quinta-feira, 18 de maio de 2017

Testemunhas de Jeová: A Inserção de Suas Crenças no Texto da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas


SILVA, Esequias Soares. Testemunhas de Jeová: A Inserção de suas Crenças no Texto da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião – Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007.

Link para baixar a dissertação:


Elas nem são tantas, se comparadas com as outras igrejas de tradição cristã. Seu número de fieis talvez tenha chegado agora em 2017, a 8 milhões de pessoas em todo mundo. Como se vê não está entre as grandes igrejas ou religiões mundiais. Passa bem longe. No entanto, fazem um barulho tremendo. As testemunhas de Jeová (TJ) quando menos esperamos, estão em nossas portas para nos falar sobre a mensagem de Jeová, de que o atual sistema de coisas está prestes a ter seu fim. São prestativas, educadas e atenciosas, ficam a nossa disposição para nos fornecer seus estudos bíblicos e aconselhamentos.

Tive contato a primeira vez com eles, em 2001, quando tive conhecimento que um bom amigo era uma TJ. A partir daí, ele foi presenteando-me com várias revistas e livros da Sociedade Torre de Vigia, nome oficial da religião. Travei vários diálogos com ele e seu pai, que tentaram me convencer de que eles estavam certos e de que eu, um pobre coitado, estava encharcado de crenças falsas e diabólicas.

De lá pra cá, adquiri várias obras da própria seita e li 95% delas. Também li vários livros contestando e escancarando os erros, mentiras e falcatruas dessa religião. O livro que venho postar, é exatamente uma literatura crítica e bem embasada na Crítica Textual para refutar a credibilidade da Bíblia utilizada por eles. Esse é o foco da dissertação do Esequias Soares da Silva, que talvez seja, o maior pesquisador dessa religião no Brasil. Sua dissertação virou um livro publicado pela editora Hagnos. Por isso, que coloquei a capa dele na postagem. Mas as páginas aqui enumeradas são da dissertação.

Tendo um bom conhecimento da história e do que elas pregam e defendem, li em algumas de suas publicações, que as testemunhas de Jeová foram o único grupo religioso que fora duramente perseguido pelos nazistas e que não compactuaram com ele. Fato é, que muitas testemunhas de Jeová foram vítimas de Hitler. Porém, o que a organização esconde de seus fieis, é que ela deu apoio ao nazismo, quando este se tornou o partido do poder na Alemanha. Praticamente nenhuma TJ tem ciência de que sua liderança mundial quis apoiar Hitler em sua loucura anti-semita. Essa página desastrosa da história dessa seita é descaradamente escondida das TJ. O trecho a seguir é longo, mas a leitura é muito válida.

“A Sociedade Torre de Vigia manifestou seu apoio a Adolf Hitler, que o recusou, entretanto, a organização disparou sua metralhadora giratória contra todas as igrejas classificando-as como aliadas do nazismo. Num artigo da revista Despertai!, de 8 de julho de 1998, intitulado Testemunhas de Jeová — Coragem Diante do Perigo Nazista, páginas 10 a 14, foram apresentadas as mesmas acusações. Porém, sempre procurou-se esconder o apoio aos nazistas: ‘Longe de estarmos contra os princípios advogados pelo governo da Alemanha, nós apoiamos sinceramente esses princípios e sublinhamos que Jeová Deus através de Jesus Cristo causará a realização completa destes princípios’.

As Testemunhas de Jeová realizaram uma conferência em Berlim, em 25 de junho de 1933, para apoiar o regime nazista, algo que a organização procura esconder e ousa declarar que ‘as Testemunhas de Jeová jamais expressaram apoio ao Partido Nazista’. Nessa reunião, com a participação de 7.000 presentes, redigiram um documento Erklärung, 'declaração' em alemão, conhecido como Declaração de Fatos, e distribuíram por toda a Alemanha 2.100.000 exemplares desse panfleto em apoio aos nazistas, manifestando sua hostilidade aos judeus, aos Estados Unidos, ao Reino Unido e à Liga das Nações. O documento foi enviado ao governo alemão, acompanhado de uma carta em que declara ter a Sociedade Torre de Vigia os mesmos objetivos dos nazistas afirmando terem os Estudantes da Bíblia harmonia com o Reich Alemão: ‘estes estão em perfeita harmonia com os objetivos similares do Governo Nacional do Reich Alemão’. O Führer, porém, recusou o apoio das Testemunhas de Jeová.

