PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Saraiva, 2013. (PDF).
“[...] não
acredito saber aquilo que não sei.” P.
10. – Sócrates.
Sócrates (469-399 a.c.) é um dos principais Filósofos gregos que nos
vem à mente quando pensamos nos grandes pensadores da Grécia antiga. Ele
influenciou outros pensadores, como Platão e Aristóteles, Filósofos que têm
suas ideias discutidas e rediscutidas por vários estudiosos ainda hoje. O modo
filosófico de Sócrates distinguia-se bruscamente dos Filósofos anteriores que
buscavam na natureza a explicação do Ser. Enquanto que para ele, a Filosofia
estava concentrada no homem. Uma de suas frases mais conhecidas é: “Conhece-te
a ti mesmo.” Sua Filosofia também era distinta dos seus contemporâneos
sofistas, um pessoal que não estava preocupado em formar pessoas em busca da
verdade, mas em ensiná-las a serem eloquentes, formando as elites, para
exercerem a política. A verdade pouco importava para os sofistas. Nada
diferente daqueles que atuam na vida política brasileira.
Em tempos de relativismo defendido principalmente por aqueles que
deveriam veementemente rejeitá-lo (os Professores universitários), o método
socrático, fazendo o interlocutor refletir sobre suas afirmações e ideias, é a
melhor maneira de destruir as ideias pós-modernas tão presentes nas várias
instâncias do saber. Percebemos que aqueles hoje em dia, que tratam a verdade
como meros jogos de poder, são os sofistas modernos. A verdade não depende do
“lugar de fala”, termo tão em moda. Sócrates dizia:
“[...]
essa, de fato, é a virtude do juiz, do orador - dizer a verdade.” P. 05.
Sócrates andava pelas ruas de Atenas, conversando com velhos, jovens, e
quem quer que fosse, persuadindo-os a fazerem uma profunda reflexão sobre
aquilo que afirmavam e acreditavam – uma espécie de iluminação interior,
baseada em raciocínio lógico, obviamente. Para ele, na confluência de ideias, o
conhecimento humano aumenta, fornecendo os meios para a prática da virtude. Com
o tempo, o seu modelo filosófico foi incomodando certas pessoas poderosas, que
o colocaram no limbo da sociedade grega, acusando-o de negar os deuses gregos,
culminando em seu julgamento e morte por envenenamento. Este livro, escrito
pelo seu principal discípulo, Platão, trata de sua defesa perante as calúnias
que o colocaram na mira da justiça ateniense, quando tinha mais de setenta anos.
Um tal de Anito e Licon, juntos com outros diziam “dizendo-vos que há um tal Sócrates, homem
douto, especulador das cosias celestes e investigador das subterrâneas e que
torna mais forte a razão mais fraca.” P. 06.
Mas o grande acusador de Sócrates foi Meleto.
Em sua defesa, Sócrates apelava para as palavras do Oráculo de Delfos,
templo religioso da época, que previa o futuro, aconselhava e orientava quem o
procurava. Segundo o Oráculo Sócrates era o homem mais sábio da Grécia. Uma das
acusações contra ele, era de negar os deuses, mas como o principal centro
religioso da Grécia poderia afirmar que ele era o homem mais sábio, se o mesmo
rejeitava os deuses da cidade? Portanto, eram falsas as acusações que estavam
sendo usadas contra o velho homem. Xenofonte, um de seus seguidores, era uma
testemunha a seu favor quanto a isso.
“Conheceis
bem Xenofonte. Era meu amigo desde jovem, também amigo do vosso partido
democrático, e participou de vosso exílio e convosco repatriou-se. E sabeis
também como era Xenofonte, veemente em tudo aquilo que empreendesse. Uma vez,
de fato, indo a Delfos, ousou interrogar o oráculo a respeito disso e - não
façais rumor, por isso que digo - perguntou-lhe, pois, se havia alguém mais
sábio que eu. Ora, a pitonisa respondeu que não havia ninguém mais sábio. E a
testemunha disso é seu irmão, que aqui está.” P. 09.
