quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

As Catacumbas de Roma


SCOTT, Benjamin. As Catacumbas de Roma. 41º Impressão. Rio de Janeiro: CPAD, 2015. 

Leitura terminada. Vamos à obra.

Começando pelo autor, Benjamin Scott, o que tenho a dizer? Nada!

- Nada?

Sim, nadinha, nadinha. Os elementos pré-textuais do livro, não nos informa sobre quem ele é; o que faz; que igreja faz parte, etc. Pastor? Teólogo? Historiador? Pesquisador autodidata? Também não encontrei informações sobre ele na Web.

Em todo caso, como o próprio título da obra diz, ele vem trazer à luz, a história das intrigantes catacumbas dos primeiros cristãos. Esses lugares que serviram de refúgio e locais de adoração, para esse mar de gente, que rompeu os seus laços com a religiosidade “pagã”, para abraçar uma nova fé. O polêmico homem da Judeia, Jesus Cristo, agora era o objeto de sua crença. Objeto esse, que lhes custou à própria vida em não raras ocasiões, nos longos séculos I-IV.

Antes de entrar no tema propriamente dito, nos capítulos iniciais, ele irá traçar um relato sombrio sobre o culto e a sociedade que viviam debaixo da religião do paganismo. Nessas sociedades imperavam toda sorte de imoralidades, perversões, sacrifícios de crianças, rebaixamento da mulher e toda sorte de torpezas. Vários povos são mencionados: egípcios, gregos, romanos, hindus, fenícios, etc. Todos, absolutamente todos, estavam entregues as mais variadas práticas repugnantes e desumanas.

“E, para completar o testemunho dos pagãos, quanto ao caráter e efeitos do seu sistema, Platão declara: ‘O homem tem-se tornado mais baixo que o mais vil dos animais’. P. 12.

Citando outra testemunha da época, para corroborar sua tese, Scott traz as palavras de Dionísio de Halicarnasso, Filósofo grego:

“Há somente uns poucos que chegaram a ser mestres de filosofia; por outro lado, a grande e ignorante massa popular está mais propensa a encarar essas narrativas (as vidas dos deuses) pelo lado pior e a desprezar os deuses como seres que se transformam nas mais crassas abominações, ou a não temer praticar as maiores baixezas, crendo que os deuses as praticam também.” P. 13.

Falando sobre o culto e sacrifício de crianças em homenagem ao conhecido e condenável deus Moloque, ídolo tão comum aos leitores da Bíblia, Scott nos descreve como era o ritual:

“O ídolo consistia numa estátua de latão, sob a forma de homem com cabeça de touro; tinha os braços estendidos para a frente, um pouco abaixados. Os pais colocavam seus filhos nas mãos do ídolo. Dali a criança caía numa fornalha onde morria queimada. Durante a cerimônia, tocavam tambores e trombetas para abafar os gritos dos inocentes. Algumas vezes o ídolo era oco. Aquecido até ao rubro por fogo colocado dentro, as crianças eram então queimadas nas mãos em brasa da estátua.” P. 15-17.

A condição da mulher era paupérrima.

“A mulher era definida pelas leis de Roma, não como pessoa, mas como coisa e, se faltasse o título da sua posse, poderia reclamar-se como quaisquer móveis. Era tratada como escrava do homem e não como sua companheira e amiga; era comprada, vendida, trocada, desposada, casada, divorciada e separada de seus filhos, sem seu consentimento; muitas vezes sem misericórdia; à vontade do capricho de seu senhor. Ele podia legalmente matá-la, ainda que fosse por ter provado do seu vinho ou por ter usado suas chaves.” P. 27-29.

Diante do exposto, fico pasmo diante da apressada acusação de que o texto bíblico oprime as mulheres. E apesar da mulher não ter a sua devida valorização na cultura hebraica, a sua condição era bem pior na maioria das culturas em derredor. É por isso que o cristianismo atraiu tanto o sexo feminino. Visto que o seu fundador, pelo menos de acordo com os textos mais primitivos de que dispomos, deu-lhes uma dignidade que lhes era negada no judaísmo, e muito mais na cultura romana, entre outras. 

