Darcy Ribeiro foi Antropólogo, escritor e político.
Desenvolveu importantíssimos trabalhos nas áreas da Sociologia, Antropologia e
Educação. Foi uns dos fundadores da Universidade de Brasília e seu primeiro
reitor. Tem 36 obras publicadas, e entre elas está O Povo Brasileiro, lançada
em 1995, uma obra que conta a história dos povos que originaram a nossa nação e
dos povos que atualmente fazem parte dela. Nesta obra, o Darcy mostra toda a
sua dedicação e amor pelos índios e pelo nosso país. Este filme é baseado nessa
obra e conta com a participação mais que especial dos cantores e compositores
Chico Buarque e Gilberto Gil - também fazem parte, o Cientista, Filósofo e Professor
universitário Aziz Nacib Ab'Sáber, o conceituado Jornalista Washington
Luís Rodrigues Novaes, o Historiador Carlos Serrano, o Antropólogo francês
François Neyt e o ator Matheus Nachtergaele,
que na época em que o filme esse documentário foi produzido, nem era o ator consagrado
que é hoje. O filme é dividido em duas
partes, só a primeira tem pouco mais de três horas de duração e mostra a origem
de nosso país em três matrizes. A Matriz Tupi, Lusa e Afro. O filme mostra que
somos uma cultura sincrética. O Chico Buarque lê um trecho do livro, que diz:
“Surgimos da confluência do
entrechoque, do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e com
negros africanos”.
Aí está a nossa origem! E um pouco mais adiante o filme começa a falar da
Matriz Tupi.
MATRIZ TUPI
O Matheus Nachtergaele nos conta que
em 1500, o número de índios no Brasil podia totalizar entre 1 a 8 milhões,
distribuindo–se da Foz do Oiapoque ao sistema fluvial do Paraná, Paraguai e
Uruguai. Aziz Ab` Saber, nos diz que os índios Tupinambás eram o mais aguerridos
e os mais diversificados em sua cultura. Nas palavras de Darcy:
“[...] chegaram a conhecer a natureza
em detalhe, sabia o nome de cada bichinho, de cada planta e sabia pra quê
servia ou não servia”.
Eis os fatos que o filme nos apresenta sobre os índios:
Eles eram auto–suficientes, sabiam tudo que precisavam fazer. Sabiam fazer
a sua casa, sua roça, seus intrumentos, seu arco, sua flecha, sua canoa e etc.
Os Tupinambás foram os índios que tiveram mais contato com os europeus, se
dedicaram a caça e as festas
Viviam em malocas, cada maloca podia caber até 600 pessoas.
Havia liberdade sexual, exceto o adultério feminino, que podia acabar em
espancamento.
O divórcio era simples e fácil de se concretizar.
A homossexualidade era comum, não era segredo pra ninguém.
As divisão de tarefas entre homens e mulheres era bem acentuada.
Para os indígenas não havia uma delimitação clara entre trabalho e arte.
Cada coisa tinha que ser perfeita.
Os Tupinambás tinham um macabro, sinistro e complexo ritual de sacrifício
quando pegavam um prisioneiro de outra tribo.
O filme mostra impressionantes imagens dos índios em suas
aldeias, fazendo as mais inúmeras tarefas. Isso se deve ao fato de o Darcy ter
passado vários meses vivendo com eles. E nessa estadia com os índios, ele
conheceu a figura carismática, o Anancanpucum, um índio informante, que Darcy
considera o homem mais sábio que encontrou na vida. Pois ele lhe ditou toda a
sua genealogia de mil e cem nomes! Então Darcy faz a pergunta:
“Qual
é o nobre que é capaz de ditar espontaneamente mil e cem parentes?”
Tem toda razão. No final da Matriz Tupi é dito que herdamos vários hábitos dos indígenas, tais como: o banho
diário, centenas de frutas e ervas. Mas a maior herança que eles nos deixaram é
o testemunho de que um povo pode viver magnificamente integrado a natureza, respeitando–a.
Nas palavras de Washington Novais:
“O índio desde que nasce, ele
aprende a se relacionar com tudo de forma bonita, tudo tem rituais, o índio
festeja o plantio, o índio festeja a colheita, festeja o nascimento, e não
festeja mas ele cultua a morte. O índio se enfeita muito, o índio canta muito,
o índio dança muito, o índio brinca muito, o índio rir muito. Eu acho que é
muito difícil pra nossa nossa cultura suportar tanta beleza.”
Dizer que "nossa cultura não suporta tanta beleza", é balela. O brasileiro "comum" rir muito, festeja muito, brinca muito, a sua maneira. Essa idealização da cultura indígena em detrimento da cultura tecnológica e liberal, não passa de pura hipocrisia, visto que o Novais prefere viver na última.
MATRIZ LUSA
Nessa segunda Matriz, o filme nos mostra a precocidade de
Portugal e o surgimento com nação, a primeira do mundo. A Judith Cortesão que é
portuguesa nos diz que Portugal tem as fronteiras mais antigas da Europa. Uma
faixa estreita com apenas um milhão ou um milhão e meio de habitantes. Portugal
era um país de pescadores e de navegadores, haja vista o seu território
praticamente todo voltado para o mar. É por isso que o filme nos mostra através
do depoimento do Roberto Pinho que nos conta que a tecnologia naval de Portugal
foi desenvolvida de maneira diferente dos países europeus por uma questão de
sobrevivência. E a consequência disso foi a sua chegada ao Brasil.