O relato do Anuário das Testemunhas de Jeová de 1975, no qual conta sua história na Alemanha, e o livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, página 693, omitem o conteúdo da Declaração e distorcem os fatos, colocando-se como a única religião perseguida pelo Reich com o apoio da ‘cristandade’. Cole e Macmillan [escritores das TJs] sequer mencionam essa Assembléia de Berlim, mas o conteúdo de Declaração dos Fatos foi publicado na íntegra no Anuário das Testemunhas de Jeová de 1934.

A revista Despertai!, de 22 de agosto de 1995, publicou um artigo intitulado Por Que as Igrejas se Calaram, páginas 12-15, uma crítica aos que apoiaram os nazistas. Penton [professor de História e de Ciências da Religião da University of Lethbridge, em Alberta, Canadá] ,já havia denunciado a organização, em algumas de suas publicações. Ele ficou indignado quando leu o artigo e enviou uma carta ao então presidente da Sociedade, Milton Henschel, afirmando ter ficado ‘profundamente chocado e enojado’, classificando a matéria de  ‘abominação histórica’. Alegou não esperar resposta dele, nem era esse seu desejo, mas enviou com a carta cinco documentos: (1) Uma fotocópia do ‘Erklärung original’; (2) uma fotocópia do ‘Erklärung’ como apareceu na edição alemã do Anuário das Testemunhas de Jeová de 1934; (3) uma fotocópia da Declaração, como ela aparece na edição inglesa do referido Anuário, em inglês; (4) uma fotocópia da carta de Hitler, mais uma tradução inglesa disso; (5) e uma cópia da revista The Christian Quest, edição da primavera de 1990.” P. 46-47.

A proibição absurda das transfusões de sangue, que vigora até hoje, foram estabelecidas na década de 1940. Proibiu-se o transplante de órgãos, na década de 1960, que era considerado ‘canibalismo’, no entanto, mudaram de opinião anos depois, revogando a sua proibição.

São sandices e proibições absurdas. Entretanto, isso não foi e nem é uma característica peculiar das TJ. Se analisarmos o histórico de cada religião, veremos muitos absurdos semelhantes. A própria igreja do autor, a Assembleia de Deus, é conhecida por ensinamentos bizarros e cerceamento de seus membros. A própria Ciência moderna criou conceitos destrutivos, misóginos, racistas e estúpidos, em anos não muito distantes.

Voltando ao meu amigo, ele sempre estava me dando as literaturas de suas religião para que eu pudesse lê-las e, quem sabe me converter numa TJ. Todavia, era bastante complicado ele ler algum livro contrário que eu lhe emprestasse ou desse. As TJ estão terminantemente proibidas de lerem livros ou revistas de outras religiões. Se tais livros "demoníacos" estiverem falando "mal" da Sociedade Torre de Vigia, aí a coisa piora mais ainda. Mas meu amigo desobedeceu as ordens e leu umas literaturas que lhe emprestei.

“A teocracia implantada por Rutherford [segundo presidente da religião] eliminou a liberdade de seus membros. As Testemunhas de Jeová não têm o direito de realizar pesquisas bíblicas em publicações de outras instituições religiosas. É dever delas aceitar todos os ensinos peculiares do Corpo Governante: ‘A associação aprovada com as Testemunhas de Jeová requer a aceitação de toda a série dos verdadeiros ensinos da Bíblia, inclusive as crenças bíblicas singulares das Testemunhas de Jeová’. A organização considera violação grave questionar suas crenças e práticas, chama esses questionamentos de 'idéias independentes' e afirma que tais procedimentos são satânicos.
As Testemunhas de Jeová conhecem muito pouco sobre os bastidores da sua religião. Assim, a melhor maneira de mantê-las desinformadas sobre isso é não permitir a leitura das publicações de outras religiões, consideradas literatura apóstata, 'publicações que promovem a religião falsa e lançam calúnias contra a organização de Jeová'. Os anciãos estão sempre alertas para proteger a congregação dessa literatura: 'os anciãos devem permanecer alertas para proteger o rebanho’.” P. 69.

