SILVA, Esequias Soares. Testemunhas de
Jeová: A Inserção de suas Crenças no Texto da Tradução do Novo Mundo das
Escrituras Sagradas. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião –
Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007.
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Elas
nem são tantas, se comparadas com as outras igrejas de tradição cristã. Seu
número de fieis talvez tenha chegado agora em 2017, a 8 milhões de pessoas em
todo mundo. Como se vê não está entre as grandes igrejas ou religiões mundiais.
Passa bem longe. No entanto, fazem um barulho tremendo. As testemunhas de Jeová
(TJ) quando menos esperamos, estão em nossas portas para nos falar sobre a
mensagem de Jeová, de que o atual sistema de coisas está prestes a ter seu fim.
São prestativas, educadas e atenciosas, ficam a nossa disposição para nos
fornecer seus estudos bíblicos e aconselhamentos.
Tive
contato a primeira vez com eles, em 2001, quando tive conhecimento que um bom
amigo era uma TJ. A partir daí, ele foi presenteando-me com várias revistas e
livros da Sociedade Torre de Vigia, nome oficial da religião. Travei vários diálogos
com ele e seu pai, que tentaram me convencer de que eles estavam certos e de
que eu, um pobre coitado, estava encharcado de crenças falsas e diabólicas.
De
lá pra cá, adquiri várias obras da própria seita e li 95% delas. Também li
vários livros contestando e escancarando os erros, mentiras e falcatruas dessa
religião. O livro que venho postar, é exatamente uma literatura crítica e bem
embasada na Crítica Textual para refutar a credibilidade da Bíblia utilizada
por eles. Esse é o foco da dissertação do Esequias Soares da Silva, que talvez
seja, o maior pesquisador dessa religião no Brasil. Sua dissertação virou um
livro publicado pela editora Hagnos. Por isso, que coloquei a capa dele na
postagem. Mas as páginas aqui enumeradas são da dissertação.
Tendo
um bom conhecimento da história e do que elas pregam e defendem, li em algumas
de suas publicações, que as testemunhas de Jeová foram o único grupo religioso
que fora duramente perseguido pelos nazistas e que não compactuaram com ele.
Fato é, que muitas testemunhas de Jeová foram vítimas de Hitler. Porém, o que a
organização esconde de seus fieis, é que ela deu apoio ao nazismo, quando este
se tornou o partido do poder na Alemanha. Praticamente nenhuma TJ tem ciência
de que sua liderança mundial quis apoiar Hitler em sua loucura anti-semita.
Essa página desastrosa da história dessa seita é descaradamente escondida das
TJ. O trecho a seguir é longo, mas a leitura é muito válida.
“A
Sociedade Torre de Vigia manifestou seu apoio a Adolf Hitler, que o recusou, entretanto, a organização disparou sua metralhadora giratória contra todas as
igrejas classificando-as como aliadas do nazismo. Num artigo da revista
Despertai!, de 8 de julho de 1998, intitulado Testemunhas de Jeová — Coragem
Diante do Perigo Nazista, páginas 10 a 14, foram apresentadas as mesmas
acusações. Porém, sempre procurou-se esconder o apoio aos nazistas: ‘Longe de
estarmos contra os princípios advogados pelo governo da Alemanha, nós apoiamos
sinceramente esses princípios e sublinhamos que Jeová Deus através de Jesus
Cristo causará a realização completa destes princípios’.
As
Testemunhas de Jeová realizaram uma conferência em Berlim, em 25 de junho de
1933, para apoiar o regime nazista, algo que a organização procura esconder e
ousa declarar que ‘as Testemunhas de Jeová jamais expressaram apoio ao Partido
Nazista’. Nessa reunião, com a participação de 7.000 presentes, redigiram um
documento Erklärung, 'declaração' em alemão, conhecido como Declaração de
Fatos, e distribuíram por toda a Alemanha 2.100.000 exemplares desse panfleto
em apoio aos nazistas, manifestando sua hostilidade aos judeus, aos Estados
Unidos, ao Reino Unido e à Liga das Nações. O documento foi enviado ao
governo alemão, acompanhado de uma carta em que declara ter a Sociedade Torre
de Vigia os mesmos objetivos dos nazistas afirmando terem os Estudantes da
Bíblia harmonia com o Reich Alemão: ‘estes estão em perfeita harmonia com os
objetivos similares do Governo Nacional do Reich Alemão’. O Führer, porém,
recusou o apoio das Testemunhas de Jeová.
