KLEINMAN, Paul. Tudo o
que você precisa saber sobre filosofia. São Paulo: Editora Gente, 2014.
Este é o quinto ou
sexto livro de introdução a Filosofia que leio. Nunca apliquei meu tempo a me
aprofundar de fato em algum assunto de natureza filosófica, apenas arranho a
superfície de cada tema. Este aqui, julgo ser um bom livro para quem quer
começar a entender o que os Filósofos, verdadeiros mestres na arte de racionar,
estão discutindo, pensando, articulando, rearticulando ao longo dos últimos
2.500 anos, desde os antigos gregos pré-socráticos aos pensadores do século XX,
como Quine, Wittgenstein, Russel e tantos outros, que embaralharam o modo de
pensar do mundo contemporâneo. As temáticas de natureza filosófica nunca
morrem, até hoje, por exemplo, o Mundo das Formas de Platão, podem ser
discutidas, rebatidas, repensadas e ampliadas. O que ele propõe pode
corresponder a realidade. A Metafísica, tão contestada e, por vezes, dada como
morta, sempre ressurge, com novas forças. E a existência de Deus? Argumentos
novos têm sido criados, ideias novas têm sido incorporadas aos velhos argumentos
tradicionais, lhes dando uma nova roupagem, dando lugar a novos debates
intelectuais vêm sendo travados nos últimos tempos. E assim, caminha o fazer
filosófico.
Abaixo, um pouco do que
o kleinman aborda em seu livro:
Existencialismo
"O Absurdo é uma das noções mais famosas
associadas ao existencialismo [tendência filosófica de alguns Filósofos do
século XIX e XX]. O argumento mais utilizado no existencialismo é o de que não
há razão para existir e a natureza não tem objetivo. Embora a ciência e a
metafísica possam ser capazes de oferecer uma compreensão do mundo natural, as
duas dão mais uma descrição do que uma verdadeira explicação, e não propõem
nenhuma visão de significado ou valor. De acordo com o existencialismo, como
humanos, devemos aceitar esse fato e perceber que a capacidade de entender o
mundo é uma conquista impossível. O mundo não tem significado além daquele que
damos a ele.
Além disso, se um indivíduo faz uma escolha, ela se
baseia em uma razão. No entanto, como ninguém é capaz de compreender o significado,
a razão é absurda assim como a decisão que se seguiu à escolha." P. 26.
Dualismo Mente e Corpo
"De acordo com o argumento da razão [um dos argumentos
a favor do dualismo mente e corpo], se nossos pensamentos são simplesmente o
resultado de causas físicas, então, não há motivo para acreditar que esses
pensamentos sejam baseados na razão e sejam racionais. A matéria física não é
racional e, ainda assim, nós, como humanos, temos razão. Dessa forma, a mente
não deve simplesmente derivar de uma fonte material." P. 82.
"Esse argumento [do dano cerebral] contra o
dualismo questiona como a teoria funciona quando, por exemplo, ocorre um dano
cerebral por traumatismo craniano, desordens patológicas ou abuso de drogas que
leve ao comprometimento da habilidade mental. Se o mental e o físico fossem
realmente separados um do outro, o mental não deveria ser afetado por esse tipo
de evento. De fato, os cientistas descobriram que provavelmente há uma relação
causal entre a mente e o cérebro e que, ao manipular ou prejudicar o cérebro, o
estado mental é afetado." P. 83.
O Paradoxo do Mentiroso
“Um dos mais famosos paradoxos que ainda são
amplamente debatidos até hoje foi proposto pelo antigo filósofo grego Eubulides
de Mileto, no século IV a.C., que propôs o seguinte:
‘Um homem afirma que está mentindo. O que ele diz é
verdadeiro ou falso?’
Não importa como a pessoa responda a essa pergunta,
haverá problemas porque o resultado é sempre uma contradição.
Se afirmarmos que o homem está falando a verdade,
isso quer dizer que ele está mentindo, o que, então, significaria que a frase
inicial dele é falsa.
Se dissermos que a afirmação inicial dele é falsa,
isso quer dizer que ele não está mentindo e, assim, o que ele afirmou é
verdadeiro.” P. 109.
Objetivo da Metafísica
"A metafísica se concentra na natureza e na
existência do ser e faz perguntas profundas e complexas em relação a Deus,
nossa existência, se existe um mundo fora de nossa mente e sobre o que é a
realidade". P. 124.
Ceticismo
"O ceticismo desempenhou um papel-chave
durante o Iluminismo em diversos avanços filosóficos, em virtude de a essência
do movimento ser o questionamento das verdades estabelecidas. Os filósofos
usaram o ceticismo como uma ferramenta para alavancar as novas ciências. [...]
Como a origem do Iluminismo está na crítica e na dúvida em relação às
doutrinas, o ceticismo influenciou as filosofias dos pensadores daquele
tempo." P. 142.
Friedrich Nietzsche
(1844-1900)
"Talvez Nietzsche seja mais famoso por sua
frase ‘Deus está morto’. Durante o final do século XIX, com a ascensão do
Estado alemão e os avanços da ciência, muitos filósofos alemães viam a vida
diária com muito otimismo. Nietzsche, por sua vez, enxergava o oposto. Para
ele, aqueles eram tempos problemáticos marcados fundamentalmente por uma crise
de valores.