Uma religião com um passado tão cheio de incoerências e ensinos que se mostraram errôneos, não pode arriscar a sua reputação tão frágil, permitindo aos seus membros que leiam livros fora seu curral doutrinário. Por exemplo, a liderança das TJ é conhecida por ter marcado a data do fim do mundo várias vezes, e como sabemos, o mundo está aí. Como justificar tais erros? Umas das datas mais enfatizadas para o fim, foi o ano de 1975. As TJ estavam em polvorosa por causa desse ano, esperando ansiosamente pela sua chegada e consequentemente pela vinda do reino de Deus. O ano chegou e tornou-se patente que tinha sido mais uma data inventada malandramente. A liderança assumiu a culpa? Não, não. Se tiveram a cara de pau de criarem arbitrariamente um ano para o fim, porque não teriam cara de pau semelhante para se eximirem de quaisquer responsabilidades? Vai aqui mais uma longa citação:

“Em 1975, o presidente Knorr e o vice-presidente, Frederick Franz, fizeram uma viagem ao redor do mundo. Os discursos do vice-presidente, em todos os países visitados, giravam em torno de 1975. Muita gente acreditou nessa mensagem. Muitos venderam fazendas, casas e abandonaram seus negócios; outros largaram empregos e foram com seus familiares para locais considerados de maior necessidade, calculando recursos financeiros suficientes até a data do evento. Muitos idosos, continua Raymond Franz [membro da liderança mundial expulso da religião], protelaram os tratamentos médicos e as ‘intervenções cirúrgicas’, outros ‘converteram em dinheiro apólices de seguro ou outros certificados de valor’. A data veio e se foi, e agora? O dinheiro acabou e a saúde piorou.

Qual a resposta da Sociedade Torre de Vigia para essas Testemunhas de Jeová? Raymond Franz estava lá, na época, e afirmou que a maioria dos membros do Corpo Governante, a princípio, ‘assumiu uma atitude de ‘esperar para ver.’ No ano seguinte, poucos desses membros insistiram na necessidade de se 'fazer alguma declaração reconhecendo que a organização havia se equivocado, que tinha estimulado falsas expectativas’, mas outros acharam ‘que isso ‘serviria apenas de munição para os opositores’. Muitos betelitas expressaram seu desapontamento e Raymond Franz citou algumas declarações deles, nas páginas 253 e 254. Em 1977, a revista A Sentinela voltou trazer à baila o assunto, mas sem assumir responsabilidades. Em 1980, na administração de Frederick Franz, o assunto aparece novamente nas páginas de A Sentinela, afirmando se tratar de mera possibilidade.

O Corpo Governante, às vezes, procura minimizar o fracasso dessa e de outras profecias, chamando-as de meras sugestões de datas incorretas, 'as Testemunhas de Jeová, devido ao seu anseio pela segunda vinda de Jesus, sugeriram datas que se mostraram incorretas’. A organização nunca assumiu, em suas publicações, essa responsabilidade, ao contrário, lança a culpa sobre as Testemunhas de Jeová.” P. 80.

O ponto principal da dissertação é o texto adulterado da bíblia (Tradução do Novo Mundo) usada pelas TJ, uma Bíblia que não foi traduzida por especialistas em grego, hebraico, aramaico e demais línguas antigas. Na verdade, nenhum dos tradutores dessa bíblia eram eruditos, ou seja, pessoas que tinham em seu currículo, estudos avançados nas línguas originais das escrituras sagradas. Tanto é, que a organização até hoje nunca divulgou os seus nomes, sob o pretexto de que eles não sejam louvados no lugar de Deus. Pura malandragem. Nenhuma outra organização religiosa e nenhum erudito em Religião, História, Teologia e Crítica Textual, fazem uso da Tradução do Novo Mundo. Na realidade, ela é uma piada em muitos pontos. Não foi traduzida das línguas originais. O intuito dela, como diz o subtítulo da dissertação, é inserir a sua teologia no texto bíblico. Todas as traduções da Bíblia têm os seus defeitos e carências, mas a maioria delas, passaram pelo crivo rigoroso da Crítica Textual, algo que não aconteceu com a tradução das TJ. Não existe um acadêmico que endosse ou recomende essa tradução. Seja esse acadêmico cristão, ateu, liberal... O propósito principal dessa bíblia foi enfraquecer a melhor interpretação que o cristianismo tradicional inferiu das escrituras sobre a natureza Deus, que é a doutrina da Santíssima Trindade. Sem exageros: é uma aberração a bíblia da Sociedade Torre de Vigia.