A
religião do islã é frequentemente acusada de apoiar o apedrejamento por
adultério. Se isso for verdade, seria mais uma prova cabal de que esse sistema
religioso não é e nunca foi da paz, como se propaga tão fortemente por aí. Se
essa religião preconiza em seus ensinos que pessoas que fazem sexo fora dos
padrões estabelecidos por ela, devem e têm que ser mortas por tal “pecado”, ela
será apenas mais um sistema totalitário e assassino, mostrando mais uma vez a
sua face intrinsecamente violenta e em total desacordo com os valores mais
elevados de tolerância, diversidade, paz e dignidade humana.
Mas
então, o adultério é ou não é um crime que mereça pena capital na sharia
islâmica? Há respaldo escriturístico no alcorão?
A
revista Aventuras na História na matéria
A Verdadeira Posição do Islamismo em
Relação a Cruel Prática de Apedrejamentos, nega que o islã e sobretudo o
alcorão exijam o apedrejamento para adúlteros. A revista pode ser acessada
neste link:
Aventuras na História
afirma:
“A pena de morte por apedrejamento para praticantes do adultério
público (ou seja, com testemunhas e de conhecimento social) não consta no
Corão, e tampouco é destinado apenas para as mulheres.”
É
preciso dizer logo de cara, que essa revista não é nada confiável. É vergonhoso
o quanto ela dissimula a realidade para defender uma religião tão intolerante
e, que para piorar, esse mesmo sistema religioso não seria nada condescendente
com boa parte do conteúdo que ela veicula, por não estar coadunado com a sharia
(lei) islâmica. Ah, mas independentemente de qualquer coisa, a revista está
compromissada com a verdade dos fatos, alguém pode afirmar. No entanto,
infelizmente, não está.
A
afirmação de que o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, não prescreve/ordena
o apedrejamento aos adúlteros, é verdadeira. Entretanto, essa não é toda
história. A revista quer passar para os seus leitores a ideia de que no islã
não existe essas práticas retrogradas e cruéis para os filhos rebeldes da
religião. Porém, o que a matéria convenientemente deixa passar, é que o Alcorão
na surata 24.2 diz que os adúlteros devem ser açoitados.
“À adúltera e ao adúltero açoitai a cada um deles com cem açoites. E
que não vos tome compaixão alguma por eles, no cumprimento do juízo de Allah,
se credes em Allah e no Derradeiro Dia. E que um grupo de crentes testemunhe o
castigo de ambos.” P. 372.
100
açoites para cada um! Tem como afirmar diante de uma prática tão bárbara, que
essa é a religião da paz? Mas a revista Aventuras
na História passou longe de mencionar
esse texto.
Quanto
ao apedrejamento, olha que curioso o que o autor dessa tradução citada, o
muçulmano Helmi NASR, professor de Estudos Árabes na USP, escreveu na nota de
rodapé, sobre o verso dos açoites:
“Trata-se do adultério cometido entre pessoas não comprometidas pelo
casamento, já que, o adultério cometido após este, é punido com apedrejamento.”
P. 372.
Ou
seja, ele não nega que existe a punição por apedrejamento no islã. Ele não é
voz isolada nisso, muito pelo contrário, fala pela comunidade muçulmana
majoritária. Voz isolada e vendida a dissimulação é essa revista.
Tradução do Sentido Nobre do Alcorão. 2ª
Edição. Dr. Helmi NASR, Professor de Estudos Árabes e Islâmicos na Universidade
de São Paulo.
A
tradução do texto corânico publicado pelo Centro
Cultural Beneficente Árabe Islâmico de Foz do Iguaçu, diz assim:
“Quanto à adúltera e ao adúltero, vergastai-os com cem vergastadas,
cada um; que a vossa compaixão não vos demova de cumprir a lei de Deus, se
realmente credes em Deus e no Dia do Juízo Final. Que uma parte dos fiéis
testemunhe o castigo.” P. 299.
