terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Mentes Perigosas


SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado. São Paulo: Fontanar, 2008.

A cada página lida, não consegui parar por um momento sequer sem imaginar a figura de um parente meu, que traz em sua personalidade e índole, todos os traços da psicopatia, exceto, o assassinato. Um filme de vários momentos em que estive em sua presença foi-me passando pela mente, e tudo se encaixou com precisão. Infelizmente, esse familiar está trancafiado em uma cela, devido aos atos de bandidagens que cometeu repetidas vezes, sem nenhum arrependimento ou remorso. Mas como a Ana Beatriz (Médica pela UERJ e Pós-Graduada em Psiquiatria na UFRJ) reconhece, os psicopatas não tem “salvação”. Então vendo por esse lado, melhor que esse parente esteja preso. Assim, não causará mais males além dos quais já causou.

Há alguns anos tinha lido uma matéria de capa da revista Super Interessante sobre Psicopatia, na hora identifiquei que meu parente fazia parte desse nefasto time de pessoas. Anos depois, ele foi diagnosticado como um psicopata, após passar por Psicólogos e Psiquiatras.

Pois bem, quais são as características que fazem um determinado indivíduo ser diagnosticado como um psicopata? No capítulo dois, a autora traz um perfil nada agradável. Ela não poupa adjetivos nada amigáveis aos psicopatas.

“Sei que é difícil de acreditar, mas algumas pessoas nunca experimentaram ou jamais experimentarão a inquietude mental, ou o menor sentimento de culpa ou remorso por desapontar, magoar, enganar ou até mesmo tirar a vida de alguém.” P. 28.

“[Os psicopatas] não sofrem de delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo). Ao contrário disso, seus atos criminosos não provêm de mentes adoecidas, mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos”. P. 33.

“Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de manifestarem os seus atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros predadores sociais", em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.” P. 33.

“Segundo o psiquiatra canadense Robert Hare, uma das maiores autoridades sobre o assunto, os psicopatas têm total ciência dos seus atos (a parte cognitiva ou racional é perfeita), ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão agindo dessa maneira. A deficiência deles (e é aí que mora o perigo) está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravesse o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo. Esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha, diga-se de passagem, exercida de forma livre e sem qualquer culpa.” P. 35.

“Os psicopatas são os vampiros da vida real. Não é exata-mente o nosso sangue que eles sugam, mas sim nossa energia emocional. Podemos considerá-los autênticas criaturas das trevas. Possuem um extraordinário poder de nos importunar e de nos hipnotizar com o objetivo maquiavélico de anestesiar nosso poder de julgamento e nossa racionalidade. Com histórias imaginárias e falsas promessas nos fazem sucumbir ao seu jogo e, totalmente entregues à sorte, perdemos nossos bens materiais ou somos dominados mental e psicologicamente.” P. 37.

Existem muitos psicopatas perambulando por aí?

“Segundo a classificação americana de transtornos mentais (DSM-IV-TR), a prevalência geral do transtorno da personalidade anti-social ou psicopatia é de cerca de 3% em homens e 1% em mulheres, em amostras comunitárias (aqueles que estão entre nós).” P. 50.

O estilo de vida de nossa sociedade de alguma maneira contribui para que os psicopatas possam agir mais confortavelmente?

“A ‘cultura da esperteza’ também contribui para esse cenário. Deixa-nos confusos e muitas vezes nos faz fraquejar na luta pelo bem. A nossa sociedade vem banalizando o mal e contribuindo para a inversão dos valores morais. Isso cria um terreno fértil para que os psicopatas se sintam à vontade no exercício de suas habilidades destrutivas.” P. 51.

Mais características dos psicos:

“Quando não temos conhecimento sobre a personalidade dos psicopatas podemos ser enrolados por suas histórias improváveis. Entre outras razões, isso ocorre pela habilidade dos psicopatas em se informarem sobre os mais diversos assuntos. Se forem realmente testados por verdadeiros especialistas no assunto, revelam, porém, suas superficialidades de conteúdo. Eles tentam demonstrar conhecimento em diversas áreas como filosofia, arte, literatura, sociologia, poesia, medicina, psiquiatria, psicologia, administração, legislação e usam e abusam dos termos técnicos, passando credibilidade aos menos avisados.” P. 63-64.

"Os psicopatas possuem uma visão narcisista e supervalorizada de seus valores e importância. Eles se vêem como o centro do universo e tudo deve girar em torno deles. Pensam e se descrevem como pessoas superiores aos outros, e essa superioridade é tão grande que lhes dá o direito de viverem de acordo com suas próprias regras. Para os psicopatas, matar, roubar, estuprar, fraudar etc. não é nada grave.” P. 64-65.

“Os psicopatas não sentem qualquer embaraço sobre dívidas contraídas, pendências financeiras ou mesmo problemas de ordem legal ou pessoal (brigas, espancamento de namoradas). De forma indiferente, eles encaram todos os problemas que estejam vivenciando apenas como transitórios, falta de sorte, infidelidade de amigos ou que são derivados de um sistema econômico e social injusto coordenado por pessoas incompetentes.” P. 66.

“Não se esqueça: psicopatas são incapazes de amar, eles não possuem a consciência genuína que caracteriza a espécie humana. Os psicopatas gostam de possuir coisas e pessoas, logo, é com esse sentimento de posse que eles se relacionam com o mundo e com as pessoas. Em razão dessa incapacidade em considerar os sentimentos alheios, os psicopatas mais graves são capazes de cometer atos que, aos olhos de qualquer ser humano comum, não só seriam considerados horripilantes, mas também inimagináveis.” P. 70.