AMORTH, Gabriele; TOSATTI, Marco. Memórias de um Exorcista. Edições Asa, 2010.
Exorcizado!
Padre Gabriele
Amorth, que para o além partiu em 16 de setembro do ano passado, aos 91 anos, foi
um dos poucos padres exorcistas da igreja católica. Ele repetidas vezes reclama
que a igreja dá pouca importância a existência do diabo e seus amiguinhos
maléficos, os demônios. Mas seu veredicto é absoluto: eles EXISTEM! Causam OPRESSÃO
e podem se APOSSAR das pessoas. Sua realidade é palpável e tem destruído a vida
de muitos seres humanos. Suas histórias beiram o extraordinário. Mas acredita
quem quer. Eu não descarto completamente. Todavia, eu tenha preferência pelas
explicações da Psiquiatria e da Parapsicologia. Ainda que, segundo o padre
Amorth, muitos Psiquiatras italianos, não podendo dar conta dos problemas
estranhos e incomuns de muitos de seus pacientes, acabavam mandando-os para que
ele pudesse resolver os seus bizarros comportamentos.
O livro é um
diálogo entre Amorth e Tosatti. Este apenas lhe faz as perguntas. Acaba sendo
um livro de histórias e mais histórias, que o padre vivenciou. O que torna-o chato e repetitivo, posto que suas milhares de experiências são muito semelhantes.
Como tinha
falado, ele acusa em vários momentos a incredulidade e omissão da igreja, através
de seus arcebispos, cardeais, bispos e padres, que são céticos quanto à atuação
dos demônios. Eis alguns desses momentos:
"[...] ainda temos muitos padres e muitos bispos que não
acreditam no exorcismo. [...] A primeira consequência [disto] é que hoje me
escrevem de várias nações lamentando a total ausência de exorcistas. E trata-se
de nações de primeiro plano: Alemanha, Áustria, Suíça, Espanha, Portugal, só
para referir algumas. Estes países não têm exorcistas. E muitos fiéis
escrevem-me porque querem vir a Roma para receberem exorcismos feitos por mim.
E isso não é possível, porque estou sobrecarregado de compromissos e de casos
que tenho de acompanhar." P. 14, 16-17.
“[...] actualmente muitos
padres não acreditam nisso e nem muitos bispos… sim, bispos, porque alguns
padres depois tornam-se bispos, mas continuam a não acreditar nisso e chegam
até a dizer em público: o Inferno não existe, o Demónio não existe… Mas Jesus,
no Evangelho, fala disso abundantemente, razão pela qual é caso para se dizer:
ou nunca leram o Evangelho, ou simplesmente não acreditam nele!
E perante as numerosas curas operadas por Jesus em relação
aos possuídos, dizem que se trata de um termo derivado da linguagem e da
cultura da época, que definia como possuídos aqueles que na realidade eram
meros doentes. Mas o Evangelho distingue com muita clareza os dois casos, ou
seja, quando Jesus cura doentes, e quando os liberta do Demónio. Com grande
clareza distingue também o poder de curar, e o poder de expulsar os demónios. E
a ordem final é: ide, pregai a minha palavra, expulsai os demónios e curai os
doentes." P. 19.
Ele chega a dizer sem rodeios que
no próprio Vaticano existem satanistas, com o conhecimento do papa.
"E, infelizmente [as seitas satânicas], estão por todo o
lado até mesmo no Vaticano. [...] Sim, também no Vaticano há membros de seitas
satânicas. [...] Há padres, monsenhores e até cardeais! [...] Sei através de
pessoas que me puderam dar essa informação porque tiveram maneira de o saber
directamente. E é uma coisa «confessada» diversas vezes pelo próprio Demónio,
sob obediência, durante os exorcismos…
[...] Claro que [o
papa] foi informado! Mas [ele] faz aquilo que pode… É uma coisa terrível.
Lembre-se também de que Bento XVI é um Papa alemão, vem de uma nação
decididamente avessa a acreditar nestas coisas… Na Alemanha, de facto, não há
praticamente exorcistas… e, no entanto, o Papa acredita nisso: tive ocasião de
falar com ele, por três vezes, quando ainda era prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé. Acredita, e de que maneira! E também falou sobre isso
explicitamente em público, várias vezes. Recebeu-nos, como Associação dos
Exorcistas, e fez até um bonito discurso, encorajando-nos e elogiando o nosso
apostolado". P. 72-73.
O diabo e seus
comandados agem assim:
“Falando agora de opressões [demoníacas],
podemos dizer que se manifestam essencialmente através de brincadeiras
desagradáveis perpetradas pelo Demónio. Porque o inimigo pode fazer «
brincadeiras» realmente pesadas, e faz muitas. E as pessoas que são alvo destas
suas atenções particulares sofrem muito e também padecem de muitos transtornos.
Nas suas casas há portas e janelas que se abrem e se fecham, electrodomésticos que se ligam e desligam, e todas as instalações
eléctricas são bastante afectadas… telefones que tocam e não há ninguém do
outro lado do aparelho, televisores que se ligam sem que ninguém lhes toque e
depois se apagam… Brincadeirinhas do Demónio! Eu chamo a isto transtornos. E
são as formas mais ligeiras de opressão. Mas também as há maiores: há muitas
pessoas que têm distúrbios físicos fortíssimos, que nenhum médico consegue
diagnosticar, e muito menos curar." P. 36-37.
Lamenta que muitas pessoas hoje estão entregues as
práticas espíritas.
"Noutros tempos não se praticava o ocultismo como agora.
E eu, sob o nome de ocultismo, incluo a magia, as sessões espíritas, as seitas
satânicas... incluo tudo isso. A situação era diferente quando se ia à igreja,
quando se rezava, quando as famílias eram unidas… Está a ver o que é agora a
sociedade? Os jovens vivem juntos, não querem saber nem do casamento civil...
veja os homossexuais, que pedem o reconhecimento do
casamento entre eles, e até pedem para poder adoptar crianças! Chegámos a
alguns absurdos que, quando eu era pequeno, eram completamente impensáveis!
Tudo isto —magia, ocultismo, espiritismo — contribui para abrir as portas. E,
uma vez abertas as portas, o Demónio tem o caminho livre". P. 54.
Baseando-se também
no depoimento de uma ex-possuída pelo demo, a igreja católica é a única verdadeira.
Segundo ela, os demônios lhes fizeram essa confissão. Amorth concorda. O
ecumenismo passa longe aí.
"Quando se faz um pacto com Satanás [...] fica-se a
saber pelo próprio demónio que a verdadeira religião é apenas a cristã
católica, fiel ao Papa, e por isso ela é tão hostilizada. As outras religiões
cristãs apenas são toleradas". P. 68.
Noutro momento, ele se orgulha de que o diabo tem
medo dele.
"Eu sempre disse que o Demónio tem medo de mim, e sempre
disse: «Quando me vê, não sabe onde se há-de meter. Nunca tive perturbações,
nem medo do Demónio. »Mas com outros nem sempre foi assim… Há efectivamente
exorcistas que tiveram incómodos, e incómodos fortes. Gostava que lesse um
livro, de Renzo Allegri, Crônicas do Inferno. Encontra aqui em Roma um
exorcista que ficou feito num farrapo pelo Demónio. Fisicamente. Não
conseguia fazer mais nada. O Senhor às vezes permite estas coisas, sempre para
daí obter algum bem. Quem sabe o bem que ele conseguiu com os sofrimentos deste
exorcista.” P. 110.