segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O Sexo no Mundo Antigo: Prostituição em Pompéia


Pompéia, a cidade que foi engolida pelas cinzas causticantes do Vesúvio, era uma das cidades mais erotizadas de seu tempo. A putaria grassava em suas ruas, esquinas, tabernas... Uma cidade imersa na prostituição. Pinturas, esculturas e cerâmicas pornográficas eram algo comum nessa cidade. Era um mundo que fervilhava em sexo.

Quando foram descobertos os segredos sexuais de Pompéia, o mundo moderno ficou horrorizado com os bacanais, orgias, safadezas, prostituição e todo (ou quase todo) tipo de prática sexual, vivenciados pelos seus habitantes. Era uma cidade que abrigava seis mil pessoas, mas que tinha um número muito alto de lugares destinados a vender prazer. Arqueólogos identificaram quarenta e um bordéis, fora os bares, teatros, anfiteatros e tabernas. Onde pensarmos, tinha um lugarzinho para afogar as mágoas.

“Desde suas taças, até os postes nas ruas, Pompéia nadava em sexo.”

Mulheres da vida tinham a torto e a direito. Para todos os gostos e bolsos. Nem o liso com o seu pobre dinheirinho, se furtava a dá uma sapecada rapidinha a um preço camarada, em pequenos quartos ou becos da cidade. Para os cafetões da época, era um comércio altamente lucrativo. Pessoas dos altos escalões da sociedade tinham suas rameiras, para lhes proporcionar grandes lucros.

As garotas eram as lascadas dessa história, visto que eram em sua maioria, escravas, sem direito algum. Se a mulher romana praticamente não desfrutava de direito algum, naquela sociedade patriarcal e machista, imagine uma prisioneira de guerra. O seu destino era servir de objeto sexual a homens insaciáveis, que estavam pouco se lixando para elas. Até mulheres cristãs eram forçadas a se prostituírem, como forma de humilhação e punição a sua condição religiosa.

“[...] a maioria das prostitutas em bordéis são escravas roubadas de terras conquistadas da Europa, do norte da África e da Ásia. Elas são forçadas a fazer tudo que seus donos ordenam.”

Para entender o porquê da prostituição ser tão disseminada em Pompéia, o vídeo retrocede algumas décadas até o imperador Otávio Augustus, que quis moralizar a sociedade romana. Para isso, ele tornava o adultério um grave delito. Mas daí surgiu um grande problema, os nobres precisavam saciar suas vontades/desejos, Augustus relutantemente tornava assim, a prostituição legalizada, com o intuito de que os nobres não transassem com as mulheres de outros nobres, gerando transtornos incalculáveis. Tudo para preservar a “boa” moral da aristocracia.

“Ironicamente, as leis morais de Augustus fizeram o mercado da prostituição crescer. O sexo pago e o sexo com escravas domésticas, se tornaram alternativas simples e legais ao adultério.”

O império romano estava envolvido até o pescoço com o comércio sexual. Calígula, no ano 40, criou um imposto sobre a prostituição, arrecadando muito dinheiro para os cofres do império e para seu bolso. Ele mesmo tinha os seus aposentos para as orgias e bebedeiras. Basta lembrarmos do premiado e polêmico filme Calígula, da década de 1970. Nesse filme, a putaria é bem explícita e reflete o que eram os bacanais romanos e aventuras sexuais desse psicopata.  

Nero, outro maluco, sucede a Calígula. Foi outro que organizava bacanais, com muita bebida, danças e sexo.  

Como dizem, a prostituição é a profissão mais antiga do mundo, e acrecento: uma das mais tristes. No brasil, temos as nossas “Pompéias”. Um exemplo é a cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, que sem dúvidas é uma das cidades brasileiras mais voltadas para esse ramo. Em 2005, nessa cidade, com 600 mil habitantes, foram contabilizadas cerca de 400 casas de prostituição. Fora as garotas de programa de rua. [1]

REFERÊNCIAS

[1] - https://www.youtube.com/watch?v=g1Dt5Z_JYpY

Jesus antes do Cristianismo


NOLAN, Albert. Jesus antes do cristianismo. 9º Impressão. São Paulo: Paulus, 2014.