Em seu livro, Assim falava Zaratustra, Nietzsche
conta a história de um homem que aos 30 anos experimenta viver fora da
sociedade. Ele gosta tanto dessa experiência, que decide viver assim pelos
próximos dez anos. Quando retorna à sociedade, ele declara que Deus está morto.
Em Assim falava Zaratustra, Nietzsche argumenta que os avanços da ciência
fizeram com que as pessoas desconsiderassem o conjunto de valores trazido pelo
cristianismo e que não havia mais na civilização essa poderosa compreensão para
determinar o que é bom ou mau.
Embora fosse verdadeiramente um crítico do
cristianismo, Nietzsche era um crítico ainda mais forte do ateísmo e temia que
esse fosse o próximo passo lógico. Ele não afirmava que a ciência apresenta um
novo conjunto de valores para as pessoas substituírem pelos do cristianismo. Ao
contrário, afirmava que o niilismo, o abandono de toda e qualquer crença, seria
o que substituiria o código moral do cristianismo.
Nietzsche acreditava que as pessoas sempre teriam a
necessidade de identificar uma fonte de valor e significado, e concluía que, se
a ciência não era essa fonte, então, ela surgiria assumindo outras formas, como
a de um nacionalismo agressivo. Ele não era favorável ao retorno às tradições
do cristianismo, mas queria descobrir como fugir dessa forma de niilismo pela
afirmação da vida." P. 150-151.
Relativismo
“Os sistemas ético e moral são diferentes para cada
cultura. De acordo com o relativismo cultural, todos esses sistemas são
igualmente válidos e nenhum é melhor do que outro. A base do relativismo
cultural é a noção de que, na verdade, não existem padrões para o bem e o mal.
Desse modo, o julgamento de que algo é certo ou errado tem por base as crenças
de uma sociedade, pois todas as opiniões éticas e morais são influenciadas pela
perspectiva cultural de um indivíduo.
No entanto, existe uma contradição inerente ao
relativismo cultural. Se alguém assume a ideia de que não há certo ou errado,
então, em primeiro lugar, não há como fazer julgamentos. Para lidar com essa
contradição, o relativismo cultural criou a ‘tolerância’. No entanto, com a
tolerância chega também a intolerância, e isso significa que a tolerância tem
de implicar também um tipo de bem definitivo. Dessa forma, a tolerância vai
contra a noção essencial do relativismo cultural e os limites da lógica tornam
o relativismo cultural impossível.” P. 172.
“Em geral, os argumentos relativistas começam com
afirmações plausíveis que, por fim, resultam em conclusões implausíveis. No
final das contas, esses argumentos soam melhor quando colocados de maneira abstrata
(parecem se tornar falhos e triviais quando aplicados a situações reais). É por
essa razão que poucos filósofos defendem o relativismo”. P. 202.
Filosofia Oriental
"Em sentido bastante geral, porém, se os
objetivos da filosofia ocidental podem ser definidos pela busca e a comprovação
da noção de 'verdade', então, os da filosofia oriental são a aceitação das
'verdades' e a busca pelo equilíbrio. Enquanto a filosofia ocidental enfatiza o
indivíduo e os direitos individuais, a filosofia oriental enfatiza a união, a
responsabilidade social e a inter-relação entre tudo (que, por sua vez, não
pode ser separada do todo cósmico). É por isso que, muitas vezes, as escolas da
filosofia oriental são indistinguíveis das diferentes religiões existentes no
mundo." P. 209.
Budismo
"Os princípios filosóficos do budismo
firmam-se nas Quatro Nobres Verdades (a verdade do sofrimento; a verdade da
causa do sofrimento; a verdade do fim do sofrimento e a verdade do caminho que
liberta do sofrimento). O budismo defende a ideia de que, para terminar com o sofrimento,
a pessoa deve seguir o Nobre Caminho Óctuplo. A filosofia do budismo aborda
ética, metafísica, epistemologia, fenomenologia e a noção de que Deus é
irrelevante." P. 211.
Baruch Espinosa
“Para Espinosa [1632-1677], 'Amai ao próximo' era a
única mensagem de Deus, e a religião se transformara em uma superstição em que
as palavras colocadas em uma página significavam mais do que elas
representavam. Afirmava que a Bíblia não era uma criação divina, mas que
deveríamos olhar para ela como qualquer outro texto histórico, pois, como fora
escrito ao longo de muitos séculos, ele acreditava que não era confiável. Os
milagres, segundo Espinosa, não existiam e tudo tinha uma explicação natural;
porém, as pessoas escolhem não procurar essas explicações. Além disso, dizia
que as profecias não vinham de Deus e que não eram um conhecimento
privilegiado.
Para demonstrar respeito a Deus, segundo ele, a
Bíblia deveria ser reexaminada para que se encontrasse nela a 'verdadeira
religião'. Ele rejeitava a ideia de 'povo eleito' do judaísmo, argumentava que
as pessoas estão todas no mesmo nível e propunha a existência de uma religião
nacional. Então, revelava sua agenda política, declarando que a forma ideal de
governo era a democracia, porque assim haveria menos abuso de poder.” P. 246.