Estamos no
século XXI, e muitos pensavam que a religião iria sucumbir, diante do avanço
da Ciência em todas as áreas. Obviamente isso não aconteceu. A fé e a filiação
religiosa são tão fortes (no Brasil), que parece até piada que alguém tenha
pensado que as comunidades religiosas deixariam de ter a sua relevância na
sociedade. Vemos em nosso território uma miríade de religiões e igrejas de
todos os tipos e de todos os gostos possíveis. Às vezes, ficamos sem saber qual
delas carrega a pecha de religião mais sóbria ou mais maluca e alienante.
A série de
documentários Retratos de Fé vem trazer em cada episódio a história e crença
das várias religiões e crenças no Brasil. São vídeos de quase 30 minutos, que fazem uma
síntese bem simples e objetiva do que determinada religião crê, ensina e diz
vivenciar. Não são feitos questionamentos capciosos e, nem os podres e
contradições internas são expostos. Até porque nenhuma igreja/religião ficaria
imune. O propósito da série é mostrar dada religião pelos olhos dos seus
próprios adeptos, sem julgamentos de valores se estão certas ou erradas.
Olhando
principalmente para as igrejas cristãs, todas dizem seguir a Bíblia. Para um
observador de fora, não tem como essas afirmações de suposta fidelidade ao
texto “sagrado” não serem hilárias, pelo óbvio motivo dessas igrejas crerem em coisas muitas
vezes diferentes umas das outras. Todas dizem fazerem uma hermenêutica legítima
e fiel do texto sagrado, da história, da tradição e etc. Entretanto, suas visões do que
deus supostamente espera de nós, seres humanos, são bem contraditórias e até
inimigas mortais. O que os seus líderes diriam, diante disso? Ah, que as outras igrejas e
suas pobres ovelhas não tiveram a iluminação e seriedade suficientes para
entenderem a Deus corretamente, como eles entenderam. Chega a ser um verdadeiro
circo, tal situação. Não sendo
injusto, muitas dessas igrejas comungam de um núcleo comum de crenças, que as
tornam num certo sentido igrejas irmãs, apesar de suas diferenças doutrinárias
e práticas distintas no dia a dia.
Nas religiões
do Candomblé, Batuque, Jurema e Umbanda (só resumi a Umbanda), também muitos (acho que a maioria
mesmo) de seus adeptos e líderes espirituais não se veem como inimigos que
devem ser combatidos. Elas possuem em seu bojo crenças similares e que até se complementam.
Muitas religiões
mesmo com suas visões de mundo particulares, não saem combatendo e demonizando
as outras.
Chega de
enrolar, e vamos ao resumo do que Retratos de Fé traz sobre as associações religiosas no Brasil. OBS: queria não ser irônico, mas não teve
jeito. Outra obs: o programa tem muito mais episódios do que esses abaixo. Mas a minha preguiça costumeira, não me permitiu escrever sobre todos. De qualquer forma, todos os episódios estão disponíveis no site da TV Brasil e ainda estão muito bem resumidos. Eles podem ser visto no link logo abaixo:
UMBANDA
Uma religião
nascida no início do século XX, na cidade do Rio do Janeiro. Ela inseriu em
seus cultos e rituais, vários elementos de outras religiões. Uma verdadeira
miscelânea de práticas vindas do candomblé, catolicismo, espiritismo kardecista
e pajelança.
Interessante
que um dos umbandistas entrevistado ressalta que antes da Umbanda ser fundada,
já havia relatos de pessoas que tinham incorporado os espíritos dos
pretos-velhos, caboclos, exus...
Já apresentei
seminário na Faculdade de História sobre as diferenças entre Umbanda e
Candomblé, mas minha memória sempre falha em diferenciar algumas distinções
básicas entre essas duas religiões. Se eu não estiver equivocado, é só na
Umbanda que os pretos-velhos e caboclos se incorporam, para dar os seus
“preciosos” conselhos. No Candomblé não.
E sempre
quando vejo a ritualística da umbanda, me pergunto até onde são reais essas
manifestações do outro mundo. Minha
atual concepção é que não são reais. São transes “verdadeiros”, no sentido de
que a pessoa realmente entra em um estado alterado de consciência, mas que tal
estado não tem relação com o sobrenatural. Não são nem orixás, pretos-velhos,
caboclos, e muito menos os demônios da ótica cristã-protestante, apesar de
pessoalmente eu não achar nada agradável o comportamento e trejeito desses
“espíritos”. São cachaceiros, gostam de um charuto, são amorais e imorais,
falam um monte de abobrinhas, e ainda querem nos fazer acreditar que são
espíritos evoluídos? É subestimar o pouco da inteligência que temos.
