De algumas décadas pra cá, começou uma enxurrada de Bíblias
de Estudo a serem publicadas em português, no Brasil. Se nos EUA, elas já eram
populares e amplamente consumidas, aqui no brasil, não passou a ser diferente.
Mas o que seria uma Bíblia de Estudo? A Bíblia não é uma só? As ditas Bíblias
de Estudo, além de terem o texto do Antigo e Novo Testamentos, possuem notas
explicativas, geralmente na parte inferior das páginas. Essas notas interpretam
o texto bíblico, facilitando o entendimento do leitor. Obviamente as
interpretações podem estar erradas.
Uma das primeiras Bíblias de Estudo em português foi escrita
pelo biografado desse livro, um americano que veio como missionário para o
Brasil, na década de 1970. Donald Stamps escreveu a Bíblia de Estudo
Pentecostal, para ajudar os fieis de sua igreja, a Assembleia de Deus, a
divulgarem melhor as suas crenças. Esse livro conta a história dele e de como ele
veio a produzir essa ferramenta de estudos bíblicos. O título tem a ver com a
conduta do Stamps antes de torna-se evangélico. Sabe aquela expressão: “O cabra
era mais ruim do que merda!”? Pois pronto, esse era o Stamps. Converteu-se e passou
de um extremo ao outro, visto que virou um fanático pentecostal e grande
opositor da televisão. Naqueles tempos era vedado aos assembleianos (coitados)
de verem TV. Ela era o instrumento do diabo.

Sim, eu li esse livro. Quando fazia o segundo ano do ensino
médio, em 2002, tinha amigo que estudava comigo, que vez por outra, ia às
reuniões de jovens da igreja Universal. Fiquei sabendo que ele tinha alguns
livros e pedi emprestados. Um desses livros foi Orixás, Caboclos e Guias, livro que
durante um período da década de 1990 foi proibido de ser comercializado, o que
atiçava mais ainda a curiosidade de o porquê de uma literatura em plena democracia,
está no índex do governo.
Peguei o livro e o li em 24 horas de ponta a ponta. Não
porque era excepcional, cativante e com um conteúdo fora do comum. Pelo que
lembro, Macedinho conta, conta, conta e conta de novo, dezenas de histórias de
pessoas que supostamente deixaram a Umbanda e Candomblé, e viraram evangélicas.
Livro de leitura bem fácil, que faz a leitura ser ultra rápida.

Livro lido com real interesse, no início de 2002. Horton era
um pentecostal com amplas credenciais acadêmicas que o faziam se destacar dos
demais, em sua tradição religiosa. Nesse livro ele expõe com muita empolgação,
o que acredita que acontecerá no fim do mundo, adotando a popular concepção de
um arrebatamento secreto, em que Cristo voltará para levar os seus fieis ao céu.
Ele analisa as várias escolas hermenêuticas que se debruçam no estudo minucioso
das profecias bíblicas. Seu ponto de vista é o dispensancionalismo, doutrina
segundo qual Israel ainda tem um papel importante a desempenhar nos
acontecimentos escatológicos (as últimas coisas que acontecerão aqui na terra,
antes do juízo final).
Ele defende algo que não agradará a muitos crentóides. Pois
crê que pelo menos uma vez na história, houve uma comunicação mediúnica – um
morto vindo do além para comunicar-se com um vivo. É a aquela história de Saul
e a sua consulta a uma feiticeira, em que Samuel já morto, vem lá não sei dá
onde, e dá umas carcadas em Saul, por este está todo desmantelado e andando por
caminhos que não agradam a Deus, inclusive por ter consultado uma bruxa. Boa
parte dos evangélicos, apesar do texto dizer claramente que foi o próprio
Samuel quem falou com ele, usam de subterfúgios interpretativos para negar a conversação entre
Saul (vivo) e Samuel (morto), visto que isso dá munição pesada aos espíritas,
que enfatizam que é possível travarmos diálogos com quem já juntou as
pernas.

Robinson Cavalcante, um dos grandes Teólogos anglicanos no
Brasil, infelizmente assassinado pelo seu filho drogado há uns poucos anos,
escreveu esse livro para trazer ao grande público a problemática da
homossexualidade dentro da igreja anglicana. Ele rastreia essa questão desde a
década de 1970. Nesses anos, já era discutida a viabilidade ou não dos homossexuais
serem aceitos como membros e líderes das comunidades anglicanas mundo a fora.
Cavalcante mostra-se terminantemente contra tal postura “progressista” dos
vários setores do anglicanismo. Chega a
dizer que está sendo travada uma guerra no mundo espiritual sobre essa questão.
Ele como líder da arquidiocese de Recife, foi um dos poucos no Brasil, salvo
engano, que posicionou-se a favor da visão tradicional do cristianismo de que a
homossexualidade é um pecado contra Deus.

As igrejas evangélicas hipocritamente dizem que: “A Bíblia é
a noassa única regra de fé e prática.” Mentira. Todas, absolutamente todas, mantém
crenças e comportamentos que não estão de acordo com os próprios critérios que
elas dizem seguir. Quando lhes é conveniente, proíbem certas condutas, que nem
estão proibidas na Bíblia. O pastor Ricardo Gondim escreveu esse livro em 1998,
quando o cerceamento dos evangélicos era mais triste e medonho do que é hoje. Tudo era proibido,
principalmente no meio pentecostal. Os tradicionais eram mais maleáveis. Dentro
do próprio terreno hermenêutico utilizado pelos fanáticos pentecostais, Gondim
magistralmente revelará que eles usam muito mal as escrituras para impor os
seus preconceitos e obrigar os membros de suas igrejas a viverem debaixo de seu
jugo legalista.