quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Em Defesa da Fé


STROBEL, Lee. Em Defesa da Fé. São Paulo: Vida, 2002.

"Hoje, os dados concretos apontam fortemente na direção da hipótese de Deus [...] Os que querem opor-se a ela não tem nenhuma teoria testável para apresentar, somente especulações sobre universos não vistos tecidas por uma fértil imaginação científica [...] Ironicamente, a imagem do universo legada a nós pela ciência mais avançada do século XX está, mais próxima em seu espírito da visão apresentada pelo livro de Gênesis do que qualquer coisa oferecida pela ciência desde Copérnico." P. 106. - Patrick Glynn, formado em Literatura, Filosofia e História em Harvard e Cambridge, chegando ao título de Ph.D. É Professor na Universidade de Georgestown, EUA.

"A minha fé pode ser resumida neste grande paradoxo: eu creio na ciência e eu creio em Deus. [...] Eu pretendo continuar a dar testemunho de ambos." P. 77. - Hugh Siefken, Ph.D e Mestrado em Física pela Universidade de Kansas, EUA.

Li essa pérola no primeiro semestre de 2004. É o segundo livro do ex-ateu Lee Strobel, que tem formação em Jornalismo pela Universidade de Missouri, Mestrado em Direito pela Universidade de Yale e ex-editor jurídico do The Chicago Tribune. Em seu primeiro livro, ele foi atrás de diversos especialistas acadêmicos de linha conservadora, para investigar a plausibilidade da pessoa de Jesus ser realmente a que está relatada nos evangelhos - o que o levou a abraçar o protestantismo cristão.

A obra que venho trazer a este blog, foi escrita anos depois de sua conversão, quando o mesmo resolveu pesquisar sobre outros temas difíceis em relação a fé cristã. Perguntas difíceis, espinhosas e amargas, que por vezes, levam muitos para longe da fé. 

Os especialistas conservadores foram mais uma vez consultados e colocados no canto da parede, para que sejam interrogados sobre Deus, Sofrimento, Bíblia, História da Igreja, Fé, Ciencia, Milagres e Razão.

O primeiro entrevistado é o Peter Kreeft (Ph.D em Filosofia pela Universidade de Fordham), que é questionado sobre o maior problema em relação a Deus: o sofrimento.

Sua resposta é que o próprio Deus, na pessoa de seu filho, sofreu também. Veio ao nosso encontro, padecendo as agruras da humanidade. E óbvio, um dia ele “fará justiça." Essa na verdade é a resposta apologética padrão.

Kreeft, num certo momento, diz que a liberdade concedida por Deus aos homens criou a possibilidade deste trazer ao mundo sofrimento e dor

“Deus criou a possibilidade do mal; as pessoas concretizaram essa potencialidade”. P. 49.

Noutra parte, Kreeft dá uma alfinetada no ateísmo:

"O ateísmo trata as pessoas de modo medíocre. Além disso, rouba à morte o seu significado, e se a morte não tem sentido, como pode a vida, em última análise, ter sentido? O ateísmo vulgariza tudo o que toca – veja as consequências do comunismo, a mais poderosa forma de ateísmo sobre a terra. E no fim, quando o ateu morre e se encontra com Deus em vez do vazio que havia predito, terá que reconhecer que o ateísmo foi uma resposta vulgar porque recusou a única coisa que não é vulgar – o Deus de valor infinito." P. 45.

O segundo entrevistado é Willian Lane Craig (Ph.D em Filosofia pela Universidade de Birminghan, na Inglaterra). O tema tratado é se a Ciência não contradiz os milagres. Craig diz que não. As leis naturais atuam sob condições ideais, quando não há a interferência de um agente externo. Um exemplo é citado pelo Strobel: caso uma fruta caia da árvore, não estaremos infringindo nenhuma lei da gravidade, caso a apanhemos antes dela cair no chão. Há uma intervenção externa e não violação dos mecanismos naturais.

Craig acaba enumerando alguns argumentos usados para provar a racionalidade da crença em Deus. O argumento cosmológico é o primeiro.

"Tanto filosófica quanto cientificamente eu argumentaria que o universo e o próprio tempo tiveram um principio em algum ponto do passado finito. Porém, como algo não pode simplesmente sair do nada, tem de haver uma causa transcendente do tempo e do espaço que trouxe o universo à existência." P. 100.

Mais quatro argumentos são propostos.

A terceira entrevista é com o Walter Bradley, Ph.D em Ciência de Materiais na Universidade do Texas, especialista em Termodinâmica e Polímeros.

O assunto em pauta é sobre a origem da vida, que tem se mostrado teimosamente um empecilho para a evolução química por meios estritamente naturalistas.