IGREJA ADVENTISTA
DO SÉTIMO DIA
O
adventismo é conhecido por sua “guarda” do sétimo dia da semana (sábado). Essa
igreja surgiu nos Estados Unidos, no século XIX, depois de uma grande decepção
de cristãos protestantes bem tolinhos, diga-se de passagem, que acreditavam que
Jesus voltaria numa data descoberta por eles, mediante seus “profundos” estudos
bíblicos. Bom, Jesus não voltou, e muitos ficaram bem tristinhos e cabisbaixos.
Outros se juntaram, reavaliaram suas interpretações, passando a crer agora em
outras tolices. Assim surge o adventismo.
Os
entrevistados enfatizam que o adventismo se caracteriza por duas doutrinas
peculiares: a guarda do sábado, como eu já tinha mencionado, e uma forte crença
na segunda vinda de Cristo, que agora mais espertos e mais humildes, não ousam
marcar data alguma para a “volta” dele.
Outro
ponto dito por eles, é que zelam muito pela saúde física do corpo. Dizem, que o
corpo do cristão sendo templo do Espírito Santo, deve ser bem cuidado, mediante
o não uso de drogas e álcool, mas através de uma dieta de alimentos saudáveis.
O pastor adventista dá a entender que aqueles que se abstém de carnes vermelhas
são espiritualmente mais maduros.
A
igreja adventista é um ramo separado do protestantismo histórico, por não
ensinar as doutrinas históricas do inferno e da imortalidade da alma, assim
como as igrejas evangélicas e o catolicismo ensinam. Mas concorda com elas
sobre as doutrinas da Trindade, ressurreição física de Cristo e outros
ensinamentos fundamentais do Cristianismo.
IGREJA DE JESUS
CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS
Igreja fundada
por Joseph Smith, nos Estados Unidos, no século XIX. Afirma-se que ele estava
confuso em que igreja seguir, diante de tantas denominações cristãs. Mas Deus
teve piedade dele, e pediu para que esperasse, pois a solução viria em breve. E
adivinhe: ele não iria se filiar a nenhuma igreja, mas fundar a verdadeira
religião cristã. Todas estavam erradas, e cabia a ele restaurar o Cristianismo.
Um dos
missionários mórmons diz que assim como o oriente produziu o testamento de
Jesus Cristo, assim também, o ocidente produziu o seu próprio testamento, que
não contradiz o primeiro. O Livro de Mórmon seria essa escritura sagrada, que
foi revelada por seres angelicais a Smith.
A igreja
mórmon tem a tradição de enviar seus jovens de 18, 19 anos para o campo
missionário por dois anos, aonde nesse período eles farão o trabalho de
evangelizar (eu diria alienar) mais pessoas.
Voltando ao
Livro de Mórmon, este já foi PROVADO como falso do ponto de vista histórico. Nenhum
achado arqueológico o confirma. A igreja mórmon não tem nenhum Historiador de
renome, que possa dizer que existe algum indício que mostre a viabilidade
histórica das páginas desse livro. A história dos povos pré-colombianos, apesar
de suas lacunas, não tem nenhuma relação com o que o livro de mórmon narra.
Pena que os mórmons, coitados, acreditarão, mesmo que todas as direções
escancarem as contradições de seu livro sagrado.
http://tvbrasil.ebc.com.br/retratosdefe/episodio/mormons-tradicao-e-costumes-no-brasil-contemporaneo
IGREJA ANGLICANA
A Igreja
Anglicana é a mais católica das igrejas protestantes. Para quem estar
acostumado a frequentar certas comunidades evangélicas, com certeza tomará um
susto ao assistir um culto anglicano. Em muitos aspectos se parece muito com a
missa católica. É uma síntese de protestantismo e catolicismo.
O anglicanismo
surge no século XVI (a pastora do vídeo erra ao dizer que foi no século XV),
dentro do contexto das revoluções teológicas empreendidas por Lutero, quando o rei Henrique VIII rompe com o papa e
desvincula a igreja da Inglaterra da tutela do bispo de Roma.
É uma igreja
inclusiva e ecumênica. Tem uma teologia flexível e que se adapta facilmente a
muitas questões contemporâneas. O programa foca em dois pontos: ordenação de
mulheres ao sacerdócio e aceitação de homossexuais assumidos.
Quanto ao
primeiro ponto, é dito que não existe na Bíblia nenhuma proibição quanto às
mulheres se tornarem pastoras. Desde o século XIX o anglicanismo vinha
discutindo essa questão. Quanto ao segundo ponto, é impossível conciliar a
posição do anglicanismo com os ensinos bíblicos concernentes a
homossexualidade. Não estou condenado à mesma. Mas o texto bíblico sempre a
condena. Talvez seja a Bíblia que esteja errada em condená-la, porém, com
certeza o anglicanismo está errado em fazer uma péssima interpretação da Bíblia
e chegar à conclusão de que ela não vê a prática homossexual como pecaminosa.