Esse é o livro mais conhecido do Albert Nolan, um respeitado Teólogo católico sul-africano, que escreveu essa obra na década de 1970, num contexto extremamente sombrio em termos políticos, sociais e econômicos, não apenas na África do Sul, mas em todo planeta, de acordo com o autor.

“[...] Hoje nos encontramos frente a novas ameaças que, dizem, nos destruirão de modo muito mais garantido e inevitável do que uma guerra nuclear: a explosão populacional, a diminuição dos recursos naturais e dos suprimentos de alimentação, a poluição do meio ambiente e a escalada de violência. Qualquer um desses problemas seria por si só ameaça suficiente a nosso futuro. Tomados em conjunto significam catástrofe.” P. 18.

Ele escreveu isso há quase 40 anos. Ainda estamos aqui. Mesmo que seja difícil, espero que tenhamos muitos e muitos anos pela frente. Nada de catástrofe.

“[...] Jesus de Nazaré enfrentou basicamente o mesmo problema – ainda que tenha sido em escala muito menor. Ele viveu em época que parecia que o mundo estava prestes a chegar ao fim.” P. 22.

Dentro desse contexto, o que o homem da poeirenta e pobre Israel do século I, tem a nos dizer? O Jesus antes do cristianismo (antes das formulações teológicas) pode nos dá algum direcionamento? Assim como podemos estar à beira da catástrofe, Jesus também esteve.
Na introdução nos é dito:

“A fé em Jesus não é nosso ponto de partida, mas será, espero, nossa conclusão.” P. 11.

Não obstante, Nolan não cumpre o que diz. Sua análise em todos os capítulos está recheada de fé.

“Sua única motivação para curar as pessoas era a compaixão.” P. 59.

“O gesto de amizade de Jesus tornava bastante evidente...” P. 64.

“Não pode haver dúvida de que Jesus era pessoa notavelmente alegre e que sua alegria, assim como sua fé e esperança, era contagiante. [...] Jesus não só os curava e perdoava, como também lhes dissipava os temores e aliviava as preocupações. Sua simples presença os libertara.” P. 67.

E também de análises teológicas fincadas em estudos acadêmicos.

“É, portanto, bem provável que as histórias de milagres que chegaram até nós através dos evangelhos tenham recebido ENFEITES e EXAGEROS – e que, também, incluam relatos de acontecimentos que não eram originalmente nem milagres, nem maravilhas extraordinárias (por ex., a caminhada sobre as águas, a multiplicação dos pães, a maldição da figueira e a transformação da água em vinho). O estudo crítico dos textos tende a confirmar isso.” (Ênfase acrescentada) P. 58.

“A mesma ideia é apresentada para os leitores do evangelho na história do paralítico (Mc 2, 1-12 par). Se um homem pode se levantar e andar, então isso mostra que os seus pecados devem ter sido perdoados. Ele provavelmente sofria de complexo de culpa, que provocou paralisia psicossomática. Assim que Jesus lhe garantiu que seus pecados estavam perdoados, que não estava em dívida com Deus, seu sentimento fatalista de culpa foi removido e ele pôde andar de novo.” P. 65

“[...] Mesmo que Jesus não tenha realmente lido e comentado esse texto na sinagoga [Lucas: 4. 16-30], a avaliação de Lucas sobre a importância dessas passagens para a compreensão da práxis de Jesus é certamente correta.” P. 71.

Abrindo um parêntese: como claramente se vê, Nolan questiona a veracidade das próprias fontes primárias sobre a vida de Jesus. É um homem de fé, mas que não se incomoda em dizer abertamente que os evangelhos contêm inconsistências históricas. E ainda reinterpreta algumas curas ou milagres registrados nos evangelhos. Ele faz isso durante todo o livro.

Os evangélicos conservadores, que acreditam na inerrância das escrituras (a Bíblia não possui erros de espécie alguma), acham que proceder assim é incorrer numa incoerência sem tamanho. Como podemos acreditar nos evangelhos como a palavra de Deus, se ele possui inconsistências de qualquer ordem (moral, histórica, geográfica, etc.)?

