quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Área de Caça


Fiquei chocado com o conteúdo desse extraordinário documentário, que denuncia a política de acobertamento de milhares de estupros que acontecem nas universidades norte-americanas, e os diretores, supervisores, professores e reitores dessas instituições nada fazem para punir os estupradores.

As universidades que imaginarmos são cúmplices das agressões que as suas alunas sofrem em seus apartamentos e casas, dentro do campus. As universidades de Harvard, Princeton, Brandeis, Washington, Tulsa, Carolina do Norte, Oregon, Notre Dame, MIT, Miami, Yale, Califórnia, John Hopkins, e dezenas e dezenas delas, estão envolvidas nesse jogo sujo, de não denunciar os alunos que comem suas colegas a força.

Uma das centenas de meninas que foram violadas sexualmente traz a sua história:

“No meu segundo ano, logo após o recesso da páscoa, uma grande amiga minha disse: ‘Você que ir a esta festa hoje?’, e já era bem tarde da noite. Eu comecei a dançar com um rapaz. Ele era bem atraente e um dançarino muito, muito bom e uma pessoa muito legal. Pelo menos, eu achei que era. Tudo aconteceu muito rápido. Na verdade, eu era virgem, então isso torna a situação pior, mas ele começou a me puxar em direção ao banheiro. Ele agarrou a minha cabeça na lateral da minha orelha e a golpeou contra o piso do banheiro. E não parou. Eu não podia me mexer. Eu podia ouvir as risadas do lado de fora da porta. Eu podia ouvir as pessoas dançando. E aquilo me fez perguntar, por que ninguém me vê? Por que ninguém vem ao banheiro? Por que eu não estou gritando?”

Ela continua:

“Quando você está apavorada e não sabe o que está se passando com você, você simplesmente fica ali e espera que não morra. E era isso que eu estava esperando, que eu tivesse mais que 20 anos para viver.”

A maioria dos casos acontece nas festas promovidas pelos alunos e fraternidades. São farras regadas a muita bebida alcoólica e drogas também. Talvez alguns possam querer amenizar a situação, afirmando que meninas decentes não deveriam estar nessas festas. Entretanto, essas meninas vão a estes lugares para se divertirem e não para transarem contra a sua vontade.  Mulher nenhuma pode ter a sua integridade íntima violada por estar bêbada. Caso em que muitas dessas meninas não estavam.

E não surpreende o fato, de que até homens também estão na lista. Claro que são pouquíssimos em relação ao número de mulheres, mas tiveram a sua dignidade destruída por maníacos sexuais descontrolados.

David Lisak (Ph.D em Psicologia na Universidade de Duke) revela:

“Sabemos há, provavelmente, 25 anos, que o problema da violência sexual nos campus das universidades é enorme.”

John Foubert, Professor da Universidade de Oklahoma, especialista na prevenção de agressão sexual, diz:

“Mas acho que muitos pais pensam: ‘Vamos deixar nossa filha lá, e ela terá uma ótima experiência universitária, e tudo será ótimo, porque a universidade tem reputação de ser um lugar seguro’. [Mas] não é.”

Os números são alarmantes. A violência sexual contra as estudantes é um problema gigante nas universidades dos EUA.

“Mais de 16 por cento das estudantes sofrem violência sexual na universidade.”

As alunas estupradas dão queixa, no entanto, a direção das universidades faz vista grossa para o que tem acontecido com muita frequência em seus aposentos. Não dão assistência as vítimas. Questionam a idoneidade dos depoimentos. Tapam o sol com a peneira. Mas por quê? A resposta é simples e óbvia. O deus dinheiro tem precedência sobre a dignidade das alunas. Geralmente os criminosos que cometem as agressões sexuais fazem parte das fraternidades e são atletas do time de futebol ou basquete, da instituição. As fraternidades e os campeonatos universitários geram muitas receitas para os cofres de Harvard, Yale... Elas não querem perder os milhões e milhões que arrecadam todos os anos. Caso elas admitam que existam com certa frequência estupros de alunas em suas dependências, a renda pode cair. Alunos (principalmente mulheres) não vão querer estudar nelas. Então é melhor que as alunas que caíram nessa desgraça, sejam silenciadas ou desacreditadas.

“88 por cento das alunas violentadas nos campus não dão queixas.”

Vendo esse documentário, me lembrei de outro (A Guerra Invisível) que assisti meses atrás, que trata da problemática do estupro nas forças armadas dos EUA. A Guerra Invisível pode ser encontrado nesse link:

https://www.youtube.com/watch?v=M_yZ9ywEOMk

Uma pequena resenha dele nesse blog:

http://dinhosheol.blogspot.com.br/search/label/Liberdade%20de%20Express%C3%A3o

Fica patente que as autoridades estadunidenses estão pouco se lixando para quem sofre de agressão sexual, se está tiver sido perpetrada por um militar ou por um estudante que faça parte do time da universidade.

“Menos de 8% dos rapazes da faculdade cometem mais de 90% das agressões sexuais”. (David Lisak e Paul Miller)

Esses 8% fazem o inferno e são reincidentes. Estupram uma, não se conformam, estupram outra e, assim, por diante. Se forem atletas, estão numa bolha impenetrável.

Aqui vão números que provam a conivência das universidades:

- Universidade de Harvard, 135 denúncias de violência sexual (2009-2013), apenas 10 suspensões relatadas;

- Universidade da Califórnia, em Berkeley, 78 denúncias de violência sexual (2008-2013), apenas 3 expulsões;

- Faculdade de Dartmouth, 155 denúncias de violência sexual (2002-2013), apenas 3 expulsões;

- Universidade de Stanford, 259 denúncias de violência sexual (1996-2013), apenas 1 expulsão;

- Universidade da Carolina do Norte, 136 denúncias de violência sexual (2001-2013), nenhuma expulsão;

- Universidade da Virgínia, 205 denúncias de violência sexual (1998-2013), nenhuma expulsão.

Lamentável tal situação.

Dando uma pesquisada rápida sobre a repercussão Área de Caça teve, é claro que as universidades disseram que ele não é fiel aos fatos. Distorce números e blá blá blá. Conta outra. É claro que eles irão negar com a faca no pescoço, que não são coniventes com tais crimes. Jurarão e venderão a alma ao diabo, afirmando que não protegem os criminosos sexuais.

Eu acredito nessas meninas entrevistadas. Essas universidades são verdadeiras empresas. Estão inseridas no competitivo e cruel mercado de trabalho. Farão de tudo para estarem no alto da torre. Mesmo que para isso, tenham que mentir e proteger criminosos.