SCOTT, Benjamin. As Catacumbas de Roma. 41º Impressão. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.
Leitura
terminada. Vamos à obra.
Começando
pelo autor, Benjamin Scott, o que tenho a dizer? Nada!
- Nada?
Sim,
nadinha, nadinha. Os elementos pré-textuais do livro, não nos informa sobre
quem ele é; o que faz; que igreja faz parte, etc. Pastor? Teólogo? Historiador?
Pesquisador autodidata? Também não encontrei informações sobre ele na Web.
Em todo
caso, como o próprio título da obra diz, ele vem trazer à luz, a história das
intrigantes catacumbas dos primeiros cristãos. Esses lugares que serviram de
refúgio e locais de adoração, para esse mar de gente, que rompeu os seus laços
com a religiosidade “pagã”, para abraçar uma nova fé. O polêmico homem da Judeia, Jesus Cristo, agora era o objeto de sua crença. Objeto esse, que lhes
custou à própria vida em não raras ocasiões, nos longos séculos I-IV.
Antes de
entrar no tema propriamente dito, nos capítulos iniciais, ele irá traçar um
relato sombrio sobre o culto e a sociedade que viviam debaixo da religião do
paganismo. Nessas sociedades imperavam toda sorte de imoralidades, perversões,
sacrifícios de crianças, rebaixamento da mulher e toda sorte de torpezas.
Vários povos são mencionados: egípcios, gregos, romanos, hindus, fenícios, etc.
Todos, absolutamente todos, estavam entregues as mais variadas práticas
repugnantes e desumanas.
“E, para completar o testemunho dos
pagãos, quanto ao caráter e efeitos do seu sistema, Platão declara: ‘O homem
tem-se tornado mais baixo que o mais vil dos animais’. P. 12.
Citando
outra testemunha da época, para corroborar sua tese, Scott traz as palavras de
Dionísio de Halicarnasso, Filósofo grego:
“Há somente uns poucos que chegaram
a ser mestres de filosofia; por outro lado, a grande e ignorante massa popular
está mais propensa a encarar essas narrativas (as vidas dos deuses) pelo lado
pior e a desprezar os deuses como seres que se transformam nas mais crassas
abominações, ou a não temer praticar as maiores baixezas, crendo que os deuses
as praticam também.” P. 13.
Falando
sobre o culto e sacrifício de crianças em homenagem ao conhecido e condenável
deus Moloque, ídolo tão comum aos leitores da Bíblia, Scott nos descreve como
era o ritual:
“O ídolo consistia numa estátua de
latão, sob a forma de homem com cabeça de touro; tinha os braços estendidos
para a frente, um pouco abaixados. Os pais colocavam seus filhos nas mãos do
ídolo. Dali a criança caía numa fornalha onde morria queimada. Durante a
cerimônia, tocavam tambores e trombetas para abafar os gritos dos inocentes.
Algumas vezes o ídolo era oco. Aquecido até ao rubro por fogo colocado dentro,
as crianças eram então queimadas nas mãos em brasa da estátua.” P. 15-17.
A condição
da mulher era paupérrima.
“A mulher era definida pelas leis
de Roma, não como pessoa, mas como coisa e, se faltasse o título da sua
posse, poderia reclamar-se como quaisquer móveis. Era tratada como escrava do
homem e não como sua companheira e amiga; era comprada, vendida, trocada,
desposada, casada, divorciada e separada de seus filhos, sem seu consentimento;
muitas vezes sem misericórdia; à vontade do capricho de seu senhor. Ele podia
legalmente matá-la, ainda que fosse por ter provado do seu vinho ou por ter
usado suas chaves.” P. 27-29.
Diante do
exposto, fico pasmo diante da apressada acusação de que o texto bíblico oprime
as mulheres. E apesar da mulher não ter a sua devida valorização na cultura
hebraica, a sua condição era bem pior na maioria das culturas em derredor. É por isso que
o cristianismo atraiu tanto o sexo feminino. Visto que o seu fundador, pelo
menos de acordo com os textos mais primitivos de que dispomos, deu-lhes uma
dignidade que lhes era negada no judaísmo, e muito mais na cultura romana,
entre outras.