O
relato do Anuário das Testemunhas de Jeová de 1975, no qual conta sua história
na Alemanha, e o livro Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus,
página 693, omitem o conteúdo da Declaração e distorcem os fatos, colocando-se
como a única religião perseguida pelo Reich com o apoio da ‘cristandade’. Cole
e Macmillan [escritores das TJs] sequer mencionam essa Assembléia de Berlim,
mas o conteúdo de Declaração dos Fatos foi publicado na íntegra no Anuário das
Testemunhas de Jeová de 1934.
A
revista Despertai!, de 22 de agosto de 1995, publicou um artigo intitulado Por
Que as Igrejas se Calaram, páginas 12-15, uma crítica aos que apoiaram os
nazistas. Penton [professor de História e de Ciências da Religião da University
of Lethbridge, em Alberta, Canadá] ,já havia denunciado a organização, em
algumas de suas publicações. Ele ficou indignado quando leu o artigo e
enviou uma carta ao então presidente da Sociedade, Milton Henschel, afirmando
ter ficado ‘profundamente chocado e enojado’, classificando a matéria
de ‘abominação histórica’. Alegou não esperar resposta dele, nem
era esse seu desejo, mas enviou com a carta cinco documentos: (1) Uma fotocópia
do ‘Erklärung original’; (2) uma fotocópia do ‘Erklärung’ como apareceu na
edição alemã do Anuário das Testemunhas de Jeová de 1934; (3) uma fotocópia da
Declaração, como ela aparece na edição inglesa do referido Anuário, em inglês;
(4) uma fotocópia da carta de Hitler, mais uma tradução inglesa disso; (5) e
uma cópia da revista The Christian Quest, edição da primavera de 1990.” P. 46-47.
A
proibição absurda das transfusões de sangue, que vigora até hoje, foram
estabelecidas na década de 1940. Proibiu-se o transplante de órgãos, na década
de 1960, que era considerado ‘canibalismo’, no entanto, mudaram de opinião anos
depois, revogando a sua proibição.
São
sandices e proibições absurdas. Entretanto, isso não foi e nem é uma
característica peculiar das TJ. Se analisarmos o histórico de cada religião,
veremos muitos absurdos semelhantes. A própria igreja do autor, a Assembleia de
Deus, é conhecida por ensinamentos bizarros e cerceamento de seus membros. A
própria Ciência moderna criou conceitos destrutivos, misóginos, racistas e
estúpidos, em anos não muito distantes.
Voltando
ao meu amigo, ele sempre estava me dando as literaturas de suas religião para
que eu pudesse lê-las e, quem sabe me converter numa TJ. Todavia, era bastante
complicado ele ler algum livro contrário que eu lhe emprestasse ou desse. As
TJ estão terminantemente proibidas de lerem livros ou revistas de outras
religiões. Se tais livros "demoníacos" estiverem falando "mal" da Sociedade Torre
de Vigia, aí a coisa piora mais ainda. Mas meu amigo desobedeceu as ordens e
leu umas literaturas que lhe emprestei.
“A
teocracia implantada por Rutherford [segundo presidente da religião] eliminou a
liberdade de seus membros. As Testemunhas de Jeová não têm o direito de
realizar pesquisas bíblicas em publicações de outras instituições religiosas. É
dever delas aceitar todos os ensinos peculiares do Corpo Governante: ‘A
associação aprovada com as Testemunhas de Jeová requer a aceitação de toda a
série dos verdadeiros ensinos da Bíblia, inclusive as crenças bíblicas
singulares das Testemunhas de Jeová’. A organização considera violação grave questionar
suas crenças e práticas, chama esses questionamentos de 'idéias independentes' e afirma que tais procedimentos são satânicos.
As
Testemunhas de Jeová conhecem muito pouco sobre os bastidores da sua religião.
Assim, a melhor maneira de mantê-las desinformadas sobre isso é não permitir a
leitura das publicações de outras religiões, consideradas literatura apóstata, 'publicações que promovem a religião falsa e lançam calúnias contra a
organização de Jeová'. Os anciãos estão sempre alertas para proteger a
congregação dessa literatura: 'os anciãos devem permanecer alertas para
proteger o rebanho’.” P. 69.
