Historicamente, o Atlântico Norte
sempre se colocou como o ápice da evolução social. Sempre se consideraram os
povos mais civilizados e mais aptos a conduzirem a história do mundo. O
eurocentrimo – a Europa como o centro do mundo. E depois, colonizadores e imigrantes
europeus, se instalam no norte do Novo Mundo e fundam as treze colônias inglesas. Passam-se os anos, e essas colônias se emancipam. Os Estados Unidos começam a sua
jornada de sucesso econômico e militar. A exemplo do Velho Mundo, se acham os
mais sábios e racionais na condução das políticas internacionais. Não querendo mais
a intromissão dos europeus na América, os norte-americanos formulam a doutrina
Monroe, a “América para os americanos”. Não para todos americanos, o que incluiria
os latinos. Mas a América para os norte-americanos.
A Europa e os Estados Unidos,
nunca olharam para a história dos outros povos como relevante e significativa
em si mesma. Africanos e asiáticos eram, e ainda são vistos com estranhamento. Ainda
nos dias atuais, não poucos norte-americanos vêem os países mais pobres e
necessitados, como países atrasados culturalmente e necessitados de uma “ajudinha”
para entrar no eixo do processo verdadeiramente civilizatório. O Oriente Médio
tem sido o foco do seu olhar de “amor” e “compaixão”.
Depois de toda essa enrolação, que
todo mundo ta cansado de saber, vamos ao filme.
Um grupo de soldados dos EUA estão entediados em Samarra, no
Iraque, ao norte de Bagdá. Os eventos se passam em 2006. Ficam o dia inteiro
revistando pessoas que entram e saem num determinado ponto da cidade. Estão de
saco cheio de estarem no meio do que eles chamam de “negros do deserto”, “ratos”,
uma forma pejorativa e desrespeitosa de se referirem aos habitantes da cidade.
Muitos não aguentam mais estar longe de casa. Alguns reclamam
de estar a meses sem transar. E é nesse ponto que o filme vai focar.
Nesse grupo de soldados, têm dois soldados de índole duvidosa
(não que os outros também não tenham), eles têm em mente uma jovem de 15 anos,
que idealizam estuprar. Numa noite, juntamente com outros soldados, eles
resolvem ir a casa dessa garota para abusarem dela. Um soldado tenta impedir o
estupro, porém é ameaçado de morte por um dos estupradores. Ele então vai para
fora da casa, pois não teve coragem suficiente para defender a honra da menina.
O estupro acontece. A menina é violada como se fosse um
bicho. Sem piedade ou misericórdia ela é abusada e morta. Sua família é
assassinada. Os soldados saciam a sua animalidade e brutalidade. Um soldado que
sempre está com uma câmera, filma as atrocidades feitas. É cúmplice. Na verdade, o filme é uma espécie de diário
desse soldado que a tudo registra. Temos acesso ao dia a dia dos militares, através
da câmera pessoal dele.
O soldado que reprovou esses atos, com a consciência bastante
perturbada, resolve denunciar os estupradores. Irá enfrentar uma série de
perguntas, que questionarão a integridade e honestidade de sua acusação. A alta
cúpula dos militares presume que os soldados acusados, são inocentes. Ele pode
se lascar, tentado delatar seus companheiros.
O filme termina, mas ficamos sem saber, se a denúncia surtiu
o efeito desejado. Não sabemos se foram punidos ou não. Provavelmente não
foram.
Guerra Sem Cortes é baseado nas inúmeras histórias, vídeos e
notícias referentes aos acontecimentos da guerra do Iraque. As cenas do estupro
causam náuseas e indignação a qualquer pessoa normal. Uma garota inocente, que
não fez mal algum a sociedade e a ninguém, é tratada pior que um animal, para
aplacar a luxúria de dois lixos humanos. O que mais indigna é saber, que esses
estupros foram ignorados pelas altas instâncias militares no mundo real.
Se até as militares norte-americanas são muitas vezes
estupradas pelos soldados e estes não são punidos, como mostra o documentário
GUERRA INVÍSÍVEL, imagine as pobres mulheres que foram violentadas no Iraque,
onde na visão de muitos militares, seriam menos que humanos (ratos, negros do deserto)?
Link de GUERRA INVISÍVEL: