sexta-feira, 17 de junho de 2016

Retratos de Fé


Estamos no século XXI, e muitos pensavam que a religião iria sucumbir, diante do avanço da Ciência em todas as áreas. Obviamente isso não aconteceu. A fé e a filiação religiosa são tão fortes (no Brasil), que parece até piada que alguém tenha pensado que as comunidades religiosas deixariam de ter a sua relevância na sociedade. Vemos em nosso território uma miríade de religiões e igrejas de todos os tipos e de todos os gostos possíveis. Às vezes, ficamos sem saber qual delas carrega a pecha de religião mais sóbria ou mais maluca e alienante.

A série de documentários Retratos de Fé vem trazer em cada episódio a história e crença das várias religiões e crenças no Brasil. São vídeos de quase 30 minutos, que fazem uma síntese bem simples e objetiva do que determinada religião crê, ensina e diz vivenciar. Não são feitos questionamentos capciosos e, nem os podres e contradições internas são expostos. Até porque nenhuma igreja/religião ficaria imune. O propósito da série é mostrar dada religião pelos olhos dos seus próprios adeptos, sem julgamentos de valores se estão certas ou erradas.

Olhando principalmente para as igrejas cristãs, todas dizem seguir a Bíblia. Para um observador de fora, não tem como essas afirmações de suposta fidelidade ao texto “sagrado” não serem hilárias, pelo óbvio motivo dessas igrejas crerem em coisas muitas vezes diferentes umas das outras. Todas dizem fazerem uma hermenêutica legítima e fiel do texto sagrado, da história, da tradição e etc. Entretanto, suas visões do que deus supostamente espera de nós, seres humanos, são bem contraditórias e até inimigas mortais. O que os seus líderes diriam, diante disso? Ah, que as outras igrejas e suas pobres ovelhas não tiveram a iluminação e seriedade suficientes para entenderem a Deus corretamente, como eles entenderam. Chega a ser um verdadeiro circo, tal situação. Não sendo injusto, muitas dessas igrejas comungam de um núcleo comum de crenças, que as tornam num certo sentido igrejas irmãs, apesar de suas diferenças doutrinárias e práticas distintas no dia a dia.

Nas religiões do Candomblé, Batuque, Jurema e Umbanda (só resumi a Umbanda), também muitos (acho que a maioria mesmo) de seus adeptos e líderes espirituais não se veem como inimigos que devem ser combatidos. Elas possuem em seu bojo crenças similares e que até se complementam.

Muitas religiões mesmo com suas visões de mundo particulares, não saem combatendo e demonizando as outras.

Chega de enrolar, e vamos ao resumo do que Retratos de Fé traz sobre as associações religiosas no Brasil. OBS: queria não ser irônico, mas não teve jeito. Outra obs: o programa tem muito mais episódios do que esses abaixo. Mas a minha preguiça costumeira, não me permitiu escrever sobre todos. De qualquer forma, todos os episódios estão disponíveis no site da TV Brasil e ainda estão muito bem resumidos. Eles podem ser visto no link logo abaixo:


UMBANDA

Uma religião nascida no início do século XX, na cidade do Rio do Janeiro. Ela inseriu em seus cultos e rituais, vários elementos de outras religiões. Uma verdadeira miscelânea de práticas vindas do candomblé, catolicismo, espiritismo kardecista e pajelança.

Interessante que um dos umbandistas entrevistado ressalta que antes da Umbanda ser fundada, já havia relatos de pessoas que tinham incorporado os espíritos dos pretos-velhos, caboclos, exus...
 
Já apresentei seminário na Faculdade de História sobre as diferenças entre Umbanda e Candomblé, mas minha memória sempre falha em diferenciar algumas distinções básicas entre essas duas religiões. Se eu não estiver equivocado, é só na Umbanda que os pretos-velhos e caboclos se incorporam, para dar os seus “preciosos” conselhos. No Candomblé não.

E sempre quando vejo a ritualística da umbanda, me pergunto até onde são reais essas manifestações do outro mundo.  Minha atual concepção é que não são reais. São transes “verdadeiros”, no sentido de que a pessoa realmente entra em um estado alterado de consciência, mas que tal estado não tem relação com o sobrenatural. Não são nem orixás, pretos-velhos, caboclos, e muito menos os demônios da ótica cristã-protestante, apesar de pessoalmente eu não achar nada agradável o comportamento e trejeito desses “espíritos”. São cachaceiros, gostam de um charuto, são amorais e imorais, falam um monte de abobrinhas, e ainda querem nos fazer acreditar que são espíritos evoluídos? É subestimar o pouco da inteligência que temos.



IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

O adventismo é conhecido por sua “guarda” do sétimo dia da semana (sábado). Essa igreja surgiu nos Estados Unidos, no século XIX, depois de uma grande decepção de cristãos protestantes bem tolinhos, diga-se de passagem, que acreditavam que Jesus voltaria numa data descoberta por eles, mediante seus “profundos” estudos bíblicos. Bom, Jesus não voltou, e muitos ficaram bem tristinhos e cabisbaixos. Outros se juntaram, reavaliaram suas interpretações, passando a crer agora em outras tolices. Assim surge o adventismo.

Os entrevistados enfatizam que o adventismo se caracteriza por duas doutrinas peculiares: a guarda do sábado, como eu já tinha mencionado, e uma forte crença na segunda vinda de Cristo, que agora mais espertos e mais humildes, não ousam marcar data alguma para a “volta” dele. 

Outro ponto dito por eles, é que zelam muito pela saúde física do corpo. Dizem, que o corpo do cristão sendo templo do Espírito Santo, deve ser bem cuidado, mediante o não uso de drogas e álcool, mas através de uma dieta de alimentos saudáveis. O pastor adventista dá a entender que aqueles que se abstém de carnes vermelhas são espiritualmente mais maduros.

A igreja adventista é um ramo separado do protestantismo histórico, por não ensinar as doutrinas históricas do inferno e da imortalidade da alma, assim como as igrejas evangélicas e o catolicismo ensinam. Mas concorda com elas sobre as doutrinas da Trindade, ressurreição física de Cristo e outros ensinamentos fundamentais do Cristianismo.           



IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS

Igreja fundada por Joseph Smith, nos Estados Unidos, no século XIX. Afirma-se que ele estava confuso em que igreja seguir, diante de tantas denominações cristãs. Mas Deus teve piedade dele, e pediu para que esperasse, pois a solução viria em breve. E adivinhe: ele não iria se filiar a nenhuma igreja, mas fundar a verdadeira religião cristã. Todas estavam erradas, e cabia a ele restaurar o Cristianismo.

Um dos missionários mórmons diz que assim como o oriente produziu o testamento de Jesus Cristo, assim também, o ocidente produziu o seu próprio testamento, que não contradiz o primeiro. O Livro de Mórmon seria essa escritura sagrada, que foi revelada por seres angelicais a Smith.

A igreja mórmon tem a tradição de enviar seus jovens de 18, 19 anos para o campo missionário por dois anos, aonde nesse período eles farão o trabalho de evangelizar (eu diria alienar) mais pessoas.

Voltando ao Livro de Mórmon, este já foi PROVADO como falso do ponto de vista histórico. Nenhum achado arqueológico o confirma. A igreja mórmon não tem nenhum Historiador de renome, que possa dizer que existe algum indício que mostre a viabilidade histórica das páginas desse livro. A história dos povos pré-colombianos, apesar de suas lacunas, não tem nenhuma relação com o que o livro de mórmon narra. Pena que os mórmons, coitados, acreditarão, mesmo que todas as direções escancarem as contradições de seu livro sagrado.


IGREJA ANGLICANA

A Igreja Anglicana é a mais católica das igrejas protestantes. Para quem estar acostumado a frequentar certas comunidades evangélicas, com certeza tomará um susto ao assistir um culto anglicano. Em muitos aspectos se parece muito com a missa católica. É uma síntese de protestantismo e catolicismo.

O anglicanismo surge no século XVI (a pastora do vídeo erra ao dizer que foi no século XV), dentro do contexto das revoluções teológicas empreendidas por Lutero,  quando o rei Henrique VIII rompe com o papa e desvincula a igreja da Inglaterra da tutela do bispo de Roma.

É uma igreja inclusiva e ecumênica. Tem uma teologia flexível e que se adapta facilmente a muitas questões contemporâneas. O programa foca em dois pontos: ordenação de mulheres ao sacerdócio e aceitação de homossexuais assumidos.

Quanto ao primeiro ponto, é dito que não existe na Bíblia nenhuma proibição quanto às mulheres se tornarem pastoras. Desde o século XIX o anglicanismo vinha discutindo essa questão. Quanto ao segundo ponto, é impossível conciliar a posição do anglicanismo com os ensinos bíblicos concernentes a homossexualidade. Não estou condenado à mesma. Mas o texto bíblico sempre a condena. Talvez seja a Bíblia que esteja errada em condená-la, porém, com certeza o anglicanismo está errado em fazer uma péssima interpretação da Bíblia e chegar à conclusão de que ela não vê a prática homossexual como pecaminosa. Proceder assim, é não ver o ÓBVIO.