Uma
religião com um passado tão cheio de incoerências e ensinos que se mostraram
errôneos, não pode arriscar a sua reputação tão frágil, permitindo aos seus
membros que leiam livros fora seu curral doutrinário. Por exemplo, a liderança
das TJ é conhecida por ter marcado a data do fim do mundo várias vezes, e como
sabemos, o mundo está aí. Como justificar tais erros? Umas das datas mais
enfatizadas para o fim, foi o ano de 1975. As TJ estavam em polvorosa por
causa desse ano, esperando ansiosamente pela sua chegada e consequentemente
pela vinda do reino de Deus. O ano chegou e tornou-se patente que tinha sido
mais uma data inventada malandramente. A liderança assumiu a culpa? Não, não.
Se tiveram a cara de pau de criarem arbitrariamente um ano para o fim, porque
não teriam cara de pau semelhante para se eximirem de quaisquer
responsabilidades? Vai aqui mais uma longa citação:
“Em
1975, o presidente Knorr e o vice-presidente, Frederick Franz, fizeram uma
viagem ao redor do mundo. Os discursos do vice-presidente, em todos os países
visitados, giravam em torno de 1975. Muita gente acreditou nessa mensagem.
Muitos venderam fazendas, casas e abandonaram seus negócios; outros largaram
empregos e foram com seus familiares para locais considerados de maior
necessidade, calculando recursos financeiros suficientes até a data do evento.
Muitos idosos, continua Raymond Franz [membro da liderança mundial expulso da
religião], protelaram os tratamentos médicos e as ‘intervenções cirúrgicas’,
outros ‘converteram em dinheiro apólices de seguro ou outros certificados de
valor’. A data veio e se foi, e agora? O dinheiro acabou e a saúde piorou.
Qual
a resposta da Sociedade Torre de Vigia para essas Testemunhas de Jeová? Raymond
Franz estava lá, na época, e afirmou que a maioria dos membros do Corpo
Governante, a princípio, ‘assumiu uma atitude de ‘esperar para ver.’ No ano
seguinte, poucos desses membros insistiram na necessidade de se 'fazer alguma
declaração reconhecendo que a organização havia se equivocado, que tinha
estimulado falsas expectativas’, mas outros acharam ‘que isso ‘serviria apenas
de munição para os opositores’. Muitos betelitas expressaram seu desapontamento
e Raymond Franz citou algumas declarações deles, nas páginas 253 e 254. Em
1977, a revista A Sentinela voltou trazer à baila o assunto, mas sem assumir
responsabilidades. Em 1980, na administração de Frederick Franz, o assunto
aparece novamente nas páginas de A Sentinela, afirmando se tratar de mera
possibilidade.
O
Corpo Governante, às vezes, procura minimizar o fracasso dessa e de outras
profecias, chamando-as de meras sugestões de datas incorretas, 'as Testemunhas
de Jeová, devido ao seu anseio pela segunda vinda de Jesus, sugeriram datas que
se mostraram incorretas’. A organização nunca assumiu, em suas publicações,
essa responsabilidade, ao contrário, lança a culpa sobre as Testemunhas de
Jeová.” P.
80.
O
ponto principal da dissertação é o texto adulterado da bíblia (Tradução do Novo
Mundo) usada pelas TJ, uma Bíblia que não foi traduzida por especialistas em
grego, hebraico, aramaico e demais línguas antigas. Na verdade, nenhum dos
tradutores dessa bíblia eram eruditos, ou seja, pessoas que tinham em seu
currículo, estudos avançados nas línguas originais das escrituras sagradas.
Tanto é, que a organização até hoje nunca divulgou os seus nomes, sob o
pretexto de que eles não sejam louvados no lugar de Deus. Pura malandragem.
Nenhuma outra organização religiosa e nenhum erudito em Religião, História,
Teologia e Crítica Textual, fazem uso da Tradução do Novo Mundo. Na realidade,
ela é uma piada em muitos pontos. Não foi traduzida das línguas originais. O
intuito dela, como diz o subtítulo da dissertação, é inserir a sua teologia no
texto bíblico. Todas as traduções da Bíblia têm os seus defeitos e carências,
mas a maioria delas, passaram pelo crivo rigoroso da Crítica Textual, algo que
não aconteceu com a tradução das TJ. Não existe um acadêmico que endosse ou
recomende essa tradução. Seja esse acadêmico cristão, ateu, liberal... O
propósito principal dessa bíblia foi enfraquecer a melhor interpretação que o
cristianismo tradicional inferiu das escrituras sobre a natureza Deus, que é a
doutrina da Santíssima Trindade. Sem exageros: é uma aberração a bíblia da
Sociedade Torre de Vigia.