Esse é um tipo de preocupação exclusivo dos arraiais evangélicos norte-americanos, e consequentemente, aqui do Brasil, com as igrejas que “compram” a teologia daqueles. A igreja católica há muito tempo não tem problema em aceitar a inspiração do texto, mesmo que este contenha alguns errinhos aqui e ali.

Tema difícil, confesso. Mas me ponho ao lado daqueles que não veem o texto como algo perfeito e sem contradição e equívocos.

Voltando ao livro, Nolan contextualiza a sua análise sobre a vida e obra de Jesus, trazendo informações sobre os vários grupos judaicos da época, que seriam basicamente estes:

ZELOTES – “[...] um homem chamado Judas, o Galileu, que fundou um movimento de inspiração religiosa, de pessoas que lutavam pela liberdade [contra o império romano]. [...] Os judeus os chamavam de zelotas; os romanos de bandidos.” P. 26.

FARISEUS – “Seu nome significa ‘os separados’, isto é, os santos, a verdadeira comunidade de Israel. Sua moral era legalista e burguesa, uma questão de recompensa e castigo. [...] acreditavam [...] em [um] futuro Messias que Deus ia mandar para libertá-los dos romanos.” P. 28.

ESSÊNIOS – “Os essênios foram muito mais longe do que os fariseus em sua busca de perfeição. [...] rejeitavam todas as pessoas que não pertenciam à sua ‘seita’. [...] Estavam se preparando para a vinda do Messias [...] como filhos da luz, iriam destruir os filhos da trevas [os primeiros seriam os romanos].” P. 28.

SADUCEUS – “[...] eram os mais conservadores. Eles se agarravam às antigas tradições hebraicas e rejeitavam todas as novidades, tanto na crença como no ritual. [...] eles colaboravam com os romanos e faziam o possível para manter o status quo.” P. 29.

Em contrapartida Jesus dirigiu a sua atenção, prioritariamente para os pobres e oprimidos. Enquanto as lideranças judaicas desprezavam e rejeitavam esse enorme contingente de pessoas, Jesus os abraçou e lhes propôs uma mudança de mentalidade, que seria a única esperança para que Israel não fosse destruída pelos romanos, segundo nos explica Nolan.

Durante todo o seu livro, Nolan trabalha os vários momentos narrados pelos quatro evangelhos e tentar entender o que Jesus de fato queria para o povo de Israel. Valendo-se de seus conhecimentos teológicos e das recentes pesquisas acadêmicas sobre Jesus, ele interpreta os vários conteúdos referentes ao seu ministério. Uma cuidadosa abordagem é feita para não conduzir a pesquisa vinculada a crença dos evangelistas de que Jesus era o Messias.

Claro que esse tipo de leitura está fadada a todo tipo de crítica e questionamentos justificados. Mas por ora, não tenho paciência e muito menos capacidade para me ater a essa discursão.

Numa contextualização sociocultural da Israel do século I, temas como o Reino de Deus, o Reino e o dinheiro, política e religião, o incidente do templo, etc, vão sendo estudados e escrutinados.

Os comentários do Nolan fogem do usual; daquilo que estamos acostumados a ouvir sobre Jesus e sua vida. Para ele, Jesus esperava que o Reino de Deus fosse se concretizar em toda sua plenitude ainda naqueles anos.

“[...] Jesus, como uma espécie de profeta-mártir, esperava ressuscitar no último dia, e que o último dia viria logo.”. P. 169.

Como sabemos isso não aconteceu. Caso ele tenha mesmo crido que a consumação de todas as coisas (fim do mundo; estabelecimento do Reino) aconteceria em seus dias, podemos dizer sem rodeios que Jesus se equivocou/enganou.

Será que esse suposto equívoco, o descredencia como o Salvador do mundo? Para o Nolan, não. No último capítulo, ele fala da fé em Jesus, de uma maneira pulsante e muito viva, conclamando a todos a viver no seu dia a dia os valores do Deus encarnado. Para o autor, Jesus é a única esperança para um mundo tão caótico como o nosso.