Caminhos da Reportagem é um dos
poucos programas da TV aberta do Brasil, que nos transmite assuntos/temas interessantes e relevantes. Como não é novidade nesse blog, mais uma postagem resumindo algo
sobre a escravidão no Brasil.
O Estado brasileiro durante
séculos, vergonhosamente praticou a escravidão, independente de ela ferir a
dignidade de milhões de seres humanos. Pode-se dizer que o Estado do Brasil foi
fundado tendo o trabalho escravo como o seu principal alicerce. Nas palavras do
Historiador Marcus Carvalho (Ph.D em História pela Universidade de Illinois,
EUA):
“A
escravidão marcou de uma forma muito maligna a história do Brasil.”
E não só do Brasil, mas de toda a
América Latina e América do Norte. Seja o negro, seja o indígena, no continente
americano os europeus se acharam no pleno direito de determinar como
vidas humanas deveriam lhes render exorbitantes lucros. Não importava se para
isso, elas fossem arrancadas de suas terras e cultura, ou fossem mortas. Como diz Merced
Guimarães, do Instituto de Pesquisa Memória de Pretos Novos – RJ:
“Eu vejo
uma história de um crime contra a humanidade.”
Quase cinco milhões (46% de todos
os escravos trazidos paras as Américas) de africanos vieram a contragosto para
o nosso país. Na vinda para cá, muitos acabavam morrendo, devido a situação
completamente precária dos navios tumbeiros. Numa viagem extremamente difícil,
estafante e humilhante, os africanos chegavam às terras brasileiras, para
trabalharem que nem animais, nos canaviais, mineração, plantio de café e outras
atividades. Um terço da população africana foi tirada de seu lugar de origem.
Os portugueses nem precisavam
entrar no território africano, pois os cativos já estavam nos portos, prontos
para serem levados para o outro lado do atlântico. Muitas guerras tribais eram
o combustível para que o tráfico de escravos vingasse durantes durante quase
quatro séculos. A escravidão já existia na África. Povos africanos também
escravizavam seus pares. Cabo Verde era um dos principais postos de receptação
dos escravos que vinham de outros países.
Na segunda metade do século XIX, a escravidão
começou a dar os seus primeiros passos rumo à extinção. A pressão internacional vinda da Inglaterra e
os abolicionistas travaram uma longa batalha para que a vergonha da servidão
forçada acabasse. Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Machado de Assis e André Rebouças, são
alguns dos intelectuais que despontaram na luta a favor da emancipação negra.
Em 1850, foi sancionada a Lei
Eusébio de Queiroz, que extinguia o tráfico de escravos. Agora nenhum navio
poderia trazer mais cativos do continente africano. Em 1871 foi aprovada a Lei
do Ventre Livre, que dizia que a partir daquela data (dia em que a lei foi
sancionada), os filhos das escravas seriam libertos. Porém, havia uma ironia
macabra aí, visto que os rebentos ainda teriam que trabalhar no regime de escravidão até os seus 21 anos, para compensar a perda que o senhor de escravo estava
sofrendo.
O fim da escravidão veio em 13 de
maio de 1888. Entretanto os recém-libertos foram deixados à míngua pelo
governo, que não lhes deu nenhuma terra, ou direitos plenos, pelos quais eles
pudessem alcançar uma vida decente na sociedade brasileira. O resultado desse
abandono e racismo, vemos até hoje.
Algumas medidas afirmativas estão
sendo tomadas, tentando minimizar as consequências da escravidão, tais como as
polêmicas cotas nas universidades. Pesquisas mostram que o desempenho dos alunos
cotistas são iguais ou semelhantes aos alunos que não entraram pelo sistema de
cotas. A maioria desses alunos negros são os primeiros membros da família a
cursar um nível superior.
Apesar de todo antagonismo e argumentação
contrária ao sistema de cotas, acho que elas são um paliativo viável no
momento. Que o Brasil consiga superar a desigualdade racial, que infelizmente
ainda é bastante forte e visível no nosso dia a dia. Não vivemos uma democracia
racial. A pobreza do negro e o racismo que ele sofre são os “ecos da escravidão”,
que teimam em persistir.