PONDÉ, Luiz
Felipe. A Filosofia da Adúltera. São Paulo: Leya, 2013. (PDF).
“Filosofar é aprender a morrer, diziam os estoicos, e eles tinham
razão: enquanto não perdemos o medo de perder tudo, não começamos a viver”. P. 08.
“[...] o esforço socrático pela verdade é, na realidade, um abrir-se
para a certeza da possibilidade de que estamos errados no que pensamos”. P. 51.
Mais um
livro do Pondé (Doutor em Filosofia na USP) lido.
Em
A Filosofia da Adúltera, substancialmente não há nada de novo que eu não tenha
lido nos outros livros dele. Pondé é um crítico contumaz da sociedade
contemporânea, e para isso, fez uso neste livro dos insights do seu guru maior, Nelson Rodrigues (1912-1980),
Jornalista, escritor, crítico da sociedade, e nas palavras de Pondé, o Filósofo
Selvagem.
“Filósofo, sociólogo, teólogo, cientista político, além de
dramaturgo, jornalista e escritor de romances, Nelson merece constar na lista
dos pensadores brasileiros mais originais”. P.
14.
É um livro de “meditações rodrigueanas”. P. 13. Nelson foi uma espécie de profeta
de sua época; as mazelas culturas que tanto o sr. Nelson combateu em seus
escritos, aumentaram exponencialmente nos dias atuais, de acordo com Pondé.
“Escrevo à medida que leio Nelson Rodrigues, assim como quem medita
sobre a maior forma de alegria, aquela de dizer apenas o que se quer dizer”. P. 08.
“De Nelson para cá tudo piorou muito (aliás, esta é uma tese que
sustento nestes ensaios: tudo de ruim que Nelson identificou, só ficou pior)”. P.
62.
“Filosofar”
tendo como protagonista a figura da mulher adúltera é uma metáfora usada como
recurso literário, pois “este livro é escrito sob o
espírito da adúltera. A mulher que representa a condição humana como escrava do
desejo. Que experimenta o tédio miserável da carne. Que conhece a tristeza da
cobiça. Que sente o peso do abandono e da mentira social”. P.
05.
“Os ensaios deste livro foram escritos sob o signo da adúltera: são
as confissões de um desgraçado que luta constantemente para não se perder no
próprio desejo e em suas inconsistências. A filosofia selvagem brota desse
combate e do medo que me acompanha o tempo todo”. P. 16.
A natureza humana é contingente;
suscetível as mais vis paixões; é fraca; é indolente; é invejosa; é vaidosa; nunca
se contenta com nada. E nesse não contentamento, pensamos que temos o direito a
felicidade plena e completa – busca-se a todo custo o ser feliz e ser amado,
mas:
“[...] não há dúvida
de que a felicidade sistemática nos faz estúpidos”. P. 36.
“Para ele [Nelson], e concordo, é na doença, e não na saúde, que
está nossa coerência. O tédio, por exemplo, nos ensina mais sobre nós mesmos do
que a alegria”. P. 48.
“[...] a vaidade de querer ser amado pode ser uma das maiores formas
de escuridão. [...] Só os melhores entre nós, talvez, consigam entender que
viver em busca da autoestima é uma das maiores formas de escuridão que existe.
Vaidade é o nome elegante para o vazio que nos define. [...] Sempre que vivemos
pela vaidade (o que nos acomete quase todo o tempo), vivemos presos no vazio.” P. 65.
Mesmo sendo ateu, o autor vê o
ensinamento cristão sobre o pecado, como uma interpretação muito útil e
proveitosa da nossa condição humana deplorável. Abjeta é a posição marxista que
a tudo contamina e nada sabe interpretar sobre a realidade passada e presente. Nesse
ínterim, Pondé chama “Rousseau, Marx e Foucault [de] (grandes marqueteiros)”. P.
18. Aqui está um pouco de nossa condição:
“Vítimas da herança maldita de Adão e Eva, homens e mulheres
arrastariam pelo mundo uma razão submetida a uma vontade orgulhosa, violenta e
obcecada pelo sexo e poder. Desejosos de amor, mas incapazes de vivê-lo ou
mesmo vê-lo. Cegos e autômatos, caminhariam pela Terra deixando um rastro de
desespero e desencontro com os outros e consigo mesmos”. P. 14.
“[...] desejamos um amor ideal, mas ele não existe. Como não existe,
caímos em desgraça inevitavelmente, daí decorre tudo o mais. Uma das piores
formas dessa idealização do amor é seu mal infinito: queremos sempre mais e,
quanto mais queremos, mais dependentes e inseguros ficamos. Ciúmes, delírios de
traição, impotência de controlar o outro. Por isso, a adúltera representa o
necessário fracasso de um animal atormentado por um desejo de amor sempre
impossível. O pecado moral nasce dessa vontade esmagada”. P. 17.
O
pensamento esquerdista é uma quimera, mas tomou conta de quase todos os setores
universitários, lamenta o Filósofo da USP.
“Preferem ideias ao sofrimento
real. Nós, que vivemos no início do século XXI no Brasil, sabemos que a
esquerda, apesar do sofrimento de alguns poucos, saiu vitoriosa da ditadura,
dominando as instâncias de razão pública em larga escala, passando pelos
tribunais, escolas de magistratura, universidades, escolas, mídia etc. A
esquerda é uma falsa vítima e uma falsa virtude. Nelson percebeu como ninguém o
mau-caratismo da esquerda e sua moral abstrata.” P. 24.
Filho da esquerda é o movimento
feminista, ao qual Pondé faz duras críticas:
“O feminismo é a nova forma de repressão da sexualidade feminina, e
logo será de toda forma de sexualidade”.
P. 20.
“O imortal hábito feminino é gostar de ser objeto sexual. Sentir-se
cachorra, fácil, vadia, pelo menos por meia hora.
Recentemente um psicanalista comentou sobre como mulheres
inteligentes, donas de sua vida, podiam, no segredo da confissão analítica, se
queixar de que seus parceiros não sabiam tratá-las como vagabundas, que eram
frouxos. Que queriam ser humilhadas e submetidas no sexo. O psicanalista via
nisso uma contradição: emancipação versus querer ser objeto, sentir-se
vagabundas por alguns minutos, dominadas.
Nelson acertou em cheio quando disse que a objetividade idiota das
ciências humanas iria se tornar cega para enxergar as coisas humanas. Ver
contradição na fala dessas mulheres é ser vítima da crença de que sexualidade é
política. A física aqui é melhor do que a política. O fato de a mulher ser
penetrada, “receber” (o erotismo da palavra “violada” está aí), ficar de
quatro, revela mais da alma feminina do que o blábláblá da Simone de Beauvoir,
que confunde queixas quanto a poder trabalhar fora de casa com gosto sexual e
com natureza feminina.
A alma feminina pode pilotar aviões, mas quer ser a puta de um
homem. Sem sua puta ela sucumbe à tristeza do desejo. O imortal hábito feminino
é o hábito de ser objeto”. P. 53.
“NÃO QUERO SER BONITA” - Disse a aluna de psicologia da PUC. Para
ela, isso era uma forma de afirmação de sua dignidade. Meu Deus, como uma
mulher pode chegar a esse ponto de negar que o pulmão não quer ar?” P. 90.
Paro por aqui.