Agenor Miranda Rocha, o sacerdote supremo do Candomblé, no
Brasil.
Desconhecia esse mito da religião africana. Mas aos poucos vou
assistindo aos bons documentários sobre essa religião e vou descobrindo quem
são as suas lendas.
Pois bem, ele foi considerado pelos grandes líderes espirituais
do Candomblé, tanto da Bahia, Rio de Janeiro e outras partes do Brasil, como a
grande autoridade sobre os orixás e sua magia.
Os grandes e prestigiados terreiros da Bahia recorriam a ele,
para que os orixás, através do jogo de Búzios jogados por Agenor, revelassem
quem iria substituir quem, nesses centros espirituais.
Num dos terreiros mais famosos e respeitados de Salvador, o Ilê
Axé Opó Afonjá, ele foi convocado do Rio de Janeiro, cidade de sua habitação,
para jogar os búzios e mediante a orientação de Xangô, revelar quem seria a
liderança do axé naquele lugar. Em 1976 a determinação do orixá do fogo, recaiu
sobre quem desde essa época é conhecida no Brasil todo como Mãe Stella de
Oxóssi, ainda viva hoje, e talvez a maior ialorixá viva.
Agenor é um velho educado, simpático, bondoso, preocupado com o
próximo, simples, humilde, despretensioso, que causa admiração a qualquer um,
mesmo que não seja do Candomblé, ou não acredite nessa religião, como é o meu
caso.
Seu jeito amoroso lhe rendeu em vida muitos admiradores. Quando
criança, com somente cinco anos de idade, foi apresentado ao mundo mágico do
orixás, no longínquo ano de 1912. Por aí, vemos o quanto ele acumulou
conhecimento sobre a religiosidade africana, através de inúmeras vivências e
diálogos travados com os vultos dessa religião, que estavam vivos há quarenta,
sessenta, oitenta anos.
Vindo de Angola, na África, lugar de seu nascimento, se
estabeleceu no Rio de Janeiro, e durante muitas décadas foi a grande
enciclopédia do Candomblé no Brasil, servindo como fonte confiável sobre a
mitologia dos deuses africanos.
O Candomblé como religião de tradição oral, pode carecer de boas
fontes, para manter sua fidelidade aos cultos trazidos pelos negros que aqui
chegaram. Daí a importância de figuras como o Agenor.
O documentário Um Vento Sagrado foi lançado em 2001, depois de
três anos de gravações. Ele traz várias conversas com Agenor, dentre elas, a
sua rejeição ao sacrifício de animais. Para ele, as folhas bastam para que o
axé aconteça. Olha que coisa, a maior referência do Candomblé, uma religião
conhecida pela matança de animais, tem na verdade, uma grande repulsa por essa
prática. Chega a ser irônico isso, visto que ele é reconhecido como o baluarte do
conhecimento nesse meio, o que os sacrificadores de bodes, galinhas e ovelhas,
têm a dizer?
Outra ironia, é que Agenor, que já é morto desde 2004, era um
católico "praticante". Observe as aspas, pois toda a lógica vai a
esmo com essa flexibilidade religiosa. Mas Agenor considera-se um católico
devoto, e como prova vai a missa regularmente, é devoto de Francisco de Assis,
e não vê problema algum nessa aventura espiritual entre catolicismo e magia
africana. Noutros lugares já vi a mãe Stella de Oxóssi repudiar esse tipo de fé em
duas religiões.
Um Vento Sagrado é um documentário legal, que mostra uma lenda
viva (pelo menos até 2001) da religião africana no Brasil, que nada se parece
com as grandes lideranças religiosas atuais, que só pensam em ganhar dinheiro à
custa da fé alheia.