sexta-feira, 20 de julho de 2018

O Sol Tornará a Brilhar


Quando penso no maior ator negro do cinema, não me vem à mente, Morgan Freeman, Denzel Washington, Cuba Gooding Jr., Will Smith, entre tantos outros. Eu penso em Sidney Poitier - este sim - creio ser o maior ator negro da história cinematográfica, com seus filmes que julgo impecáveis e bastante atuais, com temáticas que são caras ao povo negro, que ainda sofre discriminações por serem quem são, pessoas com mais melanina. Poitier estrelou grandes filmes de peso, verdadeiros clássicos, como: Adivinhe Quem Vem Para o Jantar; No Calor da Noite; Ao Mestre Com Carinho 1 e 2, com a música To Sir, with Love, cantada na estonteante voz da atriz e cantora Marie McDonald, sendo uma das canções mais belas e emocionantes já feitas; enfim, muitos outros filmes fantásticos. 

O Sol Tornará a Brilhar é mais um que entra nesse formidável time de filmes espetaculares do ator em questão, tratando mais uma vez, dos conflitos e problemas que envolvem o negro. Filme de 1961, que retrata a vida de uma típica família negra, na cidade de Chicago, na região norte dos EUA, que em tese, seria um lugar melhor e com a tensão racial mais reduzida que na parte sul da nação. 

O personagem de Poitier (Walter Lee) é um jovem sonhador, com esperanças de poder largar o seu emprego de motorista de um branco, e se tornar um empresário no ramo das bebidas com outros três colegas. Mas para isso, ele tem que convencer a sua mãe, a matriarca da família, a lhe dar parte da herança que o seu pai deixou. Ela, sendo uma mulher de princípios religiosos rigorosos, não admite que o dinheiro conquistado com tanto suor, seja investido em algo tão ilícito como a venda de bebidas inebriantes, gerando grande conflitos com o seu filho.  

Nesse ínterim, há conflitos entre ele e sua mulher, que está grávida novamente; conflitos entre a sua irmã e a sua mãe, quando aquela resolve revelar o seu ateísmo, causando grande decepção; o filho de Walter Lee, por falta de espaço no sobrado, dorme no sofá, e há todo o incentivo e pressão de seus amigos para que ele possa arranjar a parte dele na sociedade para que possam abrir essa loja de bebidas, e poderem serem donos de seus próprios umbigos, não tendo que dar mais satisfação a patrões brancos. 

99,9% da história passa-se no pequeno sobrado, onde são travados muitos diálogos interessantes que revelam para nós, do século XXI, quais eram os problemas sociais, financeiros e de identidade pelos quais passavam os negros norte-americanos, no início dos anos 1960. A trama está recheada de conversas sobre família, passado negro africano, futuro, profissão, emancipação... Os diálogos são pertinentes.

Dona Lena, a matriarca, é convencida a dar 3.500 dólares (na época essa quantia era uma pequena fortuna) da herança para que seu filho corra atrás de seus sonhos. Outra parte do dinheiro, ela tem a ousada ideia de dar entrada numa casa num bairro de pessoas brancas. Nesse bairro, não há gente de cor. Mas ela não quer saber disso. Compra a casa, e quando todos estão empolgados arrumando os móveis e utensílios para fazer a mudança para o novo lar, aparece em seu sobrado o presidente da associação de moradores do bairro em que irão morar, dizendo que os moradores não querem eles como vizinhos, por não compartilharem um “passado comum”. Mas ele garante, não é de forma alguma por questão racial. E para se verem livres dos negros inoportunos, tais moradores brancos e “gente de bem” oferecem uma quantia em dinheiro maior do que a aqueles investiram na casa, para que os deixem em paz no seu pacato bairro de brancos. 

Tal cena representa muito bem o discurso daqueles que são racistas, mas juram pela mãe, pai e Deus, que não são. Isso é algo tão comum em nossa sociedade, que mascara o racismo de tal forma, que quando o negro abre a boca e denuncia a discriminação, é acusado de querer dividir a sociedade, quando na verdade, ela sempre foi dividida e racista. 

No final das contas, eles não aceitam o suborno. Muitas outras coisas acontecem. Será que Walter Lee, personagem do Poitier, consegue o seu tão sonhado negócio? 

Aprovado e indicado.