quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Missionários Feridos

MEER, Leonora van der. Missionários Feridos. Viçosa, MG: Ultimato, 2009. (PDF).

Antonia Leonora van der Meer, Doutorado em Missiologia pela Asia Graduate School of Theology, e missionária que trabalhou por vários anos em Angola, traz neste livro as suas inquietações e olhar compassivo e amoroso, por aqueles que se embrenham em territórios hostis, para levar o cristianismo, que por vezes, vergonhosamente são negligenciados pelas próprias igrejas que os enviaram.

“Ainda hoje, alguns são abandonados por suas igrejas e retornam ao Brasil, arrasados, sem esperança e em crise de fé.” P. 06.

Ela escreve sobre a teologia do sofrimento e da missão na vida e ensino de Jesus, na vida e ensino do apóstolo Paulo; escreve sobre os atuais contextos de sofrimento e perseguição que englobam os mais cruéis problemas sociais, como a fome, guerras, estupros, perseguições étnicas e religiosas.

Mulheres serem estupradas, não são novidades nesses contextos, em Uganda:

“Uma mulher de 42 anos e sua filha tinham sido estupradas por vários soldados, enquanto sua família (que foi assassinada logo depois) foi forçada a assistir e aplaudir.” P. 51.

Crianças serem forçadas a entrarem para os grupos guerrilheiros também é outra coisa muito comum.

“Em Serra Leoa, em 1997, havia 50 mil combatentes rebeldes, metade deles com idade entre 8 e 14 anos. A maioria foi recrutada contra sua vontade; outras acreditavam que tinham de lutar para defender sua terra ou sua família, e recebiam drogas para amortecer o medo. Algumas gostavam da vida no exército, pois tinham liberdade para saquear e estuprar.

Em Moçambique, na década de 80, a taxa de mortalidade infantil durante a guerra civil com a Resistência Nacional Mocambicana (RENAMO) foi a mais alta do mundo. Crianças, foram forçadas a matar seus pais e irmãos e ver barrigas de mulheres grávidas serem abertas.” P. 52.

O Ocidente tem o seu grande quinhão de responsabilidade.

“Desde o ano de 1990, antes da guerra mais recente, centenas de milhares de crianças iraquianas morreram em consequência do embargo económico imposto pelo Ocidente.” P. 53.

A autora constata algo bizarro:

“Muitas vezes as vítimas de ontem são os algozes de hoje. [...] quanto pior for a injustiça sofrida, mais cega a pessoa fica em relação à injustiça que ela mesma inflige.” P. 55.

Em Ruanda, as igrejas também cometeram seus pecados...

“Em 1959, o país testemunhou uma disputa de poder entre hutus e tutsis. Depois do assassinato de milhares de tutsis e o exílio de mais centenas de milhares, a igreja poderia ter promovido a reconciliação, mas não tomou nenhuma iniciativa. Alguns assassinos, ao irem se confessar, ouviram dos padres: ‘Vá em paz, meu filho, matar um tutsi não é pecado’. Em 1963 e em 1973 houve outras ondas de assassinatos, mas a igreja não se pronunciou. [...] Depois dos assassinatos de 1959, missionários protestantes escreveram um manifesto de protesto. Durante os assassinatos de 1973, os protestantes não se manifestaram.” P. 56.

Em Angola, país em que ela foi missionária...

“Em Angola, campeã mundial em minas terrestres, há tantas pessoas com deficiências físicas e a vida é tão difícil que geralmente essas pessoas são consideradas uma carga pesada demais para se carregar. [...] De acordo com as Nações Unidas, em 2001, Angola, um país com apenas 12 milhões de habitantes, tinha um quinto de toda a população mundial de pessoas com deficiências físicas causadas por guerra.” P. 57-58.

As crianças na Ásia...

“No sudeste asiático, muitas crianças trabalham em fábricas em condições precárias, e a solução desse problema não é simples. A pressão internacional levou fábricas têxteis de Bangladesh a demitirem 75% de seus trabalhadores infantis. Nenhum deles foi para a escola e a maioria acabou trabalhando em condições piores. Se o mundo gastasse 1% do que gasta em armas durante um ano, poderia oferecer educação gratuita em boas escolas para todas as crianças.” P. 64.

Em Cuba...

“Nos anos de 1960-1961, em Cuba, vários padres católicos romanos e bispos foram presos. Apenas em Havana, 20 mil pessoas foram presas. Mais de uma centena de padres e 2 mil freiras foram expulsas. Espiões do governo começaram a frequentar reuniões da igreja. Em 1990, Cuba afrouxou as restrições.” P. 74.

Na Etiópia...

“Em 1974, houve um golpe comunista na Etiópia. O Coronel Mengistu se tornou ditador e proclamou a formação da República do Povo, em estilo soviético. Em 1977, ocorriam até 150 assassinatos e execuções por dia. Os militares usaram dinamite para execuções em massa, para economizar munição. Mais de mil crianças foram massacradas e seus corpos deixados nas ruas. Líderes cristãos foram perseguidos até o final do regime, em 1991.” P. 74.

Nem Israel escapa...

“Em Israel, grupos ortodoxos judeus agridem ministros evangélicos, especialmente os que recebem judeus que se convertem à fé cristã. Membros de uma igreja em Jerusalém tiveram seus nomes pichados nos muros, foram comparados a membros da Ku Klux Klan, e acusados de serem apoiados pela Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Jogaram pedras nas janelas de uma igreja em Tiberíades e colocaram fogo no edifício. Apesar disso, a igreja está crescendo.” P. 77.

Nesse ínterim, ela não deixa de mencionar o quanto os cristãos padecem nos países de maioria muçulmana, onde a sharia tem uma forte influência nos rumos dessas sociedades, castrando direitos e a consciência alheia, em nome de um pensamento único, que jamais pode e deve ser posto à prova. Na página 78, ela cita três países:

Paquistão:

"Algumas cortes civis paquistanesas protegem os cristãos, mas essas cortes estão perdendo poder. Há incursões de gangues em vilas cristãs, que invadem casas, estupram mulheres e raptam meninas. Cerca de 90% dos cristãos estão desempregados ou têm os empregos mais desprezados pela sociedade."

Egito:

"O islã foi declarado a religião oficial do Egito em 1980. As leis da Sharia foram adotadas e a perseguição aos cristãos é crescente, especialmente contra os muçulmanos convertidos. Nesse país há milhares de conversões forçadas ao islã. Em 1996, uma turba de 10 mil jovens muçulmanos atacou lares cristãos em várias vilas. Contudo, vários líderes evangélicos relatam que hoje há mais oportunidades para evangelizar e mais liberdade do que havia alguns anos atrás."

Sudão:

"No Sudão [país muçulmano], os habitantes do norte mataram meio milhão de habitantes do sul por meio de armas, bombas, fome e doenças. Líderes cristãos foram açoitados e esfregaram sal em suas feridas. Alguns foram esfaqueados. A maior parte das igrejas foi destruída."

Algumas páginas antes, ela conta um caso cruel de intolerância na Indonésia, país de maioria muçulmana.

“Wilfred Wong é advogado evangélico e serve os cristãos por meio da Campanha do Jubileu e como lobista da Comissão de Direitos Humanos nas Nações Unidas. Ele menciona uma visita que fez a líderes que supervisionam 2 mil pastores e evangelistas nas Ilhas Maluku, Indonésia. Meses antes de sua visita, centenas de obreiros foram mortos, alguns deles queimados vivos, outros cortados em pedaços.” P. 72.