Olha
outra coisa bem curiosa. Em nota explicativa, os muçulmanos desse centro
islâmico dizem:
“A punição deve ser pública, para que seja dissuasiva.” P.
808.
Em
miúdos, muçulmanos adúlteros devem apanhar em público, para que a sua
humilhação sirva de exemplo para que os outros não caiam nesse grave pecado, e
também sejam publicamente humilhados e dilacerados pelos açoites. Essa é a
religião da paz e da tolerância, diz a mídia.
Para comentar outro verso corânico, eles usam a surata 24.2 como texto prova de que ao adúltero cabe os 100 açoites, sem piedade alguma. E falam também no apedrejamento.
“A punição, nesta vida, para a falta de castidade de uma mulher casa
é muito severa: para adultério, açoitamento em público de cem açoites, segundo
o versículo 2 da 24ª Surata; ou para impudícia, a prisão (ver o versículo 15 da
4ª Surata); ou o apedrejamento até à morte, para o adultério, de acordo com
certos precedentes estabelecidos no Direito Canônico.” P.
874.
O
alcorão na surata 4.15 assim versa:
“Quanto àquelas, dentre vossas mulheres, que tenham incorrido em
adultério, apelai para quatro testemunhas, dentre os vossos e, se estas o
confirmarem, confinai-as em suas casas, até que lhes chegue a morte ou que Deus
lhes trace um novo destino.” P. 82
Nota
explicativa que o centro islâmico fornece para ele:
“A maioria dos jurisprudentes compreende que isto se refere ao
adultério ou à fornicação; tal caso, eles consideram que a punição foi alterada
para cem açoites, de acordo com o versículo 2 da 24ª Surata.” P.
608.
De
acordo com os intérpretes muçulmanos, a punição para a surata acima foi
ab-rogada, dando lugar aos 100 açoites! Quanta “afetuosidade” alá tem pelos
seus! Ele “amorosamente” trocou o confinamento das mulheres em suas casas até a
morte, pelas 100 “míseras” vergastadas (açoites) sem compaixão.
Pergunto:
Que parte tem o islã com a paz e os direitos humanos?
Na
tradução de Challita Mansour, o verso 24.2 está assim:
“A adúltera e o adúltero, castigai cada um deles com cem açoites; e
não tenhais pena deles na religião de Deus se credes em Deus e no último
dia. E que um grupo de crentes assista
ao castigo.” P. 184.
“Não
tenhais pena deles” – Essa é a religião da misericórdia?
Portanto,
diante das provas mostradas, por mais que o alcorão não ensine explicitamente o
apedrejamento, ele deixa claro o açoitamento, uma prática bárbara e cruel por
si mesma, que qualquer pessoa racional, de prontidão rejeitará veementemente,
classificando o islã como incompatível com os ideais de empatia, alteridade,
tolerância, liberdade e etc.
Todavia, não paramos por aqui. A religião islâmica não está somente ancorada no seu livro sagrado. Ela também está alicerçada na tradição, nos hadiths, que são as narrativas do que Maomé fez e ensinou. A coleção canônica de hadiths mais confiável é a de Bukhari, e ela diz claramente o que Maomé fez com aqueles pegos em adultério: O apedrejamento.
Al-Bukhari
- Volume 2, Livro 23, Número 413:
“Narrado 'Abdullah bin' Umar: O judeu trouxe ao Profeta um homem e
uma mulher dentre eles que cometeram (adultério) relação sexual ilegal. Ele
ordenou que os dois fossem apedrejados (até a morte), perto do local de
oferecer as orações fúnebres ao lado da mesquita." P.
304.
Al-Bukhari
- Volume 3, Livro 34, Número 421:
“Narrou 'Aisha: Sad bin Abi Waqqas e 'Abu bin Zam'a brigaram por
causa de um menino. Sad disse: ‘Ó Deus do Apóstolo! Este menino é filho do meu
irmão ('Utba bin Abi Waqqas) que recebeu uma promessa minha de que eu aceitaria
ele como se fosse seu filho (ilegal). Olhe para ele e veja com quem ele se
parece. ‘'Abu bin Zam'a disse: ‘Ó Apóstolo de Alá ! Este é meu irmão e nasceu
na cama de meu pai de sua escrava.’ O Apóstolo de Alá lançou um olhar para o
menino e encontrou uma semelhança definitiva com 'Utba e então disse: ‘O menino
é para você, ó 'Abu bin Zam'a. A criança vai até o dono da cama e o adúltero só
ganha as pedras (desespero, ou seja, ser apedrejado até a morte). Então o
Profeta disse: ‘Ó Sauda bint Zama! Proteja-se de este menino.’ Então, Sauda
nunca mais o viu.” P. 498.
Al-Bukhari
- Volume 3, Livro 49, Número 860:
“Narrou Abu Huraira e Zaid bin Khalid Al-Juhani: Um beduíno veio e
disse: ‘Ó Apóstolo de Allah! Julgue entre nós de acordo com as Leis de Allah.’
O oponente dele levantou-se e disse: ‘Ele está certo. Julgue entre nós de
acordo com as Leis de Alá.’ O beduíno disse, ‘Meu filho era um trabalhador
braçal que trabalhava para este homem, e ele cometeu relações sexuais ilegais
com sua esposa. As pessoas me disseram que meu filho deveria ser apedrejado até
a morte; então, em vez disso, paguei um resgate de cem ovelhas e uma escrava
para salvar meu filho. Então eu perguntei aos estudiosos eruditos que disseram:
‘Seu filho tem que receber cem chicotadas e tem que ser exilado por um ano.’ O
Profeta disse: ‘Sem dúvida vou julgar entre vocês de acordo com as Leis de Alá.
A escrava e as ovelhas devem voltar para você, e seu filho receberá cem
chibatadas e um ano de exílio.’ Ele então se dirigiu a alguém: ‘Ó Unais! vá até
a esposa deste (homem) e apedreje-a até a morte.’ Então, Unais foi e apedrejou
até a morte.” P. 616.
Al-Bukhari
- Volume 4, Livro 56, Número 829:
“Narrado 'Abdullah bin' Umar: Os judeus foram até o Apóstolo de Alá
e disseram-lhe que um homem e uma mulher dentre eles cometeu relações sexuais
ilegais. O Apóstolo de Alá disse a eles: ‘O que você encontra na Torá (Antigo
Testamento) sobre a punição legal de Ar-Rajm (apedrejamento)? ‘Eles
responderam: (Mas) nós anunciamos seu crime e açoitá-los’. Abdullah bin Salam
disse: ‘Você está mentindo; Torá contém a ordem de Rajm. ‘Eles trouxeram e
abriram a Torá e um deles consolou sua mão no Versículo de Rajm e leu os
versículos anteriores e posteriores. Abdullah bin Salam disse a ele: ‘Levante a
mão’. Quando ele levantou a mão, o versículo de Rajm estava escrito lá. Eles
disseram: ‘Muhammad disse a verdade; a Torá tem o versículo de Rajm. O Profeta
então deu a ordem de que ambos deveriam ser apedrejados até a morte. ('Abdullah
bin' Umar disse: ‘Eu vi o homem inclinado sobre a mulher para abrigá-la das
pedras’.” P. 847.
Sahih Bukhari - Translator: M. Muhsin Khan - 1st edition. Edited by: Mika'il
al-Almany. Created: 2009-10-02 17:41:54. Last modified: 2009-10-11 23:46:24
Version: 0910112346244624-21.
https://d1.islamhouse.com/data/en/ih_books/single/en_Sahih_Al-Bukhari.pdf
Como
aporte a negação do apedrejamento, Aventuras
na História afirma que a maioria dos países muçulmanos não o pratica,
então, conclui "brilhantemente" que as pedradas nos pecadores sexuais não é um ensinamento do islã.
“Uma prova de que essa não é uma prática inerente ao Islã é o fato
de que, dos mais de cinquenta países muçulmanos no mundo, apenas sete ainda
possuem essa pena retrógrada.”