A partir do
capítulo 3, o autor começa a tratar das catacumbas romanas, enfatizando um
enorme contraste entre as perspectivas “pagãs” e cristãs, nas inscrições
encontradas. Enquanto nas catacumbas de não cristãos não havia palavras de
esperança pós-morte, nas catacumbas cristãs, apesar da dor da perda de um
filho, marido ou esposa, a esperança da vida eterna com Deus, é bem corriqueira nas rudimentares inscrições e desenhos feitos pelos
seguidores do cristianismo. Eis dois exemplos, na página 80:
Inscrição
“pagã”:
CAIUS
JULIUS MAXIMUS, 2 ANOS E 5 MESES (IDADE).
Ó
INFORTÚNIO IM-PLACÁVEL, QUE TE DELEITAS EM MORTE CRUEL, PORQUE ME FOI MÁXIMO
ARRANCADO TÃO REPENTINAMENTE, AQUELE QUE ULTIMAMENTE SE RECLINAVA NO MEU COLO?
ESTA PEDRA AGORA MARCA O SEU TÚMULO.
EIS
A SUA MÃE!
Inscrição
cristã:
PETRONIA,
ESPOSA DE UM DIÁCONO, TIPO DE MODÉSTIA.
NESTE
LUGAR DEITO OS MEUS OSSOS. DEIXAI AS VOSSAS LÁGRIMAS, CARO MARIDO E FILHOS, E
CREDE QUE É PROIBIDO CHORAR POR UMA QUE VIVE EM DEUS. ENTERRADA NO TER-CEIRO,
ANTES DAS NONAS DE OUTUBRO, DURANTE O CONSULADO DE FESTO.
Diante do
exposto, Scott completa:
“Onde se pode encontrar um contraste
maior em sentimento do que o que existe em monumentos pagãos e cristãos sobre a
morte? O paganismo, não obstante as alusões de seus poetas aos Campos Elíseos,
para além das negras águas do Estyge, não tinha esperança da imortalidade.
Entre os muitos milhares de epitáfios existentes em gabinetes e museus, ainda
não se achou uma única alusão a qualquer convicção definida de imortalidade.” P. 80.
Muitas
outras inscrições são trabalhas pelo livro, trazendo informações valiosas sobre
as catacumbas e as pesquisas feitas sobre elas. Contudo, nos dois capítulos finais,
o autor se volta contra o catolicismo romano, afirmando que os túmulos dos
crentes primitivos refutam boa parte das doutrinas distintivas do papado. As
mais duras críticas são levantadas para convencer o leitor de que o catolicismo
não é uma representação fiel dos ensinos apostólicos.
“A Igreja Romana é acusada de usar
da mentira, da violência, da prepotência, para castigar, matar, destruir
aqueles que julgava seus inimigos ou que de seus erros di-vergiam. Seus mais
altos dignatários, para alcançar seus fins inconfessáveis, praticavam os crimes
mais infames, dando lugar a obras de grandes escritores que os condenaram
publicamente. Aí está a história da Inquisição onde milhares de santos foram
martirizados pela Igreja Romana.” P. 126.
Segundo o
autor, doutrinas fundamentais do catolicismo, tais como a presença do
sacrifício de Cristo na missa, purgatório, sacerdócio do padre acima da comunidade
de fé, não são sequer mencionadas nem de relance. Não se pode nem deduzir qualquer
dessas crenças dos desenhos encontrados nas catacumbas primitivas.
O livro é
bonzinho. Com certeza, há livros bem melhores que tratam do tema. A emoção e fé
protestante anticatólica do autor, veio à tona com força no final do livro, mas
nada que venha a comprometer as informações curiosas que o livro traz. Não tenho
muito apreço pelo catolicismo mesmo. Quem diabo se importa com o Vaticano? Eu
não me importo.