A partir do capítulo 3, o autor começa a tratar das catacumbas romanas, enfatizando um enorme contraste entre as perspectivas “pagãs” e cristãs, nas inscrições encontradas. Enquanto nas catacumbas de não cristãos não havia palavras de esperança pós-morte, nas catacumbas cristãs, apesar da dor da perda de um filho, marido ou esposa, a esperança da vida eterna com Deus, é bem corriqueira nas rudimentares inscrições e desenhos feitos pelos seguidores do cristianismo. Eis dois exemplos, na página 80:

Inscrição “pagã”:

CAIUS JULIUS MAXIMUS, 2 ANOS E 5 MESES (IDADE).
Ó INFORTÚNIO IM-PLACÁVEL, QUE TE DELEITAS EM MORTE CRUEL, PORQUE ME FOI MÁXIMO ARRANCADO TÃO REPENTINAMENTE, AQUELE QUE ULTIMAMENTE SE RECLINAVA NO MEU COLO? ESTA PEDRA AGORA MARCA O SEU TÚMULO.
EIS A SUA MÃE!

Inscrição cristã:

PETRONIA, ESPOSA DE UM DIÁCONO, TIPO DE MODÉSTIA.
NESTE LUGAR DEITO OS MEUS OSSOS. DEIXAI AS VOSSAS LÁGRIMAS, CARO MARIDO E FILHOS, E CREDE QUE É PROIBIDO CHORAR POR UMA QUE VIVE EM DEUS. ENTERRADA NO TER-CEIRO, ANTES DAS NONAS DE OUTUBRO, DURANTE O CONSULADO DE FESTO.

Diante do exposto, Scott completa:

“Onde se pode encontrar um contraste maior em sentimento do que o que existe em monumentos pagãos e cristãos sobre a morte? O paganismo, não obstante as alusões de seus poetas aos Campos Elíseos, para além das negras águas do Estyge, não tinha esperança da imortalidade. Entre os muitos milhares de epitáfios existentes em gabinetes e museus, ainda não se achou uma única alusão a qualquer convicção definida de imortalidade.” P. 80.

Muitas outras inscrições são trabalhas pelo livro, trazendo informações valiosas sobre as catacumbas e as pesquisas feitas sobre elas. Contudo, nos dois capítulos finais, o autor se volta contra o catolicismo romano, afirmando que os túmulos dos crentes primitivos refutam boa parte das doutrinas distintivas do papado. As mais duras críticas são levantadas para convencer o leitor de que o catolicismo não é uma representação fiel dos ensinos apostólicos.

“A Igreja Romana é acusada de usar da mentira, da violência, da prepotência, para castigar, matar, destruir aqueles que julgava seus inimigos ou que de seus erros di-vergiam. Seus mais altos dignatários, para alcançar seus fins inconfessáveis, praticavam os crimes mais infames, dando lugar a obras de grandes escritores que os condenaram publicamente. Aí está a história da Inquisição onde milhares de santos foram martirizados pela Igreja Romana.” P. 126.

Segundo o autor, doutrinas fundamentais do catolicismo, tais como a presença do sacrifício de Cristo na missa, purgatório, sacerdócio do padre acima da comunidade de fé, não são sequer mencionadas nem de relance. Não se pode nem deduzir qualquer dessas crenças dos desenhos encontrados nas catacumbas primitivas.

O livro é bonzinho. Com certeza, há livros bem melhores que tratam do tema. A emoção e fé protestante anticatólica do autor, veio à tona com força no final do livro, mas nada que venha a comprometer as informações curiosas que o livro traz. Não tenho muito apreço pelo catolicismo mesmo. Quem diabo se importa com o Vaticano? Eu não me importo.