ASSEMBLEIA DE DEUS

Assembleia de Deus, a maior igreja evangélica pentecostal do Brasil. Conhecida pelo seu legalismo no modo de se vestir e falar em línguas estranhas, ou língua dos anjos. Ela nasce em solo brasileiro há pouco mais de 100 anos, com os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg. Estes inicialmente freqüentam uma igreja batista, mas devido a divergências, fundam a Igreja da Missão da Fé Apostólica, que posteriormente se filia a igreja dos Estados Unidos, passando ao seu atual nome.

Como já dito, é uma denominação cristã conhecida por um rígido controle sobre as vestimentas de seus fieis. Embora tenha mudado bastante nas últimas décadas, muitas igrejas locais ainda procuram viver sob esse fardo ridículo. Mas qual a justificativa? Um dos pastores no vídeo, admite que não existe uma proibição explícita na Bíblia sobre a mulher usar cabelos curtos ou usar calças, porém, os filhos de Deus devem ser diferentes e se pautar pelos bons costumes e princípios. No entanto, porque a mulher ter cabelos grandes e usar saias longas é um sinônimo de bons costumes?

Quanto ao falar em línguas é fato que as reuniões na Assembleia de Deus são conhecidas por terem manifestações de línguas desconhecidas. Para eles, isso é uma poderosa prova de que o Espírito Santo está atuando e aprovando seu modo de vida. Isso é totalmente contestável. Várias igrejas protestantes e a quase totalidade dos estudos linguísticos rejeitam a veracidade dessas línguas.


ATEUS, AGNÓSTICOS E SEM RELIGIÃO

Esse é um episódio atípico. Não tratará de uma religião ou igreja específica. Entrevistará três pessoas que não possuem religião. Um publicitário ateu, uma lavradora sem religião e um Professor universitário agnóstico.

O ateu parecia um pastor da igreja universal às avessas. Os trejeitos e a imposição da voz estão iguais aos cacuetes do macedinho e seu bando. Um ateu bobo. Imbuído de uma retórica pobre e ingênua. Aquele tipo de materialista que ainda acredita que o ateísmo é pura razão e a religião é pura superstição. Sua vontade de não crer é tão intensa quanto à vontade daqueles que creem.

A matutinha da lavoura insiste em sua crença em Deus, mas não tem vontade alguma de frequentar qualquer templo religioso. Em suas falas é patente o quanto a sua fé na divindade é forte e sincera. Em alguns momentos pensei que ela iria chorar de emoção. Ela reitera várias vezes que o seu coração lhe diz o que é certo e errado, que Deus a guia e que pensa nele em todos os momentos.

O agnóstico e Professor afirma que não possuímos conhecimento suficiente que indique com segurança se Deus existe ou não. Particularmente, ele sente muita dificuldade no conceito de um Deus que escuta preces e as atende - algo tão primordial nas igrejas cristãs. Talvez possamos um dia chegar a um conhecimento seguro sobre essa polêmica questão, mas por ora, suspendamos o julgamento, diz ele.


IGREJA MENONITA

O pastor começa dizendo que a Igreja Menonita baseia-se exclusivamente na Bíblia. Mais uma comunidade de fé que repete esse clichê. Todas dizem isso; todas afirmam ter uma ética puramente bíblica. Mas muitas vezes, isso não passa de um discurso vazio de todas elas. Impossível seguir tudo. O que pode haver é uma tentativa sincera por parte de alguns em tentar seguir, ou fingir que seguem. Nada além disso.

Os menonitas surgem na Reforma Protestante do século XVI. Meno Simons foi o seu líder, daí o nome da igreja. Discordavam de Lutero, Calvino, outros reformadores e da igreja católica, quanto ao batismo de crianças. Enquanto que Lutero e Cia, não entraram em conflito com o papa, nesse assunto, os grupos anabatistas, dos quais os menonitas faziam parte, bateram de frente nesse tema. Entre os seguidores de Meno Simons, o batismo deve ser feito voluntariamente, em uma idade em que o batizando tenha capacidade de discernir a real importância desse sacramento, algo que não é possível no batismo de recém-nascidos. Nesse sentido, as igrejas pentecostais seguem o mesmo caminho dos menonitas.

Outro ponto frisado no vídeo e esclarecido pela igreja, é que eles geralmente são comparados aos amish, aquele grupo religioso legalista dos Estados Unidos, que rejeitam toda a tecnologia e modo de vida do mundo moderno. Os menonitas esclarecem que apesar de viverem em comunidades, não rechaçam o que mundo contemporâneo pode oferecer em termos tecnológicos.