grupo terrorista da Nigéria, que tem assassinado milhares de cristãos e
escravizado sexualmente as mulheres daquele país.
O
título do livro no original em inglês é O Lado Negro do Islamismo. Entretanto,
não sei por qual motivo, a editora CPAD resolveu colocar um nome mais suave.
Abdul Saleeb de cara já começa dizendo:
“Também é importante não
estereotipar o islamismo como uma religião que promove a violência. Este,
absolutamente não é o caso. Na verdade, o islamismo tem uma rica tradição em
sua história, o mundo muçulmano produziu muitos filósofos e cientistas. Devemos
levar o islamismo a sério como uma religião coerente e sistemática que
apresenta fortes desafios a fé cristã.” P. 08.
Nossa!
Para quem pensaria que ele iria se juntar aos que condenam o Islã no limbo da intolerância
e violência, a sua fala parece claramente ir ao contrário disto. Esse parágrafo
citado encontra-se no primeiro capítulo. Mas na última parte do livro, ele vai esclarecer
essa fala inicial.
No
capítulo “O Lado Sombrio do Islamismo”, ele diz:
“Mas quando os muçulmanos
praticam a violência, em forma de crimes e outros atos de terrorismo, eles
podem legitimamente reivindicar que estão seguindo os mandamentos de Alá,
conforme ensina o Alcorão e o profeta Maomé. Essa é a grande diferença entre o cristianismo
e islamismo.”
P. 72.
Um
dos pontos mais difíceis de engolir no Islã, é a pena de morte por apostasia
(abandono da religião). Saleeb aborda essa questão.
“Um outro exemplo de violência
e agressão islâmica é a lei blasfema do Paquistão, que pune com a morte
qualquer pessoa que insultar o profeta Maomé. As raízes desta lei estão nos
ensinos primários do próprio islamismo. A lei islâmica de apostasia declara que
qualquer pessoa que se converta do islamismo a uma outra religião – cristianismo,
judaísmo ou qualquer outro credo – comete um crime cuja punição deve ser a
morte.”
P. 72-73.
No
Islã, a luta contra os infiéis deve ser contínua.
“‘Lutai pela causa de Alá
com aqueles que lutam contra vós [...] e matai-os onde quer que os encontrardes
[...] e lutai contra eles até que não haja mais tumulto e opressão; que
prevaleça a justiça e a fé em Alá’ (Sura 2.190-193). A ordem é para continuar
lutando, continuar assassinando, onde quer que os muçulmanos encontrem supostos
inimigos de Alá.”
P. 74.
Mas
esses versos não eram apenas válidos para aqueles momentos específicos? Saleeb responde:
“Muitas pessoas hoje em dia
dizem que esses versículos eram apenas para a época de Maomé, quando os pagãos
de Meca estavam atacando, e que não se aplicam à atualidade. De qualquer modo,
sequer uma única vez em todo o Alcorão existe uma restrição a esses versículos.
A mensagem diz simplesmente que os muçulmanos lutem contra os incrédulos. E esses
textos têm sido utilizados ao longo dos 1.400 anos de história islâmica, para
fazer exatamente isso. Esses versículos continuam a fornecer justificativa para
os assassinatos e os sérios danos físicos infligidos inclusive a outros muçulmanos
considerados infiéis, porque a mensagem é considerada universal e aplicável a
todos os tempos e lugares pelo islamismo.” P. 76.
A
expansão islâmica foi através da espada e da violência.
“O islamismo se expandiu
tremendamente no início de sua história através de atos de guerra. Os muçulmanos
invadiram a Império Persa, o Norte da África e a Europa. Nenhum dos países dessas
regiões atacaram os muçulmanos primeiro; estes certamente não agiram em defesa
pessoal. De qualquer forma, o Islã considera como opressor qualquer governo que
não permita que os muçulmanos estabeleçam o islamismo como religião oficial. Portanto,
lutar contra estes governos é justificado, porque os muçulmanos consideram o
islamismo como a religião verdadeira, e lutar contra os incrédulos é
equivalente a lutar contra a opressão.” P. 77.
Violência,
violência, violência...
“[..] a violência no
islamismo se expressa de várias formas, através de perseguição as minorias, a
matança de oponentes políticos e religiosos e os atos de terrorismo. E todas essas
práticas encontram justificativas no Alcorão e nos ditos de Maomé.” P.
83.
Diante
do exposto, como conciliar o que Saleeb diz em sua primeira fala?
“Também é importante não
estereotipar o islamismo como uma religião que promove a violência. Este,
absolutamente não é o caso.” P.
08.
Parece
contraditório mesmo. Porém, vimos parte de sua exposição, mostrando que o
islamismo não é de forma alguma pacífico. Em uma entrevista, ele clareia essa questão de que o islamismo não é uma "religião que promove a violência.”
“Simplesmente não é verdade
pensar que todos os muçulmanos devotos são, por definição, muçulmanos
violentos. [...] Apenas uma pequena fração dos muçulmanos do mundo está por
trás do terrorismo. [...] A maioria dos muçulmanos na verdade se concentra
apenas nos exemplos positivos da bondade, generosidade e humildade de Muhammad
e ignora completamente os episódios mais sombrios de sua vida.”
Ayaan
Hirsi Ali, crítica ferrenha do Islã, que o considera intrinsecamente violento,
afirma a mesma coisa.
“Ora,
quando afirmo que o islamismo não é uma religião pacífica, não estou dizendo
que a crença islâmica torna os muçulmanos naturalmente violentos. Isso,
manifestamente, não é verdade: há milhões e milhões de muçulmanos pacíficos no
mundo. Estou dizendo que a conclamação à violência e a justificação dela estão
explicitadas nos textos sagrados do islã”. P. 15.
ALI,
Ayaan Hirsi. Herege: Por que o islã
precisa de uma reforma imediata. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015.
Ou
seja, o Islã tem ensinamentos violentos, sim. Mas isso não quer dizer que todos
os muçulmanos serão violentos. Assim como a maioria dos cristãos não amam a
Deus e nem ao próximo como a si mesmos, a despeito de serem os dois maiores
mandamentos da Bíblia, ditos pelo próprio Jesus.