O
apedrejamento é parte das correções válidas para o muçulmano até hoje. Se ele
não é largamente praticado, isso é outra história. Maomé e os seus discípulos
praticaram, e não existe indicativo algum de que Maomé o proibiu
posteriormente. O fato de uma maioria religiosa não praticar alguns dos ditames
de sua religião hoje em dia, não quer dizer que eles foram revogados,
proibidos, ou substituídos. Na realidade, acontece exatamente o contrário na
maioria das vezes: os fiéis é que deixam de lado os ensinos de sua religião. Um
exemplo bem patente é o sexo fora do casamento entre os cristãos. Isso diz algo
sobre a proibição do sexo antes do matrimônio não ser mais válida?
Absolutamente que não. Apenas os cristãos de um modo geral desobedecem a esse
mandamento. De maneira similar, se os muçulmanos não praticam o apedrejamento
como antes, é porque estão em desarmonia com os ensinos de sua religião.
Acrescento
ainda que se o critério usado pela revista de que o apedrejamento “não é
inerente ao islã” pelo fato de a maioria dos países muçulmanos não o praticar,
então a revista pelos mesmos critérios que adota, deve admitir de prontidão que
os crimes contra as mulheres que são inferiorizadas, sem liberdades,
assassinadas; e de perseguição aos cristãos e outros religiosos; fora tantas
outras atitudes contra os direitos humanos são parte inerente do islã, visto
que são práticas rotineiras nas sociedades islâmicas. Duvido que ela admita
isso. E infelizmente é triste saber que todos esses componentes de fato são
parte dos ensinamentos do islã.
E
são apenas sete países que praticam o apedrejamento, como diz a revista? Não.
“Nos últimos tempos, o apedrejamento tem sido uma punição legal ou
costumeira no Irã, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Qatar, Mauritânia, Arábia
Saudita, Somália, Sudão, Iêmen, norte da Nigéria, Afeganistão, Brunei e partes
tribais do Paquistão, incluindo o noroeste de Kurram Valley e a região noroeste
de Khwezai-Baezai.”
O
apedrejamento é apenas uma das punições que existe no islã. Como já foi
demonstrado, as chicotadas fazem parte do time também. Fora a pena de morte
para os apóstatas, e tantas outras mais.
Uma
outra prova que Aventuras na História
lança para sua defesa do islã é esta:
“A maioria do clero islâmico mundial repudia o apedrejamento hoje em
dia.”
Mesmo
que isso fosse verdadeiro, não anularia os mandamentos da religião que estão
muito bem fundamentados na vida de Maomé e na teologia islâmica histórica. E
duvido muito que esses clérigos islâmicos estejam falando a verdade. Líderes
islâmicos são notórios em dizer X ao público de fora, para aplacar a opinião
pública, mas entre os seus, dizerem exatamente o oposto. A Taquyia, mentira
sagrada para propagação do islã, é largamente difundida entre eles. Mentem,
omitem e dissimulam!
Segundo
a revista, quem lê o alcorão e encontra apoio para o apedrejamento, na
realidade está impondo os seus desejos nefastos ao texto, visto que ele não
ensina isso.
“Quando o Corão ou a Bíblia legitimam tal prática, é resultado do
ímpeto daquele que lê, e culpar a religião isoladamente é um recurso pueril.”
Diante
de toda a refutação exposada, o único “recurso pueril” vem dessa revista, que
deve ser lida com muita cautela, pois não tem compromisso com a verdade, ao
contrário do que diz a sua matéria. O comprometimento dela é com a estupidez do
politicamente correto, que nada mais é que ideologia, sem respaldo nos
fatos.
Essa revista além de mentirosa, é incompetente, pois no final de sua matéria, entre as indicações de livros sobre o islamismo, ela indica a obra Entenda o Islã, da Christine Schirrmacher, uma expert em islã, que mostra de cabo a rabo nesse livro, o quanto o islã é opressivo e violento, sobretudo com as mulheres.