A evolução ao longo dos anos tornou-se talvez a maior aliada na guerra contra o deus judaico-cristão. Michael Denton (Ph.D em Bioquímica no King’s College de Londres) diz:

“No que diz respeito ao cristianismo, o advento da teoria da evolução [...] foi catastrófico [...] Provavelmente o declínio da crença religiosa pode ser atribuído mais à propagação e defesa da teoria darwinista da evolução pela comunidade intelectual e científica do que a qualquer outro fator isolado.” P. 121.

Se o darwinismo naturalista estiver correto, eis as implicações:

"Com efeito, o destacado evolucionista William Provine, da Universidade Cornell, admitiu honestamente que, se o darwinismo for verdadeiro, existem então cinco implicações inevitáveis: não existem evidências a favor de Deus; não existe vida após a morte; não existe um fundamento absoluto para o certo e o errado; não existe um sentido último para a vida; e as pessoas realmente não têm livre-arbítrio." P. 121.

Teorias naturalistas sobre a origem dos seres vivos vão sendo uma a uma refutadas, e Bradley chega a seguinte conclusão:

"Acho que as pessoas que acreditam que a vida surgiu de modo natural precisam ter muito mais fé que as pessoas que concluem racionalmente que existe um Planejador Inteligente.

Muitos [cientistas] já chegaram a essa conclusão. Porém, em alguns casos, a filosofia atrapalha. Se ele estão persuadidos de antemão que Deus não existe, então, não importa quão convincentes sejam as evidências, sempre negarão: 'Aguarde e nós encontraremos algo melhor no futuro'. Mas esse é um argumento metafísico. Os cientistas não são mais objetivos que qualquer outra pessoa. Todos eles se aproximam de questões como essa com idéias pré-concebidas." P. 149.

Em concordância, James Tour (Ph.D em Química Orgânica pela Universidade Purdue e Pós-Doutorado na Universidade Stanford e na Universidade de Wisconsin, Professor do Departamento de Química e do Centro de Ciência e Tecnologia em Escala Infinitesimal da Universidade Rice) dispara:

"Fico extasiado com Deus em virtude do que ele tem feito por meio de sua criação. Somente um principiante que nada sabe sobre ciência diria que a ciência prejudica a fé. Se você realmente estudar a ciência, ela o levará para mais perto de Deus." P. 153.

O conhecido apologista Norman Geisler (Ph.D em Filosofia na Universidade Loyola, EUA) é o quarto especialista a ser interpelado. Ele defenderá a credibilidade da Bíblia em relação à Arqueologia; tentará amenizar o massacre de crianças ordenados por Deus no Antigo Testamento; “conciliará” algumas contradições que aparecem nos textos bíblicos, etc.

O quinto entrevistado é o Ravi Zacharias (Professor visitante da Universidade de Cambridge), tratando da exclusividade Jesus como o único redentor da humanidade. E quem não aceitar a messianidade de Cristo em vida, está eternamente perdido? Seria justo condenar as pessoas de outras religiões que nunca tiveram contato com a mensagem cristã? Zacharias enfrentará essas perguntas intrigantes.

O sexto entrevistado é o J. P. Moreland (Ph.D em Filosofia na Universidade do Sul da Califórnia). O inferno eternamente para aqueles que rejeitam o Cristianismo é algo justo? O inferno é um lugar de fogo que queimará para sempre os que forem para lá? Moreland diz que a linguagem do fogo é figurada, mas isso em nada altera o quanto será triste e ruim, para aqueles que forem para lá. Afinal, estarão por toda a eternidade conscientes de que Deus os julgou justamente.

O sétimo entrevistado é John Woodbrige, Ph.D em História na Universidade de Toulouse, França. As perguntas focam nas chacinas, atrocidades e guerras, perpetradas pela igreja ao longo dos séculos. As Cruzadas, A Inquisição, O Anti-Semitismo, Os Julgamentos das Feiticeiras de Salém e a Exploração Por Parte dos Missionários.

A oitava e derradeira entrevista é concedida por Lynn Anderson, Doutor em Ministério Cristão na Universidade de Abilene. Ele fala sobre as dúvidas que permeiam o caminhar diário do cristão. Defendendo que fé e dúvida são compatíveis, apesar de popularmente se pensar o contrário.

O livro é muito bom. Mas boas réplicas podem ser feitas a apologia de Em Defesa da Fé.  As melhores entrevistas foram com o Willian Lane Craig e Walter Bradley. As mais fracas foram com J. P. Moreland e Ravi Zacharias. E Geisler não me convenceu com a sua explicação sobre a matança das crianças ordenadas por Deus, no Antigo Testamento.