O grande Filósofo em sua peregrinação em diálogo com os
"detentores" do saber - políticos, poetas, adivinhos,
"vates", e finalmente, os artífices, chega à seguinte conclusão:
“Por fim,
também fui aos artífices, porque estava persuadido de que por assim dizer nada
sabiam, e, ao contrário, tenho que dizer que os achei instruídos em muitas e
belas coisas. Em verdade, nisso me enganei: eles, de fato, sabiam aquilo que eu
não sabia e eram muito mais sábios do que eu. Mas, cidadãos atenienses,
parece-me que também os artífices tinham o mesmo defeito dos poetas: pelo fato
de exercitar bem a própria arte, cada um pretendia ser sapientíssimo também nas
outras coisas de maior importância, e esse erro obscurecia o seu saber.” P. 12.
Isso é tão verdade ainda hoje. Por sabermos muito em uma determinada
área (ou pensarmos que sabemos), achamos que podemos ser os experts em outras,
e acabamos falando coisas fora da realidade, que quando melhor avaliadas, não
passam de embustes alimentados por ideologias ou pressuposições erradas.
Eis a acusação:
“Sócrates
- diz a acusação - comete crime corrompendo os jovens e não considerando como
deuses os deuses que a cidade considera, porém outras divindades novas.” P. 14.
Meleto o acusava de ateísmo. Sócrates pergunta a ele:
“Mas, por
Zeus, assim te parece, que eu creio que não exista nenhum deus?” P. 18.
Dirigindo-se aos cidadãos de Atenas, Sócrates lamenta:
“Aquilo,
pois, que eu dizia no princípio, que há muito ódio contra mim, e muito
acumulado, bem sabeis que é verdade.” P.
20.
Para o idoso, devemos fazer a coisa certa, independente dela acarretar
resultados desagradáveis que irão nos prejudicar, inclusive a morte.
“[...] quando
fizer o que quer que seja, deve considerar se faz coisa justa ou injusta, se
está agindo como homem virtuoso ou desonesto.” P. 20.
Aparentemente, Sócrates não temia a morte:
“Ninguém
sabe, na verdade, se por acaso a morte não é o maior de todos os bens para o
homem, e entretanto todos a temem, como se soubessem, com certeza, que é o
maior dos males.” P. 21.
“Porque
morrer é uma ou outra destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente
nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja, ou, como se diz,
a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração
deste lugar para um outro. Se, de fato, não há sensação alguma, mas é como um
sono, a morte seria um maravilhoso presente. Creio que, se alguém escolhesse a
noite na qual tivesse dormido sem ter nenhum sonho, e comparasse essa noite às
outras noites e dias de sua vida e tivesse de dizer quantos dias e noites na
sua vida havia vivido melhor, e mais docemente do que naquela noite, creio que
não somente qualquer indivíduo, mas até um grande rei acharia fácil escolher a
esse respeito, lamentando todos os outros dias e noites. Assim, se a morte é
isso, eu por mim a considero um presente, porquanto, desse modo, todo o tempo
se resume a uma única noite.” P. 38.
Se o deixassem livre, ele não pararia de exortar os habitantes de
Atenas a virtude a e verdade.
“Cidadãos
atenienses, eu vos respeito e vos amo, mas obedecerei aos deuses em vez de
obedecer a vós, e enquanto eu respirar e estiver na posse de minhas faculdades,
não deixarei de filosofar e de vos exortar ou de instruir cada um, quem quer
que seja que vier à minha presença.” P.
21.
“Por toda
parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem
exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como
devem preocupar-se com a alma, para que ela seja quanto possível melhor, e vou
dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vem, aos homens, as
riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados.” P. 22.
“[...]
digo que o maior bem para um homem é justamente este, falar todos os dias sobre
a virtude [...] examinando a mim mesmo e aos outros, e, que uma vida sem esse
exame não é digna de ser vivida”. P.
34.