MEER, Leonora van der. Missionários
Feridos. Viçosa, MG: Ultimato, 2009. (PDF).
Antonia Leonora van der Meer, Doutorado em
Missiologia pela Asia Graduate School of Theology, e missionária que trabalhou
por vários anos em Angola, traz neste livro as suas inquietações e olhar
compassivo e amoroso, por aqueles que se embrenham em territórios hostis, para
levar o cristianismo, que por vezes, vergonhosamente são negligenciados pelas
próprias igrejas que os enviaram.
“Ainda hoje, alguns
são abandonados por suas igrejas e retornam ao Brasil, arrasados, sem esperança
e em crise de fé.” P. 06.
Ela escreve sobre a teologia do sofrimento
e da missão na vida e ensino de Jesus, na vida e ensino do apóstolo Paulo;
escreve sobre os atuais contextos de sofrimento e perseguição que englobam os mais
cruéis problemas sociais, como a fome, guerras, estupros, perseguições étnicas e
religiosas.
Mulheres serem estupradas, não são
novidades nesses contextos, em Uganda:
“Uma mulher de 42
anos e sua filha tinham sido estupradas por vários soldados, enquanto sua
família (que foi assassinada logo depois) foi forçada a assistir e aplaudir.” P.
51.
Crianças serem forçadas a entrarem para os
grupos guerrilheiros também é outra coisa muito comum.
“Em Serra Leoa, em
1997, havia 50 mil combatentes rebeldes, metade deles com idade entre 8 e 14
anos. A maioria foi recrutada contra sua vontade; outras acreditavam que tinham
de lutar para defender sua terra ou sua família, e recebiam drogas para
amortecer o medo. Algumas gostavam da vida no exército, pois tinham liberdade
para saquear e estuprar.
Em Moçambique, na
década de 80, a taxa de mortalidade infantil durante a guerra civil com a
Resistência Nacional Mocambicana (RENAMO) foi a mais alta do mundo. Crianças,
foram forçadas a matar seus pais e irmãos e ver barrigas de mulheres grávidas
serem abertas.” P. 52.
O Ocidente tem o seu grande quinhão de
responsabilidade.
“Desde o ano de
1990, antes da guerra mais recente, centenas de milhares de crianças iraquianas
morreram em consequência do embargo económico imposto pelo Ocidente.” P.
53.
A autora constata algo bizarro:
“Muitas vezes as
vítimas de ontem são os algozes de hoje. [...] quanto pior for a injustiça
sofrida, mais cega a pessoa fica em relação à injustiça que ela mesma inflige.”
P. 55.
Em Ruanda, as igrejas também cometeram seus
pecados...
“Em 1959, o país
testemunhou uma disputa de poder entre hutus e tutsis. Depois do assassinato de
milhares de tutsis e o exílio de mais centenas de milhares, a igreja poderia
ter promovido a reconciliação, mas não tomou nenhuma iniciativa. Alguns
assassinos, ao irem se confessar, ouviram dos padres: ‘Vá em paz, meu filho,
matar um tutsi não é pecado’. Em 1963 e em 1973 houve outras ondas de assassinatos,
mas a igreja não se pronunciou. [...] Depois dos assassinatos de 1959,
missionários protestantes escreveram um manifesto de protesto. Durante os assassinatos
de 1973, os protestantes não se manifestaram.” P. 56.
Em Angola, país em que ela foi
missionária...
“Em Angola, campeã
mundial em minas terrestres, há tantas pessoas com deficiências físicas e a
vida é tão difícil que geralmente essas pessoas são consideradas uma carga
pesada demais para se carregar. [...] De acordo com as Nações Unidas, em 2001,
Angola, um país com apenas 12 milhões de habitantes, tinha um quinto de toda a
população mundial de pessoas com deficiências físicas causadas por guerra.” P.
57-58.
As crianças na Ásia...
