quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pelagianismo e Semipelagianismo


OLIVEIRA, Ivan de. Pelagianismo e Semipelagianismo. São Paulo: Reflexão, 2016.

A Reflexão é uma editora relativamente nova no mercado editorial religioso brasileiro, que vem investindo pesado na publicação de livros de Teologia Arminiana. Ela conseguiu angariar um público fiel de consumidores ávidos por uma Teologia diferente da teologia calvinista. Até então, eu pelo menos, só tinha conhecimento de um site na internet (Arminianismo.com), que estava realmente preocupado em divulgar as concepções doutrinárias de Jacó Armínio. Agora temos uma infinidade enorme de obras que estão desmistificando, desmentindo e corrigindo as distorções que se fizeram e se faz do pensamento de Armínio e de seus seguidores.

Logicamente que os calvinistas estão odiando as publicações quase mensais de livros arminianos. Editoras calvinistas já estão publicando obras “refutando” as “heresias” de Armínio. Eles se acham os guardiões das Doutrinas da Graça. Eu digo que são os guardiões das Doutrinas da DESgraça.

Fazendo jus a sua militância pró-Armínio, a Reflexão acaba de publicar mais um livro sobre a temática do pensamento deste Teólogo.

Pelagianismo (Pelágio), Semipelagianismo (João Cassiano) e Agostianismo (Agostinho) - três hermenêuticas que perpassam a história do Cristianismo. Nesse livro, Ivan de Oliveira (Pós-Doutorando, Ph.D e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie) faz as devidas distinções entre esses três conceitos que surgiram nos primeiros séculos da igreja cristã, contrastando com o pensamento do Teólogo Jacó Armínio, no século XVI-XVII.

Pelágio ensinava que o homem pode adquirir a sua salvação sem “nenhuma” ajudinha vinda do alto.

Uma informação importante é que só sabemos algo de Pelágio através dos escritos condenatórios de seus inimigos. Tenho lá minhas dúvidas se o doido de Hipona (Agostinho) retratou fielmente as idéias pelagianas.

“Não é tarefa simples apresentar uma biografia de Pelágio. Quase todas as informações que temos a seu respeito derivam de seus opositores, sobretudo de Agostinho de Hipona, Jerônimo e Paulo Osório.” P. 11.

Agostinho a partir de 417 de nossa era, dizia que o homem é totalmente passivo quanto a sua salvação. Deus é quem tudo realiza.  

João Cassiano dizia que o homem alcança a sua salvação com a ajudinha de Papai do Céu, porém, o primeiro passo é o homem quem dá.

Bom, esses três noiados citados são dos séculos IV e V. Jacó Armínio vem centenas de anos depois (1560-1609). Discordando das ideias de Calvino, Beza e tantos outros reformados igualmente retardados, Armínio não coadunou com a interpretação agostiniana-calvinista de que o homem é completamente passivo em seu processo de redenção. Isso lhe rendeu e rende a acusação injusta de que suas idéias refletem as velhas “heresias” de Pelágio ou Cassiano.

Na verdade, como bem mostra Oliveira, Armínio afirma em vários trechos de suas obras que o homem é totalmente dependente de Deus, para que possa obter a sua salvação e ir morar no paraíso na consumação de todas as coisas. Portanto, ele não pode estar no rol dos “hereges” da cristandade. Sobretudo, quando diz claramente, que se o Criador não intervir, o homem nada pode fazer para se salvar. Por conseguinte, sua hermenêutica diferencia-se do agostianismo-calvinismo, quando ela diz que o homem pode rejeitar livremente a oferta de redenção do Criador. O homem pode decidir se aceita ou não a dádiva do Criador em Cristo. Os atuais pimpolhos de Calvino só faltam arrancar os cabelos com tal exposição. Que fiquem calvos.