O filme vai traçando a história de Portugal dessa
maneira:
Portugal sempre foi ponto de encontro de vários povos de
culturas diferentes e foi palco de várias invasões, que de certa forma
trouxeram vários costumes a cultura portuguesa. No século VIII a.c, os fenícios
invadiram a península trazendo a metalurgia do ferro e a primeira escrita,
juntamente com o conselho da cidade; logo após, vieram os gregos e os
cartagineses marcados pela navegação e o comércio. Em 218 chegam os romanos que
trazem consigo um latino impuro que dá origem a língua portuguesa e espanhola.
Após isso, apropriaram–se da península os bárbaros, visigodos e alanos; até a
invasão dos árabes que introduzem os algarismos arábicos.
Graças a estes fatores os portugueses conseguiram ter um
bom desenvolvimento em sua tecnologia naval, como em seu comércio de
especiarias que respectivamente chegaram na península com os gregos e
cartagineses, sem falar no uso do astrolábio e da bússola que foram invenção dos árabes e chineses.
Pode–se concluir que o povo português e consequentemente
o povo brasileiro, são uma miscigenação cultural de árabes, romanos, gregos e
outros povos que participaram deste processo de formação cultural portuguesa.
MATRIZ AFRO
Nessa matriz o filme nos conta que a espécie humana surgiu na África há
milênios. Isso é verdade. É quase unaminidade entre os estudiosos concordarem
com isso. A África é um continente que vem abrigando ao longo do tempo povos e
nações das mais variadas. O Darcy nos diz que o negro era massa substancial da
força de se fazer trabalho no Brasil. Afinal de contas, eles trabalharam
arduamente na construção desse país. O
Matheus Nachtergaele revela que os primeiros africanos que chegaram aqui vieram
da costa ocidental africana ao norte do Equador. E nos relata algumas características dos povos bantus:
Possuíam objetos de cerâmica
Praticavam a agricultura e criavam gado
Haviam domesticado várias plantas
Dominavam as técnicas de metalurgia
E antes dos europeus chegarem a África, se ordenavam em Estados
Conheciam o comércio, a moeda e a escravidão
Conferiam um valor sagrado ao ferro
O sagrado estava presente de maneira intensa em todas as áreas da vida
Acreditavam na existência de dois mundos, o visível e o invisível
E reverenciavam os seus antepassados
O filme passa agora a relatar as características do reino do Congo, a lista
é a seguinte:
Existia três ordens, a aristocracia, os homens livres e os escravos
O rei não era confundido com os comuns mortais
O rei cometia incesto com a irmã e assim tornava–se o sem–família. Podendo agora ter domínios sobre as todas
as pessoas do reino
E assim o filme vai nos revelando mais uma faceta da nossa origem. Fala da
chegada dos nagôs, iorubás e gegês. Esses povos trouxeram os voduns e orixás e
orikis. A mãe de santo Estela de Oxóssi faz uma observação importante sobre o
porque da cultura e religiosidade negra está tão enraizada no nosso cotidiano:
“Quando você
consegue uma coisa, você tem uma coisa e pra isso você se sacrificou, você
chorou, você passou horas com isso, você valoriza muito mais aquilo. Se você
sofreu por causa daquilo é evidente que você valoriza muito mais. Daí que a religião
africana chegou ao brasil através de muito sofrimento, de muitas perdas, e isso
fortaleceu o descendente de africano. Porque ele sabe ‘que se eu tenho meu
orixá, eu sofri por causa dele, eu apanhei por causa dele, por causa da minha
linguagem, por causa do meu nome, da minha forma de ser. Se as pessoas quiseram
cortar essa característisca minha, é porque ela é de muito valor e ameaçava’.
Você vê que foi plantado uma vida no negro pra um novo mundo e ele cultivou ao
moldo dele e conseguiu florescer muita coisa e está sendo preservada.”
Eis um exemplo de perseverança e fé.
E para concluir o Darcy diz:
“A cultura brasileira, tem por
sua base a negra, por sua base índia. Já incorporou essas bases. Tem um vigor
que vai permitir que ela floresça formidavelmente. E floresça não por
peculiaridade, mas por criatividade.”
E o Chico Buarque concorda:
“O negro vem a ser o componente
mais criativo na cultura brasileira.”
Haja vista sua culinária, suas festas, a Capoeira e etc...
O Povo Brasileiro é um documentário extenso, composto por dois DVDs. Resumi (por
preguiça) apenas as três primeiras partes do primeiro DVD, ainda temos nele: Encontros
e Desencontros, Brasil Crioulo, Brasil Sertanejo e Brasil Caipira. No segundo
DVD, temos Brasil Sulino, Brasil Caboclo e Invenção do Brasil.
Há críticas sérias que podem ser feitas as conclusões do Darcy e dos outros que participam, no entanto, é um documentário magnífico.
O documentário completo está no YouTube, dividido em 30 partes.