“No sudeste asiático,
muitas crianças trabalham em fábricas em condições precárias, e a solução desse
problema não é simples. A pressão internacional levou fábricas têxteis de Bangladesh
a demitirem 75% de seus trabalhadores infantis. Nenhum deles foi para a escola
e a maioria acabou trabalhando em condições piores. Se o mundo gastasse 1% do
que gasta em armas durante um ano, poderia oferecer educação gratuita em boas
escolas para todas as crianças.” P. 64.
Em Cuba...
“Nos anos de
1960-1961, em Cuba, vários padres católicos romanos e bispos foram presos.
Apenas em Havana, 20 mil pessoas foram presas. Mais de uma centena de padres e
2 mil freiras foram expulsas. Espiões do governo começaram a frequentar reuniões
da igreja. Em 1990, Cuba afrouxou as restrições.” P. 74.
Na Etiópia...
“Em 1974, houve um
golpe comunista na Etiópia. O Coronel Mengistu se tornou ditador e proclamou a
formação da República do Povo, em estilo soviético. Em 1977, ocorriam até 150
assassinatos e execuções por dia. Os militares usaram dinamite para execuções
em massa, para economizar munição. Mais de mil crianças foram massacradas e
seus corpos deixados nas ruas. Líderes cristãos foram perseguidos até o final
do regime, em 1991.” P. 74.
Nem Israel escapa...
“Em Israel, grupos
ortodoxos judeus agridem ministros evangélicos, especialmente os que recebem
judeus que se convertem à fé cristã. Membros de uma igreja em Jerusalém tiveram
seus nomes pichados nos muros, foram comparados a membros da Ku Klux Klan, e
acusados de serem apoiados pela Organização pela Libertação da Palestina (OLP).
Jogaram pedras nas janelas de uma igreja em Tiberíades e colocaram fogo no
edifício. Apesar disso, a igreja está crescendo.” P. 77.
Nesse ínterim, ela não deixa de mencionar o
quanto os cristãos padecem nos países de maioria muçulmana, onde a sharia tem
uma forte influência nos rumos dessas sociedades, castrando direitos e a consciência
alheia, em nome de um pensamento único, que jamais pode e deve ser posto à
prova. Na página 78, ela cita três países:
Paquistão:
"Algumas
cortes civis paquistanesas protegem os cristãos, mas essas cortes estão
perdendo poder. Há incursões de gangues em vilas cristãs, que invadem casas,
estupram mulheres e raptam meninas. Cerca de 90% dos cristãos estão
desempregados ou têm os empregos mais desprezados pela sociedade."
Egito:
"O islã foi
declarado a religião oficial do Egito em 1980. As leis da Sharia foram adotadas
e a perseguição aos cristãos é crescente, especialmente contra os muçulmanos
convertidos. Nesse país há milhares de conversões forçadas ao islã. Em 1996,
uma turba de 10 mil jovens muçulmanos atacou lares cristãos em várias vilas.
Contudo, vários líderes evangélicos relatam que hoje há mais oportunidades para
evangelizar e mais liberdade do que havia alguns anos atrás."
Sudão:
"No Sudão
[país muçulmano], os habitantes do norte mataram meio milhão de habitantes do
sul por meio de armas, bombas, fome e doenças. Líderes cristãos foram açoitados
e esfregaram sal em suas feridas. Alguns foram esfaqueados. A maior parte das
igrejas foi destruída."
Algumas páginas antes, ela conta um caso
cruel de intolerância na Indonésia, país de maioria muçulmana.
“Wilfred Wong é advogado evangélico e serve os cristãos por meio da Campanha do Jubileu e como lobista da Comissão de Direitos Humanos nas Nações Unidas. Ele menciona uma visita que fez a líderes que supervisionam 2 mil pastores e evangelistas nas Ilhas Maluku, Indonésia. Meses antes de sua visita, centenas de obreiros foram mortos, alguns deles queimados vivos, outros cortados em pedaços.” P. 72.