quarta-feira, 13 de julho de 2016

Caminhos da Reportagem: Ecos da Escravidão


Caminhos da Reportagem é um dos poucos programas da TV aberta do Brasil, que nos transmite assuntos/temas interessantes e relevantes. Como não é novidade nesse blog, mais uma postagem resumindo algo sobre a escravidão no Brasil.

O Estado brasileiro durante séculos, vergonhosamente praticou a escravidão, independente de ela ferir a dignidade de milhões de seres humanos. Pode-se dizer que o Estado do Brasil foi fundado tendo o trabalho escravo como o seu principal alicerce. Nas palavras do Historiador Marcus Carvalho (Ph.D em História pela Universidade de Illinois, EUA):

“A escravidão marcou de uma forma muito maligna a história do Brasil.”

E não só do Brasil, mas de toda a América Latina e América do Norte. Seja o negro, seja o indígena, no continente americano os europeus se acharam no pleno direito de determinar como vidas humanas deveriam lhes render exorbitantes lucros. Não importava se para isso, elas fossem arrancadas de suas terras e cultura, ou fossem mortas. Como diz Merced Guimarães, do Instituto de Pesquisa Memória de Pretos Novos – RJ:

“Eu vejo uma história de um crime contra a humanidade.”

Quase cinco milhões (46% de todos os escravos trazidos paras as Américas) de africanos vieram a contragosto para o nosso país. Na vinda para cá, muitos acabavam morrendo, devido a situação completamente precária dos navios tumbeiros. Numa viagem extremamente difícil, estafante e humilhante, os africanos chegavam às terras brasileiras, para trabalharem que nem animais, nos canaviais, mineração, plantio de café e outras atividades. Um terço da população africana foi tirada de seu lugar de origem.

Os portugueses nem precisavam entrar no território africano, pois os cativos já estavam nos portos, prontos para serem levados para o outro lado do atlântico. Muitas guerras tribais eram o combustível para que o tráfico de escravos vingasse durantes durante quase quatro séculos. A escravidão já existia na África. Povos africanos também escravizavam seus pares. Cabo Verde era um dos principais postos de receptação dos escravos que vinham de outros países.

Na segunda metade do século XIX, a escravidão começou a dar os seus primeiros passos rumo à extinção. A pressão internacional vinda da Inglaterra e os abolicionistas travaram uma longa batalha para que a vergonha da servidão forçada acabasse. Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Machado de Assis e André Rebouças, são alguns dos intelectuais que despontaram na luta a favor da emancipação negra.

Em 1850, foi sancionada a Lei Eusébio de Queiroz, que extinguia o tráfico de escravos. Agora nenhum navio poderia trazer mais cativos do continente africano. Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre, que dizia que a partir daquela data (dia em que a lei foi sancionada), os filhos das escravas seriam libertos. Porém, havia uma ironia macabra aí, visto que os rebentos ainda teriam que trabalhar no regime de escravidão até os seus 21 anos, para compensar a perda que o senhor de escravo estava sofrendo.

O fim da escravidão veio em 13 de maio de 1888. Entretanto os recém-libertos foram deixados à míngua pelo governo, que não lhes deu nenhuma terra, ou direitos plenos, pelos quais eles pudessem alcançar uma vida decente na sociedade brasileira. O resultado desse abandono e racismo, vemos até hoje.

Algumas medidas afirmativas estão sendo tomadas, tentando minimizar as consequências da escravidão, tais como as polêmicas cotas nas universidades. Pesquisas mostram que o desempenho dos alunos cotistas são iguais ou semelhantes aos alunos que não entraram pelo sistema de cotas. A maioria desses alunos negros são os primeiros membros da família a cursar um nível superior.

Apesar de todo antagonismo e argumentação contrária ao sistema de cotas, acho que elas são um paliativo viável no momento. Que o Brasil consiga superar a desigualdade racial, que infelizmente ainda é bastante forte e visível no nosso dia a dia. Não vivemos uma democracia racial. A pobreza do negro e o racismo que ele sofre são os “ecos da escravidão”, que teimam em persistir.

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