Proceder assim, é não ver o ÓBVIO.
ASSEMBLEIA DE DEUS
Assembleia de
Deus, a maior igreja evangélica pentecostal do Brasil. Conhecida pelo seu
legalismo no modo de se vestir e falar em línguas estranhas, ou língua dos
anjos. Ela nasce em solo brasileiro há pouco mais de 100 anos, com os
missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg. Estes inicialmente freqüentam uma
igreja batista, mas devido a divergências, fundam a Igreja da Missão da Fé
Apostólica, que posteriormente se filia a igreja dos Estados Unidos, passando
ao seu atual nome.
Como já dito,
é uma denominação cristã conhecida por um rígido controle sobre as vestimentas
de seus fieis. Embora tenha mudado bastante nas últimas décadas, muitas igrejas
locais ainda procuram viver sob esse fardo ridículo. Mas qual a justificativa?
Um dos pastores no vídeo, admite que não existe uma proibição explícita na
Bíblia sobre a mulher usar cabelos curtos ou usar calças, porém, os filhos de
Deus devem ser diferentes e se pautar pelos bons costumes e princípios. No
entanto, porque a mulher ter cabelos grandes e usar saias longas é um sinônimo
de bons costumes?
Quanto ao
falar em línguas é fato que as reuniões na Assembleia de Deus são conhecidas
por terem manifestações de línguas desconhecidas. Para eles, isso é uma
poderosa prova de que o Espírito Santo está atuando e aprovando seu modo de
vida. Isso é totalmente contestável. Várias igrejas protestantes e a quase
totalidade dos estudos linguísticos rejeitam a veracidade dessas línguas.
ATEUS, AGNÓSTICOS E SEM RELIGIÃO
Esse é um
episódio atípico. Não tratará de uma religião ou igreja específica.
Entrevistará três pessoas que não possuem religião. Um publicitário ateu, uma
lavradora sem religião e um Professor universitário agnóstico.
O ateu parecia
um pastor da igreja universal às avessas. Os trejeitos e a imposição da voz
estão iguais aos cacuetes do macedinho e seu bando. Um ateu bobo. Imbuído de uma
retórica pobre e ingênua. Aquele tipo de materialista que ainda acredita que o
ateísmo é pura razão e a religião é pura superstição. Sua vontade de não crer é
tão intensa quanto à vontade daqueles que creem.
A matutinha da lavoura insiste em sua crença
em Deus, mas não tem vontade alguma de frequentar qualquer templo religioso.
Em suas falas é patente o quanto a sua fé na divindade é forte e sincera. Em alguns
momentos pensei que ela iria chorar de emoção. Ela reitera várias vezes que o seu
coração lhe diz o que é certo e errado, que Deus a guia e que pensa nele em
todos os momentos.
O agnóstico e
Professor afirma que não possuímos conhecimento suficiente que indique com
segurança se Deus existe ou não. Particularmente, ele sente muita dificuldade
no conceito de um Deus que escuta preces e as atende - algo tão primordial nas
igrejas cristãs. Talvez possamos um dia chegar a um conhecimento seguro sobre
essa polêmica questão, mas por ora, suspendamos o julgamento, diz ele.
IGREJA MENONITA
O pastor
começa dizendo que a Igreja Menonita baseia-se exclusivamente na Bíblia. Mais
uma comunidade de fé que repete esse clichê. Todas dizem isso; todas afirmam
ter uma ética puramente bíblica. Mas muitas vezes, isso não passa de um discurso vazio de todas elas.
Impossível seguir tudo. O que pode haver é uma tentativa sincera por parte de
alguns em tentar seguir, ou fingir que seguem. Nada além disso.
Os menonitas
surgem na Reforma Protestante do século XVI. Meno Simons foi o seu líder, daí o
nome da igreja. Discordavam de Lutero, Calvino, outros reformadores e da igreja
católica, quanto ao batismo de crianças. Enquanto que Lutero e Cia, não
entraram em conflito com o papa, nesse assunto, os grupos anabatistas, dos
quais os menonitas faziam parte, bateram de frente nesse tema. Entre os
seguidores de Meno Simons, o batismo deve ser feito voluntariamente, em uma
idade em que o batizando tenha capacidade de discernir a real importância desse
sacramento, algo que não é possível no batismo de recém-nascidos. Nesse
sentido, as igrejas pentecostais seguem o mesmo caminho dos menonitas.
Outro ponto
frisado no vídeo e esclarecido pela igreja, é que eles geralmente são
comparados aos amish, aquele grupo religioso legalista dos Estados Unidos, que
rejeitam toda a tecnologia e modo de vida do mundo moderno. Os menonitas
esclarecem que apesar de viverem em comunidades, não rechaçam o que mundo
contemporâneo pode oferecer em termos tecnológicos.